Como se pudesse ver sujeiras que Naruto não era capaz de enxergar, Gaara passou a coletar fios de cabelos invisíveis grudados ao lençol de flanela que os cobria. Em um segundo, Naruto parecia estar vigorosamente empenhado em dar um passo na relação dos dois, e no outro, parecia estar a instantes de se quebrar em pedaços por simplesmente mencionar o seu "ex-alguma coisa".
E o coração com uma rachadura no meio ainda estava ali, rabiscado em caneta verde em um guardanapo amassado, tremendo sob música e o tremor do timbre de Frank Sinatra.
Não era um dos desenhos mais realistas, mas Gaara tinha a convicção de que Naruto havia ilustrado o próprio coração. Partido ao meio e sem nada que pudesse colocá-lo de volta ao lugar.
— Foi tão ruim assim? — questionou, ganhando uma sobrancelha loira erguida em resposta — Você sabe... O término de vocês dois. Você ainda me parece abalado. Foi há quanto tempo? Cinco meses?
— A gente não começou nada que pudesse terminar — Naruto devolveu, o dedo se movendo para amenizar a bagunça de seus próprios cabelos — Não teve um começo nem um fim.
— Um círculo vicioso?
— Um círculo vicioso.
— Você não respondeu a minha outra pergunta.
Naruto suspirou, exausto. O que havia acabado de dizer queimava seu cérebro, as lembranças de um passado desagradável assolando seus nervos — se é que havia mais coisas para estragar ali. Sentia-se como uma casca podre e oca, e não havia mais o que danificar em algo tão ruim assim. Não havia como ficar pior, não é?
— Tudo rolou há seis anos atrás, Gaara.
Era tempo o bastante para se restaurar de qualquer dano feito, por pior que fosse.
Mas era como Gaara havia dito: Naruto era um vaso defeituoso, quebrado, para então ser reerguido mais uma vez — e por mais que cada pedaço de si pudesse ser lustrado novamente, o estrago era permanente e não era como se essa situação fosse mudar.
...
"Andei por aí, e finalmente encontrei alguém que poderia me fazer ser verdadeiro. E poderia me fazer ser triste. E ainda ser feliz, só para ficar triste, pensando em você" — it had to be you, Frank Sinatra.
...
"— Você não vai querer fazer isso, palhaço. — Sakura disparou, fazendo menção de amarrar Naruto na cadeira com as alças de sua bolsa.
— Não só quero, mas também vou fazer. Se me der licença, tenho uma cama quente me esperando e ela não gosta de atrasos.
Naruto estava levemente abaixado, e qualquer um que o olhasse, imaginaria que estaria sofrendo com algum problema na coluna. Queria passar despercebido feito uma sombra, mas aparentar ser um jovem corcunda precoce não era uma ideia tão ruim: na verdade, era melhor do que ter de lidar com o Sasuke mais uma vez e Naruto não estava com a mínima força de vontade para isso.
— Eu ouvi, tá? — Sakura murmurou, devagar como se assim fosse mais fácil para que Naruto a compreendesse — Ele "quero que fique aqui e me espere, Menino-Raposa."
Como se para tornar sua atuação mais realista, Sakura sacudiu os cabelos cor-de-rosa na nuca, de modo com que ficassem espetados para todos os lados. As sobrancelhas abaixaram-se na direção dos olhos, ao mesmo momento que ela tentava fazer uma expressão sensual e dar um tom grave à voz.
— Não faça cu doce, Menino-Raposa — provocou — Você 'tá para ter uma noite maravilhosa, e não é como se eu estivesse te ofendendo, mas você realmente precisa foder com alguém.
Não, não precisava... Talvez até necessitasse brevemente, mas os assuntos a tratar com a sua cama eram mais urgentes e Naruto não queria mais ninguém sobre ela.
Ao longe, Sasuke dava continuidade ao seu empenho em Hey You, do Pink Floyd, e, ao que parecia, não prestava atenção em Naruto ou em qualquer outra pessoa. Na verdade, o pub poderia entrar em chamas e Sasuke poderia ficar exatamente daquela maneira — a voz bonita ressoando como mel sobre os ouvidos, os dedos acomodando o cabo do microfone como se fosse deixá-lo cair e o rosto bonito sugerindo que não dava a mínima para ninguém além das ondas de música, talvez nem para si mesmo.
Talvez ele se preocupasse somente se borraria ainda mais aquela maquiagem sobre os olhos, mas isso não vinha ao caso. Naruto queria partir antes de ser notado, e não conseguiria fazer isso enquanto Sakura o impedia e a música chegava próxima ao seu fim.
— Olha bem 'pra ele — Naruto desdenhou, e Sakura voou com os olhos para Sasuke, então para o amigo outra vez — Ele parece ser o tipo de pessoa que vai se deprimir por levar um fora? Faça-me o favor. Sasuke vai achar outra pessoa assim que eu piscar os olhos.
— Não é ele que está saindo na desvantagem, não é?
— Ele vai estar em desvantagem, sim, porque não é comigo que ele vai foder — então, Naruto apontou para si mesmo e ao mesmo tempo que Sakura ria, arremessou a única nota de dinheiro que tinha sobre ela e virou-se para partir, escapando da pegada da mulher quando ela tentou puxá-lo de volta.
— Naruto...!
— Até mais ver."
...
— Que belo conquistador você é, Naruto Uzumaki. Fazendo jogos de conquista para amarrar o cantorzinho sombrio do pub — Gaara suspirou, arrastando os olhos pela poeira que brilhava feito purpurina, flutuando espontaneamente por todo o ambiente que os cercava — Ele não me parecia ser alguém que deva ser provocado. Você foi burro ou ousado demais?
Naruto, por sua vez, sorriu e não soube se a razão era pelo sol que já nascia ou devido à transparência de Gaara, que arfava graças ao frio. Do lado de fora, o céu se tingia em uma palheta de cores quentes — um laranja luminoso estava ali. Gostava de poucas coisas, e laranja era uma delas —, mas não calorosas o bastante para aquecer a ele e ao sua alma congelada.
Gaara arquejou, espairecendo.
— Então, o que houve? Sakura deu a Sasuke o seu número e, uau, ele te ligou pela madrugada como um príncipe da noite e você se apaixonou?
Naruto riu, agora com vontade e empurrando a melancolia para a periferia de sua consciência. Seus dentes eram tão retos quanto um teclado e Gaara se viu apreciando-os diante da recente luminosidade do sol. Radiantes. Assim, sentiu-se tentado a chamar Naruto de Raio de Sol, muito embora o nome não fosse o suficiente para ele e a grandiosidade de sua personalidade.
— Não, não — Naruto negou, e começou a rabiscar outro coração do lado contrário do guardanapo — Ele era um artista, Gaara. Pintores, escritores e musicistas têm sua criatividade, e Sasuke tinha a dele. Ele fez uso dela para me conquistar.
— Romântico. Parece coisa de velho, sabe? Tipo aquele microfone, o vintage de 1920.
— Sasuke colecionava discos de vinil e cuidava de um toca-discos como se aquilo fosse uma criança. Não me surpreende que ele tenha, de alguma forma, conseguido a localização da minha quitinete da época e me enviado coisas pelo correio. Como se fôssemos amantes incorrigíveis e o envio de cartas ainda estivesse na moda.
...
