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História A princesa e o mago - Sobre aniversários e desejos


Escrita por: StardustWink

Notas do Autor


E aí, pessoal! ....Faz um tempo que eu não atualizo essa fic, né? Eu esperava que a pausa que eu tirei ano passado durasse só alguns meses, mas ela acabou virando um bloqueio criativo que roubou toda a minha motivação, e bom... Eu sempre fui perfeccionista demais pra pensar em postar algo quando eu não estava confiante do resultado.

Mas wmmap terminou oficialmente hoje, e eu queria poder fazer algo por essa data de alguma forma. Então aqui estou eu, terminando um dos meus wips depois de meses em silêncio. Yay! /solta confetes/

Essa história em específico é uma que eu fiz pro aniversário da Athy de alguns anos depois do canon, mas que acabou englobando muito mais coisa quando eu peguei de novo pra terminar. Eu me inspirei em cenas que acabaram não entrando no webtoon, coisas que devem acontecer ainda nos capítulos extras, e basicamente tudo o que me fez me apegar tanto a esse ship. Ainda me lembro de quando era 2019, quase ninguém falava de wmmap e eu comecei essa coleção pq queria expressar o meu amor por lucathy em algum lugar... Nunca que eu poderia imaginar receber tanto carinho depois de postar tudo aqui. :') De coração mesmo, obrigada!

Enfim, eu já falei demais né dklfjdkl Espero que vocês gostem, e nos vemos lá embaixo!

Capítulo 10 - Sobre aniversários e desejos


Já passavam das onze da noite. 

Debaixo da luz do luar que a iluminava de sua posição apoiada contra a sacada de seu quarto, Athanasia tinha um sorriso leve no rosto enquanto observava o céu estrelado. 

Aquele havia sido um dia atarefado e mesmo assim divertido, como só seus aniversários naquela vida costumavam ser. Quem diria que seu pai fosse lhe presentear um baile inteiro só porque ela comentara com ele que estava ficando com saudades de dançar. 

Felizmente, a princesa conseguira manter o evento fechado só para poucas pessoas — ela teria que agradecer a destreza de Felix e Lily por isso — e passara grande parte da noite dançando, comendo seus doces favoritos da mesa de guloseimas e conversando com suas amigas e os outros convidados. 

Mas o acontecimento da noite havia sido quando Claude, no momento em que a valsa começara, resolveu levantá-la no ar na frente de todos durante sua dança juntos como se ambos ainda estivessem em sua noite de debutante e Athanasia tivesse apenas treze anos. 

Tivera ele um surto de nostalgia ou uma certa influência pelo espírito festivo da noite? Ela não sabia. Athanasia só tinha absoluta certeza que aquele não seria um assunto a deixar as páginas dos folhetins de fofoca do reino tão cedo, o que era péssimo para a tamanha vergonha que ela sentia toda vez que lembrava da tal cena. Talvez nem mesmo sua maturidade de duas vidas passadas fosse suficiente para livrá-la da vergonha alheia juvenil que era ter seu pai fazendo algo exagerado na frente de todo mundo. 

Enfim, preocupações bobas à parte, ela devia provavelmente voltar para o seu quarto e dormir. Não seria nem difícil fazer isso, também: do jeito que seus olhos estavam começando a pesar, Athanasia não duvidava que iria cair no sono assim que sua cabeça encostasse no travesseiro.  

No entanto, a jovem não se moveu de sua posição na sacada. Ainda que estivesse cansada do dia cheio que tivera, faltava ainda cumprir uma última tradição antes que seu aniversário pudesse ser considerado completo. 

Com um suspiro de vento ao seu lado que quase a teve pulando de susto, a tal tradição chegou apenas alguns minutos depois. Athanasia tentou esconder a surpresa em seu rosto, mas uma risada baixa à sua direita a fez saber que já era tarde demais. 

- Você não devia estar no seu quarto a essa hora? 

