História A segunda chance para amar - Preconceito

Fui para casa porque ainda não me sentia tão á vontade assim de ficar na casa de Carla quando sua mãe estava lá. Tudo estava se acertando entre nós duas e, por isso, não queria abusar de sua boa vontade. A advogada me surpreendeu com seu pedido de namoro e eu ainda estava sem acreditar muito que aquilo havia acontecido.

-Chegou em casa?

-Sim... Tem uns dez minutos. Eu te mandei mensagem e você nem leu ainda.

-Porque a internet tá desligada. 

-Tá certo, amor. Você tá bem?

-Sim! Só com saudade da minha namorada- eu gargalhei e ela se irritou- TÔ FALANDO SÉRIO!

-Desculpa... mas você entende né? Eu precisava vim. Precisava me concentrar e dormir direito. Amanhã o dia promete!

-Sei sim, amor... Me avisa quando chegar em casa amanhã? Vou ficar na torcida!

Agradeci a minha namorada e afirmei que ligaria. Conversamos mais um pouco e eu fui tomar banho e dormir.

O produtor, seu Maurício, pediu para antecipar nosso encontro. Ele iria ter uma reunião com outra cantora, depois que se encontrasse comigo. Confirmei o novo horário e liguei para minha namorada. Ela disse para eu sair com um bom tempo de antecedência, senti sua voz tensa e perguntei se ela estava bem de verdade.

-Vou me reunir com meus sócios e falar de nós.

-Se você não estiver preparada... se quiser que eu esteja presente deixa pra amanhã...

-Não, amor- me interrompeu- preciso encarar eles sozinha! E Edu vai tá lá também. Me sinto mais segura!

-Tá bom... Vai dar tudo certo! Eu te amo!

-Obrigada! Também te amo!

Nos despedimos e eu chamei o carro para ir até o local marcado para o encontro com o produtor. Esperei cerca de meia hora até a chegada do homem. Ele chegou afobado, parecia ter corrido.

-Bom dia! Faz tempo que você chegou?- assenti- Desculpa a demora... Vou ser direto: Você é uma menina muito talentosa, bonita, estilosa, carismática... Tem tudo pra pra ir muito longe!

-Obrigada!

-Mas, uma olhada em suas redes sociais... uma pesquisa pelo seu nome revelou um relacionamento homo afetivo....

-Sim! Eu sou lésbica! Algum problema?

-OK... Pra mim, problema nenhum... Mas pra uma produtora dirigida por uma pessoa aversa a essas relações...

Entendi perfeitamente seu comentário e assenti triste. Então, se eu não fosse lésbica meu sonho de viver da música poderia se realizar? