A segunda semana das férias já tinha começado e isso fez com que os alunos e funcionários de Beauxbatons valorizassem ainda mais o tempo livre que lhes restava. Cada um aproveitava esse tempo da forma que mais lhe agradava, se dedicando a algum hobbie ou simplesmente descansando. Porém, era difícil não imaginar, de vez em quando, como seria estar de volta à escola. Embora nada tivesse sido confirmado, os rumores de que aconteceria um Torneio Tribruxo fizeram com que muitos criassem grandes expectativas.
Tirando o incidente com os dementadores, as férias de Elizabeth foram tranquilas. Ela passou a maior parte dos dias ajudando a mãe nas tarefas domésticas e ouvindo as histórias divertidas que o pai contava na hora do jantar. Quando não tinha nada para fazer, ia para a casa de Rachel e as duas passavam a tarde toda conversando e escutando música. Agora podia chegar um pouco mais tarde em casa, uma vez que os dementadores desapareceram.
Na quinta-feira, como prometido, Oliver regressou à casa dos Tonks, para apanhar a namorada e levá-la para conhecer sua família.
– Cuide bem da minha garotinha, rapaz – o Sr. Tonks recomendou, sorridente.
– Pai! – Elizabeth guinchou, corando.
– E seja paciente – o homem de olhos verdes falou baixinho. – Ela dá tanto trabalho quanto a mãe dela...
– Mas o quê...? – Elizabeth ficou sem palavras.
– Eu ouvi isso – a Sra. Tonks ralhou, fingindo irritação.
– Mas elas são os amores da minha vida! – o Sr. Tonks exclamou, dando um beijo estalado na bochecha da esposa.
– Hum... – a Sra. Tonks resmungou, reprimindo um sorriso.
– Vamos logo, antes que o papai fale coisa pior! – a garota puxou o namorado, seu cabelo ficando avermelhado.
– Vou cuidar bem dela, sim senhor – Oliver prometeu, sorrindo. – Voltamos no sábado, certo?
– Tudo bem – a Sra. Tonks concordou, com uma expressão severa. – Mas tomem cuidado, porque as coisas por aí andam bem esquisitas.
Oliver e Elizabeth assentiram, deixando claro que tinham entendido o recado. Eles se despediram do Sr. e da Sra. Tonks e seguiram pelas ruas do bairro, carregando embrulhos enormes, que atiçavam a curiosidade de alguns.
Procuraram por um local deserto, onde poderiam finalmente desembrulhar as vassouras, montar nelas e levantar voo sem que alguém os visse. Escolheram um dos vários bosques da cidade – o lugar ideal – e assim fizeram.
Elizabeth ficou feliz, ao sentir o vento forte bater contra seu rosto. Não usava a vassoura desde o Campeonato de quadribol na escola. Lá embaixo, os carros nas estradas lembravam formigas, devido à grande altitude. Depois, veio a imensidão azul do mar. Rumando para o sul, levaram quase uma hora para chegarem ao destino desejado.
Pousaram na beira de uma mata, de onde se podia avistar uma bela cidade. A garota ficou encantada com aquela vista.
– Bonita, não é? Os trouxas fizeram um bom trabalho – o garoto comentou, observando a cidade. – Obviamente, tem um dedinho dos bruxos, mas os trouxas também têm seus méritos.
Os dois tornaram a disfarçar as vassouras.
– Minha rua não é tão movimentada – ele disse, pensativo. – Acho que podemos aparatar diretamente lá.
O garoto estendeu a mão para ela e, juntos, desaparataram dali. Aparataram em uma rua longa, cheia de casas grandes e bonitas. A moça ficou pasma, vendo aquelas casas luxuosas. Os Tonks não eram uma família pobre, de forma alguma; no entanto, era evidente que as pessoas que residiam naquela rua eram montadas na grana. Aquelas "casas" eram, no mínimo, cinco vezes maiores que a dela.
– Você vai conhecer a Mirella, esposa do meu pai, e a Gaby, filha dela – Oliver explicou, enquanto caminhavam pela rua. – Meu pai não está em casa, vive viajando, por conta do trabalho...