A voz levemente acusatória de Lucas soou em seguida, a fazendo enfim se virar. O mago em questão a encarava com olhos rubis estreitos, apoiado de costas para o corrimão da sacada com os braços cruzados como se não tivesse acabado de aparecer do vazio num passe de mágica. 

O sorriso de canto que ele tentava conter não passando despercebido por ela.

Graças à sua maior sensibilidade à magia que veio com o maior controle de seus poderes mágicos, Athanasia estava ficando cada vez melhor em pressentir a estática do ar de quando Lucas se teleportava para perto. Mesmo assim, tinha vezes que o mago ainda conseguia pegá-la de surpresa com suas visitas — algo que ele parecia achar incrivelmente divertido de fazer, mesmo que não tivesse comentado sobre isso em voz alta ainda. 

E, bom, não seria ela que daria a ele a chance de começar. Se Lucas estava esperando até que Athanasia reclamasse para finalmente dar voz às suas implicâncias, ele que ficasse rindo sozinho. 

- ...Se eu voltasse para dentro e caísse no sono, você provavelmente não iria querer me acordar, não? - Ela decidiu então só respondê-lo, bufando levemente. - Meio que quebra o propósito de vir me ver no meu aniversário se eu estiver dormindo. 

- Então pelo menos veste algo mais quente na próxima. - Lucas espiou a manta que ela usava por cima da camisola, que mesmo longa e confortável ainda tinha um tecido leve demais para aguentar a friagem daquele horário. - Ou o quê, você quer que eu use um feitiço de aquecimento pra você como seu presente de aniversário? 

A repreensão mascarada de deboche a teve bufando novamente, e a princesa apontou para si mesma com um sorriso vitorioso. 

- Você esqueceu? Eu posso fazer esse feitiço em mim mesma quando quiser agora! 

Ele arqueou a sobrancelha. 

- Então por que não fez ainda? 

...Era verdade, por que ela não tinha? Talvez a ansiedade de saber se ele viria ou não tivesse feito com que aquela possibilidade de facilitar a sua vida com magia fugisse da sua cabeça.

Abaixando sua mão e tentando não corar muito por ter sido pega em seu descuido, a princesa tossiu levemente antes de continuar. 

- V-você não está esquecendo de dizer alguma coisa desde que chegou aqui? 

Mesmo notando o seu tropeço nas palavras, o mago bufou uma risada e aceitou o desvio de assunto. Lucas virou-se de frente para ela, apoiando um cotovelo contra o corrimão enquanto a direcionava um sorriso gentil que raramente agraciava o seu rosto. 

- Tem razão. ...Feliz aniversário, Athanasia. 

A garota sentiu o rosto aquecer em resposta. 

Apesar de ter sido por um pedido seu, ela não sabia como reagir quando ele a olhava daquele jeito. 

- ...Obrigada. - Sua voz tornou-se mais suave, olhos azuis desviando-se para o lado enquanto a princesa cruzava os braços.  - Só é uma pena que você não pôde vir para a festa mais cedo. 

O mago suspirou, a expressão de antes deixando seu rosto enquanto ele levantava uma mão para coçar a cabeça. 

- Se eu fizesse isso, iria atrasar demais os meus planos. Parar a minha viagem só para vir aqui no seu aniversário é o máximo que eu posso fazer por você. 

Sim, e eu estou grata por isso, ela queria dizer; mas ficava difícil ser honesta assim quando o garoto à sua frente falava de um jeito como se a tradição de sempre estar lá para os seus aniversários não fosse algo que ele havia começado em primeiro lugar. 

Então, ao invés disso, a princesa apenas bufou. 

- Bom, não estava muito cheio e a comida estava ótima, então eu diria que foi um dos melhores bailes que eu já fui! Talvez ano que vem você poderia planejar suas saídas em busca de artefatos mágicos raros para algum período que não seja durante o meu aniversário?

