História A República - Uma ajudinha

Shura estava impressionado com aquele anjo. Tinha um sorriso infantil, uma sensatez estranha e uma beleza encantadora. Tudo o que ele disse fazia um pouco de sentido em sua cabeça no fim das contas. Não foi o fato de Ana ter se apaixonado por outro, e sim a forma com que ela lidou com o término dos dois. Como um nada. Uma das coisas que mais detestava era ser feito de bobo. Sentiu uma mão em seu ombro e se virou para ver quem era. Tinha a sutil esperança de que fosse o garoto de agora há pouco. Mas não era.

_O que quer? – respirou fundo – Pensei que estava com o Giovane – sorriu irônico e viu a menina se sentar ao seu lado. Parecia chateada. Ótimo!

_Shura, eu não queria que ficasse sabendo assim – suspirou e baixou a cabeça.

_Queria que eu ficasse sabendo como? – a encarou com os olhos frios – Ana, numa boa, não estou a fim de falar com você. Se você quer partir pra outra e ficar com ele, ótimo, seja feliz! Só não quero mais problema para a minha cabeça.

_Deixa eu ao menos te explicar – seus olhos estavam marejados – É que eu estava me sentindo sufocada, você me cobrava o tempo todo, me... Ai, você sabe o que fez – suspirou.

_Sim, Ana, eu sei o que fiz. E eu só fiz isso por que quando faço algo para alguém, espero o mínimo de retorno! Eu gostava de você, garota. Gostava de verdade, por isso tive medo de perder você. Talvez a minha atitude às vezes não tenha sido a mais correta, mas você não foi honesta em momento nenhum – mantinha os olhos fixos no horizonte e a voz serena.

_Como pode dizer isso?

_Por que é a verdade! Quantas vezes eu te perguntei se queria mesmo ficar comigo? Perguntei numa boa, de uma forma sincera, e você me disse que queria ficar comigo e ele era só um amigo? Enfim, Ana, acabou e pronto, estamos conversados e espero que seja muito feliz com o Giovane, agora me deixa sozinho, por favor?

_Tudo bem – se levantou pesarosa e saiu de perto dele. Com toda a certeza mataria Kanon assim que o visse. Andou até o refeitório e o viu junto de Isa e Saga. Nenhum deles parecia estar feliz – Kanon, vem cá, será que dá pra explicar que PORRA FOI ESSA? Com que direito você fala da minha vida assim?

_Ei, espera um pouco aí! – o gêmeo se levantou e se colocou à frente da menina – O que você fez, fez em público!

_Mesmo assim!

_Ana, na boa, eu sei que você tá toda explosiva aí, então não vou nem discutir com você, tá legal?

_AH, MAS VOCÊ VAI DISCUTIR COMIGO SIM SENHOR! – apontou o dedo para o nariz do geminiano.

_O que você quer que eu discuta com você? A cagada maior foi minha ou sua? Que não deixou nem o defunto esfriar e já partiu pra outra assim – estalou o dedo – Quer discutir como mulher, então age como mulher, garota! A criancice aqui foi sua!

_Criancice? Quem é que faz fofoquinha da vida dos outros pelos cantos mesmo? Adultos?

_Ok, Ana, não estou dizendo que sou santo! Mas o meu erro foi resultado do seu! Quem foi lá se atracar com outro cara no meio do jardim fui eu? Não, então presta atenção no que você faz! Quem chateou o Shura não fui eu, não! Foi VOCÊ! – deu um cutucão no ombro de Aninha e saiu andando. Já estava completamente farto de sempre jogarem a culpa nele. Quem fez a merda foi ela, por que a culpa era dele? 

Aninha se sentou no banco em que Kanon estava há pouco. Por que seguir suas vontades sempre era errado? Por que não podia beijar outro garoto, sendo que nem mesmo namorava Shura?

Viu Isa e Saga saírem de perto e seguirem o caminho de Kanon, que estava andando em passos firmes.