O cenário era digno de um evento apocalíptico, uma vez que a chuva rugia com tamanha impetuosidade, que Naruto viu uma árvore se partir em uma área diante de seu pequeno apartamento. A copa densa de folhas havia caído sobre a rede de fios, o que havia resultado para Naruto um longo dia sem contato com o mundo virtual e o convívio direto com as sombras, uma vez que sua luz tinha sido cortada, deixando-o sozinho com seus próprios pensamentos e sua voz que, vez ou outra, cantarolava Ten Long Years, do BB King, sem se lembrar do porquê daquela música estar colada e impregnada em seu cérebro nos últimos dias.
Agora, como se não bastasse a escuridão que o engolia como uma criatura faminta, Naruto sentia o cheiro de carne queimada ao ferir os dedos na tentativa de acender velas com a ajuda de palitos de fósforo. Tinha quase certeza que até o final do dia, teria mais contas a pagar: a multa do prédio por provocar um incêndio e ter torrado tudo ao seu alcance. Inclusive os próprios dedos.
Quando havia acabado de acender uma das velas sem fritar boa parte de suas unhas, Naruto assustou-se com o celular que explodira em um toque escandaloso e, em uma confusão de dedos e um coração acelerado, a vela apagou-se.
— E quando se está muito tempo na escuridão... — Naruto resmungou para si mesmo, de repente no escuro de novo, ignorando a vela e o cheiro de parafina — a escuridão começa a te olhar de volta.
Acomodando o celular entre os dedos em um movimento furioso, Naruto atendeu-o e se viu pego de surpresa ao escutar a voz do porteiro. Ele alegava que havia chego uma encomenda urgente, e Naruto não se fez negado antes de correr para recebê-la.
E assim que colocou as mãos em uma caixa minúscula, acreditou que a vida lhe pregava uma peça para testar sua paciência.
Havia retornado ao apartamento quando destruiu o embrulho em dezenas de pedaços e encarou, bravo e curioso na mesma proporção, o pequeno objeto. Naruto usava a lanterna do celular para estudar a encomenda, virando-a de todos os ângulos e reparando em um singelo bilhete colado com durex em sua base:
"Para o Menino-Raposa que foge com o rabo entre as pernas.
— Com carinho, o vocalista-nem-tão-bom-assim."
Havia uma lista bem grande de coisas a serem feitas, e Naruto escolheu rir o bastante até que não fizesse mais barulho algum e até que sua barriga doesse, como se tivesse recebido um soco bem na boca do estômago. Não acreditava que o sujeitinho — ou, como ele se auto denominava, vocalista-nem-tão-bom-assim, uma charada muito boa com a provocação que Naruto tinha feito naquela noite — havia gastado dinheiro para mandar uma besteira daquelas pelo correio. Ou Sasuke estava realmente muito desesperado, ou Naruto era, de fato, verdadeiramente sensual e o cantor se via seduzido pela sua aura irresistível. É claro.
Naruto preferia acreditar na segunda alternativa.
Com um sorriso de orelha à orelha, terminou de abrir a pequena caixa e franziu o cenho mediante ao que via: Era branca, quase amarelada, mas era fácil de reconhecer a palheta que jazia deitada sobre uma almofadinha de veludo. Era quase um pedido inovador de casamento, e isso fez com que se confundisse.
O pior era que, quando Naruto virou a palheta delicada na mão, havia um "S" entalhado. Quase como se houvesse sido feito com um canivete de ponta cega, rasgando o material até que a letra se formasse ali. A caligrafia era a mesma do bilhete, rabiscada e inclinada demais, e isso foi o suficiente para que Naruto se visse perante uma questão impossível de ser respondida.
Uma equação que ele queria resolver, por mais que fosse péssimo em exatas e tivesse quase certeza que não conseguiria entender o que tudo aquilo significava.
E antes que pudesse ligar para Sakura, ofendê-la por ter dado seu endereço a um completo estranho — que parecia ser potencialmente hostil e tampouco confiável — e contar sobre a novidade, a luz da lanterna do seu celular se apagou e ele vibrou, indicando que a bateria havia acabado. Assim, Naruto via-se isolado em meio à escuridão e a mente girando com o auxílio de uma manivela imaginária. O vento rugia lá fora, a frase damn you know I'm all alone pipocou em seu cérebro e Naruto se lembrou, em um lampejo, da voz de Sasuke escorrendo como mel em seus ouvidos e o porquê de Naruto ter cantado tanto BB King nos últimos dias, com a alma quente e o desejo de fazer coisas nunca ditas.
Ficar sozinho com os próprios pensamentos não era algo saudável para si mesmo, Naruto costumava fazer besteiras todas as vezes que isso acontecia e naquele instante não foi diferente, uma vez que enfiou uma calça jeans gelada pelas pernas e vestiu-se com a mesma camiseta que havia usado durante o sábado anterior. Aquela manchada com água sanitária, estampada com o bordão Until it Sleeps.
E antes que pudesse se deixar levar pela culpa, Naruto desceu os lances de escada que o separava do térreo do prédio, dirigindo-se ao lugar que sabia que Sasuke o aguardava.
Porque a palheta era isso. Uma provocação. Um convite. Uma oferta para que Naruto voltasse e escutasse Sasuke cantar mais uma vez com seus cabelos rebeldes, calças boca de sino e o microfone velho e prata bamboleando entre seus dedos manchados de fumaça de cigarro.
No entanto, assim que colocou os pés para fora de seu teto que o acolhia, Naruto se recordou da imensa chuva que assolava não somente a ele, mas todo o caminho que levaria àquele pub retrô com cheiro de madeira envernizada. Sua solução foi cobrir os cabelos com a jaqueta que trazia consigo e correr com toda a capacidade motora de suas pernas. Seu guarda-chuva estava tão quebrado quanto a sua conta bancária, então não pegar chuva não lhe parecia uma opção.
Chegou empapado de água até os ossos, e assim que pisou rumo ao interior do bar, ondulações de calor envolveram seu corpo arruinado como ondas de vapor. Ali havia uma lareira, e era até ela que Naruto se dirigiria, não fosse o caminho que seus olhos tomaram, como se possuíssem vida própria. O tablado ainda era o mesmo, igualmente empoeirado e vestido com ondas de fios ligados à instrumentos musicais. O trio de ursinhos felizes estava sobre eles, os cabelos coloridos dos membros da banda de Sasuke sacolejando conforme tocavam sons aleatórios para testar o equipamento, riffs fáceis de Guns N' Roses e às vezes composições de guitarra de Eric Clapton. A cereja do bolo não estava lá. Faltava o personagem principal.
Naruto presumiu que Sasuke soubesse que ele acabaria voltando para lá e, como uma forma de vingança por deixá-lo a ver navios no sábado anterior, faria com que Naruto se mantivesse esperando por ele. Como um cão burro e adestrado aguardando pela presença do dono.
Pensou até mesmo em pedir informações ao sujeito que tinha a tatuagem de "Suigetsu" impressa no peito, mas seu orgulho deu-lhe um sermão, então não demorou para que descartasse a ideia.
Estava imaginando muitas possibilidades, e uma delas era partir e se comportar como se nada daquilo tivesse acontecido, fazendo questão de livrar-se da palheta assim que chegasse ao apartamento. Naruto sequer sabia tocar instrumentos de corda ou qualquer outro, faça-me o favor! Porém, a outra ideia era permanecer lá e fingir que não tinha se deixado ser afetado. Tinha o mínimo de dinheiro dentro da carteira, mas dava para pagar cachaça barata, daquelas que descem amargo e machucam a boca.
