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História A Reação Adversa do Caos - DEGUSTAÇÃO - Capítulo 4


Escrita por: stephannesays

Capítulo 4 - Capítulo 4


— Quem é você e o que quer? — perguntou Luna, sem fazer questão de ser amigável com o suposto homem do machado.

    Mas ele era bonito demais para ser o homem do machado. Não que realmente existisse um padrão de beleza para ele. Na verdade, sua aparência geralmente era imprevisível. Era a última pessoa que você imaginaria. Por isso, Luna o amarrou em uma cadeira usando o fio do telefone.

    Uma leve barba por fazer adornava o queixo quadrado do intruso, e o seu cabelo raspado nas laterais possuía um tom mais escuro do que sua pele marrom como chocolate. Sua roupa indicava que também estava em uma festa à fantasia. Era um uniforme acinzentado que deixava seus músculos em evidência e continha um símbolo estranho. Luna já teria ligado para a polícia, mas sua demora em acordar a deixou preocupada. Ela ainda estava um pouco bêbada, como iria explicar para a polícia que matara um estranho que tentou invadir sua casa usando um livro? “O Senhor dos Anéis é um livro muito grande, naquela época não existia Google, era preciso três páginas de descrição para as pessoas saberem como era um pântano, seu guarda.”

    Ele falou alguma coisa com a voz de quem tinha acabado de acordar e abriu os olhos, que eram verdes e lindos. Luna levou algum tempo para perceber que ele havia falado em inglês. Enquanto isso, o homem se livrava com facilidade da algema que ela improvisara.

    Aquela cena fez Luna sentir um incômodo no estômago, então rapidamente pegou o guarda-chuva que estava ao lado e apontou para ele. 

    — Quem é você e o que quer? — repetiu, pela primeira vez fazendo valer o dinheiro gasto no cursinho de inglês.

    — Quando você for prender uma pessoa, nunca amarre as mãos dela para frente — ele disse com um sotaque estranho, depois abriu um sorriso tão bonito que ela não se importou por ele estar zombando da sua falta de estratégia de defesa. — Meu nome é Bok Wonkhester. Eu sou agente da GASP e acho que você tem algo de que preciso.

    Aquele gringo estava dando em cima dela ou era impressão?

    — Saia agora senão eu chamarei a polícia — Luna ameaçou, tirando o telefone do gancho.

    — Não, espere — ele disse, erguendo as mãos em sinal de paz. — Eu não sou daqui. Da Terra. A entrada direta aqui é proibida, então acho que vocês não estão muito familiarizados conosco do Gamma Aurellius.

    Luna o encarou. Pelo visto, ela não era a única pessoa que estava bêbada ali. Ou a pancada na cabeça tinha sido tão forte a ponto de afetar o funcionamento do seu cérebro.

    — Você é bonito demais para ser um extraterrestre — ela disse, impressionada com a coragem que o álcool estava lhe dando.

    — Quê? — Ele riu. — Extraterrestre?

    Ela revirou os olhos.

    — Se não falar sério, eu vou ligar para a polícia. Ao que tudo indica, você pode ser o homem do machado.

    — O homem do quê? — Ele continuava rindo. Seu sorriso realmente era lindo.

    — Nos filmes sempre tem alguém que chega e parece ser inofensivo, mas no fim é o assassino que entra com um machado na sua casa para te matar. Enfim… — divagou, esquecendo a situação.

    — Calma, enr… eu estou procurando uma pedra. Não sei exatamente como ela é… Talvez seja de ouro, cintilante, talvez brilhe no escuro, solte fogos de artifício ou algo do tipo, já que estão todos atrás dela… — Riu. — Deve estar em algum lugar aqui. Minha bússola indica que está a poucos metros de distância. 

    Luna não estava acreditando no que estava ouvindo. Como ele sabia da pedra? Ela provavelmente havia falado sobre ela para alguém no bar, e aquilo era uma pegadinha.

— Muito engraçado.

— Estou falando sério — ele insistiu.

    — Ok. E você é do lado negro da força ou do lado da luz? — debochou.

    — Quê?!