_Kanon, pra que isso tudo? – Isa segurou o braço do cunhado.

_Por que eu tô cansado de vocês sempre jogarem a culpa de tudo em cima de mim! Caralho, quem pegou o cara foi ela, não eu!

_Ok, Kanon, mas você não precisava ter falado! – Saga cruzou os braços.

_Tá bom, já reconheci, não precisava ter falado e agora não vou falar mais nada também. Só quero que entendam que de qualquer jeito o Shura ia ficar sabendo e ia ficar puto DO MESMO JEITO!

_Tá, Kanon, tá. Não vamos mais discutir isso com você – a loira saiu andando e puxou Saga pela mão. No fundo, sabia que nenhum dos dois estava certo de todo. Queria muito falar com Shura, saber como ele estava. Procuraria por ele mais tarde.

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Shun passou a manhã de domingo com Esmeralda, já que Ikki teve de trabalhar horas extras. A estadia no hospital era cara. Muito cara, aliás. Mas isso pouco importava. O telefone do quarto tocou e ele atendeu rapidamente, com medo de acordar a cunhada, que com muito custo, dormiu um pouco.

_Alô? – sua voz estava um pouco abafada por conta da máscara protetora que usava.

_Shun? Um amigo seu, Alexei, está aqui em baixo. Posso mandar subir?

_Sim. Pode – desligou o telefone. Em alguns minutos, seu amigo entrou vagarosamente pela porta – Oi – sorriu fraco.

_Oi Shuny... Como ela está? – olhou para a moça deitada. Se bem se lembrava, ela era linda como uma princesa. Nunca havia ido vê-la no hospital. Não servia para ver esse tipo de tristeza. Ela estava com a aparência abatida, pálida. Não tinha mais seus cabelos loiros e havia vários cateteres e máquinas que mediam seus sinais vitais, bem como os que eram responsáveis pela quimioterapia.

_Indo – suspirou – Mas ainda assim, tenho fé que ela se recupere – acariciou a mão frágil.

_Eu vim por que tive uma ideia que pode te ajudar – sorriu e viu um olhar curioso do outro – Podemos fazer uma campanha através das redes sociais, Shuny!

_Como não pensamos nisso antes? – deu um tapa na própria testa.

_Podemos pedir ao Regulus e à Saori! Eles são confiáveis... E eles têm o que mais importa nesse caso: popularidade!

_Nossa, seria maravilhoso! – pela primeira vez em tempos, se sentia mais animado. Era uma ideia genial – E quando falamos com eles?

_Se você concordar, posso enviar uma mensagem para eles agora mesmo!

_Claro! É claro que quero! – tapou a sua boca, para que ela não ouvisse. Não queria que ela soubesse da ideia. Não queria que ela tivesse falsas esperanças de encontrar um doador de medula para salvar a sua vida. Era muito raro haver compatibilidade, mas não custava tentar. Se não arriscassem, nada conseguiriam.

_Eu tenho de ir agora, mas assim que chegar em casa, mandarei mensagens para os dois e te aviso quando eles retornarem.

_Tudo bem! – sorriu – Hyoga?

_Sim? – o loiro se virou de volta.

_Muito obrigado! – sorriu, apertando ainda mais seus olhinhos puxados.

_Eu sei que faria o mesmo por mim – sorriu de volta e saiu do quarto.

Assim que chegou em sua casa, se comunicou com os dois, que prontamente aceitaram. Regulus podia ter todos os defeitos do mundo, ser explosivo e mandão às vezes, mas tinha um coração maravilhoso. Era uma boa pessoa e ajudava a quem podia. Já Saori o surpreendeu. Desde que começou a namorar seu amigo em segredo, tem se mostrado uma pessoa melhor a cada dia.

Praticamente no mesmo momento, publicaram em todas as suas redes sociais sobre a necessidade de um possível doador de medula óssea para uma moça de vinte anos. Pediram urgência e colaboração de quem pudesse se prontificar para a doação.