- É, talvez eu devesse mesmo. Fazer essa volta toda para só passar alguns minutos aqui é desnecessariamente problemático. - Ao seu lado, Lucas concordou com uma expressão emburrada no rosto. - Mas, deixando isso de lado… Você ainda tem algo para me pedir, não? 

O sorriso do mago retornou ao seu rosto, e ele chegou um pouco mais perto. 

- O que você vai querer de presente esse ano? 

Encarando aquela expressão de frente, a princesa comprimiu os lábios. 

- ...Hmm. 

O que eu vou querer, é. 

 Para falar a verdade, já fazia algum tempo que ela não conseguia pensar em um presente decente para pedir a Lucas de aniversário. A jovem sempre acabava com uma sugestão boba como levá-la para passear no jardim ou outra coisa que eles poderiam fazer a qualquer hora, e o mago então fazia graça dela por sua falta de criatividade. 

Mas o que ela podia fazer? Depois que sua cerimônia de coroação havia passado, não havia nada mais que a princesa pudesse pensar em pedir. 

Mais do que aguardar pela oportunidade de desejar algo ao mago mais poderoso daquele reino, o que ela passara a querer mesmo depois de todos aqueles anos era apenas mais uma desculpa para vê-lo num dia que era especial para ela.

...Nunca que a princesa ia falar isso em voz alta, claro. Quem sabe que tipo de comentário Lucas faria se soubesse que fora esse o motivo da mesma estar passando frio na sacada à essa hora da noite. 

Enfim. Athanasia já estava emburrada o suficiente, e também sem saco nenhum para tentar pensar em algo que pudesse servir como um presente. Por isso, ela resolveu usar uma abordagem diferente dessa vez. 

- Que tal se você decidir esse ano? 

Para sua sugestão, o mago à sua frente franziu a testa. 

- ...Eu? - Ele disse, apontando um dedo para o próprio rosto. - Você poderia pedir qualquer coisa, e vai deixar essa decisão para mim? 

- É, oras. - Athanasia rebateu, um brilho discreto de satisfação em seus olhos. - ...Que foi, não consegue pensar em nada? 

Para a expressão vitoriosa que a princesa estava exibindo no momento, o mago não fez nada além de encarar de volta, olhos vermelhos estreitos. Mas quando ela achou que ele iria só admitir derrota ou fazer algo para mudar de assunto, Lucas resolveu surpreendê-la mais uma vez. 

Pegando impulso para ficar de pé sobre o corrimão de proteção da sacada, ele se virou novamente para fitá-la. 

- Não, eu pensei em algo sim. 

Athanasia piscou surpresa para a mão que se estendeu um pouco acima de seu rosto. 

- Vem, segura aqui.

Dali de baixo, a luz suave da lua cheia daquela noite contornava Lucas com um brilho quase místico; um encantamento extra que deixava seu rosto relaxado ainda mais deslumbrante.

Como pode esse rosto não ter nenhum ângulo ruim? Foi o pensamento involuntário que brotou na sua cabeça. 

Depois, Athanasia enfim percebeu o que o mago queria fazer. 

- ...Você quer que eu suba aí também? - Ela perguntou, verdadeiramente confusa. Que propósito sequer tinha uma ideia dessas? 

Mas o mago não pareceu se importar muito com sua reação de espanto. Ele só assentiu, abrindo um sorriso leve que tinha um quê de travessura, e pediu numa voz baixa:

- Confia em mim? 

E o que mais ela poderia fazer, senão aceitar a mão que lhe fora estendida? 

Lucas devia saber que já fazia anos desde que ela passara a confiar nele de verdade.

Talvez fosse por sua completa falta de hesitação em segui-lo depois daquela frase, mesmo que a incerteza não tivesse sumido de seu rosto — mas o sorriso de Lucas ganhou um toque de ternura quando o mago puxou a princesa para cima e a trouxe mais para perto. 

Athanasia teria se perdido naquela expressão por mais tempo se não tivesse notado em seguida que estava sendo puxada para além do apoio da sacada. 

- Quê—?! 

