Após o jantar, ainda no Caldeirão Furado, Hagrid e Hermione estavam em um dos quartos alugados para eles. A menina não deixaria as palavras do vendedor perderem-se no tempo. E, por aquele motivo, resolveu chamar o guarda-caças para uma conversa.
– Hagrid, então é verdade o que o Sr. Olivaras disse?
– Sim, Hermione. Mas você precisa saber que não existem só bruxos bons em nosso mundo. Há bruxos das trevas, focados em magias sombrias muito poderosas e proibidas. Na época de… Você-Sabe-Quem, eles eram seus seguidores e quem se opunha a qualquer um deles era morto cruelmente. Foi o que aconteceu com… Seus pais.
– Mas, quem era esse bruxo?
– O nome dele não é falado pela comunidade bruxa. Quer dizer, não é falado por muitos de nós. Ele foi temido por todos durante muitos anos. Nós o chamávamos de, simplesmente, Aquele-que-não-deve-ser-nomeado ou Você-sabe-quem, mas, seu nome verdadeiro era Vol... Vol...
– Se ficar mais confortável, pode escrever.
– Eu não saberia... Espere… Vou conseguir... Seu nome era Voldemort.
– Voldemort? – Hermione repetiu de forma automática.
– Shhhh... Não pronuncie o nome dele!
– Desculpe... Mas o que aconteceu a Você-sabe-quem?
– Bom, depois de matar seus pais, ele usou uma magia muito poderosa contra você, só que aí aconteceu algo, uma coisa que, até hoje, ninguém sabe o porquê. No momento que ele te atacou, Você-sabe-quem foi praticamente destruído e perdeu os poderes. Ou ao menos é o que todos nós acreditamos.
– Perdeu?
– Sim, e você ficou apenas com esta cicatriz. Ele desapareceu e ninguém nunca mais o viu ou ouviu falar nele. E, portanto, Hermione, é por isso que você é famosa. Você foi a-menina-que-sobreviveu!
– E para onde Vol...Quer dizer, Você-sabe-quem foi? – Ela não queria se apegar ao fato de ter sobrevivido ao ataque de um bruxo maligno ainda bebê.
– Ninguém sabe. Uns dizem que ele morreu, coisa que duvido. Acho que ele está por aí, sem forças para voltar ou esperando uma oportunidade para ressurgir, sabe? Mas, já chega por hoje, estamos cansados e você tem que dormir. Prepare-se, pois a semana será longa até que comece suas aulas. Por conta disso, você ficará aqui e se quiser visitar as lojas do Beco Diagonal, fique à vontade. Amanhã buscarei sua prima.
Hermione não conseguiu disfarçar a careta que formou em sua face.
– Espero que ela tenha mais sorte com a varinha do que eu.
Na manhã seguinte, Hermione saiu logo cedo para dar uma volta no maravilhoso Beco Diagonal. Ainda estava deslumbrada com as coisas que existiam por lá, e, naquele dia, além do restante da semana, poderia conhecer melhor os ambientes. Talvez mais que a maioria dos bruxos. Constatou, logo nas primeiras horas, que adorava a sorveteria e sempre que passava em frente comprava um sorvete de cada sabor. Também adorava a Floreios e Borrões. Livros eram uma paixão particular, tanto que tinha planos de ler todos os seus livros antes de chegar à escola.
Porém, a loja que mais gostava, sem sombra de dúvidas, era a de acessórios para quadribol. Ainda não entendia bem o que era, mas ficava abismada de olhar as vassouras que ficavam em exposição na vitrine. A mais visível era linda. Bem adornada, com cabo lustrado, em sua estrutura tinha gravado o nome Nimbus 2000. Ela só sabia que para jogar quadribol usava-se a vassoura, nada mais. É claro que nunca teria uma vassoura como aquela, pois o preço era bem salgado para seus padrões. Afinal, não poderia gastar o ouro de seus estudos em coisas sem importância. Mas, que ela queria, queria! Quem sabe um dia...
Já quase meio-dia, faminta, resolveu voltar para o Caldeirão Furado para o almoço. Lá, teve uma desagradável surpresa: nada mais nada menos que Amanda.
– Mione, priminha querida! – Havia, claramente, um sorriso falso estampado nos lábios de Amanda. – Onde você esteve?
– Andando por aí, por que?
– Por nada, é que estávamos te esperando para irmos juntos comprar meu material!
Hagrid, que não parecia nada confortável com aquilo, fez uma careta na direção de Hermione, sem que Amanda percebesse, parecia para ela um pedido de socorro.