    — Vida longa e próspera? — Ela fez o gesto com a mão.

    Mas ele parecia realmente não fazer ideia do que ela estava falando. Em que planeta ele vivia para não entender aquelas referências?

    Luna estremeceu, e então caiu em si. Ou alguém tinha colocado alguma coisa na sua bebida, ou…

— Você por acaso é de outro planeta?

    — Sim, eu nasci em Kryk, mas trabalho na GASP da Capital — ele falou isso com tanta convicção que parecia até que…

    — Você está falando sério?

    — Parece que aqui neste planeta vocês não costumam falar muito com os vizinhos… Como você disse que se chamava mesmo? — perguntou enquanto ela continuava boquiaberta.

    — Luna.

    — Então, Luna… Seria bom se você se apressasse em me dar a pedra antes que os outros cheguem. Acredite, eles não serão assim tão amigáveis.

    — Você realmente não é da Terra? Isso não é nenhum tipo de brincadeira?

    — Não, já disse que estou falando sério.

    Luna ainda estava em choque, não sabia se realmente acreditava naquele estranho. Algo nele transmitia confiança. Talvez fosse seu sorriso perfeito de comercial de pasta de dente ou seus belos olhos verdes.

    — Me dê uma prova de que você está falando sério.

    — Que tipo de prova? — Ele franziu a testa.

    — Sei lá, me mostre alguma coisa do seu planeta.

    Ele pôs a mão no bolso e retirou algo que parecia mais ser um pó compacto muito caro. Quando o abriu e digitou alguma coisa, um tipo de foto holográfica apareceu. Luna ficou abismada com a modernidade e também porque na foto ele estava sem camisa em uma praia, comprovando a teoria dela sobre seus músculos por baixo da roupa.

    — Ok, eu não sei de onde você é e se isso é algum tipo de iPhone 30, mas por que você está fazendo tudo isso para pegar a pedra? Por que você a quer tanto? 

    Ele riu, e ela não conseguiu não reparar como seu sorriso era lindo toda vez que ele fazia isso. Ficava até menos irritada com aquela palhaçada toda em plena madrugada.

    — Eu quero impedir que ela caia nas mãos erradas.

    — Ou você quer vendê-la no Ebay? — Ela ergueu a sobrancelha.

    — Eu quero fazer o que é certo. 

    Pela convicção de sua fala, devia ser um ator fazendo oficina para uma peça, porque era bem realista.

    — Se você é de outro planeta, por que não é verde e não tem três braços ou algo do tipo? E por que você fala inglês?

    Ele riu, e ela percebeu que realmente gostava quando ele fazia isso.

    — Eu conheço algumas pessoas assim como você descreveu. Ah, e essa é a língua oficial do Sistema.

    — Inglês é a língua oficial do Sistema? — Ela cruzou os braços.

    — Essa é a língua aureliana. 

    — Ok, você vai ter que se esforçar mais do que isso nesse seu teatrinho se quiser que eu te dê a pedra.

    — Bom, breisleakyea — disse. Breisleakyea é uma palavra gagrilyana usada para indicar quando você não sabe o que falar, mas sabe que precisa falar alguma coisa.

    — O que é breisleakyea?

    — É uma palavra em gagrilyano, a antiga língua oficial do Sistema.

    Luna ficou o encarando. Por que ele estava fazendo aquilo? Só podia ser falta de roupa para lavar.

    — Ok, Bok de Kryk. Você me convenceu. Eu te darei a pedra porque preciso voltar a dormir, pois amanhã tenho que acordar cedo. — E também porque eu estou farta dessa palhaçada, ela omitiu.

    Quando Luna foi para seu quarto e pegou a pedra, ficou a observando atentamente. Sentiu um aperto no peito tão grande ao ver aquelas estrelas cintilantes em seu interior que… percebeu que não podia se desfazer dela. Não sabia o motivo, mas simplesmente queria ficar com ela. 

    Mas, diante da insistência de Bok em inventar histórias mirabolantes, ele não desistiria facilmente. Ela precisava pensar em alguma coisa, e rápido. 