Nem que devesse beber a cota de cerveja quente do estoque para esquecer o que estava acontecendo.
Sentou-se no banco ruidoso e meio quebrado que dava acesso ao balcão e não importou-se em questionar ao barman qual era a opção pagável para universitários com moscas nas carteiras. Com sua lábia, Naruto conseguiu doses de algo que deixava a ponta de sua língua dormente e o interior dos lábios totalmente corroídos. Deixaria para arrepender-se para depois, porque naquele instante, sua bexiga urrava à todo pulmões para ser esvaziada.
A música que ressoava em ondas vinha de caixas de som, e assim que entrou no banheiro — depois de abrir a porta do banheiro feminino sem querer e se recompor em tempo recorde — Naruto apreciou o som abafado que fazia com que se sentisse nostálgico. Isso se não considerasse o ruído de descargas sendo ativadas.
Naruto sorriu para o próprio reflexo esboçado sobre os espelhos e exatamente por isso notou o quão mamado em pinga estava. Suado, com o nariz rosa e olhos azuis preguiçosos.
E o sorriso murchou feito uma bexiga assim que as dobradiças da porta gemeram e um sujeito com sobretudo, camiseta do Aerosmith e coturnos passou por ela.
— O bom filho à casa retorna. — Sasuke ronronou antes de dirigir-se até um Naruto superficialmente bêbado e perplexo. As mãos uniram-se em conchas depois de ter ligado a torneira e, depois de enchê-las de água, Sasuke levou-as à boca e fez um gargarejo, agitando as bochechas de pouca cor, fechando os olhos avermelhados e chapados. Cuspiu dentro da pia e voltou-se ao loiro esquentado.
— Não vai se unir com os seus amigos coloridos? — Naruto disparou, virando-se para jogar água sobre o rosto. Talvez fizesse aquilo para acordar do efeito alcóolico, mas boa parte de si dizia que evitava olhar para os olhos escuros do sujeitinho. Não o havia tido tão perto desde o sábado passado, e agora que não estava são, Naruto via aquela cena como algo potencialmente perigoso e arriscado.
— Você chegou atrasado, Menino-Raposa — então, um meio-sorriso e Naruto arrependeu-se de não ter permanecido em casa, sem energia elétrica e seco debaixo dos cobertores — Andou me procurando?
Bastardinho metido a sabe-tudo. Filho da puta.
— Não se ache tanto. Quando saio para beber, não significa que eu esteja te procurando. — Naruto notou que Sasuke observava-o com aqueles olhos pintados, o olhar de ave de rapina através dos espelhos. Era como se lesse a mentira como quem lê notícias óbvias em um jornal — Deveria abaixar um pouco da sua autoestima.
— Não é questão de autoestima — um riso anasalado saiu, e Naruto revirou os olhos — Você está aqui coincidentemente quando a encomenda que te enviei chegou ao destinatário. O que achou do presente?
— Estou aqui porque hoje não é um dia útil e, segundo a Constituição, todos tem direito ao lazer.
— Temos um advogado revoltado aqui.
— Veterinário.
Sasuke, com aqueles trejeitos de quem não quer nada — e, ao mesmo tempo, quer tudo — arrumou-se em uma postura mais reta e Naruto pôde notar a estrutura bem distribuída dele. As coxas eram grossas, firmes, tais quais como as suas próprias eram, e a camiseta de mangas que vestia não era capaz de ocultar o porte magro do abdômen de quem se drogava mais do que comia. O que estragava tudo eram os cabelos: repicados demais, com laquê, quase como se cortados com uma tesoura cega.
Era uma mistura de traços estranhos que juntos não formavam nada menos do que uma obra de arte.
— Certo, o que acha de deixar as desavenças de lado e aceitar que eu te pague uma bebida decente, ou acha que já bebeu demais?
Naruto apertou os olhos claros, repuxando os traços das bochechas, e Sasuke mordeu o lábio, cínico.
— Eu tenho um bom-papo, caso esteja pensando que passar algumas horas comigo seja uma perda de tempo.
Naruto avançou, os passos firmes voltados para Sasuke e toda a sua arrogância. Então, quando não mais do que dois passos os separava, ele esticou a mão por sobre um dos ombros do cantor e apanhou pedaços de papel para secar o rosto, estes presos à um aparelho fixo à parede. Enquanto voltava ao seu posto, Naruto ralhou:
— Espero que não me decepcione.
...
O fato da chuva ter se tornado mais mansa não a fazia ser menos incômoda. O temporal havia enfraquecido para uma garoa fina — que, com toda certeza, traria consigo uma gripe tanto para Naruto, quanto para Sasuke —, mas não era como se Naruto se importasse. Na verdade, sua única preocupação era não escorregar em uma das milhares poças de água que acumulavam-se em seus pés na medida que dirigia-se para o estacionamento do pub.
Talvez estivesse embriagado demais, mas não entendia a razão por trás de estar naquele lugar. Se lembrava minimamente de Sasuke ter dito que possuía um carro — um carro ou uma moto? Talvez fosse um jatinho, nunca se sabe.
— Um dia, assaltaram esse barzinho de merda e vim pra' cá para não meterem uma bala na minha cara — Sasuke disparou de repente, erguendo os olhos tão negros quanto os céus sem estrelas acima deles. Gotas d'água se acomodaram em seu rosto e ele fechou as pálpebras pretas — Um dos assaltantes veio aqui, tentou por a mão na moto do Suigetsu e fui intervir. Fomos os dois para o hospital. Quebrei um dente.
— Melhor um dente do que uma bala enfiada nos seus miolos — Naruto replicou, divertido, alto devido ao teor alcóolico que parecia torrar seu bom senso, colocando sua racionalidade dentro de uma frigideira — E o cara?
— Eu devolvi o dente quebrado — Sasuke retornou à posição original, afundando-se dentro da garoa e rindo de Naruto que, feito um gato com medo de água, manteve-se abaixo do toldo do pub.
A verdade era que, após do incidente no banheiro, pararam de se comportar feito cão e gato e decidiram que era mais fácil apenas apreciar a presença um do outro sem atritos... Não. Talvez a bebida os tivesse auxiliado para obterem aquela convivência que era, na melhor das hipóteses, pacífica. Sasuke ainda fazia uso das deixas para coçar os nervos de Naruto e este, como um bom pacifista que era, limitava-se a mostrar o dedo do meio e mandar o vocalista se foder.
Exatamente por isso, Naruto pareceu esquecer do assunto violento que os dois tratavam e encarou a chuva como se cada gota fosse ácido capaz de corroê-lo. Com uma careta, chamou a atenção de Sasuke com um assovio e apontou para os céus enegrecidos.
— Pra' quê viemos aqui mesmo?
— Você disse que queria uma carona porque já tinha pego chuva no caminho pra' cá e não queria fazê-lo de novo. Você pode mudar de ideia caso queira uma gripe.
O olhar que Sasuke lhe presenteou não fazia questão de ocultar seus fins provocativos. Os olhos eram levemente puxados para cima, asiáticos, travessos feito uma víbora faminta. Naruto cruzou os braços quando, em um cortejo debochado, Sasuke curvou-se levemente sobre si mesmo em uma reverência. A água atingia sua nuca livremente, acariciando-a e correndo para a raiz dos cabelos encharcados.
