Me peguei surpresa na manhã de sábado, quando vi Armin entrando na loja e indo diretamente para Adeline, que parecia conter seu sorriso, afinal, não era normal dar um sorriso apaixonado para um cliente.
Será que Alexander brigou com ele, ontem à noite?
Eles conversaram brevemente, e antes de ir embora, Armin olhou pela loja e me notou o observando, parecendo me reconhecer. Seu olhar não foi simpático, mas também não foi indiscreto.
Será que ele sabe que fui eu que...
Cruzei os braços, deixando minha posição clara, e ele deixou a loja.
Me aproximei de Adeline, fingindo arrumar algumas araras de roupas.
— Aquele cliente não comprou nada... — comentei, como quem não queria nada.
Adeline pigarreou. — Ele queria saber os preços das meias, que sua mãe queria comprar algumas — respondeu, alisando alguns vestidos pendurados.
— Hm... — Fingi acreditar. — E disse a ele que ela precisaria estar junto para escolher os tamanhos?
— Sim, sim, disse. Talvez ele volte depois.
— Ah, sim...
Que vontade que me dá de soltar tudo o que eu sei e dizer como ela é mentirosa!
Antes que eu pensasse em algo a mais para dizer, Adeline foi atender uma cliente recém-chegada. Me concentrei em organizar alguns cabides fora do lugar e o dia seguiu normalmente, sem o retorno de Armin, como eu suspeitava.
Me despedi das colegas e saí da loja no fim do meu expediente, pensando no que faria naquela noite. Assim que atravessei a rua, vi Armin caminhando na direção contrária que eu iria e parei.
O que ele estava fazendo ali? Será que planejava algo?
Decidi segui-lo a distância, agradecendo pelo movimento de pessoas estar grande àquela hora. Ele virou a esquina para a esquerda e continuei. Alguns passos à frente, ele virou novamente a esquerda e eu parei, notando que era um beco. Travei no lugar, pensando se devia continuar com a perseguição.
Talvez melhor não... Mas ele está fazendo algo tremendamente suspeito!
Okay, eu apenas vou passar em frente e dar uma olhadinha...
Voltei a andar enquanto pegava uma moeda de meu bolso. O deixaria cair, assim poderia pegá-la e olhar, sem parecer suspeita.
Assim que alcancei a entrada do beco, derrubei minha moeda, mas antes que raciocinasse para abaixar, senti alguém segurar meu braço e me puxar para dentro da ruela.
— Está me seguindo, não é? — perguntou Armin, me soltando na parede.
— Se não fizesse coisas suspeitas não te seguiria — falei no mesmo tom acusador.
Ele riu brevemente, soando irônico. — E quem é a senhorita? Uma espiã?
— Eu sou o que a situação precisar.
— E o que quer de mim, além de dizer ao meu irmão que roubei seus poemas?
Acabei sorrindo. — Eu não disse que foi o senhor, eu apenas comentei e ele associou o óbvio.
— Ah, claro. Que cabeça a minha. — Continuou usando seu tom irônico. — Então diga, por que estava me seguindo? A senhorita só pode ser amiga da senhorita Legrand, não é? Quer dizer, não só me seguiu agora, como também me seguiu no pub na quinta-feira.
— E quem disse que eu estava te seguindo? Não está sendo muito egocêntrico?
— Acha mesmo que não notei seus olhares para mim?
— E acha mesmo que não notei seus olhares para Melody?
Seu sarcasmo desarmou completamente, mesmo permanecendo com a mesma pose.
— Agora, olha só... O que será que a senhorita Legrand pensaria se soubesse que seu admirador não-mais-secreto frequenta aquele tipo de lugar?
Armin hesitou. — O quê? Não sabia que era crime.
— Não é crime de acordo com as leis do país, mas provavelmente é crime nas leis do coração de uma jovem inocente que acredita no amor incondicional e verdadeiro, onde seu parceiro é completamente fiel a ela — acusei, dramatizando um pouquinho.
— Não que seja de sua conta, mas eu não faço nada naquele lugar além de jogar com meus colegas.
— Ah, sei. Eu vi seus olhares para aquelas garotas que serviam as mesas.
— Elas que olham primeiro! — Se defendeu e eu acabei rindo. — Eu não quero encrenca, só quero entender qual sua intenção em me observar desse jeito. Por acaso sai observando as pessoas, descobre seus “crimes” e vai chantageá-las em troca de dinheiro? Se for, vamos acabar logo com isso, diga seu preço.
— Eu não quero seu dinheiro sujo de jogo.
— Meu dinheiro não é sujo, eu trabalho muito para ganhar ele. Fale logo.
— Já falei, não chantageio ninguém em troca de dinheiro. Eu apenas quero a felicidade de Adeline, e se isso significa mostrar seus crimes a ela, eu farei.
