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História A Perfeita Imperfeição de Existir - Décimo Oitavo Ato


Escrita por: redrosess

Notas do Autor


Oi pessoal! Eis eu por aqui de novo! Espero que vocês estejam tendo um ótimo inicio de ano. O meu está indo mais ou menos... Mas vamos lá. Se Deus quiser, vai melhorar.

Perdoem meus eventuais erros de edição, tá? Não investi muito tempo em corrigir esta parte. Então vamos lá, pessoal!

Capítulo 18 - Décimo Oitavo Ato


Fanfic / Fanfiction A Perfeita Imperfeição de Existir - Décimo Oitavo Ato

Sasori caminhava ao lado de Sakura através dos corredores esbranquiçados do hospital de Sunagakure. Partiram logo depois que o ruivo tomou café da manhã, principalmente porque Sakura se recusou a sair até ele ter comido o pão inteiro. Os ANBU formaram uma barreira espalhada em todos os lados, muito para consternação de Sakura. Ela estava preocupada que a presença deles pudesse deixar os pacientes nervosos, mas insistiram em escoltar Sasori.

— Na verdade, estou surpresa por eu não ter pensado nisso mais cedo, mas realmente não achei que você se importasse — disse ela com voz desajeitada.

Sasori não demonstrou qualquer reação em resposta. Sakura, então, prosseguiu:

— Na verdade, você está sendo muito mais aberto à coisa sobre ensinar do que eu pensei que seria. Isso é muito vindo do cara que pensava que ensinar os outros era uma perda de tempo — ela disse e riu.

— Eu sou um mestre de marionetes, tenho todo o direito de transmitir meu conhecimento e experiência a outros... se assim o desejar. E você mesma disse que eu sou um especialista em venenos.

Sakura ficou boquiaberta. Sério? Sério mesmo? Uma réplica desagradável coçou na ponta da língua dela, mas a engoliu de volta. Cerrou os punhos e mentalmente contou até dez. Se ela explodisse nele assim, só provaria que ele a tinha afetado. E isso era provavelmente o que ele queria, o bastardo conivente... Não. Em vez disso, Sakura iria jogar o jogo dele, mas ainda melhor.

— Está bem, então... Eu sabia que você seria um professor eficaz.

Sasori se virou e viu Sakura observando-o, um brilho malicioso nos olhos dela. Ele parecia um pouco irritado.

— Você é muito objetivo e prático, além de bom em descobrir falhas e corrigi-las — Sakura elaborou, esperando que seu elogio o pegasse desprevenido.

Ele suspirou suavemente.

— Eu nunca tive uma razão para ensinar os outros.

Sakura piscou para ele, admiração rapidamente substituindo seu desejo anterior de irritá-lo. Ele estava olhando para frente, mas era como se não estivesse o fazendo. Sakura teve a sensação de que o ruivo estava rememorando algo, e desejou poder ler sua mente. Isso relembrou-lhe que havia um grande passado por trás do homem em sua frente, memórias desconhecidas para ela. Aquela curiosidade familiar cochichava desesperadamente em sua consciência. Perguntou-se se ele jamais explicaria-lhe de bom grado as ações mais obscuras de suas vivências. E Sakura também se perguntou por que, de repente, isso passou a importar-lhe.

— Bem, qualquer que seja a sua razão, estou feliz que você tenha uma agora — ela disse suas palavras enquanto segurava o olhar preguiçoso e lateral que ele atirou.

Chegaram ao laboratório químico do lado leste do hospital para descobrir que nenhum dos "estudantes" tinha chegado ainda. Sakura decidiu se ocupar reunindo várias plantas secas, frascos de líquidos estranhamente coloridos e uma variedade de pós em uma grande mesa de aço inoxidável. Em seguida, ela foi buscar tigelas, pilões, tubos de ensaio vazios e várias outras ferramentas que poderiam ser úteis para examinar substâncias e misturá-las. Sasori a observou em silêncio.

— O que fez você se interessar por venenos? Sakura perguntou.

— É uma boa arma para qualquer shinobi.

— Sim, mas você reuniu conhecimentos para produzir seus próprios venenos, o que a maioria de nós não pretende fazer.

— Há uma satisfação inexplicável que vem com a criação de algo único.

