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História A Redenção do Tordo (Após a Rebelião) - No lago


Escrita por: IsabelaMellark

Capítulo 36 - No lago


Fanfic / Fanfiction A Redenção do Tordo (Após a Rebelião) - No lago

Por Peeta

— Antes de você me levar a esse lugar especial, será que podemos ver como estão as obras da padaria? – proponho, enquanto termino de guardar numa bolsa térmica as últimas provisões de comida e bebida para o nosso passeio.

Buttercup está aos meus pés, esperando que eu dê a ele mais algumas porções do nosso lanche.

— Sem problemas – concorda Katniss, entregando-me duas toalhas de banho, duas cobertas e uma toalha de tecido xadrez, que acomodo numa mochila.

Estou intrigado sobre o local onde ela quer me levar, mas não faço perguntas, para não estragar a surpresa. Até agora, sei apenas que é distante e que precisaremos de um bom lanche, água potável, toalhas e cobertas.

Quando tudo está pronto, eu e Katniss saímos da casa dela, caminhando de mãos dadas.

Está bem cedo e, por ser domingo, a manhã se inicia preguiçosamente no distrito, sem muito movimento. Apenas uma ou outra pessoa passa por nós pelo trajeto.

Quando já estamos atravessando a praça em direção à padaria, diminuo um pouco os meus passos. Katniss toma a dianteira, andando distraidamente.

Olho ao redor e está tudo perfeito, pois a praça ainda está vazia. No momento em que chegamos bem no meio dela, paro de andar abruptamente, ainda segurando com firmeza a mão de Katniss.

Permaneço assim parado, mesmo depois de alguns segundos. Como não dou nenhuma explicação para o que estou fazendo, Katniss se vira para me encarar.

— Está tudo bem? – ela me pergunta preocupada.

— Tudo ótimo! – Sorrio de lado.

— Por que paramos aqui?

— Porque aqui é o lugar ideal para o que eu pretendo fazer. – Retiro a aljava de flechas das costas de Katniss e deixo o objeto apoiado num banco próximo, junto com a mochila e a bolsa que estou carregando.

Eu abraço Katniss por trás, seguro uma de suas mãos e, sem soltá-la, aponto para uma determinada direção.

— Lá naquela esquina, fica a escola. Daqui dá pra ver um pouquinho dela. Foi onde eu ouvi você cantar no primeiro dia de aula e onde me apaixonei por você. Eu estava onde deveria estar. – Beijo o ombro dela, num pedacinho de pele não coberto por sua jaqueta, e direciono sua mão para outro ponto. — Ali, atrás da padaria, eu vivi com você um dos momentos mais gratificantes da minha vida. Consegui ajudá-la da melhor forma que eu podia. Eu estava no lugar certo, na hora certa. – Ainda abraçado a ela, giro nossos corpos até que estejamos virados para o outro lado da praça. — Aqui, em frente ao Palácio da Justiça, eu passei alguns dos instantes mais aterrorizantes da minha vida. Eu fui sorteado na colheita, tendo que ir para a arena com você. Era o lugar errado e a hora errada para segurar pela primeira vez a mão da garota dos meus sonhos.

Katniss fica de frente para mim e envolve meu rosto com suas mãos.

— Foram esses momentos que nos trouxeram até aqui. – Ela entende o que quero dizer.

— E é aqui o lugar perfeito, a hora perfeita, pra dizer que eu quero ouvi-la cantar, quero me apaixonar por você, quero ajudá-la e quero segurar a sua mão todos os dias, por toda a vida… Com direito a um pedido tradicional dessa vez! – Apoio um dos joelhos no chão e fito seus olhos cor de prata, brilhando de emoção. — Você quer se casar comigo, Katniss Everdeen? Quer ficar comigo?

— Sim! Sempre! – Ela dá o sorriso mais deslumbrante que eu já vi, antes de eu me levantar.

— Não tive tempo de comprar o anel de noivado que eu gostaria de dar a você. Então, peguei emprestadas as alianças dos meus pais. – Retiro do bolso os dois círculos dourados, símbolos de eternidade, porque não têm princípio nem fim.

Equilibro os anéis na palma da minha mão, exibindo-os para ela.

— Você não poderia ter escolhido maneira melhor de oficializar nosso noivado – confessa Katniss, comovida.