– Não diga? Para que se incomodar com isso. Pode ir com Hagrid sozinha, ele irá adorar a sua presença! – Hermione fez questão de imitar o mesmo sorriso que lhe era direcionado.
– Mas, eu quero que você venha conosco!
– Só que querer não é poder! Agora, seus queridos pais não estão aqui para me obrigar a fazer suas vontades. Sinto muito, Hagrid, até mais tarde!
Hermione não esperou qualquer resposta, saindo do quarto em seguida e deixando os dois parados sem qualquer reação
– Vamos, então? - Amanda parecia mais animada com a perspectiva de não ter Hermione em seu encalço e tratou de sair quase saltitando, sendo seguida por um Hagrid totalmente cabisbaixo.
Hermione passou uma tarde tranquila. Deu uma olhada em seus livros, organizou, novamente, o material que comprou, leu um ou outro tema que lhe interessou, sabendo que Hagrid e Amanda só voltariam à noite. É claro que quando ficou à sós com o guarda-caças, a castanha tratou de perguntar tudo o que tinha ocorrido. Ele odiou o passeio, é claro. Sem cerimônia alguma, Hagrid narrou para ela tudo que Amanda tinha aprontado. Sua prima queria saber, a todo instante, como eram os objetos que Hermione, bem como o que ela tinha comprado para, sempre, comprar um item bem melhor. No Sr. Olivaras, quis experimentar cinco varinhas diferentes, sendo que a primeira que tinha testado já era mais do que suficiente e, por coincidência, comprou uma coruja, só que a da Hopkins era amarronzada.
O pior de tudo foi que Hermione teve que ficar com ela no mesmo quarto a semana inteira, enquanto tentava se concentrar nos livros, Amanda ficava tentando lhe mostrar as roupas que levaria, além de todos os acessórios que tinha trazido, que a Granger achava extremamente desnecessários, como brincos, maquiagem e até mesmo seu celular. Aquilo era um grande erro, pois pelo que Hermione já tinha lido em “Hogwarts – Uma História”, aquele celular não funcionaria nunca lá. Aquele era, com certeza, um trunfo que guardaria só para ver a cara de desespero da prima quando não tivesse qualquer tecnologia.
É claro que a semana passou se arrastando, mas, no domingo à noite, véspera da viagem, a dupla já tinha arrumado todas as coisas para a viagem. Naquela mesma noite, Hermione foi dormir pensando em como seria a tão sonhada Hogwarts e com expectativas em alta, imaginando que, dali para frente, sua vida nunca mais seria a mesma.
No dia seguinte, era hora de finalmente partir e o trio seguia para a Estação King’s Cross, em Londres. Lá, às 11:00hs em ponto, dizia-se que o Expresso Hogwarts, trem que levaria todos os alunos à escola, sairia. Hagrid, neste meio tempo, precisou deixar as primas sozinhas, alegando que tinha um assunto para resolver com Dumbledore. Ali, Hermione percebeu o quão perdida estava, afinal, estava sozinha com alguém que não gostava, empurrando carrinhos enormes contendo malões, caldeirão e as gaiolas com as corujas que haviam comprado. Aliás, sobre as corujas, Hermione tinha dado um nome para a sua, ela se chamaria Edwirges. Amanda, é claro, escolheu um nome semelhante para a sua, Eduard.
– 9-¾? Essa plataforma existe? – Se perguntava Amanda com a face emburrada.
– Acho que sim, se está na passagem.
Bem, parecia que a prima tinha razão, pois quando chegaram entre plataforma 9 e 10, não havia sinal da 9-¾. Porém...
– Todo ano é a mesma coisa, cheio de trouxas por onde se olha!
Automaticamente, a dupla olhou para a direção da voz, percebendo se tratar de uma senhora baixinha e rechonchuda, segurando a mão de uma menininha de cabelos ruivos e sendo seguida por diversos outros meninos, também com os fios acobreados. Hermione e Amanda só tiveram mais certeza de que aquelas pessoas iam para o mesmo lugar, quando perceberam que os adolescentes empurravam carrinhos semelhantes aos seus. Entre os quatro garotos, havia gêmeos idênticos, que pareciam se divertir bastante com aquele momento. Existia um outro garoto que parecia ser o mais velho e um menor, provavelmente com mesma idade dela e da prima. A que parecia ser a mãe, continuou andando até os pilares que dividiam a plataforma 9 da 10.
– Chegamos! Percy, vai primeiro você!