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Isa e Mel, que acabara de chegar da casa de Hakurei, estavam conversando sobre o incidente ocorrido com Aninha e Shura.

_Mas como assim, meu deus? Ela pegou o Gio ontem? – a ruiva estava com uma caneca – que a propósito, foi presente de Isa – cheia de brigadeiro entre as pernas.

_Ficou, mulher! E que ficada, cá pra nós – sorriu maliciosa – Olha, tava digno de um privê!

_Eles transaram? – arregalou seus olhos castanhos.

_Não, mas foi por pouco, acho eu – gargalhou – Mas a minha preocupação é com Shura – sorriu fraco – Ele soube de um jeito muito ruim, sabe... O Kanon não segura aquela língua dentro da boca... Mas depois eu falo com ele sobre isso... E você? Como passou a noite, hein? – suspendeu as sobrancelhas com um sorriso maldoso.

_Bem, Isadora, bem! – atirou uma almofada na amiga – Nossa, e esse celular que não para! – pegou seu celular e o desbloqueou – QUEM DEU MEU TELEFONE PRO SORENTO?

_Fizeram o que? – a amiga arregalou os olhos – MAS EU MATO O FILHO DA PUTA! Ele está falando com você?

_Está... Calma, Isa, está tudo bem... Ele só está perguntando se está tudo bem por aqui – sorriu fraco. Não tinha raiva do ex-namorado. Só não entendia o porquê dessa tentativa de aproximação dele novamente. Será que ele não viu que ela estava feliz? Mas pelo que ele estava dizendo, não tinha más intenções.

_Sei – Isa suspendeu a sobrancelha. Era muito mais esperta que Mel no quesito: absorver coisas estranhas no ar. Mas esperaria e falaria com Sorento. Se ele pensava que era boba, estava pensando errado. Muito errado!

_Relaxa, cabrita, eu sei com quem estou lidando!

“Ah, sabe. Com certeza sabe!” . A outra revirou os olhos. Não estava gostando nada nada disso tudo. Saíram para almoçar e se juntaram aos meninos. Há tempos não almoçavam com Mu, Shaka e Deba. Após Saga, Aninha, Gio, Ana e Albafica se juntarem, se sentaram com eles e notaram uma expressão emburrada em Shaka. Digo, mais emburrada que o normal.

_O que deu nele, Muzito? – Isa cutucou o amigo.

_Aconteceu que UMA LOUCA NÃO PARA DE ME MANDAR MENSAGEM DE CHAMANDO DE URSINHO! MIL DEMÔNIOS, ELA É MALUCA! – se descontrolou – AAAAHHHH OLHA ELA LIGANDO DE NOVO!

_Calma, Shaka, devem ter dado o número errado pra ela – sorriu para os demais, que entenderam quem foi a vítima da festa. Seguraram os risos enquanto puderam.

_E JÁ DEU PRA ENTENDER POR QUE! – apertava o aparelho entre os dedos – SE ELA ME LIGAR OUTRA VEZ, EU JOGO ESSE CELULAR LONGE!

_Promessa é dívida, hein! – a loira sussurrou, mas foi o suficiente para Mu ouvir e dar um riso discreto. Entendeu tudo. Foi ela a responsável por essa raiva toda em Shaka. Mas deixaria por um tempo. Ele ficava lindo quando estava bravo.

_Gente, vocês viram no perfil do Regulus a parada da doação de medula? – Saga tentou mudar o assunto para descontrair, ou Isa e Shaka acabariam se matando.

_O que? – aquelas palavras pareceram agitar Mu de uma forma incrível – Doar medula? Para quem?

_Parece que a moça se chama Esmeralda, olhe só – mostrou o celular para o outro e viu lágrimas brotarem em seus olhos. Não sabia o que elas queriam dizer. Se condenou por talvez ter tocado numa ferida sem querer. 

Continua