Deslizo a menor das duas alianças em seu dedo anelar direito e ela repete o gesto em mim, com o anel que era do meu pai, o qual se ajusta perfeitamente. Beijo sua mão recém-adornada com a aliança usada pela minha mãe, que está um pouco frouxa em seu dedo delicado.

Enlaço meus braços em sua cintura e ela aperta sua face contra meu peito. Respiro fundo. Meu coração parece pequeno demais para tudo o que quero que caiba dentro dele.

— Esse pedido foi tão especial… Você pensou nisso agora?

— Eu já havia imaginado essa cena muitas e muitas vezes, bem antes de conhecer você pessoalmente. Só não pensava que eu teria que incluir a parte do Palácio da Justiça. – Encolho os ombros.

Estamos de frente um para o outro, quase nos beijando em meio à praça. Olhos nos olhos e corações acelerados.

— Nunca imaginei querer viver algo assim com tanta força – sussurra Katniss. — O que você está fazendo comigo?

— Estou apenas tentando fazê-la feliz.

— Tentando e conseguindo, Peeta Mellark.

Analiso a aliança que descansa em meu dedo e também mal posso acreditar.

— Desde a primeira colheita, minhas esperanças de que isso um dia acontecesse foram abaladas em tantos momentos, que muitas vezes aceitei que era algo impossível – divago.

— Eu sempre abominei a ideia de me casar e já afirmei várias vezes que isso nunca aconteceria comigo, mas estou feliz por eu estar errada por todo esse tempo. – Ela sorri quando pressiono meus lábios em sua testa. — Eu amo você, Peeta.

— Eu também amo você – declaro feliz, erguendo os olhos e vendo que não estamos mais sozinhos. — Meu amor… O seu lugar especial é à prova de olhares curiosos?

— Sim.

— Então, vamos pra lá? A cidade já está começando a acordar!

— Você não queria ver as obras da padaria? – Katniss indaga.

— Era só um pretexto para passarmos pela praça. Afinal, eu não sabia o caminho que você ia fazer.

— Mas já que estamos aqui… Ir até lá não vai atrapalhar meus planos – opina ela e eu assinto.

Recolhemos nossos pertences no banco da praça e rumamos até a construção da padaria.

Percorro com os olhos marejados a realização de mais um dos meus sonhos. Cada tijolo assentado possui pra mim um valor que não se pode medir.

— Obrigado por ter insistido em me trazer aqui – agradeço, admirado com o belo desempenho da equipe de obras de Thom. — Está ficando magnífica!

Alguns anseios relacionados ao início do funcionamento da padaria começam a se desenhar em minha cabeça, misturados a muitas lembranças que envolvem esse lugar.

— Você merece. – Ela aperta mais minha mão na sua, o que tomo como um sinal para seguirmos adiante.

Por ela estar com seu arco e suas flechas, não me surpreendo quando Katniss me guia até a cerca entre o distrito e a floresta. Como das outras vezes, ela me dá uma faca antes de entrarmos, apenas por precaução.

Continuamos andando em meio ao bosque, abrindo um caminho desconhecido para mim, mas com o qual ela está bem familiarizada.

Vamos em silêncio a maior parte do tempo, para não despertar mais atenção do que meus pés já o fazem. Felizmente, hoje isso não aborrece Katniss, pois ela não tem a intenção de caçar e o arco em punho é apenas para nos proteger.

Depois de algumas horas de caminhada e curtas paradas estratégicas para nos hidratarmos, a vegetação fica menos densa e Katniss interrompe seus passos diante de uma clareira.

Ao levantar meus olhos para vislumbrar a mudança na paisagem, entendo a razão pela qual Katniss chama este lugar de especial. Fico completamente atônito com a beleza sem igual de um lago tranquilo, que só não é mais bonito que a expressão de felicidade de Katniss nesse exato momento.

Fitando-a assim, emoldurada pelas águas cristalinas do lago cercado de rochas, que está a alguns metros de nós, uma recordação me toma de assalto.

— No Distrito 13, mostraram pra mim um clipe com você num lago cantando ‘A árvore-forca.’ Eles me disseram que isso nunca havia sido transmitido, então a Capital não pôde usar essas imagens durante o telessequestro. Eu reconheci a música. – Lembro-me das duas cenas, tanto a da exibição do vídeo quanto a que eu vivi quando criança. — Eu era pequeno, provavelmente tinha seis ou sete anos, e ouvi seu pai cantando num dia em que ele foi negociar na padaria. Eu estava prestando muita atenção para ver se os pássaros parariam de cantar… E eles pararam. Foi a primeira conexão com você que não engatilhou em mim um colapso nervoso naquela época.