Arfando de susto, a garota fechou os olhos, sentindo seu coração dar um salto quando seus pés deixaram o solo — só para que uma mão a puxasse pela cintura no último segundo, trazendo-a de encontro à um corpo quente e sólido que ela tratou de segurar com todas as suas forças para não cair. 

- Relaxa, eu peguei você. - Uma risada baixa soou contra seu ouvido, a fazendo estremecer. Antes que ela pudesse responder, ele continuou. - Olha pra baixo. 

Mesmo ainda receosa, a princesa obedeceu, e seus olhos se arregalaram com o que acharam lá: 

Como se o céu estrelado daquela noite tivesse descido até os seus pés, o mago permanecia erguido sobre o ar por uma superfície de brilhos similares à estrelas — pequenos pontos de luz que tremeluziam no vazio do céu noturno como ondulações de uma folha pousando suavemente sobre a água. 

- C-como você…? 

- É fácil. Imagina a sensação de pisar em algo e canaliza a magia até os seus pés. - Lucas murmurou, afrouxando o braço para que ela pudesse tentar. - Isso. Agora finge que está subindo numa escada invisível, falta subir um pouco ainda. 

A outra mão dele que segurava a sua a puxou de novo, deixando a garota para aprender na prática enquanto eles subiam mais e mais no céu límpido de cima do castelo. 

O que seu pai diria se a visse ali, de pijama e andando sobre o ar acompanhada do mago da Torre que deveria estar do outro lado do continente naquele exato momento? Pela saúde de Claude, Athanasia desejou com todas as forças que ele já estivesse dormindo. 

Quando já haviam ganhado altitude o suficiente, Lucas finalmente parou, largando de sua cintura para conduzi-la pela mão. 

A princesa sabia que eles estavam alto o suficiente para lhe trazer arrepios só de pensar, mas naquele instante, ela não conseguiu achar motivos para dar importância. 

Porque a vista do reino à sua frente tão lá de cima, iluminado pelas luzes multicoloridas vindas da capital, era uma das coisas mais deslumbrantes que ela havia visto. 

...Athanasia já não se lembrava tão bem de detalhes de sua segunda vida. Considerando toda a solidão que tivera de passar até aquele triste fim por cima do piso frio de seu quarto, talvez fosse melhor assim. 

Mas, olhando para aquela paisagem agora, a jovem havia lembrado de uma coisa. Por várias e várias vezes, durante todos os momentos em que ela não conseguia dormir ou precisava esfriar a cabeça durante a madrugada, abrir a janela de seu pequeno apartamento para ver as luzes da cidade já fora um de seus hábitos favoritos. 

O excesso de iluminação da cidade grande tornava impossível de ver as estrelas, era verdade; sem falar que o bairro em que a garota morava sempre fora barulhento demais até tarde da noite para que ela pudesse chamar aquela visão de tranquila e aconchegante. 

Mesmo assim, ela ainda gostava. Ver outras janelas iluminadas num horário da noite em que a maioria das pessoas já estava dormindo a deixava mais calma; como se ela não estivesse completamente sozinha naquele mundo tão grande. 

Para pensar que Athanasia havia esquecido de algo tão importante assim… 

- Que houve? É muito alto pra você? 

A voz do jovem ao seu lado a fez piscar, e ela enfim percebeu que tinha ficado quieta por tempo demais. 

Negando com a cabeça, a garota fitou o rosto de Lucas mais uma vez. 

- ...Não, eu só estava distraída com a vista. Nunca achei que veria a capital assim de tão alto.  - Athanasia inclinou a cabeça para o lado, sorrindo. - É só que, err… Isso não parece ser o tipo de presente que você me daria, Lucas.  

O mago à sua frente costumava ser bem exagerado em seus presentes, afinal. Ela ainda se lembrava do incidente com o dragão que quase tivera ela, seu pai e Felix tendo um ataque de pânico. 

Lucas bufou, abrindo um sorriso de canto para ela. 