— Você está comparando com o que sente quando cria um novo boneco?

— Digamos que sim... e não. É o mesmo conceito geral, mas as duas coisas são decididamente diferentes para mim.

— Sasori — ela disse tentativamente. Ficaram com a mesa de aço inoxidável entre eles. — No outro dia, quando eu lutei contra Kankuro — ela parou. Para sua surpresa, Sasori riu suavemente e disse:

— Uma viagem inesperada pela via da memória, não acha?

A rosada estreitou os olhos, desconfiada das palavras dele.

— Na verdade — ela disse —, achei que foi um tanto estranho. — O ruivo não respondeu a isso, e Sakura prosseguiu: — Não o incomodou que Kankuro tenha usado o seu... — ela hesitou.

— Meu velho corpo? — ele esclareceu com aquele tom burdo. — Por que eu deveria?

— Por que não? Eu pensei que você pudesse ter ficado com raiva.

Sasori se inclinou para frente e descansou o queixo em suas próprias mãos. Olhou languidamente para uma Sakura tensa. Realmente, ela se deixava ficar tão ocupada com as coisas mais triviais, pensou ele.

— Esse corpo é um experimento fracassado.

— Mas foi o seu corpo uma vez — ela argumentou, um pouco exasperada.

Sasori inclinou a cabeça, seus olhos de mel examinando os traços aparentemente estressados da garota a encará-lo. Por que ela estava tão preocupada com isso?

— É uma marionete. Sempre foi — disse ele, pensativo.

Sakura piscou. Ele estava certo... Era apenas um boneco. Um golem sem vida.

— Eu prefiro o jeito que você está agora — disse ela sem pensar.

Os olhos de Sasori se estreitaram por aquelas palavras, como se estivessem procurando a mentira nelas. De que tipo de frivolidade ela balbuciava?

— Por que você fez isso? — Sakura perguntou de repente.

Ele a olhou cuidadosamente. Já tinha lhe dito um pouco de sua visão da arte. Entretanto, duvidava que ela pudesse compreender sua filosofia.

Só que mesmo talvez sem entendê-lo, ela parecia concentrada em tudo o que ele pudesse revelar.

— Eu não vou entender a menos que você me explique — ela acrescentou com seriedade. — Tudo.

Uma estranha luz piscou nos olhos mel de Sasori. Ele inclinou a cabeça ligeiramente para o lado, como se estivesse tentando obter um melhor ângulo de sua interlocutora.

— Por que eu deveria?

— Eu quero saber — ela disse com calma resolução. — Eu preciso saber.

Passou-se um longo silêncio, e Sakura tinha certeza de que ele não iria dizer qualquer palavra.

— É uma longa história.

— Eu tenho tempo.

Depois de alguns momentos de silêncio tenso, ele abriu a boca para dizer alguma coisa.

— Haruno-sensei! Sinto muito que estamos atrasados — uma voz masculina penetrou o silêncio.

Se os olhares pudessem matar, o sujeito que acabara de interrompê-los estaria morto em segundos. Sakura olhou furiosamente para o intruso, sabendo que Sasori não falaria com os outros ao redor.

— Dan — ela se dirigiu aos recém-chegados —, Kawabata-san, Mihara-san.

Os três pesquisadores acenaram para ela antes de se concentrarem em Sasori.

— Este é Sasori Akasuna. Por favor, não se assustem, pois o chakra dele está selado e há uma equipe de guardas ANBU vigiando-o — disse ela, lutando para evitar que sua irritação interrompesse seu tom.

Os três pesquisadores hesitantemente entraram no laboratório. Com muito receio, obviamente, contornaram Sasori com um amplo espaço. A única mulher no local (além de Sakura) Maki Kawabata, tinha um semblante tímido. Usava óculos grandes e redondos. Aproximou-se de sua instrutora, mantendo um olhar atento em Sasori.

— Haruno-sensei, isso é realmente apropriado? — ela sussurrou.

— Está tudo bem. — Sakura mordiscou os próprios lábios, um pouco mais fortemente do que era necessário. — Eu garanto.