— Foi aqui mesmo que gravaram aquele vídeo. – Katniss suspira. — Meu pai… Você se lembrou da pessoa certa. Foi ele quem descobriu esse lugar, durante uma caçada.

Então, percebo que a beleza do local não é o único motivo para ele ser especial para Katniss, como ela me explica melhor ao me levar até uma casa antiga perto da beira do lago. É uma edificação constituída de apenas um pequeno quarto.

— Meu pai achava que antigamente havia outras construções por aqui e as pessoas vinham pra cá aproveitar o lago. Ainda é possível ver algumas das fundações. Esta casa foi a única que permaneceu de pé, porque é feita de concreto.

Considerando o tempo decorrido desde antes da criação de Panem, a casa até que está bem conservada. Piso, telhado, forro, uma das quatro janelas de vidro mantida no lugar, ainda que instável e amarelada.

— Não há encanamento, nem eletricidade, mas a lareira continua funcionando. – Katniss aponta para um dos cantos e diz orgulhosa. — Meu pai e eu recolhemos anos atrás aquela pilha de lenha. E esta vassoura feita de galhos que está parcialmente queimada na lareira foi meu pai que fez, quando eu tinha uns oito anos, para eu brincar de casinha aqui.

— Que graça! – A exclamação me escapa imediatamente.

— O quê?

— Imaginar minha futura esposa brincando de casinha. – Enredo meus dedos em seus cabelos até alcançarem sua nuca e capturo seus lábios com os meus. — Quero saber mais sobre esse lugar, pra ver mais desse brilho nos seus olhos.

— Esse é um lugar que eu nunca quis dividir com ninguém, um lugar que pertencia apenas a meu pai e a mim. Porém, um dia, eu precisei trazer o Gale aqui, quando eu estava planejando nossa fuga, logo que acabou a Turnê da Vitória. – Ela olha pra mim e sinalizo que me recordo daquela época. — Depois, outras pessoas estiveram aqui comigo. No dia em que machuquei o tornozelo e os Pacificadores estavam me esperando lá na Aldeia dos Vitoriosos, eu havia encontrado aqui duas fugitivas do Distrito 8, Bonnie e Twill. Por fim, durante a rebelião, vim ao lago com a equipe de filmagem de Plutarch… Você é a primeira pessoa que trago aqui, com quem realmente quero compartilhar o significado que esse lugar tem pra mim desde antes dos Jogos. – Katniss olha em volta, absorvendo tudo ao seu redor.

— A floresta sempre foi um santuário pra você, não é? – questiono e ela aquiesce. — Esse lago parece ser a joia mais preciosa do seu santuário.

— Mesmo com o passar dos anos, essa joia não mudou nada, enquanto eu estou quase irreconhecível.

— Você foi apenas lapidada – brinco e ela sorri brevemente.

Katniss não fala mais nada por um bom tempo e parece apenas refletir. Estendo a toalha xadrez no chão, num lugar próximo à entrada da casa abandonada.

— Você quer dormir pra descansar um pouco? – Katniss pergunta. — Estou acostumada a fazer essa longa caminhada, mas sei que pode ser extenuante para quem vem pela primeira vez.

— Estou bem. – Balanço a cabeça em negativa, mas o cansaço domina minhas pálpebras. — Só preciso me sentar um pouco.

Katniss se acomoda na ponta da toalha e dá umas batidinhas em sua perna.

— Vem se deitar aqui. Vou contar mais histórias da minha infância pra você.

Não recuso o seu convite tentador e me recosto sobre ela. Seus relatos continuam, enquanto ela acaricia meus cabelos.