- Não parece porque não é tudo, claro. Quem você acha que eu sou?  

- M-mesmo?  - Sentindo uma gota de suor descer pelo rosto, a princesa lhe devolveu um sorriso amarelo. 

Desde que ele não tirasse um monstro gigante do céu para dá-la de presente ou coisa parecida, estava tudo bem! 

Tossindo levemente, Lucas se reposicionou para ficar na sua frente, erguendo uma das mãos para segurar a dela pela dobra dos dedos. 

- Eu não posso voltar no tempo para chegar a tempo no baile de hoje, mas seu comentário mais cedo me fez lembrar de outra coisa. - Ele disse, num tom de voz mais baixo que o usual.  - … Eu ainda te devo uma dança, não? 

A princesa piscou. 

Ah. 

Agora que parava para pensar, ela lembrava que Lucas havia recusado todas as vezes que ela o chamara para dançar na época do debutante. 

Athanasia pensava que ele já havia esquecido daquilo, do jeito que o mago fizera pouco caso de seus convites. Pelo visto, não era esse o caso. 

Sentindo suas bochechas esquentarem, a princesa perguntou:

- O seu presente é uma dança?

- Pode ser outra coisa também, se você quiser. - O mago desviou os olhos dela, como se tomado por um nervosismo repentino. - Eu não estava exatamente preparado para pensar em algo… 

Segurando o riso, Athanasia negou com a cabeça. 

Para onde tinha ido toda a arrogância de antes? Talvez Lucas também tivesse acabado de notar que oferecer uma dança como presente para alguém que já ganhara um baile de aniversário não era lá a melhor das ideias. 

Mas, como dizer… 

O fato do mago estupidamente poderoso à sua frente ter pensado primeiro em realizar um desejo antigo dela como presente ao invés de só materializar algo incrível do nada como sempre fazia era incrivelmente fofo da parte dele.

Mesmo que fingisse não ligar muito, você já prestava atenção no que eu dizia desde aquela época, né. 

A observação trouxe um quentinho agradável ao seu peito, suavizando sua expressão sem que a mesma percebesse. 

- Eu nunca dancei no meio de um céu estrelado antes, então diria que é bom o bastante. - A loira disse, coçando a bochecha enquanto fingia pensar no assunto. Depois, ela voltou a fitá-lo. - ...Só vamos devagar, tá? Eu não estou exatamente acostumada a ficar flutuando…

Lucas piscou, antes que a frase dela finalmente registrasse e um brilho sutil se refletisse em seus olhos. 

- Deixa que eu cuido disso. 

A partir daí, Athanasia não precisou mais se preocupar em manter os pés no chão. 

Sendo conduzida pelos passos ritmados do mago à sua frente (que dançava tão bem como havia dito, aquele maldito), a princesa pôde enfim conhecer o que era dançar uma valsa por cima daquele cenário de outro mundo. 

Se dançar com Claude era como revisitar uma coreografia antiga cujos passos ela já sabia de cor, então aquela dança com Lucas parecia mais uma performance feita de olhos fechados. 

Era uma mistura de se sentir segura e ficar com frio no estômago; a sensação de que ele a seguraria se ela tropeçasse somada ao desejo irracional de que ele pusesse seu coração em queda livre.  

Desde quando Lucas havia se tornado alguém tão indispensável para ela? A princesa não sabia responder. Em algum momento durante todos aqueles anos, aquela existência traiçoeira que fizera a história que ela conhecia sair dos trilhos tinha se esgueirado pelos confins de seu peito, talhando um cantinho em seu coração que nem mesmo toda a felicidade que Athanasia tinha agora podia preenchê-lo direito quando ele ia para longe. 

Agora, nem mesmo a altitude ou tudo o que ela conhecia sobre ele podiam abater a segurança que ela sentia ao estar em seus braços. 

- Obrigada por vir me ver esse ano também. - A princesa se viu murmurando, num momento inusitado de bravura. 