O que parecia ser o mais velho nem pestanejou, apenas iniciou uma breve corrida e, de repente, sumiu pela parede. Hermione sentiu o queixo cair, mas recordou-se que era uma bruxa e que aquilo devia ser só mais coisas da magia.
– Senhora, com licença... Aqui é a plataforma 9-¾?
A mulher, que parecia ser uma senhora bastante simpática, virou-se com um sorriso nos lábios. Amanda fechou a cara, pois não queria ter que pedir ajuda a qualquer pessoa, ainda mais uma tão estranha como aquela.
– Oh querida, é sim. – A mulher fitou as meninas, percebendo que elas aparentavam estar assustadas ou até mesmo confusas. – É a primeira vez de vocês? Não se preocupem, é a primeira do Rony também, não é tão difícil quanto parece.
A dupla voltou sua atenção para um garoto ruivo, com sardas que, certamente, tinha idade semelhante à delas. Ao contrário das duas, o tal Rony parecia bem tranquilo, enquanto sorria para elas, principalmente para Hermione.
– Fred, agora vai você! - A mulher, que provavelmente era a mãe de todos, continuou coordenando a investida das crianças.
Ali, Hermione percebeu que não tinha ideia de quem era, de fato, cada um dos gêmeos, pois eles eram incrivelmente idênticos. No entanto, um deles se dirigiu para a posição:
– Eu não sou o Fred, sou o Jorge! Francamente mulher, e ainda se diz nossa mãe!
– Desculpe, querido. É sua vez Jorge.
O garoto desviou o olhar da mãe para o irmão, oferecendo-lhe um sorriso zombeteiro.
– Era brincadeira, eu sou o Fred mesmo! – Sem esperar uma resposta da mãe, que talvez fosse algum tipo de “ralhação” ou xingamento, o loiro segurou firme em seu carrinho e investiu, sendo seguido por seu gêmeo que, certamente, se tratava do Jorge. Amanda queria sumir dali, mas Hermione tinha gostado bastante daquela família.
– Esses dois! – E se ela pensava que a mulher ficaria irritada, enganou-se redondamente, pois a mesma só virou-se para encarar seu filho mais novo. – Agora é você querido, se sentir medo pode correr, ninguém vai te julgar.
Parecia que o garoto seguiria o conselho da mãe, pois mal ela terminou de falar, ele correu, sumindo, segundos depois, dentro da barreira:
– Podem vir as duas agora.
Hermione pensou em caminhar naquela direção, mas antes que desse qualquer passo, recebeu um encontrão da prima. Amanda tomou sua frente e, sem qualquer menção de agradecimento ou algo parecido, saiu correndo passando pela plataforma, sumindo por sua estrutura. A castanha respirou fundo, enquanto se posicionava.
– Muito obrigada, senhora…?
– Pode me chamar de Sra. Weasley e não foi nada. Boa sorte e ótimo ano letivo!
Hermione ofereceu-lhe um sorriso simpático antes de investir. Sabia que ia de encontro a uma parede, estava com medo de se chocar contra ela, mas fez o que foi sugerido, fechando os olhos com força. Segundos depois, ao perceber que não precisava mais mantê-los daquela forma, os abriu e permaneceu ali, paralisada com o que viu. Havia uma linda locomotiva parada nos trilhos, as letras grafadas na cabine esclareciam para onde o transporte ia: "Expresso Hogwarts". Um sorriso pairou em seus lábios enquanto permanecia maravilhada com a magnitude do trem e, ainda, com a presença de várias famílias em suas despedidas.
Sabendo que não tinha muito o que fazer ali, apenas deixou seu material perto de outros e caminhou para o interior da máquina de ferro. Caminhou por entre corredores estreitos e lotados de estudantes, sentindo-se confusa, mas feliz. Não foi difícil localizar um compartimento vazio mais ao fim do trem. E, é claro, não se impressionou com a aparição de seu prima alguns minutos depois.
– E então, não se prendeu na plataforma? – Escutou a voz debochada da loira erguer-se segundos depois..
– Não e você?
– Que pergunta estúpida, Hermione. Mas não ficarei aqui, afinal, não pense que viajarei com você ou sequer farei menção de ter algum parentesco contigo. Vim apenas me certificar que teria você no trem, afinal, alguém precisa transformar seu ano nessa escola estranha em um inferno, não é mesmo? Até mais!
Amanda levantou-se e sumiu pela porta, deixando uma Hermione pensativa, ponderando se a felicidade de ter se tornado bruxa seria tão grande quanto a tristeza de não ter se livrado dos tios de forma definitiva. Afinal, sua prima era muito pior. O que a aguardava naquela escola?
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