— O príncipe vai ficar aí embaixo do toldo, ou vai vir aqui e me ajudar a achar a vaga do meu carro? — ele riu, ardiloso, retornando à postura reta — Está esperando que eu vá aí e cubra a sua cabeça com a minha jaqueta?
Naruto emitiu um ruído que deveria expressar sua indignação. Apressou um passo para frente, partindo de seu refúgio e sibilando quando a água o atingiu como uma avalanche de neve.
— Sou eu quem deveria estar rindo de você, imbecil. Quem aqui esqueceu onde estacionou o carro?
Naruto queria mostrar que não levava desaforo para casa, então se mostrou disposto a enfrentar os montes de água congelante castigando sua pele antes quente. Inflou o peito, determinado, mas antes que tivesse a chance de exibir toda a sua enorme coragem, foi Sasuke quem avançou, se posicionando a um palmo de distância de Naruto antes mesmo que este se desse conta do acontecido.
— Meu carro tem uma palheta presa ao retrovisor interno, idêntica àquela a qual eu lhe presenteei — Sasuke ronronou e Naruto afastou-se, sentindo-se, de repente, uma caça sob o revólver do caçador — As portas estão destrancadas. Quero que abra as portas do máximo de carros que conseguir até achar o meu e, se disparar algum alarme, me deve uma ida à sua casa. O que acha?
— É injusto. O primeiro carro errado que eu pegar, vou acionar o alarme. Você é o único besta que não se preocupa com essa segurança.
— Não é tão arriscado quanto uma roleta russa¹. Quer que eu vá buscar uma arma para trocar o desafio?
Não havia motivos para que Naruto aceitasse. Ainda se negasse o desafio, poderia chamar Sasuke para treparem em qualquer lugar, que o cantor certamente não iria se opor. Aquilo não era somente falta do que fazer, mas também era como se retornasse ao Ensino Médio ou à época de calouro na faculdade. Lembrava-se da busca incessável que tinha por sensações novas, como se seu organismo só funcionasse quando havia emoção lhe remoendo as veias. A procura do sentimento de estar vivo.
Talvez, apenas talvez, quisesse a sensação de ultrapassar seus limites outra vez, ainda que a situação servisse para que Sasuke tirasse uma com a sua cara.
— Qual é o modelo do carro? — Naruto perguntou e a resposta não veio, então completou — Eu não estou fazendo uma pergunta retórica.
— Só achei que se eu te respondesse, estivesse facilitando muito as coisas para o seu lado — Sasuke sentou-se acima do degrau sob o toldo, sobrando a perna comprida e sustentando o braço sobre o joelho. Quando viu Naruto resmungar em um muxoxo, voltando-se para a imensidão de carros estacionados, Sasuke gritou, forçando sua voz por sobre o ruído de um relâmpago — É um jipe.
Não era todo mundo que possuía um jipe, não é? Era suficientemente grande para que Naruto o encontrasse, como um ponto branco em meio à escuridão. A chuva que ameaçava apertar o convencia de que era um imbecil de marca maior, mas a chance de esfregar sua vitória sobre o nariz de Sasuke era uma opção mais sedutora. Então, sob o olhar negro que o acompanhava, Naruto embrenhou-se em meio aos carros e tentou abrir a porta do primeiro jipe que viu.
A descoberta de que o automóvel estava trancado fez seu coração despertar, pulsando em agitação. Esperou pelo som do alarme que não veio, apertando os olhos azuis em uma careta. Era uma ótima hora para desistir com o rabo entre as pernas: não queria que o dono de um daqueles carros se sentisse tentado a chutar sua bunda.
Em meio ao grito da chuva, Naruto escutou Rock 'n' Roll Suicide, do Bowie, ser cantado baixinho.
Naruto esticou-se, encarando Sasuke de longe. Ele mordiscava o lábio, girando os anéis nos dedos, levando meio segundo para voltar o olhar para cima, ainda cantarolando de leve, buscando por um Naruto ensopado e determinado a caçar carros destravados. Este que, arquejando em irritação, voltou à sua busca e suspirou, aliviado, ao avistar o modelo de automóvel que procurava. A luz que indicava um alarme não piscava, então Naruto não pensou duas vezes antes de puxar a maçaneta e escutar um som agudo lhe ferir os ouvidos.
— Puta que pariu — Naruto praguejou, desesperado, tocando o carro em diversos pontos como se pudesse interromper o toque que disparava do automóvel. Escutou um riso ao fundo, vendo Sasuke aproximar-se, afundado abaixo da chuva e afastando o cabelo preto que caía sobre os olhos. Naruto estava preparado para insultá-lo com todas as palavras ofensivas que conhecia, mas o som de passos que não pertenciam a nenhum dos dois se fez presente.
— Ei, vocês dois!
Viraram-se para a origem da voz antes de reconhecerem um guarda — não-formado, simplesmente um brutamontes contratado para tomar conta do pub — aproximar-se. Ele manejava um porrete, e Naruto pensou o quão dolorido seria ter aquilo afundado em suas costelas.
— Fale para ele que você trabalha no pub, imbecil! — Naruto sussurrou para Sasuke, que parecia disposto a correr para onde quer que fosse, sem carregar Naruto consigo — Vai logo.
— Ele tem cara de quem vai dar a mínima para o detalhe de eu trabalhar ou não naquele lugar? Faça-me o favor, Naruto.
— Então vamos fazer o quê? — Sua voz se afinava, acompanhando a angústia que latejava abaixo de sua carne. Naruto observou o grande homem chegar mais perto deles e, quando já aceitava seu destino miserável, sentiu-se tropeçar quando Sasuke agarrou-o pelo pulso e mergulhou em meio ao labirinto de carros que os cercava.
— Está indo para onde? — Naruto disparou, angustiado. Obteve sua resposta quando viu Sasuke destravar um jipe (o maldito jipe que ele procurava), e abrir a porta, empurrando-o para dentro.
— Abaixa — o cantor sussurrou após acomodar-se em um dos bancos, agarrando Naruto pelo colarinho e impulsionando-o para baixo. O vidro escuro os escondia como um cobertor negro, mas não era bom brincar com a sorte que Naruto certamente não possuía, então manteve-se espremido, como se acomodado em uma lata de sardinhas.
Ele sentiu cada segundo. Desde o instante que o guarda passou direto por eles, o porrete em mãos pronto para partir pessoas ao meio, até o momento em que ficaram em silêncio por um longo tempo, até Sasuke erguer-se devagar e explodir em um riso gostoso.
Naruto o encarou, incrédulo, piscando os cílios.
— Você é maluco! Jesus Cristo, a gente poderia ter morrido — esbravejou, irritado. Observou ao redor, crente de que o homenzarrão surgiria para quebrá-lo. No entanto, tudo sugeria que só restava ele e Sasuke enterrados em meio àquele mar de lata.
— Não seja dramático.
— Você viu aquele porrete? — encarar Sasuke provou-se um erro. Ele mordia o lábio para abafar o riso que lhe coçava a garganta. Os olhos escuros sustentaram o olhar enfezado de Naruto e, quando Sasuke limitou-se a rir pelo nariz, Naruto murchou sua expressão enfurecida e crispou os lábios, a fim de reprimir a risada que ameaçava emergir.
Seu coração batia com força, o corpo estremecendo devido à adrenalina e agora, como se não bastasse, sua boca havia se aberto para liberar a risada que não queria ser contida. Naruto gargalhou até que suas íris brilhassem, banhadas em lágrimas, e parou de rir o suficiente para notar Sasuke, que observava-o com um meio sorriso torcido na boca.