— Em domingos de verão, eu vinha para a floresta com meu pai. Esses dias eram alegres demais. Nós saíamos de manhã cedo e fazíamos a caminhada até aqui. Nem me lembro de ter aprendido a nadar, pois eu era tão jovem quando ele me ensinou… Só me lembro de mergulhar, de dar cambalhotas e de remar aleatoriamente. – Sua voz calma me incita a fechar os olhos pesados. — Meu pai caçava as aves aninhadas em volta da margem e as colocava em um saco, enquanto eu buscava ovos na grama. Depois, nós dois cavávamos à procura de raízes de katniss, nas partes rasas. À noite, quando chegávamos à nossa casa, minha mãe fingia que não me reconhecia, porque eu estava muito limpa. Então, ela preparava um jantar maravilhoso de pato assado e caule de katniss cozido com molho.

Meu corpo relaxa a cada palavra e estou num estado de quase sonolência, quando sinto que Katniss, com todo o zelo, sai debaixo de mim e deita minha cabeça na toalha. Ela se preocupa em improvisar pra mim um pequeno travesseiro, usando uma das cobertas que estão na mochila. Mantenho meus olhos fechados, mas pestanejo algumas vezes quando percebo seus passos se distanciando. Permaneço deitado, porém a observo em silêncio.

Katniss aprecia a paisagem, enchendo seus pulmões de ar puro e expirando devagar. Ela se despoja de sua jaqueta.

Ergo o meu tronco lentamente, sem emitir nenhum som, apoiando-me em meus cotovelos, ansioso para testemunhar a cena sem interrompê-la.

Depois, não me movo e fico contemplando Katniss. Ela parece ter voltado à infância, seu riso de felicidade e seu gestual despreocupado denotam isso. Ela descalça suas botas e retira também sua calça, aparentemente sem se importar com minha presença, sorrindo ingenuamente em direção ao lago.

A visão é hipnótica e evoca sensualidade, porém, ao mesmo tempo, tem uma aura pueril.

Tão menina e tão mulher… tão inocente e tão sedutora ao mesmo tempo.

Pisco incrédulo, engolindo em seco, quando percebo que Katniss só está se desnudando à beira do lago, porque pensa que estou dormindo. Eu deveria tentar fingir que estou mesmo adormecido, mas não consigo desviar meus olhos dela.

Quando ela está prestes a erguer a camiseta, seus olhos captam o meu olhar intenso e ela se retrai, envergonhada. Ela puxa a barra de sua camiseta para baixo novamente. Seu rosto fica corado.

— Por favor, finja que eu não estou aqui! – digo sem pensar, ficando de pé.

Sacudo a cabeça, frustrado, porque isso era exatamente o que eu não deveria ter falado.

— Não estava querendo me exibir pra você. – Seu tom de voz demonstra que ficou desconfortável com a situação.

— Eu sei disso. Já estou virando para o outro lado. – Giro meu corpo para a direção oposta, não sem antes tampar meus olhos.

O engraçado é que, apesar de eu ser louco de desejo por ela, naquele momento, eu admirava, não só o seu corpo, mas principalmente a sua expressão leve e os seus movimentos quase infantis em busca de se livrar o mais depressa possível das peças que a atrapalhariam num delicioso mergulho no lago.

— Peeta… – Katniss chama. — Pode voltar a olhar pra cá.

Torno a ficar de frente para o lago e Katniss está vestida na calça, com a jaqueta apoiada nos ombros, cobrindo suas costas e seus braços. Eu me aproximo com cautela.

— Eu sei que você não tinha a intenção de se exibir. Estava estampado no seu rosto que você voltou a ser criança aqui, diante desse cenário maravilhoso. Você estava com o mesmo sorriso do dia em que eu a vi pela primeira vez, erguendo a mão para cantar a canção do Vale.

Katniss fica sem ação e parece entender, como eu, que não era apenas a sua pele que estava sendo despida à minha frente, mas também a sua alma. Um pequeno pedaço de sua infância que foi resgatado e eu consegui perceber na alegria dos seus gestos.

— Você pode me perdoar? Por favor… – imploro.

— Será que dá pra gente apagar o que aconteceu agora há pouco?

— Isso é impossível.

— Você ficou muito chateado comigo por eu não me sentir à vontade em ficar assim diante de você?

— Chateado? Eu fiquei foi fascinado por você. Mas vou ficar muito chateado, de verdade, se você não for nadar no lago, pois terei a impressão de que estraguei nosso passeio. – Dou um giro e me posiciono de costas pra ela. — Basta me avisar quando vou poder me virar novamente.

— Não é necessário, Peeta. São as cicatrizes. Eu apenas não queria que você as visse.

Eu me viro mais uma vez e retiro sua jaqueta cuidadosamente.