Os olhos de Kawabata se arregalaram de surpresa e ela correu para o outro lado da mesa para se juntar aos dois pesquisadores do sexo masculino. Era um pouco cômico o modo como eles se amontoavam juntos em um grupo enquanto Sasori, descansando quase preguiçosamente em um banco de aço inoxidável, tinha todo o lado direito da mesa para si mesmo. Sakura revirou os olhos.

— Olhem, compreendo a apreensão de vocês, mas asseguro-lhes que estão em segurança. Eu não os colocaria em risco, de forma nenhuma! — ela tentou aliviar seus medos.

Kazuaki Mihara, um homem alto, de uns quarenta anos, falou:

— Haruno-sensei, — Ele se encolheu, indicando Sasori —, posso perguntar por quê?

— Estou feliz que você tenha perguntado isso, Mihara-san. Na verdade, eu tenho certeza que você provavelmente está ciente de que Sasori é um especialista em venenos. Então, já que hoje todos vocês queriam falar sobre venenos em vez de antídotos, eu pensei que seria uma boa ideia trazer um especialista. Eu não sou uma especialista em venenos, por isso me parecia natural conseguir alguma ajuda profissional.

Sakura quase podia ouvir o gole coletivo dos três pesquisadores. Mas ela supôs que devia dar-lhes um desconto, afinal eles não haviam passado tanto tempo com Sasori como ela tinha. A rosada estava prestes a dizer algo para tentar acalmá-los, mas o mais jovem pesquisador, Dan Maehara, falou:

— Haruno-sensei, se você acha que isso vai aprofundar a nossa compreensão, então estou ansioso para começar.

Sakura piscou para o jovem. Ela sempre gostou dele, mas agora sentia uma pontada de respeito por ele que ela não sentira antes. Foi sempre bom ver pessoas que colocam diferenças pessoais por trás deles para se concentrar na tarefa em mãos.

— Estou feliz em ouvir você dizer isso — respondeu a Dan. — Para ser sincera, Sasori está aqui para observar, então eu vou estar liderando a classe, mas... — ela olhou para o ruivo — sinta-se à vontade para falar se você achar necessário.

Sasori balançou a cabeça, seus olhos vazios e frios. Ela tentou ignorar a torção desconfortável em seu peito ao vê-lo assim outra vez.

— Bem, vamos começar, certo?

A aula consistia de uma palestra geral sobre venenos comuns e seus efeitos, bem como familiarizar-se com certos ingredientes que, quando devidamente misturados, poderiam criar venenos diferentes. Claro que Sakura não iria realmente permitir que alguém fizesse venenos enquanto Sasori estivesse por perto; mas pelo menos os alunos podiam ver e tocar os ingredientes. Se adequada e separadamente contidos, os reagentes eram relativamente inofensivos.

— Esta é uma amostra de óxido de etileno — Sakura explicou, segurando um frasco aparentemente vazio. — Alguém pode me dizer o que acontecerá se nós misturarmos isto com água?

— Deve produzir glicol de etileno, uma substância muito tóxica que é fatal quando ingerida — disse Mihara, alcançando o frasco.

Sakura entregou a ele para examinar.

— Correto. O etilenoglicol é um veneno normalmente usado durante os assassinatos. É inodoro, incolor e tem um sabor levemente doce. Se misturado com vinho, por exemplo, pode ser quase indetectável.

— Etileno glicol tem uma textura xaropada, no entanto — Sasori falou. — Assim, não é necessariamente a melhor opção para misturar com um líquido, porque um hábil shinobi pode detectar a diferença de viscosidade.

Sakura olhou-lhe com leve surpresa.

— O que você sugere? — Kawabata perguntou a Sasori, um olhar de interesse genuíno em seu rosto.

Sasori olhou para ela, e Sakura se perguntou se ele estava pensando em revelar ou não alguma coisa.

— Isso vai depender do contexto. Envenenar a comida ou a bebida de alguém geralmente não é uma boa ideia se o seu alvo for importante, pois este, com toda a certeza, empregará um provador para testar qualquer coisa que planeje ingerir. Nesse caso, é melhor infligir uma ferida com uma arma embebida em veneno — explicou.

— Então, você quer dizer que os venenos ingeridos são geralmente menos eficazes? — perguntou Mihara.