— Que crimes?! Você nem me conhece! — exclamou, indignado.
— Sei o suficiente para saber que você não é o homem certo para ela.
— E a senhorita sabe? Por que esse medo todo? Foi largada por um homem que frequentava pubs, por acaso? — E me lançou um olhar dos pés à cabeça.
— Eu nunca fui largada por ninguém, eu que largava quem não prestava. Eu tenho meus motivos para saber, o senhor é viciado em jogos e ama outra mulher que não pode ter.
Armin arregalou de leve os olhos. — O quê?
Te peguei! — Não se finja de surdo. Eu sei que ama Melody e nem adianta fingir que não. Eu sei.
— E de onde tirou isso? — perguntou na defensiva.
Eu não quero entregar Alexander, ele me ajudou e é uma pessoa boa...
— Assim como o senhor afirmou que fiquei o observando, percebi seus olhares para ela, e acredite, eles dizem muito.
— Isto não quer dizer absolutamente nada. A senhorita mesmo disse que eu olhava as garotas que serviam a mesa.
— Não, senhor, era completamente diferente. Seus olhares para as garotas eram provocantes, mas para Melody eram amigáveis e curiosos, como se quisesse saber a todo instante se ela estava bem.
Ele ficou sem palavras, desviando o olhar para alguns cantos como se pensasse no que dizer.
— E... Eu conversei com Melody.
Armin cruzou os braços e me encarou. Dava para ver de longe sua curiosidade.
— Ela é uma garota muito doce, me partiu o coração saber pelo que ela passa. Ela... me contou sobre o senhor, a forma que conversavam antes de seu pai... os separar... Ela te ama.
— E-ela disse que me ama? — questionou, surpreso.
— Disse. E também disse o porquê não podem ficar juntos... Só que... eu disse a ela que conversaria com o senhor.
— Sobre...?
— Se o sentimento é recíproco.
— Mas... — Ele puxou os cabelos negros para trás, em um gesto ansioso. — Do que vai adiantar? Ela não sofrerá mais se souber?
— Não se estiver disposto a ajudá-la a fugir daqui.
— O quê? — Me encarou, alarmado. — Está maluca?
— Não, estou completamente sã. Tem alguma ideia do quanto ela sofre?
— Sim, eu tenho! Mas... é loucura. Como ela fugiria?
— O senhor não mora na América?
— ... Como sabe?
— Ah... seu irmão comentou, quando estávamos conversando no parque. Apenas disse que o senhor trabalha lá e vem visitar a família.
— Hm... — murmurou, pensativo.
— Mesmo que... o senhor não a ame o suficiente para torná-la sua esposa, acho que já seria um grande feitio se a ajudasse a fugir e se instalar, pelo menos até arranjar um emprego ou um marido, quem sabe.
— E ela aceitaria fazer algo assim? Não é tão simples arrumar suas coisas e sair do país.
— Ela pareceu muito interessada na ideia.
— Então Melody já sabe? Comentou com ela sobre isso?
— Claro. Eu que tive essa ideia. Não acho que seria um problema para ela.
— No que estou me metendo... — Sussurrou, tirando seus óculos para esfregar os olhos.
— Isso quer dizer que o senhor vai aceitar? — Inclinei a cabeça.
— Não, porém... vou pensar sobre. — Voltou os óculos no lugar e me olhou. — Por que está fazendo isso? É apenas para ajudar a senhorita Legrand?
Levei as mãos para trás, cruzando os dedos. — Sim.
— Ainda assim, não entendo o motivo que a levou não gostar de mim.
Ergui o olhar para o céu, pensando. Não queria soar grossa, agora que ele estava entrando na minha proposta.
— Não tenho nada contra o senhor. Só que...
— Por acaso Adeline tem um pretendente que a senhorita gosta?
O olhei e concordei. — Sim. Ele... gosta muito dela. Ela só não percebeu ainda e... Eu sei que eles combinam muito.
Armin afirmou levemente com a cabeça. — Eu... vou pensar. Mas a senhorita terá que me apresentar um plano muito bom para me convencer de fato a fazer tudo isso.
— Sem problemas.
— E também terá que ser a intermediária entre Melody e eu. Seria muito suspeito se sempre conversássemos e depois ela sumisse.
— Claro, com certeza.
Ele deu um passo para fora do beco, mas parou. — Como entrarei em contato com a senhorita?
— Alexander sabe. Pensão Pierre. Peça para me chamarem. Aliás... Heloise Dumas. — Ergui a mão em sua direção, como se não estivéssemos discutindo desde o começo da conversa.
Lançando um olhar desconfiado, segurou brevemente minha mão. — Armin Fabre.
— Não se esqueça... Silencio sobre tudo isso.
— Digo o mesmo.
— Até mais.
Me apressei e saí do beco com um sorriso satisfeito no rosto.
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