— Estou envergonhada, agora que você está vendo como fiquei depois… de tudo.

Ela olha para seus próprios braços e eu pergunto:

— O que você vê?

— Vejo minha pele deformada. Queimada, retalhada, enxertada. – Katniss abaixa o rosto e passa os dedos por algumas cicatrizes. — Eu vou me cobrir. Você deve estar sentindo repulsa.

— Se você acha que eu sinto repulsa por você, o que quer que eu pense sobre como se sente em relação à minha amputação?

— É diferente. Eu fui a responsável por isso ter acontecido com você. E, mesmo que não tivesse sido culpa minha, sua perna amputada nunca seria um motivo para eu me afastar de você.

— E eu digo o mesmo! Além disso, não se culpe por nada do que aconteceu durante os Jogos – baixo a voz em frustração. — Você não tem que suportar mais esse peso.

Acaricio seu rosto e Katniss se encolhe. Depois, ainda tenta pegar sua jaqueta. No entanto, retiro-a de seu alcance. Ela se abraça, sendo evidente seu constrangimento.

— Olha pra mim, Katniss. Você quer saber o que eu vejo? – Seguro seu queixo com gentileza. — Uma mulher absolutamente linda.

Ela ainda tenta se cobrir com as mãos.

— Katniss, não faça isso… Eu amo tudo o que você é, mesmo com suas reservas e seus receios, com cicatrizes no corpo e na alma, com as suas perfeitas imperfeições.

Retiro devagar suas mãos que tapam os seus braços e percorro uma trilha de carícias sobre suas marcas. Sem pudores, sem medo. Katniss finalmente abre um singelo sorriso e me encara mais confiante.

— Isso faz cócegas! – Ela dá risada, quando deposito beijos leves como plumas sobre as cicatrizes.

— Eu também tenho minhas marcas. – Calmamente levanto minha camisa e dou meia volta, para ela ver minhas costas.

Então, seu riso some. As pontas de seus dedos contornam uma cicatriz em meu ombro e, em seguida, sinto a umidade quente de sua boca percorrer gentilmente um caminho de prazer nos lugares onde a dor deixou os seus traços na minha pele.

— Isso aqui foi… – Katniss roça os dedos em minhas costelas.

— Você não gostaria de saber e eu prefiro não me lembrar. – Seguro uma de suas mãos, torno a me virar para ela e trago seu corpo para mais perto do meu.

Nós dois estamos absorvidos em nossa mútua contemplação. Meu coração bate apressado e o sangue empreende uma corrida desenfreada em minhas veias.

Eu a beijo e pressiono seu tronco com cuidado contra a parede externa da casa. Minhas mãos deslizam até a base de suas costas. Ela colabora, afastando seu quadril da superfície lisa, e se aperta com mais força contra mim em resposta. Moldo meu corpo ao dela, sem que nossas bocas e línguas deixem de explorar umas às outras.

Katniss se afasta um pouco, ofegante, e cola nossas testas.

Ela traga saliva com dificuldade e seguro seu rosto, prendendo minhas mãos ali, pois nunca desejei tanto despi-la e fazê-la minha como nesse momento.

Katniss funde seus dedos em meus cabelos e eu me delicio com a sensação. Aos poucos, retiro minhas mãos de sua face e observo como sua respiração se agita, quando contorno seu pescoço com meus dedos e abaixo com cautela as alças de sua camiseta e de seu sutiã, desnudando seus ombros.

— Peeta… – A pulsação dela fica descompassada.

Minha barba por fazer mal toca sua pele, enquanto arrasto suavemente o queixo ao longo de sua clavícula até a extremidade do ombro.

Meus dedos se enroscam na barra da sua calça. Seus músculos, até então relaxados, ficam tensos e seus olhos se abrem alarmados.

Apesar de ela não dizer nada, Katniss não está me dando seu consentimento para avançar mais.

— Sei que você está pensando em se afastar, antes que não dê pra voltar atrás. Mas eu não quero soltar você. – Minha voz está rouca de desejo.

Katniss se desvencilha delicadamente do meu aperto e me segura pelos braços. Ela olha para baixo.

— Nenhum de nós tocou na comida que trouxemos – disfarça ela, mudando de assunto. — Você quer alguma coisa?

— Eu quero você. – Não titubeio e ela sorri, concordando.