— Eu deveria ter deixado que ele pegasse você — Naruto lançou, risonho. Apoiou-se de lado por sobre o banco do carona, absorvendo o olhar divertido e travesso que Sasuke expressava. Não quis notar o tempo que se passou, não quis perceber como o clima pesava enquanto a respiração dos dois se tornava mais fácil.
— Você perdeu o desafio, Menino-Raposa — Sasuke suspirou, ciente de que Naruto acompanhava seus movimentos quando resvalou o piercing da língua sobre a pele dos lábios.
— Devo ir à sua casa, então? — ele aprumou-se, suspirando cansado — Você me parece bem louco, sabe? Quem me garante que é seguro?
Naruto riu, e Sasuke acompanhou-o com um sorriso arteiro.
— O que acha que eu faria? Certamente te obrigaria a ativar mais alarmes de carro. Isso me parece bem ousado e potencialmente fatal.
— Você é realmente muito perigoso. Eu deveria chamar a polícia agora mesmo.
Naruto riu e correu os olhos por todo o carro, como o belo intrometido que era. Do porta luvas, escapava um cordão esquisito — que, com certeza, fazia parte do guarda-roupas incomum do Uchiha — e, quando sustentou o olhar um pouco mais para cima, notou aquela palheta que Sasuke havia mencionado. Estava presa à uma linha, esta pendurada no retrovisor interno do carro. Era idêntica àquela que havia ganhado de presente, mas faltava algo ali. O objeto era liso e não havia um grande "S" escrito nela.
Como se já houvesse adquirido intimidade o suficiente com o dono de todas aquelas coisas, Naruto esticou o braço e apanhou aquela coisinha que tanto lhe chamava a atenção.
— Dá uma palheta para todos com quem quer transar? — interrogou, calmo, virando a palheta para todos os lados, examinando — Você tem um jeito estranho de se conquistar as pessoas.
Sasuke franziu o cenho, os olhos fixos ao objeto que era rodado nas mãos de Naruto.
— Não, você é o primeiro — então, observou o homem consigo, desejando que ele o olhasse de volta — Você parecia que não queria ter qualquer contato comigo, então ter algo que me representasse dentro da sua casa me pareceu um belo desafio. A provocação funcionou, sabe, já que você está aqui.
Naruto sibilou para o tom malandro que ouvia e, antes que sequer pudesse raciocinar, abriu o porta-luvas e sentiu-se grato pela caneta que achou lá. Com ela, rabiscou um gigantesco "N" na palheta em suas mãos e sorriu, presunçoso, quando voltou-se para Sasuke e pôde ver o espanto dentro dos buracos negros que ele chamava de olhos.
— Estamos quites, sim? — então, pendurou a palheta de volta ao lugar original — A inicial do meu nome fica muito bonita ali, veja só.
Sasuke riu, incrédulo, observando a chuva que havia se intensificado. As gotas se chocavam com força contra a lataria do carro, os vidros, e não havia nenhum outro som que não fosse a água contra as janelas. Uma gota que serpenteava pelo vidro refletiu a luz de um poste, iluminando o sorriso contido de Sasuke e fazendo com que Naruto tivesse a impressão de estar vendo um anjo.
Um anjo de jaqueta de couro, cheiro de charuto, dentes brilhantes e olhos escuros que engoliam tudo e não devolviam nada.
— Você fica bonito assim — Naruto soltou, não mais do que de repente.
Sasuke estava lambendo os lábios charmosos quando respondeu.
— Assim como? Eu sou bonito.
— Não quando canta com os olhos tristes. Ou quando esconde tudo por cima de uma fachada de perversão.
A expressão de Sasuke não ruiu. Na verdade, seu olhar de corvo brilhou por tão pouco tempo que poderia não ter existido, e Naruto não soube discernir se aquele segundo reluzente significavam lágrimas nos olhos ou se, mencionada a melancolia de Sasuke, a alma dele subira às iris por um momento antes de se esconder de volta na escuridão do coração.
— Não me torno menos bonito com a tristeza. Às vezes acredito que sou melhor com ela; todo mundo tem uma musa. Eu tenho a minha. A melancolia me destrói, mas também é a única coisa que me faz colocar os sentimentos para fora — Sasuke olhou para o azul cobalto das iris de Naruto — Mas no último show você me divertiu, Menino-Raposa. Me fez cantar com sentimentos bons, mesmo comigo estando chapado demais para identificar quais eles eram.
Naruto estava sentindo o cheiro da pele de Sasuke conforme ele esquentava-se sob a lataria que guardava calor. Sentiu a inclinação de colar o nariz no vocalista e inspirar, sentir o suor e escutá-lo vomitar as palavras de seu coração por mais horas e horas. Mordeu o lábio avermelhado, contendo-se numa linha tão fina de auto-controle que poderia facilmente se partir, e encostou-se no banco, os olhos azuis na luz das estrelas, e começou a murmurar a primeira música que lhe subiu à cabeça. Uma música que lembrava Sasuke.
— So it tears me apart, I still keep them inside. — Naruto respirou fundo, sentindo o peito subir e descer devagar. Não sabia, mas sua boca estava sorrindo — Te fiz cantar com sentimentos bons? Um deles foi a inclinação para me provocar? Porra, eu realmente desperto ótimas coisas nas pessoas.
Levantando a sobrancelha e se inclinando para mais perto de Naruto, o círculo fechado e quente entre eles se estreitando como uma bolha, Sasuke puxou um maço de cigarros do bolso e prendeu um entre os dentes, puxando ar pelo filtro antes de acender.
— Frank Sinatra? But I can't escape from the sound of the rain in my heart. — continuou a música com a voz bonita e por um segundo Naruto se sentiu num sonho brilhante sobre jazz e rock n' roll, com cheiro do suor de Sasuke, fumaça e cerejas — Você veio aqui só porque te provoquei? — Sasuke questionou, impassível — Pensei que fosse trazer o presente de volta e esfregá-lo na minha cara.
Naruto arquejou, fingindo estar concentrado no temporal que caía. Suas roupas ainda estavam encharcadas, gélidas, mas não era aquilo que o fazia tremer. Na verdade, não sabia o motivo real de ter vindo ao pub e algo lhe dizia que aquilo tinha a ver com a sua recente atração que sentia pelo sujeito sentado ao seu lado. Sasuke sabia. Ele sempre sabia, e Naruto não precisava conhecê-lo de verdade para reconhecer aquilo. Estava respirando devagar quando ouviu Sasuke ligar o rádio e Knockin' On Heaven's Door, do Bob Dylan, emergir junto ao ruído da chuva.
Deitou a bochecha no encosto do carro, a face direcionada ao cantor que, assim como Naruto, parecia estar igualmente congelado. A fumaça escorria como água vaporizada, preguiçosa, por entre os dentes de Sasuke, que tragou uma última vez antes de jogar a guimba pela janela.
— Não faça perguntas quando já sabe a resposta — Naruto sussurrou, o tom calmo sugerindo a moleza que o álcool e a partida da adrenalina haviam proporcionado. Agora, ao menos, estava suficientemente sóbrio.
O som da chuva murmurava em seus ouvidos, e as gotas sobre o vidro do carro provocavam sombras e luzes disformes sobre ambos.
— Ás vezes penso em coisas indecentes demais — Sasuke soprou para ele, aquele sorriso bonito e torto lhe torcendo a boca — Quer mesmo o que estou pensando?