— Não necessariamente. O cianeto de hidrogênio, por exemplo, é um veneno gasoso e, se for inalado, a vítima pode morrer quase instantaneamente dependendo da concentração. A toxicidade é causada pelo íon cianeto, que interrompe a respiração celular — explicou.

Mihara ficou pálida com as implicações.

— É claro que um assassinato instantâneo nem sempre é benéfico — continuou Sasori. — Às vezes pode ser mais útil usar venenos que levam tempo para matar. Como eu disse, isso vai depender do propósito do atacante — Sasori disse, com brilho em seus olhos. Aquela imagem estremeceu Sakura

Os três pesquisadores assistiram Sasori com olhares de temor mórbido. Ele descreveu os venenos com um toque quase melancólico à sua voz, como se estivesse discutindo uma boa lembrança. A valer, o homem tinha talento para transmitir conhecimentos e, ao mesmo tempo, assustar as luzes vivas das pessoas.

— E é por isso que é importante saber como fazer um antídoto eficaz — interveio Sakura. — O cianeto de hidrogênio não é tão comum no campo de batalha, porque a única maneira de permanecer imune seria usar uma máscara respiratória, ou seja, mesmo o usuário estaria suscetível ao ataque. Ainda assim, há um antídoto estabelecido, do qual todos devem estar cientes.

A aula foi muito mais interessante para Sakura do que ela tinha previsto. Sasori era geralmente calado, mas ele compartilhava suas opiniões em momentos-chave. A opinião dele pareceu colocar as coisas em perspectiva sobre a eficácia e adequação de certos venenos. Claro, ele tendia a dizer coisas que descaradamente indicavam que tinha mais do que uma vida inteira de experiência envenenando pessoas, e Sakura sabia que esse detalhe trouxe um pouco de desconforto​ aos alunos. Sasori era, certamente, mais conhecedor de venenos do que Sakura, e ela se viu invejando um pouco o ruivo.

Uma vez que ficou claro que Sasori sabia exatamente o que estava falando, os pesquisadores aproveitaram a oportunidade para pedir sua opinião sobre certos venenos: como armazená-los, o método mais eficaz de contaminação e qualquer outra coisa que atravessasse suas mentes. Sakura estava secretamente satisfeita por ter respondido às perguntas deles sempre que Sasori não podia responder.

Sempre calculista, ele tomou o cuidado de formular suas respostas de uma forma que pudesse abordar todas as perguntas potenciais de acompanhamento que os pesquisadores vissem a ter. Ele até mesmo conseguiu não sair como duro e intolerante, como às vezes era com a brigada quando eles cometiam erros. No final do dia, Sakura sabia mais sobre como matar pessoas com veneno do que ela realmente queria saber.

— Sasori-san, obrigado por compartilhar sua visão com a gente! — Dan disse com entusiasmo. — Espero que você considere visitar nossa classe novamente no futuro.

Sakura sorriu maliciosamente para um Sasori confuso, levando-a para o cenho do especialista em venenos. Claramente o fato de que o ruivo era uma fonte de conhecimento especializado parecia pesar mais fortemente na mente de Dan do que o seu passado de criminoso que tinha matado inúmeras pessoas com os venenos sobre os quais o jovem pesquisador estava tão interessado ​em aprender. Mihara e Kawabata estavam um pouco menos entusiasmados, mas igualmente satisfeitos com seus novos conhecimentos.

— Haruno-sensei, talvez da próxima vez possamos trabalhar na criação de alguns desses venenos, não? — sugeriu Mihara, olhando discretamente para Sasori.

— Talvez possamos, mas só depois de eu resolver isso com o Kazekage. Tenho que me certificar de que ele esteja ciente de que poderíamos estar misturando armas químicas — respondeu ela.

Eles educadamente se despediram de Sakura e Sasori, deixando os dois sozinhos mais uma vez. Sakura suspirou e esfregou as têmporas. O ensino sempre a deixava inexplicável cansada.

Ela pegou os materiais esparramados sobre a mesa de aço inoxidável e procedeu a devolvê-los aos seus compartimentos de armazenamento designados.

— Viu?  Isso não foi tão ruim — disse ela levemente enquanto tentava deslizar um microscópio para uma prateleira alta.

Uma mão se ergueu para agarrar a ferramenta acima da sua própria, e ela olhou para cima para ver Sasori empurrando o microscópio para a prateleira. Ele era alguns centímetros mais alto que ela, então seu alcance se estendeu um pouco mais longe que o dela.

Sakura notou a proximidade de seus corpos. Ele estava muito perto dela para chegar à prateleira. A rosada estava vagamente consciente do calor que ele emanava através de sua roupa, o que a deixou com as bochechas vermelhas.

— Oh, obrigado por sua ajuda — ela murmurou, evitando o contato visual.

— Por que você está nervosa? — ele perguntou.

Ainda corando muito, Sakura encontrou os olhos dele.

— Por que você diz que eu estou nervosa?

— Você está corando e parece que seus batimentos cardíacos estão acelerando — ele afirmou enquanto a encarava.

Droga. Claro que ele se lembraria do que ela havia lhe dito sobre as emoções afetarem a frequência cardíaca. E é claro que ele iria por aquelas palavras contra ela. Droga.

— Bem, eu não estou nervosa, está bem? Só está quente aqui — ela resmungou, empurrando-o e saindo de sua proximidade. Em seguida, para disfarçar, recomeçou a recuperar mais suprimentos da mesa.

— Você é uma péssima mentirosa.

— Eu não tenho que me explicar para você.

Com tubos de ensaio e outras parafernálias em mãos, Sakura passou pelo ruivo e se dirigiu para o armário de armazenamento. Ele a viu colocando o equipamento em segurança antes que se virasse para encará-lo novamente.

— Mais cedo, você perguntou por que eu me transformei em uma marionete.

Sakura congelou, seu nervosismo anterior esquecido de repente.

— Sim — ela disse, tentativamente.

— Eu não tenho que explicar-me a você, também...

Sakura sentiu seus próprios olhos se contraírem. Maldito, usando sua própria técnica evasiva contra ela.

— Não há nada para explicar — ela disse calmamente.

— Entendo.

Um silêncio tenso caiu em torno deles, e Sakura o olhou para o lado. O que ele estava tentando fazer? Ela nem sequer compreendia por que tinha ficado envergonhada. Ficou um pouco assustada com a proximidade deles. E também, ela não esperava que ele a ajudasse a guardar o equipamento de laboratório. Sim, foi obviamente isso.

— Eu só não esperava que você me ajudasse a guardar os equipamentos. E eu acho... — ela hesitou, sentindo-se, de repente, incômoda — Eu acho que fiquei um pouco assustada quando, do nada, o vi de pé ao meu lado.

A garota olhou para o lado outra vez, sentindo-se insuportavelmente desajeitada com a admissão. Por que ela deveria se importar afinal?

— Eu faço você ficar nervosa?

Ela levantou os olhos para encontrar os dele.

— Eu não disse isso.

— Mas você estava nervosa há pouco.

— Eu... — ela ia dizer algo, mas se cortou. Cruzou os braços sobre o peito, um mecanismo de defesa inconsciente. Uma carranca formou-se na testa dela, enquanto mordia seu lábio inferior em consternação.

Olhando por um instante para Sasori, notou a maneira como ele mudou de expressão, seus olhos mel olhando de forma tênue para ela. Parecia curioso, como se estivesse analisando cuidadosamente as novas informações com um grau de cálculo estranho.

— Eu queria obter o corpo perfeito, que nunca envelheceria. Eu queria "A verdadeira imortalidade" — ele disse suavemente. Com os os olhos arregalados de surpresa, Sakura levantou a cabeça. — Mas como você sabe, esse plano, no fim,  falhou.

Ela piscou. Essa poderia ser uma oportunidade rara para ela recolher mais informações dele.

— Mas por que você quer ser imortal? Por que deixar para trás sua vida humana?

— Eu queria me tornar uma verdadeira arte.

Ela ficou boquiaberta. Essa era a razão dele?

— A arte é algo que conserva sua beleza infinitamente — ele continuou —, algo verdadeiramente intemporal.

— Então algo que não permanece bonito para sempre não é arte — ela disse, tentando entender.