— Eu também quero você por inteiro, quero ser sua por inteiro… Mas gostaria de, antes disso, celebrar o ritual dos pães torrados – confessa sem rodeios. — Seria como transformar na nossa verdade a mentira que você precisou inventar para me proteger na segunda arena. Não precisamos preencher um formulário e assinar um pedaço de papel. Eu quero apenas que aconteça como você imaginou que deveria ser, com o antigo costume de nosso distrito… Ao menos, foi o que você declarou naquela entrevista antes do Massacre Quaternário.

— Nós podemos fazer o ritual agora. Temos pão e você disse que a lareira ainda funciona.

— Peeta, essa não será a nossa casa!

— Não? Eu gostei daqui… – Tento mais uma vez, mas ela me olha séria. — Tudo bem… sem pressão.

— Eu… – Katniss beija minha orelha docemente. — …amo… – suas mãos gravitam em meu rosto e meus cabelos e ela me puxa para um abraço. — …você, Peeta – declara ela.

Mordisco seu queixo e suspiro contra a pele de sua garganta, enquanto ela continua.

— E eu sinto muito por querer esperar até a noite da cerimônia de torrar o pão. – Quando ela termina de falar, eu levanto meu rosto para encontrar seus lábios.

— Eu prometi que não pressionaria você pra nada. Não amo você menos por isso. – Eu a faço recordar, separando-me dela por um momento. — E, pra falar a verdade, eu também gosto da ideia de que aconteça depois do ritual em que tostamos o pão em nossa casa.

Katniss abre novamente o seu sorriso.

— Você deveria ir se banhar no lago. Eu atrapalhei tudo. – Estendo a mão para colocar uma mecha solta de seu cabelo atrás da orelha.

— Você não vem comigo?

— Preciso ainda de um tempo para me acalmar, digamos assim. – Coço minha nuca e ela se ruboriza.

Vê-la retirar a camiseta e a calça e, depois, caminhar até a margem não ajuda muito a me acalmar. No entanto, depois de um tempo, eu me junto a ela numa incursão cautelosa nas águas do lago.

Katniss vem me ajudar, estendendo-me as mãos, ao me ver dar os primeiros passos no fundo lamacento.

Ela mergulha e brinca de me molhar, pulando em minhas costas e circundando suas pernas em volta de mim.

Acaricio suas coxas e Katniss parece não se importar com o toque tão ousado quanto minhas carícias anteriores. A diferença é que, agora, está tudo esclarecido em relação a como e quando ela quer que aconteça nossa primeira vez. E Katniss sabe que vou seguir à risca a sua vontade.

— Eu não quero estragar esse momento, de forma alguma, mas é preciso tocar num assunto para eu me sentir segura de seguir adiante…

Solto suas pernas e, sem deixar de me abraçar, ela circula meu corpo para ficar à minha frente.

— Já sei qual é o tema. Filhos! – digo e Katniss confirma com um gesto.

— Greasy Sae me deu a sugestão de fazer um acordo com você – afirma ela com grande expectativa. — A minha proposta, então, é a seguinte… Embora eu acredite que não vou mudar de ideia sobre não querer ser mãe, essa aliança que está na minha mão direita agora mostra que existe a possibilidade de eu abandonar algumas das minhas convicções. Então, prometo estar sempre aberta a ouvir seus argumentos para me convencer do contrário. — Katniss ergue o braço, como se fizesse um juramento.

— Você tem certeza de que quer fazer esse acordo? Essa aliança na sua mão é a prova de que sou uma pessoa bem insistente. – Giro o anel em seu dedo direito.

— É por você. Fico mais tranquila assim.

— Tudo bem. Trato feito – aceito o acordo com um aperto de mãos. — Por que você ainda não quer ter filhos, mesmo com todas as boas mudanças?

— A questão não se resume à antiga miséria e aos Jogos… Seria insensatez minha pensar que há qualquer chance de eu ser uma boa mãe. Então, decidi que não teria filhos. Jamais. Eu sou muito fechada e fria… E tenho minhas fraquezas.

— Oh, Katniss, você está enganada. Você é incrivelmente amorosa com as crianças e está muito longe de ser fraca. – Deslizo meu nariz em sua face molhada. — Lamento muito saber que você não quer ter filhos… Mas, pensando bem, acho que você vai me amar mais e mais a cada dia, e logo vai querer encher a casa com algumas miniaturas minhas.