– E ele trabalha com o quê? – Elizabeth indagou, displicente.
– Comércio de hidromel e outras bebidas – ele respondeu, reflexivo. – É um mercado altamente lucrativo...
Ele parou diante de uma casa grande, com muros altos e portões de ferro.
– Esta é a minha casa – ele a conduziu, passando pelos portões.
Além dos portões e muros havia um jardim bem cuidado, com uma fonte no centro, na frente da entrada principal.
– Minha mãe gostava muito daquela fonte dos Flamel, então meu pai colocou essa aqui em casa – o rapaz contou, claramente perdido em suas lembranças.
– Ela tinha bom gosto – a garota comentou gentilmente. – É muito bonita...
O casal entrou na casa. Se era bonita por fora, por dentro era deslumbrante. O Hall tinha vasos, com variadas plantas decorativas, alguns quadros nas paredes, com pinturas atrativas e outras obras de arte. Uma escada levava ao andar seguinte, onde ficavam os outros cômodos.
– Boa tarde, Sr. Oliver – uma empregada o cumprimentou.
– E aí, tudo em cima? – o garoto perguntou, sorrindo – Sabe onde a Mirella está?
– Está na sala de estar, senhor – a empregada respondeu.
– Obrigado, Lina – o garoto agradeceu e seguiu com Elizabeth pelo corredor.
No fim do corredor ficava uma sala espaçosa. Elizabeth viu algumas estantes com livros, outras com garrafas de bebidas; mais quadros enfeitavam as paredes; as janelas abertas deixavam a luz solar entrar e iluminar o ambiente na medida certa; as cortinas tinham um tom claro de cinza, que combinava perfeitamente com o azul-petróleo das paredes; uma mulher magra, de pele clara e cabelos negros, estava sentada em um sofá e passava instruções para outra empregada.
–... Esses outros detalhes vocês mesmas podem decidir.
A empregada assentiu, cumprimentou Oliver e saiu.
– Oliver! – a mulher posou a xícara na mesinha de centro e levantou-se do sofá, abraçando o rapaz – Pensei que só fosse voltar amanhã... E quem é essa menina bonita? – os olhos castanhos dela recaíram sobre a garota ali parada.
– Minha namorada, Elizabeth – o garoto informou.
A mulher pegou as mãos de Elizabeth e a examinou, dos pés à cabeça.
– Meu enteado realmente tem um ótimo gosto – ela disse, encarando a garota de cabelo rosa. – Escolheu uma linda jovem como namorada!
– Obrigada... – Elizabeth corou com o elogio; seu cabelo ficou avermelhado.
Os olhos expressivos da mulher se arregalaram levemente.
– É uma metamorfomaga?! – a mulher exclamou, com curiosidade – Além de linda, também é talentosa!
– Bem, a animação em pessoa aí é a Mirella, minha madrasta – Oliver interpôs, rindo.
A mulher abriu os braços e se inclinou levemente.
– É um grande prazer conhecê-la, Elizabeth – Mirella falou, sorridente.
– O prazer é todo meu, senhora...
– Sem essa história de senhora, pode me chamar de você mesmo – Mirella pediu, simpática.
– Ah, ok – Elizabeth assentiu.
– Vou mostrar o resto da casa para a Liz – o garoto avisou, segurando a mão da namorada. – Nos vemos no almoço.
Eles se despediram de Mirella e saíram da sala de estar. Oliver a levou ao quarto no qual ela iria se acomodar. Antes de descerem para almoçar, o garoto a chamou e eles caminharam pelo longo corredor outra vez. De repente, o rapaz parou e bateu em uma das muitas portas.
– Entra! – uma voz suave e calma veio de dentro do cômodo.
Oliver abriu a porta e entrou no quarto, puxando Elizabeth. Uma garota com cabelo longo e negro estava sentada na cama. Sua pele era clara e seus lábios eram carnudos e rosados. Ela tirou os olhos castanhos do livro que estava lendo e os encarou.