— Sim. Pegue o corpo humano, por exemplo. Envelhece e apodrece, só para se murchar e morrer um dia — disse ele, o desgosto evidente em seu tom. — Os seres humanos são criaturas finitas e imperfeitas.

— Mas não há beleza nisso também? Eu penso que a perfeição extrema seria um tanto maçante, afinal as falhas também ajudam a tornar cada pessoa única. Eu acho que esse tipo de imperfeição é bela em sua própria forma.

Ele a olhava da mesma maneira que um pai consciente consideraria um adolescente rebelde. Esse olhar condescendente fez o sangue dela ferver.

— Eu posso entender por que você defende os humanos, afinal de contas você é uma. Mas entenda, você mesma não será jovem e bela para sempre. Um dia seu corpo morrerá e se transformará em poeira, e sua memória vai desaparecer como se o seu ser nunca tivesse existido.

Sakura ficou sem palavras. Nesse momento ela finalmente obteve uma melhor compreensão de uma das filosofias centrais de Sasori. E aquela resignação no tom dele a lembrou de como ela sentira-se incapaz de falar com ele durante seus primeiros dias de prisão. Isso a deixou com raiva.

— Você é humano agora também, Sasori! Também envelhecerá e morrerá eventualmente.

— Errado. Serei executado antes que eu tenha a chance — disse ele.

— Mas qual é o seu problema? — ela desafiou. — Você diz que quer a imortalidade, no entanto parece ter uma perspectiva fatalista em sua vida.

— Não há problema, simplesmente aceitei meu destino.

— Eu não o entendo. Você, um perfeccionista, alguém que tudo faz com o objetivo final de alcançar o mais alto nível de perfeição, aceitando a derrota tão facilmente, assim como o momento que deixou Chiyo-baa-sama matá-lo.

Os olhos de Sasori se estreitaram perigosamente.

— Você não sabe do que está falando.

— Então me diga por que você nos deixou vencer? Por que alguém tão concentrado em alcançar a imortalidade e a beleza infinita simplesmente desistiu no final? Por que você está desistindo agora?

Sakura sentiu-se tremendo com a intensidade dos sentimentos contidos nos olhos do ruivo. Se a forma furiosa com a qual olhava para ela fosse qualquer indicação, ela provavelmente tinha acabado com qualquer chance de descobrir a verdade nesse momento. Frustrada, soltou um suspiro e sacudiu a cabeça, tentando limpar suas emoções confusas.

— Sei que você está escondendo alguma coisa, mas eu não vou forçá-lo a revelar nada. É seu segredo para dizer ou manter — disse ela, esfregando a parte de trás de seu pescoço para resolver a rigidez.

Depois de um momento, Sasori pareceu voltar àquele olhar frio e oco que costumava mostrar.

— Por que você quer saber sobre mim?

Sakura sorriu amargamente.

— Porque você foi o primeiro a me reconhecer genuinamente. Você e Chiyo-baa-sama. Nossa batalha foi uma das únicas vezes em toda minha vida que eu senti que minha existência era essencial para os outros Acho que não posso deixar isso. É meio patético, eu sei...

— É mesmo.

— Bem, é a verdade.

O silêncio se esticou entre eles, mas de alguma forma Sakura se sentiu um pouco melhor após finalmente ter expressado sua insegurança. Desde que se lembrava, tinha lutado consigo mesma para ser útil aos outros. E por mais que odiasse admitir, a luta com Sasori quatro anos antes realmente tinha deixado uma profunda impressão sobre ela. Nunca em sua vida se sentira mais viva, sabendo que estava tão perto da morte e que ninguém a estava segurando, tentando "mantê-la segura". Chiyo tinha louvado seu semblante, e Sasori tinha reconhecido suas habilidades, embora com relutância. No entanto, eles tinham morrido pouco depois do fato, não deixando nenhuma prova da experiência estimulante. Com o passar do tempo, a própria Sakura começou a duvidar que alguma vez aquela épica batalha tivesse acontecido. Esse sentimento particular de utilidade tinha sido quase impossível para ela replicar desde então.

— Vamos, é tarde, e você deve comer alguma coisa — ela disse suavemente, tomando cuidado para evitar o contato visual.

Ele não disse nada enquanto saíam do laboratório em silêncio.


Notas Finais


Até mais, pessoal!


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