— Miniaturas suas? Realmente, isso não seria má ideia. Mas você corre o risco de, em vez disso, ganhar miniaturas minhas. – Ela sorri divertida.

— Essas são as que eu mais quero, desde sempre. – Aproximo meu rosto do dela e deposito um beijo em seus lábios.

— Falando sério agora, Peeta. Nós já conversamos sobre isso. Não desejo filhos. Fico paralisada de medo só de pensar em engravidar. Eu não suportaria se eu falhasse, como aconteceu com Prim.

A simples menção ao nome de Primrose traz à tona um emaranhado de sentimentos, porém o que sobressai é a compreensão dos temores de Katniss, muito embora eu não concorde com eles.

— Eu tomei essa decisão há tanto tempo e, com toda a sinceridade, Peeta, é melhor assim. – Suas mãos ajeitam alguns cachos que pendem sobre minha testa, mas o peso da água faz com que voltem a cair.

— Não vou esconder que eu sempre sonhei em formar uma família com você e esse sonho envolve ter filhos. Mas eu jamais exigiria algo que você não quisesse e não amaria menos você por esse motivo.

Vejo-a respirar profundamente, com alívio.

— Você podia ter escolhido alguém menos complicado – murmura ela. — Haymitch tem razão. Eu não mereço você.

— Nunca mais repita isso, por favor – exijo ao acariciar sua bochecha com o polegar. — Estou extremamente feliz com minha escolha. Eu quero passar o resto da minha vida com você, Katniss.

— Você é mais que perfeito, sabia? – Ela ergue a mão até meu rosto e o toca com carinho.

— Ah! Não me elogie ainda, pois isso não significa que eu não vá usar todos os meios e argumentos possíveis e imagináveis para tentar persuadi-la a me dar filhos. Você acabou de me autorizar… – Pisco pra ela.

— Já estou arrependida de dar a você essa autorização! – Katniss tenta lutar contra um sorriso, mas seu esforço é em vão.

Viro-a de costas pra mim e pouso minhas mãos em sua barriga. Katniss entrelaça nossos dedos. Em seguida, sussurro em seu ouvido:

— Agora é que não quero esperar muito mais tempo para o nosso casamento.

— Eu entendo a sua ansiedade, de verdade. Não é só você que se sente assim. Porém, eu gostaria de avisar à minha mãe sobre o ritual dos pães. Talvez ela se anime a vir me visitar.

Boas coisas vêm para aqueles que sabem esperar – afirmo solenemente em voz alta. — Seria legal também reunir os amigos para uma refeição e um pedaço de bolo, como é o costume. Eu sempre sonhei em vê-la entrando no Palácio da Justiça, andando em minha direção.

— Não conseguiremos fazer isso sem chamar a atenção da imprensa. Prefiro celebrar apenas o ritual com os pães tostados.

— Se é isso o que você deseja… – Eu me conformo momentaneamente, mas insisto depois de alguns instantes. — E se nos casarmos num dia em que tenhamos outro motivo pra comemorar? Assim, podemos reunir os amigos e festejar, sem levantar suspeitas, e contamos a novidade no momento da festa.

— Isso poderia dar certo! – Katniss se anima, voltando a ficar de frente pra mim.

— Meu aniversário é daqui a um mês – sugiro. — Está muito perto?

— É o tempo suficiente para mandarmos os convites, mesmo para quem está em outro distrito ou na Capital.

— Você não precisa de um prazo maior? Não quer fazer um vestido novo? Ainda não perdi as esperanças de vê-la caminhando até mim, vestida de branco, nem que seja só durante o ritual com os pães…

— Peeta, eu já tenho o vestido perfeito! – Katniss exclama, antes de escalar minhas costas e afundar minha cabeça nas águas frescas do lago, o que me faz pensar que ela também acalentava a ideia de usar um vestido de noiva desde antes de conversarmos a esse respeito.


Notas Finais


Olá, pessoal!

Deve ter gente impaciente para acontecer logo a primeira vez dos nossos queridos, mas eu acho que faz todo o sentido ser depois do ritual com os pães.

Já que a festa de casamento “disfarçada de aniversário do Peeta” é no próximo capítulo… falta pouco, né?

Beijos!

Isabela


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