– Essa é a Gaby, filha da Mirella – Oliver falou. – Minha irmã.
– Oi – Gabrielle murmurou, tímida. – Você deve ser a Liz, imagino. O Oliver não tem outro assunto, é Liz para lá, Liz para cá...
– Hum, quer dizer que você tem falado muito sobre mim, é? – Elizabeth lançou um olhar maroto.
– A Gaby é muito brincalhona – o garoto deu um sorriso amarelo.
– Ah, que bracelete legal esse seu! – Elizabeth exclamou, apontando para o pulso direito de Gabrielle. O bracelete continha várias pedras coloridas.
– Ah, obrigada – a morena respondeu, grata, olhando o acessório com um leve sorriso. – Foi um presente do meu pai...
– A gente tá indo almoçar – Oliver avisou. – Você vem com a gente?
– Claro – Gabrielle confirmou, deixando o livro em cima da cama e acompanhando o casal.
Os dias que Elizabeth passou na casa dos Ozanan foram agradáveis e muito divertidos. Mirella e Gabrielle eram excelentes companhias, mesmo que tivessem personalidades diferentes: Mirella era uma mulher elegante e extrovertida, alegre; Gabrielle, por outro lado, era quieta e introvertida. Em pouco tempo, mãe e filha criaram fortes laços de amizade com a moça.
– Vejo que vocês se deram bem – Oliver comentou, contente, na noite de sexta.
O casal observava, de uma sacada, o jardim da casa.
– Mirella e Gaby são pessoas ótimas – Elizabeth replicou, reflexiva. – É impossível não gostar delas.
– Fico feliz, principalmente pela Gaby – o garoto confidenciou. – Ela nunca teve muitos amigos. Na verdade, desde que nossos pais se casaram, somos só ela e eu.
– Por que ela não foi para Beauxbatons, como você? – a garota inquiriu, curiosa – Ou para outra escola?
– Mirella achava que seria melhor se a filha estudasse em casa mesmo – o rapaz esclareceu. – Gaby tem aulas particulares.
– Ah, entendi... – Elizabeth murmurou, sonolenta.
– É melhor a gente ir dormir – ele sugeriu, vendo o cansaço dela. – Amanhã voltamos para a Inglaterra...
Na manhã de sábado, Elizabeth teve a ideia de ir ao Beco Diagonal, para passear e ver as novidades e lançamentos. Oliver gostou da ideia e pediu a madrasta que deixasse Gabrielle acompanhá-los. A mulher prontamente deu a permissão. Os três partiram logo após a primeira refeição.
Eram umas onze e meia da manhã quando eles chegaram a Sheffield.
– Aqui está a garotinha de vocês, sã e salva – Oliver anunciou, rindo, na sala da casa dos Tonks.
– Olha, você não começa, viu? – a garota ralhou, fingida.
A Sra. Tonks os ajudou a se acomodarem e os convidou para o almoço. As habilidades culinárias da mulher receberam diversos elogios de Oliver e Gaby.
Depois do almoço, os três pegaram um trem e foram até Londres. Chegando lá, entraram em uma viela sem movimento e desaparataram. Quando reapareceram, estavam no meio de uma rua longa e serpeante, com o chão de pedras irregulares e com vitrines dos dois lados.
– Aqui estamos – Oliver murmurou. – Beco Diagonal.
Pessoas passavam para lá e para cá, parando de vez em quando para ver as ofertas das lojas. Algumas outras gritavam, anunciando produtos e promoções. Gabrielle olhava para todos os lados, intrigada e fascinada com o lugar. Evidentemente já ouvira falar daquele local, mas era a primeira vez que o visitava. Os três começaram a andar entre a multidão, entrando em algumas lojas.
Oliver comprou muitos presentes para a namorada e para a irmã. No fim da tarde, só restava uma loja para visitar: A Gemialidades Weasley. Elizabeth insistiu em passar por lá, pois queria ver o que havia de novo na loja de logros e brincadeiras mágicas. Era a loja mais chamativa do Beco Diagonal, o paraíso para qualquer criança ou alma travessa. O trio estava admirando a vitrine, quando uma voz familiar chegou aos seus ouvidos:
– Liz? Oliver?