    Enviou uma mensagem para Amy:

 

"Você está acordada?"

 

Pegou a bolsa azul com desenhos de patos e colocou a pedra dentro. Pegou também seu celular, seu diário e uma caneta, já que, dependendo da reação dele, sairia correndo e dormiria na casa de Amy.

    — Desculpe, eu não posso entregar a pedra a você — Luna disse ao voltar para a livraria, se perguntando se não era melhor ter pegado uma escova de dentes.

    Bok balançou a cabeça.

    — Por favor, eu realmente preciso dela.

    — Não.

    Seu celular estava na mão com o número da polícia pronto para ser discado caso ele tentasse qualquer coisa. Bok baixou o olhar, já sem o seu lindo sorriso no rosto. Luna sentiu até um pouco de receio por não lhe dar a pedra, mas… Ah, ela a tinha encontrado primeiro. Era dela por direito.

    De repente, um barulho veio da rua. Bok correu até a entrada e, quando colocou a cabeça sorrateiramente pela porta, pareceu empalidecer. 

    — Droga, eles chegaram.

    Instantaneamente, puxou Luna e a levou para trás de uma estante.

    — Mas que droga você está… — ela começou, mas ele cobriu sua boca com a mão.

    Luna sentiu vontade de mordê-la, até que percebeu que havia pessoas entrando na livraria. Quando viu por entre as brechas da madeira dois homens carregando armas, seu coração gelou.

    — Eu acho que esse foi o melhor de todos os episódios — disse um deles.

    — O nono episódio sempre é o melhor — o outro respondeu.

    Eles tinham armas. Armas. Todo o ar que existia nos pulmões de Luna sumiu. Seja lá como eles planejavam usar aquelas armas, seu tio a mataria caso eles não matassem antes.

    Seu corpo tremia e suas mãos suavam enquanto Bok calmamente foi soltando sua boca. Luna continuou os observando por trás dos livros ao mesmo tempo em que Bok pegava alguma coisa num tipo de cinto de utilidades. Os intrusos pararam para observar a bússola de Bok, que estava na mesa, depois olharam ao redor. O estômago de Luna se contorceu conforme o pavor aumentava a cada segundo. 

    Ela só conseguia pensar que dois homens armados estavam dentro da livraria. Dois. Homens armados. Dentro da livraria.

    — O que é isso? — perguntou um deles com um livro na mão.

    Ela tentou sorrateiramente pegar seu celular dentro da bolsa para mandar um pedido de socorro para alguém, mas, quando a terceira pessoa entrou e ela viu como ele era, sentiu que ia desmaiar.

    — Ai, meu Deus — sibilou, sentindo um nó nas entranhas, imediatamente cobrindo a boca ao ver aquela criatura com muitos dentes na boca, pescoço comprido e pele escamosa carregando uma arma igual a dos outros.

    Todos se viraram para ver de onde viera o som, apontando uma luz em sua direção. Luna só conseguiu enxergar a claridade, mas sabia que por trás dela havia uma arma apontada em sua direção. Não conseguiu se mexer, respirar ou pensar. O tempo pareceu congelar enquanto um suor frio cobria sua pele.

    Quando a criatura puxou o gatilho, Luna tinha certeza de que não adiantaria de nada, porque seu coração já havia parado. Bok rapidamente a puxou para baixo, fazendo com que o tiro acertasse a parede. Ela respirava ofegante, e, antes que pudesse digerir o que estava acontecendo, Bok enfiou uma máscara em seu rosto, cobrindo sua boca e seu nariz, depois jogou uma pequena bola na direção de onde os intrusos estavam.

    Um gás começou a sair de dentro do objeto arremessado. Bok saiu correndo, carregando Luna consigo, se abaixando e rolando para o outro lado ao mesmo tempo em que os outros atiravam.

    Suas mãos tremiam tanto que Luna não conseguia nem pensar no que seu tio ia fazer quando visse aquela bagunça, porque tinha certeza de que não sairia dali viva. 

    Alguns segundos depois, os tiros cessaram e logo o barulho de corpos caindo no chão se fez ouvir.