Finalmente, as palavras que ela havia guardado para si desde que o mago aparecera mais cedo puderam deixar os seus lábios. 

De sua posição observando o seu peito, Athanasia ouviu o pequeno som de surpresa que aquela frase trouxe, a mão que apoiava-se em sua cintura a segurou mais forte, e enfim a voz dele que hesitou brevemente antes de responder. 

- Claro que eu viria. …É a nossa tradição, não? 

A doçura daquela frase ecoou em seus ouvidos, fazendo cócegas na sua pele. 

Fechando os olhos, ela tentou imaginar o rosto que ele poderia estar fazendo naquele momento. Seria a expressão gentil que Lucas a mostrara mais cedo, quando ela segurara a sua mão? Ou talvez aquele brilho que ele sempre tinha nos olhos ultimamente, tão nítido em seu afeto que a fazia sempre desviar os olhos porque Athanasia nunca sabia direito como corresponder? 

Só que desviar os olhos não era mais suficiente agora. Ela queria abri-los de novo e ver de perto aquela parte dele que só ela conseguira desvendar. 

Naquele instante, a princesa sentia como se finalmente tivesse encontrado uma resposta. 

Desvencilhando-se do abraço, ela ignorou o murmúrio de confusão do mago para erguer suas mãos, pousando-as em seu rosto e o puxando levemente para baixo. 

- Ei, o que você…? 

Os olhos dele estavam arregalados, pupilas dilatando suavemente enquanto um rastro de vermelho espalhava-se pelas suas bochechas. Para alguém que se dizia tão indiferente às emoções humanas antes, até que era bem fácil fazê-lo corar. 

Ah, mas era verdade. 

Isso era porque Lucas estava apaixonado por ela. 

Comprimindo os lábios, Athanasia sentiu o próprio rosto esquentar um pouco enquanto se indagava sobre aquela pequena constatação. 

Honestamente, ainda era um pouco difícil de acreditar. Se Lucas e Ijekiel não fossem tão óbvios em demonstrar as suas afeições, a princesa ainda estaria em dúvida sobre a veracidade daquela situação toda. 

Quer dizer, ela não havia tentado fazer ninguém cair de amores por ela nem nada! Seu objetivo era só sobreviver no início, de verdade! …Só que em algum momento, todos os planos que ela havia feito tinham resultado em coisas completamente diferentes do que a princesa pensava que aquela vida seria em primeiro lugar. 

Athanasia não havia planejado terminar como princesa herdeira, também. De alguém que só queria ficar viva, ela agora teria um reino inteiro para cuidar. 

Era inacreditável, inebriante, caloroso e… francamente meio assustador. 

Talvez aquele pequeno nó de frustrações seu não tivesse sumido completamente ainda. Quando você consegue tantas coisas que considera importantes, fica mais difícil pensar na possibilidade de perdê-las algum dia. 

Te faz achar que querer um pouco mais vai te fazer egoísta.  

Mas estava tudo bem agora, não? Mesmo que Athanasia fosse um pouco mais cobiçosa das coisas, as pessoas que eram preciosas para ela não iriam se importar. Claude tinha, afinal, a presenteado um baile inteiro só por causa de um comentário, e ela sabia que isso era apenas uma fração do que seu pai era realmente capaz de fazer. Seria tolo duvidar da dedicação daqueles que a amavam num momento como esse. 

Lucas também havia provado estar disposto a cumprir qualquer desejo que ela tivesse. 

Se esse era o caso, então… 

- …Eu posso pedir mais uma última coisa? 

Ela não sabia que expressão devia estar fazendo no momento, mas a reação implicante do garoto à sua frente e o comentário de que seu aniversário já tinha passado não vieram. Ao invés disso, Lucas manteve os olhos silenciosamente sobre si, rosto ainda beirando ao nervosismo enquanto duas mãos pairavam sobre sua cintura sem realmente tocá-la. 

