História A Proposta do Meu Vizinho - Plano em Ação

O resto de domingo eu reservei para colocar algumas matérias em dia. Mesmo sendo início de período, alguns professores já haviam marcado a data dos primeiros testes. E eu com certeza não poderia deixar nada interferir nos meus estudos.

Mas claro que também aproveitei para comer muitas besteiras e ver alguns filmes com a loira chorona que não parava de checar o celular em busca de alguma mensagem ou ligação perdida de Gaara.  

Como o estado da minha amiga estava bem frágil, achei melhor não contar sobre a proposta de Sasuke. Pelo menos não por enquanto. Até porque, pra falar a verdade, eu estava com certo receio da reação da loira quando descobrisse a loucura toda que estávamos aprontando.

Mas eu sabia que eventualmente precisaria contar a verdade, pois Ino me conhece muito bem pra saber que eu jamais teria algo com alguém como o nosso querido e egocêntrico vizinho.

[...]

Segunda-feira de manhã.

Assim como combinado, Sasuke tocou a campainha do meu apartamento para irmos juntos à faculdade. Ino estranhou a presença do moreno com uma sobrancelha arqueada de desconfiança.

Fiz um gesto com a mão dizendo que explicaria melhor mais tarde e saí de casa rapidamente.

– Bom dia! – Eu disse animada enquanto fechava a porta.

— Hum. – Ele apenas murmurou como num resmungo, tirando todo o meu bom-humor com a sua carranca de sempre.

Suspirei fundo tentando ignorar seu jeito grosseiro, mas toda vez que ele me tratava com tamanha indiferença, eu tinha vontade de xingá-lo de idiota novamente. Talvez, após pagar a minha dívida com ele, as coisas voltem a ser como antes e eu possa proferir alguns bons palavrões para esse garoto mal-humorado.

— Como faremos hoje? – Perguntei tentando suavizar o clima incômodo que se instaurou.

— Shion está sempre na entrada da faculdade me esperando. O primeiro passo é ela nos ver juntos e de preferência com certa intimidade. – Sasuke disse sem demonstrar qualquer emoção em sua voz.

Assenti com a cabeça entendendo cada palavra que ele dissera.

— Iremos almoçar juntos no intervalo também. – Ele complementou com um tom autoritário.

— Ok. Meu último tempo da manhã é na sala 12k.

Ele confirmou com a cabeça entendendo onde ele me encontraria e em seguida um silêncio constrangedor tomou conta ao nosso redor.

A faculdade ficava bem perto do nosso prédio, mas aqueles minutos silenciosos me incomodavam de início. Era tudo muito delicado e novo. Eu estava prestes a fazer o papel da minha vida, fingindo ser a namorada do meu vizinho, o qual eu inicialmente odiava e o único capaz de tirar toda a minha paciência.

Me peguei pensando sobre meus novos sentimentos pelo Uchiha. Eu o odiava? Bom... às vezes. Não tanto quanto antes, pois ele realmente me safou de um grande problema. Mas, seu jeito frio, egoísta e prepotente ainda me incomodava além da conta.

Porém, eu também pude descobrir que talvez ele não fosse uma pessoa tão ruim assim. Afinal, se fosse, eu estaria em grandes apuros agora. Mas, definitivamente, não era alguém que eu aguentaria a companhia constantemente.

Fiquei aliviada ao pensar que todo aquele teatro não duraria muito tempo. Somente o suficiente para convencermos a loira maluca a seguir em frente e deixar Sasuke de vez.

Assim como ele havia avisado, lá estava Shion na porta da faculdade, com um brilho nos olhos e os braços inquietos com a aproximação do Uchiha, tão maravilhada pela presença dele que nem percebia a minha existência.

Ele bufou, já sem paciência para aturá-la. Foi então que percebi que essa era a minha deixa, eu precisava ser notada para plantar a sementinha da dúvida na cabeça daquela maluca.

Comecei a rir, fingindo que Sasuke havia contado alguma coisa engraçada e enrosquei-me em seu braço pousando minha testa  no mesmo enquanto tentava controlar as risadas.

De início, o Uchiha me olhou surpreso. Mas logo entendeu e entrou na brincadeira, virando seus olhos negros apenas para mim e me dando um meio sorriso. Retirou seu braço do meu agarre e puxou-me pelos ombros como em um abraço enquanto aproveitava o olhar raivoso de Shion ao passarmos direto por ela.

Não pude deixar de perceber que, além da loira, haviam muitos olhares curiosos em nossa direção. Percebi certa inveja na feição de algumas meninas, que claramente estavam interessadas no meu vizinho, apenas desejando incessantemente estarem em meu lugar.

“Pobres almas”, eu pensei e sorri comigo mesma. Mal sabem elas que o Uchiha é super grosseiro e está longe de ser o príncipe encantado que elas sonham. Ele claramente é do tipo que dorme com uma garota e no dia seguinte nem se lembra mais o nome. E pela história que ele me contou, foi exatamente assim com Shion, mas a pobre coitada gamou de vez.