Os três se viraram rapidamente e viram Hanna, parada no outro lado da rua. E não estava só: Stars, Snow, Luke, John, Michael e Liliana estavam com ela.
– Oi, pessoal! – Elizabeth cumprimentou os amigos, entusiasmada – O que estão fazendo aqui?
– O Snow nos chamou para dar um rolê pelo Beco e a gente veio – Stars contou, também carregando pacotes.
– Vamos entrar, então? – Michael se manifestou, ansioso – Quero ver as novidades da Gemialidades e comprar alguma coisa para o Severo!
Tinha tanta coisa interessante e legal, que eles gastaram boa parte do tempo nas compras.
– E essa sorveteria? – Stars questionou, de propósito, para atiçar os amigos.
– Melhor ideia do dia – Liliana afirmou, umedecendo os lábios.
– Concordo – Snow falou.
Todos consentiram e se dirigiram à sorveteria. Lá encontraram Sofia, Rick, Melanie, Miguel, Dean e Katherine. Um grande grupo se formou em frente à sorveteria. Assim que todos tinham seus sorvetes em mãos, o grupo procurou um lugar para descansar e jogar conversa fora.
– Oliver, vem cá – Liliana chamou o garoto. – Quem é essa garota que tá com você e a Liz?
Todos os olhares focaram em Gabrielle e a garota corou violentamente.
– É a minha irmã, Gaby – o rapaz disse, abraçando a moça pelos ombros.
Todos cumprimentaram a garota amigavelmente, o que fez com que se sentisse mais confortável.
– E as férias, como foram, pessoal? – Hanna perguntou aos amigos.
– A gente viajou para o Japão – Sofia contou para os outros. – Conhecemos a escola de magia de lá, fizemos novos amigos... Foram férias incríveis!
– Nós ficamos aqui, na Inglaterra mesmo – Michael falou, satisfeito. – Passamos boa parte do tempo descansando, porque a escola tá pegando pesado esse ano. Mas também aproveitamos para jogar um pouco.
– A gente enfrentou dementadores, na semana passada – Elizabeth contou, sem cerimônia. – Apareceram cinco lá no meu bairro.
Todos ficaram espantados ao escutarem a narrativa.
– Não acredito que eles foram parar em um bairro trouxa por engano – Dean se intrometeu, sério como sempre. – Acho que a professora Malfoy tem razão. Esses acontecimentos têm o dedo da McCarthy...
A descontração vacilou. Eles ficaram em silêncio, refletindo sobre aquelas palavras. Porém, não demorou tanto para voltarem a conversar sobre assuntos alegres. Permaneceram ali, reunidos, até escurecer e todos resolverem retornar aos seus lares, para aproveitar o resto das férias.
"Só mais um dia e eles estariam de volta..."
Assistia ao pôr do sol, o garotinho com a cabeça apoiada em seu colo, deitado na vasta relva.
– Olha, lá vem o Ti!
Um garoto magro e alto, de óculos e cabelos escuros, se aproximava sorrindo.
– Ele vem para ficar comigo? – o garotinho perguntou, encarando com seus olhos verdes.
– Hã? – não entendeu o que o menino dissera.
– Olha – ele apontou para o rapaz que vinha ao encontro deles.
O céu escurecera num piscar de olhos; uma sombra surgiu atrás do garoto de óculos, do nada, e o envolveu completamente; os dois sumiram sem deixar vestígios.
– Calma, Lili – o garotinho também sumira, mas ainda podia ouvir sua voz, distante. – Um dia, todos nós estaremos juntos. Para sempre...
– ELI! TI!
– NÃO! – Liliana acordou, assustada e atordoada, olhando para os lados. Não estava vendo o pôr do sol; tampouco havia sombra alguma. Era madrugada e ela estava em seu quarto. Nada do que viu era real. O colar dela, em cima da penteadeira, emitia um brilho estranho.
– Queria que o Ti estivesse aqui...
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