    — Eles morreram? — ela perguntou sem conseguir abrir os olhos.

    — Não, estão dormindo, mas temos que correr. Você está com a pedra?

    Ela engoliu em seco e balançou a cabeça em sinal positivo, torcendo para que eles acordassem e fossem embora antes que seu tio chegasse. Depois daria um jeito de arrumar aquela bagunça. Cobriria os tiros com cartazes e esconderia os livros destruídos. Usaria suas economias se fosse preciso.

    Saíram pela porta dos fundos e seguiram por entre as ruelas, correndo como se suas vidas dependessem daquilo. O que era verdade.

    Luna estava completamente em choque, não sabia nem o que estava fazendo, só seguia Bok. Ele não parou nem por um segundo, tinha um ótimo condicionamento físico, ao contrário dela, que estava se esforçando muito para ignorar as dores no corpo. Medo, o melhor combustível. 

    Luna saiu esbaforida pelos becos, o coração disparado, sem conseguir tirar da mente a imagem da criatura monstruosa que vira na livraria. Ele era real. Real até demais. O que estava acontecendo?

    Quando Bok parou em um local escuro e aberto, ela finalmente respirou fundo. Mas, quando olhou para frente, perdeu o fôlego novamente.

    — Vamos — disse ele, apertando um controle, o que fez com que a coisa que estava à sua frente abrisse uma porta, por onde desceu uma rampa.

    Não era parecido com nada que Luna já vira em sua vida, e também não acreditaria se alguém lhe contasse. Era uma nave. Uma nave espacial. Havia uma nave espacial à sua frente.

    A ficha de que tudo aquilo era real finalmente caiu. Até então considerava a possibilidade de ser uma pegadinha, estava esperando as câmeras aparecerem.

    — Não, eu não… — Mas, antes que ela completasse a frase, Bok a pegou pelos ombros e a levou para dentro.

    Luna estava petrificada demais para reagir, mas, quando a porta se fechou e ele a pôs no chão para depois ir para o painel, onde começou a apertar botões aleatórios, ela não conseguiu se conter.

    — Por que você fez isso? Eu não posso ir, tenho coisas para fazer amanhã! Abra a porta!

    — Se você ficasse, morreria e não as faria do mesmo jeito.

    Ela se calou. O barulho da nave sendo ligada foi o único som no ambiente por alguns instantes.

    — Eu pelo menos vou voltar a tempo de receber uma encomenda amanhã às dez da manhã?

    Confuso, ele olhou para ela como se não acreditasse que aquela era a maior de suas preocupações. Isso porque, obviamente, ele não conhecia seu tio.

    — Hum… Acho que não.

    Luna engoliu em seco, sentindo um bolo na garganta.

    Nesse momento, seu celular apitou, indicando o recebimento de uma mensagem de Amy:

 

"Oi, estou, por quê?"

 

Luna respondeu com a testa franzida de preocupação e sem acreditar totalmente no que escrevia:

 

"Estou indo viajar, não sei quando vou voltar. Mas estou bem."

 

    Digitou outro número e levou o aparelho cautelosamente até o ouvido, já se preparando para o esporro que ouviria.

    — Por que diabos você está me ligando essa hora? — perguntou seu tio, furioso do outro lado da linha.

    Ela podia quase visualizar seu rosto rechonchudo ficando vermelho.

    — Oi, tio, me desculpe pela hora, é que… o senhor poderia receber a encomenda das dez horas amanhã no meu lugar?

    — Por quê?

    — É que surgiu um imprevisto, estou indo viajar agora…

    — O quê? Para onde? — gritou.

    — É… — Mas, antes que ela pensasse no que dizer, a ligação caiu.

    Estava sem sinal, e Luna teve o pressentimento de que demoraria um bom tempo para voltar.

    Luna foi até uma janela para ver onde estavam, já que a sutileza dos movimentos daquele transporte dava a impressão de que não estavam se movendo um centímetro do lugar. No entanto, quando olhou a paisagem, uma frase de Gandalf veio em sua mente: “se você voltar, não será mais o mesmo”.



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