Naruto suspirou, os olhos azuis sorrindo quando a boca não quis se dar ao trabalho. O clima era uma mistura agradável de leveza e o peso dos momentos que viriam a seguir. Quase a mesma tensão do primeiro beijo, o nervosismo e a euforia unidos à calmaria de, finalmente, poder beijar alguém.
No entanto, o que estava acontecendo ali era mais denso e Naruto sabia disso. A íris azul atravessou para a palheta bamboleante, dançando no retrovisor, e depois voltou-se à negridão, às sombras, que Sasuke parecia emanar. Então, lembrou-se do que havia dito mais cedo e repetiu em um sussurro:
— E quando se está muito tempo na escuridão, a escuridão começa a te olhar de volta.
Sasuke franziu o cenho, aproximando-se brevemente.
— Isso é algum tipo de flerte?
Sasuke possuía uma boca muito bonita, os lábios finos, mas desenhados de uma maneira bela. Quase femininos, mas com uma pontada de malícia naquelas extremidades finas que erguiam-se solitárias, como agora Sasuke fazia.
— Talvez seja.
Então, mordendo o lábio com vontade, Sasuke virou-se para o volante e mergulhou a chave na ignição. Girou-a, o carro gemeu, e estava disposto a dar partida e correr à sua casa, à sua cama — que comportaria um corpo à mais naquela noite —, quando parou. A mão ainda estava ali, fixa ao câmbio, pronta para mudar de marcha quando sorriu, achando graça de si mesmo.
Naruto produzia uma essência, que parecia acariciá-lo como vapor quente, tentando Sasuke a tomá-lo. Era aquela maçã proibida, escarlate e brilhosa, que o coagia a prová-la. Exatamente por isso, Sasuke voltou a girar a chave e as luzes do painel voltaram a adormecer.
E a expressão desorientada que Naruto prontamente manifestou pareceu endurecer quando a mão de Sasuke afundou o seu banco quando ele apoiou o peso do corpo ali e, em um movimento tênue e airoso de um gato, o cantor o beijou.
Depois de há muito ter perdido o gosto por beijar — não, não. Não que não o desejasse, muito pelo contrário, mas quando Naruto conseguiu atingir os vinte anos, o frio na barriga para agarrar-se com alguém não era tão grande quanto antes —, surpreendeu-se com aquela sensação gostosa de quem sente a outra pessoa. Os lábios de Sasuke, embora fossem secos, pressionavam os seus de um jeito agradável e não eram rígidos; assim, o problema logo se acabou quando Naruto expôs a ponta da língua molhada e lambeu a boca que cobria a sua.
Sasuke sorriu. Naruto sabia porque havia sentido os dentes dele por um breve momento e, antes que sequer pensasse em alguma provocação para confrontá-lo, os lábios do cantor se afastaram e Naruto seguiu seu exemplo. Então, uma língua com aquele piercing o invadiu e o suspiro veio. Pesado, ruidoso, como uma corrente de ar quente que comunicava todo o desejo que o assolava violentamente.
A roupa molhada de Naruto farfalhou quando a palma da mão pousou sobre o maxilar do outro e, como uma resposta interessada e faminta, sentiu-se ser apalpado nos músculos das coxas com uma pegada gostosa e ele arquejou, sedento.
— Se aquele brutamontes voltar... — ronronou, ébrio, quando pôde falar ao ter seu lábio mordiscado.
— Ele não vai — Sasuke replicou. Os dedos experientes se fecharam no quadril febril de Naruto, agarrando-o com vontade, e arremessou-o contra o próprio colo. Por pouco a cabeleira loira não havia se chocado contra o teto do carro e o joelho dele empurrava o câmbio — E se voltar, vai ter um belo show para assistir e vai se dar conta do quão encalhado ele é.
— Você não vale nada.
As mãos presas à si empurraram as nádegas de Naruto ao atrito contra o corpo de Sasuke e, sem sombra de dúvidas, o que sentiu ser esfregado em sua bunda não era uma carteira, não era um celular. A ereção que ameaçava deflorá-lo era glorioso demais, quente demais, e Naruto sentiu-se como se houvesse ganho na loteria.
Assim, antes que Naruto voltasse a engolir os lábios que pareciam o convidar para prová-los, Sasuke chiou:
— Vai saber o quanto eu valho quando eu acabar de foder você.
Beijá-lo era como se tivesse ingerido litros de cafeína e, exatamente ao mesmo tempo, estivesse chapado de maconha. Uma mistura de euforia, excitação com a moleza e manha vinda de uma pegada deliciosa. Naruto oscilou o quadril, insinuando-se, quando a língua de Sasuke enroscava-se tantas vezes com a sua que já não sabia dizer onde ele mesmo terminava e onde o cantor começava.
Não notou quando decidiu retirar a jaqueta, a blusa sem botões. Quando deu-se por si, a mão de Sasuke abria a fivela de seu cinto e, posteriormente, livrava-se de suas próprias vestimentas. E, puta merda, o corpo que seus olhos haviam pousado eram um colírio: abaixo de toda aquela roupa escura, no mínimo, fora do comum, eram acomodados extensos braços, torso, cuja pele macia reluzia em um branco leitoso. Era como se Naruto olhasse demais, fosse afundar naquele corpo que parecia ter a pretensão de sugá-lo, exaurir seu suor, alimentar-se de seu prazer.
Naruto estava tão deliciosamente ocupado ao enterrar toda a sua atenção naquele peito bonito, nos mamilos, que sequer deu-se conta de que Sasuke o engolia com os olhos de um jeito semelhantemente voraz. A mão espalmada do cantor arrastou-se desde o baixo-ventre até o peito de Naruto, experimentando a textura, absorvendo tudo e lembrando-se de guardar na memória o quão cálida era aquela pele que lhe era permitido tocar. Apreciar.
— Não vou sair de casa amanhã — riu ao deparar-se com o cenho franzido de Sasuke, que permaneceu ali até que Naruto se espremesse no estreito espaço à frente do banco, ajoelhando-se com a cabeça entre os joelhos do cantor e sentindo os pedais do carro cutucarem sua bunda. Daquele jeito, Naruto tinha uma vista privilegiada daqueles muitos centímetros que estava prestes a engolir — Não precisa se preocupar em deixar que eu ande por uns três dias.
Oh, Sasuke gemeu em seu íntimo, Menino-Raposa...
Havia escolhido certo em apostar naquele sujeitinho esquisito que o encarava da plateia como se Sasuke fosse uma assombração fosforescente.
Sentindo Naruto se forçar à caber naquele ínfimo espaço entre as suas pernas, assistiu-o pregar os dedos à bainha de suas calças, juntamente à cueca, e puxá-las para baixo. Suspirou ao sentir o ar gélido do veículo acariciar seu pênis exposto, duro, que aparentava latejar, gritar, para que fosse engolido. Queria ser mergulhado naquela boca que tanto havia beijado segundos antes e assim Naruto o fez.
Em um segundo, os lábios inchados de Naruto percorriam seu pau, que parecia vibrar. No outro, Sasuke abria mais as pernas e sentia-se ser arremessado aos céus na velocidade da luz.
— Ah, Naruto — gemeu risonho, penetrando os dedos do cabelo lourado — Diz que vai ficar em casa o dia todo amanhã. Estou errado se disser que vai tocar uma pensando em mim?