“Será que ele é tão bom de cama assim pra deixar uma garota louca desse jeito?”, pensei e corei imediatamente com meus pensamentos. Não sabia onde estava com a cabeça para pensar nesse tipo de assunto, ainda mais eu, que tive apenas uma experiência e não poderia sequer imaginar o que significaria ser bom ou não de cama.

Rapidamente chegamos no corredor e voltei à razão. Vi Sasuke olhando de soslaio para ter certeza de que ela não havia nos seguido e assim que percebeu que não haviam sinais da loira, logo soltou-me, fazendo-me cambalear sob meus pés.

Sua feição era monótona, mas também pude perceber um certo alívio em seu olhar.

— Te busco 12h em ponto. Não se atrase, não gosto de esperar. – Ele disse impaciente e apenas saiu andando sem olhar para trás.

— Seu humor matinal é ótimo, Uchiha idiota. – Falei baixinho para mim mesma e bufei com as palavras dele. “Não se atrase, não gosto de esperar.”, quem esse garoto pensa que é? O Rei da Dinamarca?  Querido, na minha vida, você não é ninguém na fila do pão...

Revirei os olhos ainda irritada com seu ego, mas apenas entrei na sala e me sentei na primeira carteira como sempre. Percebi o olhar de Sasori sobre mim e dei um sorriso envergonhado, mas antes que pudéssemos nos falar, o professor entrou na sala dando início à matéria.

As aulas da manhã passaram rápido, e quando o último sinal tocou, fui direto para a porta da sala esperar o Senhor Rabugento. Sasori passou por mim me dando uma piscadela cúmplice e eu ri com seu bom-humor. Ele realmente era uma pessoa incrível, sempre gentil e divertido. Ao contrário do Uchiha...

Aproveitei enquanto via a aproximação do meu vizinho pelo corredor e conferi as milhares de mensagens que Ino me enviou durante a aula.

Ino Yamanaka: Tá sabendo do maior boato que tá rolando pela universidade?? É sobre Sasuke Uchiha ter sido visto abraçado com uma caloura de cabelos rosa!

Ino Yamanaka: ME EXPLICA ISSO AGORA, TESTUDA SORTUDA DE UMA FIGA!

Ino Yamanaka: Tá pegando o vizinho gostoso e nem conta pras amigas!

.... bom, e por aí vai. Essas foram somente algumas das mensagens que Ino me enviou e foi quando eu percebi que precisaria explicar a verdade pra ela o quanto antes, pois a loira ia perder algum parafuso se continuasse com esses pensamentos fantasiosos.

Para tentar acalmar os nervos dela, apenas respondi:

Sakura Haruno: Tem uma boa explicação pra tudo isso, mas não é nada do que você está pensando. Te conto tudo mais tarde, ok?

Assim que terminei de digitar, olhei para cima e pude ver o rosto austero de Sasuke me encarando com um olhar franzido. Não demorou para que entender o motivo quando olhei por trás de seu ombro e lá estava Shion chamando por ele.

Antes que pudéssemos fugir, a loira logo se emaranhou em um dos braços do Uchiha, olhando-me com desdém.

— Sasuke, amor, o que está fazendo com essa cabeça de chiclete? – Ela disse com seu tom de voz fino e irritante, despertando toda a minha ira por seu deboche provocativo.

— Bom, o Sasuke e a “cabeça de chiclete” aqui vão almoçar juntos. E você, loira de farmácia, tá sobrando. Dá licença! – Eu disse ríspida, praticamente cuspindo as últimas palavras. E não pensei duas vezes antes de entrelaçar meus dedos com os de Sasuke e puxá-lo para longe, quase derrubando Shion que perdeu o equilíbrio quando eu os separei com brusquidão.

Pude ouvir uma leve risada do Sasuke, mas eu estava tão irritada com aquela garota que nem consegui rir da situação e apenas arfei enquanto continuava as longas passadas.

Quando chegamos ao refeitório meus nervos já estavam mais calmos, e só então percebi que nossas mãos continuavam entrelaçadas, como um perfeito casal. Somente naquele momento pude sentir como sua pele era quente e corei enquanto finalizava nosso toque.  

Dei um sorriso sem graça e antes que eu pudesse pedir desculpas pelo exagero, ele disse divertido:

— Você está encarnando mesmo no personagem, heim. Assim eu vou pensar que você realmente sente ciúmes, Haruno.

— Você é a última pessoa por quem eu sentiria alguma coisa, Uchiha. Não se iluda. – Eu disse no mesmo tom e dei uma piscadela enquanto seguia para a mesa onde estavam Naruto, Neji, Hinata e Ino.

Mas foi no momento em que sentamos que percebi o grande erro que cometemos.

Os dois loiros faziam mil perguntas, querendo saber se realmente estávamos juntos. Naruto reclamava que Sasuke nunca conta nada pra ele e Ino apenas gritava algo sobre eu ser uma péssima amiga. Enquanto isso, Hinata e Neji apenas se olhavam e voltavam os olhos curiosos para nós na expectativa de respostas.