Athanasia sorriu; conte com ele para a surpreender até mesmo agora. 

- Essa tradição de vir me ver nos meus aniversários… promete que vai continuar cumprindo pro resto das nossas vidas? 

Dessa vez, o mago deu uma pequena risada, um sorriso meio estupefato surgindo em seus lábios enquanto ele levantava uma das mãos para segurar a dela que estava em seu rosto. 

- Você tá duvidando de mim? Eu disse que iria continuar vindo… 

- Mesmo se um dia eu não estiver mais aqui? 

A pequena adição na frase o fez pausar,  encarando os olhos perolados da garota que estavam mergulhados em incerteza. 

Se um dia ela acordasse de novo a princesa esquecida do reino, e todas aquelas coisas e pessoas preciosas não fossem mais suas. 

Se seu pai estivesse amaldiçoado de novo, e ela não tivesse mais ideia do que fazer, se sua mãe não estivesse lá para olhar por ela e se nenhum de seus planos desse mais certo. 

Mesmo se ela abrisse os olhos amanhã para o chão frio e vazio do seu quarto na Coréia do Sul, e aquilo tudo fosse só um sonho, e ela só tivesse a vista da sua janela de madrugada como a única forma de se sentir menos solitária…

- Aonde quer que você esteja, Athanasia. 

O tom incisivo na voz dele cortou pelos seus pensamentos, olhos azuis arregalando-se para a tamanha certeza com que ele dissera aquela frase. O mago estava a encarando bem mais sério que antes, a mão que ele entrelaçara na sua a segurando um pouco mais forte. 

- Eu não te falei antes? Você é a primeira pessoa na minha vida inteira que eu já quis mesmo proteger. - Ele disse, abrindo um sorriso de canto. - Então não importa se eu tiver que ir até o outro lado do mundo, até a Árvore ou qualquer outro lugar. Se você chamasse por mim, nada ia ser o bastante pra me impedir de ir até você. 

Os lábios dela se comprimiram mais, tentando segurar o nó que tinha se formado de repente em sua garganta. 

Athanasia queria dizer que aquela frase era mentira — ela havia, afinal, o chamado vezes o suficiente durante sua fuga do castelo sem resposta para saber que as coisas não seriam assim tão fáceis. Era improvável que Lucas fosse ouvi-la de tão longe em outro mundo, muito menos se aquilo tudo fosse um sonho fruto de seus próprios delírios de exaustão.

Mas… o que fazer? 

Ela não conseguia impedir a si mesma de acreditar nele. 

Assim como ele nunca se poupava em suas tentativas de impressioná-la, em como pescava todas as chances possíveis para fazê-la corar ou receber um pouquinho mais de sua atenção, Athanasia tinha certeza de que Lucas faria até do irreal uma possibilidade se isso significasse que ele poderia vê-la mais uma vez. 

Aquela sua forma impassível de seguir os seus desejos sem nunca nem pensar em duvidar de si mesmo era uma parte característica de seu jeito arrogante de ser, uma das coisas que mais a tiravam do sério naquele garoto. 

Uma das coisas que ela amava nele, também. 

Depois disso, ficou fácil decidir o que fazer. O rosto de Lucas já estava próximo o suficiente, perto ao ponto dela poder ver a si mesma refletida naqueles olhos carmesins. Seria uma questão de segundos levantar até a ponta dos pés e acabar com o resto da distância. 

Athanasia engoliu em seco, um sorriso quase tímido brotando em seu rosto…

E o beijou debaixo daquele céu estrelado. 

Mesmo com a altitude e o vento frio daquela noite, os lábios dele estavam macios — cortesia de um pouco de magia e sua predisposição à perfeição, ela supunha. A jovem teve alguns segundos para apreciar este fato antes que ele finalmente registrasse o que estava acontecendo, e a mão em sua cintura retornasse para trazê-la infinitamente mais para perto. 