O riso que Naruto emitiu pareceu trepidar-lhe a boca e massagear a ereção que chupava. Sasuke impulsionava a cintura para cima e a mão que o mantinha preso para baixo, amando a maneira a qual Naruto se empenhava em não tossir com ele invadindo-lhe o começo da garganta. Suas mãos formigavam com calafrios que não podia ver, a pélvis aparentava estar sendo pressionada por um peso quente e prazeroso.
Sasuke gostava de poucas coisas, e uma delas, sem sombra de dúvidas, era ter aquele cara loiro metido entre as suas pernas.
Não havia sido necessário tempo demais para que Sasuke relaxasse no banco que acomodava seu corpo frouxo de prazer. Agora, Naruto tinha parado de engoli-lo para descansar a boca cansada. A mão treinada e hábil masturbava o pênis grosso que pulsava, duro e inchado, em sua palma, e assim que Sasuke gemeu lânguida e longamente, Naruto fez o trabalhoso movimento de levantar-se daquele lugar minúsculo e sentar-se sobre as pernas do vocalista.
Aquele colo havia se tornado mais convidativo e aconchegante quanto qualquer colchão de penas.
— Tira a calça — Sasuke ordenou e Naruto levantou-se por um curto intervalo de tempo. O bastante para que tirasse a cueca e engolisse o constrangimento ao ter o outro observando com a atenção de quem analisa uma incógnita.
Assim que voltou a aconchegar-se sobre Sasuke, assistiu-o molhar a mão com saliva e voltar a atenção dela ao seu pau desejoso. Naruto fechou os olhos, o cenho franzido e o gemido recluso na garganta. Ele sentia. Sentia quando Sasuke lhe acariciava brevemente os testículos e voltava, lento e felino, da base do pênis até a cabeça sensível, Naruto sentia quando seu corpo parecia querer explodir com aquela fogueira imaginária que fervia seu sangue, seu cérebro e impedia-o de pensar.
— Eu poderia fazer isso a minha vida toda — Naruto sussurrou, o abdômen e pélvis se encolhendo devido a um espasmo involuntário.
— Você pode — os dedos de Sasuke se abriram por um instante, arrastando-se pelo baixo ventre ao seu alcance. A outra mão se encaminhou às nádegas de Naruto e infiltrou-se entre elas — Você pode, porque... — Sasuke suspirou quando o outro esfregou-se sobre o seu pênis — porque minha carreira 'tá em ascensão. Vou sair em turnês, você pode vir junto.
A neblina que cobria os olhos azuis de Naruto se dissipou durante o mesmo instante em que seu cérebro digeria a nova informação. No entanto, optou por cuidar daquela questão quando os dedos de Sasuke — e o pau dele — não estivessem enterrados dentro dele. O cantor havia mergulhado os dedos dentro dele sem que esperasse pela investida, e assim que ele os dobrou em um gancho cuidadoso, Naruto gemeu em êxtase e oscilou o quadril sobre a mão abaixo de si, enterrando mais fundo.
Para dentro e para fora, para dentro e para fora. Era um movimento simples demais que fazia com que seus músculos vibrassem em encantamento.
Minutos depois, quando Sasuke julgou que já era o bastante, quando achou que poderia tomar Naruto todo e completamente, interrompeu a invasão de seus dedos e levou a mão à própria ereção, levando-a ao caminho de prazer. A bunda que o recepcionaria parecia piscar, ávida por algo mais, e esta aparentou se fechar quando a cabeça do membro de Sasuke mergulhou ali.
— Relaxa ou vai me machucar também — Sasuke ronronou, provando a pele salgada do pescoço de Naruto quando resolveu mordê-la. Podia notá-lo ajeitar os joelhos sobre o estofado, empurrando a si mesmo para baixo e enterrando Sasuke dentro dele. Pressionando-o, o massageando com cada contração muscular que, às vezes, fazia de propósito.
Fazia tempo que Naruto não sentia o prazer que não vinha da penetração, mas sim da pessoa que o penetrava. Como se saber que era Sasuke a fodê-lo o incentivasse a ter um orgasmo.
Naruto tombou o rosto para o lado e voltou a provar daqueles lábios usados para falar tantas coisas inapropriadas. A língua de Sasuke dançava com a sua num ritmo gostoso, pressionando o seu céu de sua boca por um instante. O beijo dele parecia encaixar-se com o seu e aquilo era o bastante para que gemesse.
Quando pôde sentir a vibração vinda de Sasuke, como se berrasse para que pudesse meter nele o quanto antes, Naruto se forçou para baixo e, então, para cima. De novo, de novo, de novo e de novo. O pau glorioso deflorava seu interior com calor. Com vontade. Naruto se sujeitava àquela penetração funda, gostosa e intensa, e não duvidava que pudesse ver estrelas.
— Puta que pariu, Sasuke — Naruto quase uivou, sentindo Sasuke agarrar sua cintura e, com a mão livre, prender seus cabelos claros entre os dedos fortes.
— Isso.. — gemeu, afastando a mão de Naruto por um segundo, voltando rapidamente e com força, dando-lhe um tapa estalado e ardido em sua coxa molhada de suor.
Naruto contraiu seu interior, esperando escutar Sasuke gemer e estreitou os cílios ao vê-lo grunhir e jogar a cabeça contra o encosto do carro. As pernas dele se abriram mais, receptivas.
O veículo chacoalhava excessivamente, a chuva permanecia com seu trabalho de se chocar contra a lataria e as janelas, os vidros, antes impecavelmente translúcidos, agora se exibiam nublados e afetados pela temperatura febril que dançava para fora dos corpos que se movimentavam, perfeitos, como a coreografia de uma dança.
— Você é gostoso demais, Naruto.
Naruto gemeu, circulando os movimentos do quadril, exausto. Sasuke, por sua vez, ajeitou-se sobre o banco e impulsionou a cintura rumo às nádegas dele. O carro rangeu mais, Sasuke gemeu mais, Naruto satisfez-se mais. Era a soma de prazer, de satisfação, de desejo, que resultava em um frenesi. Não havia drogas, não havia bebidas, que sequer pudessem transmitir aquela sensação.
Sasuke foi mais fundo, apertando com grande vigor a bunda em suas mãos e riu, arrogante e divertido, quando Naruto contraiu o corpo, tremendo sem querer e retraindo os dedos dos pés, gozando com vontade. Observou a imensa beleza dele: os olhos, tão azuis quanto um oceano, se reviraram nas órbitas e a boca abriu-se para um grito de prazer. O pescoço vermelho dele pulsava, o suor salgado escorrendo até o queixo e a língua secava.
— Você é fodidamente bom nisso — Naruto gemeu, rindo enquanto os poucos segundos de orgasmo ainda assolavam seu organismo. Seu pênis, percebeu, havia gozado sobre o abdômen de Sasuke, mas ele não aparentava estar incomodado.
Sasuke permaneceu mergulhando naquele corpo único, sustentando um Naruto frouxo e cansado em seus braços. Ele gemia, manhoso e esgotado, em seu pescoço e riu pelo nariz ao sentir o gozo de repente dentro dele. Sasuke continuou penetrando ainda depois, se aproveitando do próprio pênis mais sensível pelo orgasmo, até que a preguiça o desmanchou e sugou, faminta, a força de seus músculos.
— Ah, Naruto — suspirou, risonho, mordiscando o lábio ao dar um tapa na bunda que permanecia sentada sobre ele.