Minha cabeça começava a doer e eu não sabia o que dizer ou por onde começar. Olhei para Sasuke como em uma súplica e agradeci a Kami pelas palavras que vieram a seguir:

— Sakura está me ajudando a me livrar da Shion. É tudo fingimento.  – Seu timbre firme e rude não dava liberdade para que nossos amigos continuassem o interrogatório, mas apenas com essas poucas palavras eles já haviam entendido o nosso jogo.

— Não contem pra ninguém. Shion precisa realmente acreditar que estamos juntos para que ela esqueça o Don Juan aqui. – Eu disse enquanto ria e apontava para o moreno ao meu lado.

Todos assentiram e Ino me disparou aquele olhar de “conversamos mais tarde” e eu assenti já sabendo que não escaparia das garras da minha amiga loira.

— Finalmente você está fazendo algo contra isso, Teme! Eu já estava prestes a assassinar aquela loira maldita, dattebayo!

— É um bom plano, Sasuke. Será que vai funcionar? – Dessa vez foi Neji quem perguntou.

O Uchiha apenas fitou o amigo e me deu um olhar provocativo:

— Do jeito que a Sakura é ciumenta e possessiva, acho que a Shion nunca mais vai chegar perto de mim.

— Eu só estava interpretando, idiota... – Resmunguei e todos riram das minhas bochechas infladas.

O almoço passou rápido e logo já estava na hora de voltarmos para a aula. Sasuke me acompanhou até minha sala e apenas murmurou um “até” antes de sumir pelos corredores do prédio de medicina.

As aulas da tarde passaram tão rápidas quanto as de manhã. Não sei se era por realmente o tempo estar mais acelerado que o normal ou se eu estar estudando tudo o que amo me dava essa impressão. Eu me sentia completamente realizada a cada explicação ou matéria nova e era assim que eu via que escolhi o caminho certo para mim.

Assim que o professor nos liberou, eu deixei a faculdade e fui direto para casa. Como não vi Sasuke por perto, imaginei que o mesmo já havia ido embora, mas não me importei. Sorri imaginando ele praticamente correndo para evitar que Shion o visse.

Mesmo que ela fizesse outro curso, ela constantemente aparecia no prédio de medicina, sempre em busca do seu amor platônico. Gargalhei da desgraça de meu vizinho, mas pensei que talvez ele merecesse essa maluca atrás dele para aprender a não usar as pessoas.

Quando finalmente cheguei em casa, precisei suspirar fundo a fim de achar a coragem dentro de mim para encarar minha melhor amiga pouco curiosa.

Abri a porta e claro que a loira já me aguardava no sofá, pronta para o interrogatório. Era incrível como Ino conseguia tirar facilmente informações das pessoas, talvez em um mundo fantasioso ela pudesse ler mentes.

Sua mão bateu sobre o forro do sofá, pedindo para que eu me sentasse... e foi então que minha tortura começou.

Demorou cerca de duas horas até Ino cessar suas perguntas sobre o que eu e Sasuke estávamos tramando. A cada resposta que eu deva, ela parecia ficar ainda mais desconfiada. Mas, por fim, ela se mostrou convencida e o olhar curioso se tornou preocupado.

— Testuda, você tem certeza de que isso não vai te afetar de jeito nenhum? – Ela perguntou apreensiva.

— Como assim, porca?

— Olha, eu sei que você é uma mulher forte, independente, diz que acha o Sasuke idiota e tudo mais... mas ele é realmente muito bonito e todas as garotas daquela universidade caem aos pés dele. E se você acabar levando essa brincadeira toda a sério demais e sair machucada? E se você acabar gostando dele?

Eu não tive forças para responder a loira, pois uma onda de gargalhadas incessante tomou conta do meu ser após ouvir toda aquela barbaridade que ela dizia.

— Eu? Gostar do Uchiha? Estamos falando da mesma pessoa, porquinha? O Sasuke é a pessoa mais egocêntrica, orgulhosa e arrogante que eu já conheci. E não é um rosto ou corpo bonito que vai mudar quem ele é ou mudar o fato de que eu nunca, nunquinha mesmo, pudesse sentir algo por ele.

— Bom, fico mais aliviada então. Porque se fosse eu... não sei até quando eu resistiria àquela divindade. – Ino disse se abanando claramente sentindo um calor por lembrar do nosso vizinho.

— De verdade, não se preocupe. Vamos jantar, então? – Eu disse enquanto me levantava e caminhava até a cozinha.

Enquanto eu preparava algo para nós duas, Ino contou que Gaara havia ido falar com ela na faculdade naquele dia. Surpreendentemente ele havia a chamado para sair no final de semana seguinte, e eu fiquei feliz pela loira, já que ela passou o domingo inteiro nervosa por não ter notícias dele.

Conversamos por mais algumas horas e fomos dormir em seguida.

No dia seguinte, eu precisaria voltar ao meu papel e dar continuidade ao plano “Fora, Shion!”. E eu sabia que quanto mais convincente nós fossemos, mais rápido poderíamos acabar com tudo aquilo.