Foi um beijo simples, mas longo; a mão que a segurava pela cintura e a que estava entrelaçada na sua dois pontos de pontos de calor quase escaldante que estavam fritando qualquer pensamento que ela poderia ter naquele momento. 

Quando respirar havia se tornado uma urgência, ela finalmente se afastou, virando o rosto de última hora para que a boca que a seguiu instintivamente pousasse em sua bochecha ao invés disso. 

- E-espera, idiota, a gente tá no jardim…! - Ela tentou protestar, maçãs do rosto quase em chamas pelo ataque incessante que estavam sofrendo no momento. 

- Ninguém vai ver nada aqui de cima. - Ele murmurou de volta, olhos meio-abertos numa irritação quase infantil enquanto tentavam achar seus lábios de novo. 

- I-isso é ainda pior! E se a gente cair? - Ela continuou, dando tapinhas incessantes contra suas costas com sua mão livre que foram prontamente ignorados. 

A jovem sentiu uma bufada leve contra o seu rosto. 

- Eu não me distrairia ao ponto de desfazer o feitiço só por causa de um beijo. 

- Quer dizer que seria uma possibilidade se a gente continuasse?! 

- Não sei. - A admissão repentina a fez piscar, e Athanasia voltou os olhos para o rosto ainda um pouco vermelho e impaciente do mago à sua frente. - Eu disse que você é a primeira pessoa que me faz me sentir assim. Não faço ideia que outro efeito você pode ter em mim mais do que isso. 

Os olhos de Lucas estavam reluzentes, brilhando de um jeito que ela nunca vira; e quando ele finalmente sorriu, foi o suficiente para roubar todo o ar que ela conseguira reunir de volta em seus pulmões. 

- Você já me fez ficar preocupado o suficiente pra eu achar que ia morrer, já me fez te dar um poder que eu estava guardando só pra que você pudesse se apoiar em mim um pouco mais… - Ele disse, e ela poderia ter confundido aquilo com uma reclamação se não fosse o tom genuíno de alegria em sua voz. - Agora eu me sinto forte o bastante pra ir dar uma surra na Árvore e voltar aqui em menos de três segundos. Eu quero tudo o que você estiver disposta a me dar. 

…Como você sequer responde uma frase dessas?! 

Comprimindo os lábios apertado o suficiente para não deixar escapar um grito, a jovem tentou controlar o coração que batia freneticamente em seu peito enquanto tampava a boca do mago antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa. 

- Hoje não tem mais nada! Pode esquecer! - Ela disse, rosto praticamente em chamas. Lucas estalou a língua com isso, mas cedeu, a mão que ele mantinha em sua cintura afrouxando um pouco para dar a ela mais espaço. 

- Posso pelo menos assumir que isso quer dizer que você também gosta de mim? 

Olhos azuis encararam o mago meio injuriados, antes que Athanasia murmurasse numa voz que era metade aborrecida e metade tímida. 

- …Eu não beijaria alguém que eu não gosto assim do nada, sabe. 

A frase trouxe de volta o sorriso do jovem, uma mistura de satisfação e alegria genuína que francamente não estava sendo muito saudável para o seu coração daquela distância. 

Era assim que as coisas seriam a partir de agora? Talvez o seu pequeno momento de egoísmo a tivesse colocado em apuros de um jeito que ela não estava esperando. Sem falar em como seu pai reagiria quando descobrisse… 

…Mas, bom, estava tudo bem. Ficar em apuros por uma felicidade mal contida não era o maior dos obstáculos para alguém que já passara por tanta coisa. 

Athanasia ainda teria muitos aniversários naquela vida para se acostumar com tudo isso, afinal. 
 


Notas Finais


Eu ainda tenho algumas ideias que queria terminar para colocar aqui, então essa fic vai continuar não concluída até eu ter certeza que não vou atualizar mais. Mas, de qualquer forma, muito obrigada pra quem me acompanhou até aqui! Espero poder retomar a motivação em breve pra poder voltar a postar mais frequentemente no Spirit!

Até mais! <3


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