— Acha que alguém viu? — Naruto resmungou, a cabeça apoiada sobre um dos ombros nus de Sasuke — Se algum vídeo nosso estiver em algum site pornô daqui a algumas horas, mato você.
— Deveriam ter gravado — Sasuke provocou e sentiu Naruto mordê-lo, a força dos dentes ferindo a sua pele — Assim eu vou poder assistir isso daqui tudo de novo.
— Me ter ao vivo não é bem melhor?
— Você vai estar aqui para que eu possa fazer isso?
Naruto afastou-se, apenas o bastante para que pudesse observá-lo. Aquele cabelo esquisito — e sedoso feito veludo. Naruto o havia tocado quando tivera a oportunidade — havia se colado à pele e as maçãs do seu rosto reluziam, úmidas, em contrapartida ao frio que jazia do lado de fora. Sasuke tinha um péssimo hábito de encará-lo diretamente nos olhos, então Naruto se viu obrigado a desviar o olhar e se movimentar para o banco do lado, onde antes se sentava.
— Talvez. — replicou, por fim, averiguando a janela condensada de calor.
Sasuke não o respondeu. Muito pelo contrário: Esticou-se até abrir o porta luvas e extraiu de lá um cantil. Bebeu o que quer que existisse ali dentro, crispando os lábios de repente iluminados pelo líquido e ergueu as sobrancelhas para um Naruto totalmente nu ao seu lado.
— Vai cogitar o que eu te sugeri?
Naruto não havia raciocinado. Não, não havia como. Não quando esteve fazendo o melhor sexo que tivera até então, de uma maneira que não conseguisse pensar em qualquer coisa que não fosse o pênis entre as suas pernas e o beijo de Sasuke compatível ao seu. Sequer havia tido oportunidades para refletir sobre a turnê que ouvira ser citada.
— Eu não sabia que era tão famoso — Naruto disparou, o lábio de esticando para sorrir enquanto ele recolhia suas peças de roupa e tornava a usá-las — Sabe... Para fazer turnês.
Sasuke não aparentava estar perturbado com a sua visível nudez. Como se estivesse sentado sobre a poltrona mais confortável de todas, espalhava-se sobre o banco do automóvel como uma estrela e exibia toda o seu esplendor. A pele leitosa quase lampejava com a pouca luz que existia ali e Naruto realmente desejou que ele não optasse por se vestir tão cedo.
— Uma gravadora se interessou — Sasuke pontuou, taciturno. Girou o cantil nas mãos e observou o próprio reflexo na prata — É algo lento, mas minha carreira está em ascensão.
— A julgar pelo seu tom de voz, por que tenho a impressão de que não está feliz com isso?
— Não sou o tipo de pessoa que se pode confiar para compromissos — dito isso, Naruto desfez-se em uma gargalhada lacrimosa — Te convidei para as turnês porque acho que seria bom ter uma corda para me agarrar.
Naruto prendeu a fivela do cinto aos passadores da calça e deu mais uma espiada ao corpo glorioso ao seu lado.
— Você é tipo um jovem-adulto contra as regras ou coisa assim? Sakura chega perto de ser uma protestante contra a imposição de normas na sociedade. Vocês formariam uma dupla e tanto.
Sasuke arrastou o olhar negro para Naruto e, devido à sua expressão, ele não soube discernir se o cantor havia se ofendido ou se Sasuke realmente o julgava como um imbecil de marca maior. Algo lhe dizia que eram as duas alternativas.
— Não começa — Sasuke riu, cínico, terminando o conteúdo do recipiente em suas mãos — Só acho que uma coisa dessas não é pra mim. Não quero ter um dever que sei que não vou conseguir cumprir.
Naruto voltou-se ao outro de repente, feito um raio loiro e luminoso.
— Você está com medo do que você mesmo pode fazer. É triste, sabia?
A chuva não havia parado. Longe disso. Granizo aparentava cair e guerrear contra o carro, querendo invadi-lo em uma grande tempestade. Agora que não mais se envolviam, o corpos retornavam à temperatura gelada e Naruto se questionou se Sasuke não estivesse passando a congelar. Assim, pegou a própria jaqueta e cobriu o torso e o baixo ventre do cantor, uma vez que ele não parecia estar perto de querer esquentar à si mesmo. Sasuke sequer se manifestou com a demonstração gentileza, mas se encolheu abaixo do tecido. Como um gato arisco recebendo um cobertor.
O rádio criou vida por um segundo. Go Cry on Somebody Else's Shoulder se espalhou pelas paredes de metal como uma prece.
— Chega a ser ridículo não confiar na própria cabeça. — dito isso, Sasuke pareceu ter esgotado todas as próprias palavras. Engolido pela boca cavernosa da própria dor. Acreditava ser um absurdo dizer à Naruto, um rapaz que sequer conhecia, coisas que jamais ousou confirmar para si mesmo. Ele, inclusive, pareceu respeitar o seu momento de silêncio e esticou a mão para contornar a linha da mandíbula bonita.
— Eu iria com você, sabe? Colocar Elton John num rádiozinho e pegar a estrada. Ir para São Francisco — Naruto constatou após incomodar-se com a falta de diálogo — Mas eu vivo uma soma de pressão universitária, um grande nada e um futuro vazio que eu não sei como preencher. Viajar com você para um monte de lugares me parece uma aventura e tanto — sorriu, sonhador, o olhar azul e brilhante mais profundo devido à luz fraca que transpassava as janelas — Mas estou na faculdade e não quero simplesmente... trancar o curso. Faltam dois anos para a conclusão, isso se eu não reprovar em nada.
Sasuke assentiu, sustentando os olhos claros daquele homem ao seu lado e mesclando o seu próprio negro à eles.
— Você esperaria esse tempo todo? — Naruto questionou, risonho, e Sasuke se concentrou nele — Até lá, você vai ter tantos fãs que jamais vai se lembrar de Naruto Uzumaki, o sujeito com quem você trepou gostoso dentro do carro e deu à ele uma palheta de presente pelo simples prazer de me irritar.
Sasuke sorriu de canto, murchando dentro da jaqueta de Naruto.
— Não é todo dia que alguém, como vingança, escreve a inicial do próprio nome na minha palheta — os olhos dos dois vaguearam, em sincronia, ao pequeno objeto que permanecia preso ao retrovisor. Naruto riu ao ver o grande e espalhafatoso N rabiscado em vermelho ali — Não vou esquecer, Menino-Raposa.
Naruto suspirou, enfeitiçado. Estava ali aquela sensação calorosa, tal qual um vapor morno e macio, lhe envolvendo o coração e dizendo que tudo daria certo. Ele e Sasuke eram peças opostas de um quebra-cabeças que, ainda assim, se encaixavam, então não era surpresa que seu ego carente de afeição e de um parceiro gritasse mais alto.
Não relutou quando Sasuke avançou contra ele e o invadiu com dentes, lábios e língua. Suspirava, apaixonado, com a pegada em seu corpo e cogitava seriamente retirar as próprias roupas mais uma vez. Abriu sutilmente os olhos azuis, piscando os cílios, observando as pálpebras fechadas em frente às suas. Um ruído lhe chamou a atenção, e sem interromper a carícia os lábios de Sasuke promoviam sobre os seus, olhou de soslaio para o porta luvas ainda aberto, de onde havia caído um pino.
Não tão grande, não tão pequeno, mas suficientemente colorido para chamar a atenção. Um pino de cocaína.
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