História A Proposta - "Se você me ligou, tenho certeza que não foi engano"

-Você poderia ter proposto qualquer coisa, menos um filho, não posso fazer isso.-falei desviando o olhar dele.

-Porque? É infértil?-falou rindo.

-Não interessa. Eu não quero sua proposta. 

-Tem certeza? É a última vez que ofereço.- ele falou se aproximando mais.

-Eu não quero! Posso ir agora?

Então ele fechou o semblante e se afastou.

-Tenha um ótimo dia senhorita Bravenes.- falou virando as costas.

Então ele se retirou e entrou em seu cassino. Eu jamais poderia viver aquela experiência novamente, sentir os chutes, a barriga crescendo, as contrações, tenho agonia só de lembrar. 

Voltei para o dormitório que havia alugado, quando reparo uma coisa horrorosa, o cômodo completamente revirado. Será que foi aquele empresário? Eu não poderia acreditar que levaram o resto de dinheiro que eu tinha embora, e agora? Agora sim eu era uma sem teto de sucesso.

-Como assim?-perguntava quase gritando para o atendente.

-Eu juro senhora, reviraram tudo, todos os quartos. Foi um verdadeiro arrastão.-o funcionário do hotel estava completamente assustado.

-E como vou recuperar o que eu perdi?

-O hotel não tem condições de ressarcir todo mundo que foi lesado, infelizmente.

Merda, eu estava na merda. 

O que eu faria? Suicídio? Será que esse assalto foi proposital? Eu só tinha uma certeza: Deus me odiava.

Dois dias depois, por não ter dinheiro para a diária tive que fazer o checkout. Estava caminhando, obviamente sem rumo pelas ruas dessa cidade cruel. As pessoas reparavam que eu não estava bem, que o meu semblante era o mais péssimo, que as lágrimas não paravam de escorrer, mas para elas isso não era importante quanto suas vidas e interesses fúteis. 

Sentei em um banco numa praça qualquer, onde não havia ninguém, e decidi que tiraria um cochilo.

Acordei com uma sensação ruim, de como se eu estivesse sendo observada. Olhei ao redor, mas não deu pra ver muita coisa já que era noite. Não havia nenhum carro pelas ruas, ninguém nas calçadas, algo estranho para Chicago que era tão agitada por conta das boates e cassinos.

Mas a sensação continuava lá, até que alguém tapou minha boca e tentava me enforcar por trás do banco onde eu estava sentada.

Eu me debatia e tentava gritar, mas de nada adiantava porque a pessoa era muito forte. Eu já estava ficando inconsciente, porém escuto um palavrão seguido de um soco, e logo em seguida as mãos saem do meu pescoço.

Tento me levantar, mas por estar tonta caio no chão. Olho para trás e enxergo Michael Jackson saindo de cima de quem provavelmente tentou me matar, e logo em seguida da ordens a dois homens que parecem ser seguranças para "sumirem" com o cara.

Ele vem até a mim e estende a mão para que eu pudesse levantar.

-Por que me salvou?

-Por que era o meu dever? Estava rumo a minha casa quando me deparo com um valentão enforcando uma garota sozinha, queria que eu filmasse e fizesse um documentário?

-Deveria ter deixado, não tem o porque de eu continuar viva.-olhei para o chão.

-Por que? Se você está viva significa que você não foi derrotada pelas dificuldades da vida.

-Acontece que eu sou uma derrotada pelas dificuldades da vida, só resta a morte vir me buscar.

-Você pensou na proposta que eu te ofereci mas continuou recusando. Você teve a chance que milhares de garotas por aí aceitariam sem titubear.

-Eu não sou as "garotas por aí ", não aceito por que não me cabe suportar isso.

-Se você me ligou, tenho certeza que não foi engano.

-Foi um erro.-eu falava segurando as lágrimas.

-Você se decidiu e estava disposta, é uma criança que você poderá criar se quiser.

-É exatamente o que eu não quero!-exclamei.

-Então pode simplesmente sumir da vida dela, só gera-la e por um ponto final nisso! Terá dinheiro para se manter para o resto da vida. Pense senhorita, é só uma gestação!-falou de forma tão simples que me deixou enojada.

Eu pensei e se não aceitasse morreria de fome, pois bem, eu não tinha outra saída. Acenei contrariada com a cabeça indicando que aceitaria. Então ele me guiou até uma mercedes preta de vidros escuros para sua casa.

Chegando lá, vi que era num condomínio onde já trabalhei como faxineira. A mansão era luxuosa, com direito a um chafariz de led no jardim logo à frente do imóvel.

Saímos do carro e Michael Jackson me guiou até a casa. Entrando, reparei que dentro era mais luxuoso ainda, com um lindo lustre de cristal e uma mesa enorme de jantar, do outro lado havia uma imensa TV e um sofá em formato de U. Jackson era uma pessoa que valorizava o luxo e conforto, algo que eu valorizaria também se tivesse tido as chances que ele teve na vida.

-Vou te acompanhar até seu quarto.

Assenti com a cabeça e subimos uma escada que dava acesso ao andar de cima. Havia um corredor com várias pinturas barrocas e monumentos renascentistas. Fiquei boquiaberta, um dono de cassino ser tão refinado assim?

-Por enquanto seu quarto será como um simples quarto de hóspedes, mas em uma semana poderá optar por uma reforma para deixar da maneira que mais lhe agradar. Tem roupas no seu tamanho no closet, mas amanhã pedirei para algum empregado separar só as que servirem em você. Boa noite senhorita.-Michael foi me explicando até chegar ao quarto e depois foi embora. Observei ele indo, até chegar no último quarto do corredor, e então ele repara que eu ainda estava parada o observando. Fiquei com vergonha e entrei no quarto, fechando a porta depressa. 

Era lindo, a cama era extremamente confortável, havia uma TV média na parede, um rack, dois criados-mudos, um de cada lado da cama, um abajur de led em um deles, uma janela com uma vista linda, e uma cortina branca de seda. Isso tudo parecia os quartos de princesa que minha mãe tinha vontade de dar para suas filhas, e isso me fez chorar novamente. Deus sabe o quanto eu sinto falta delas.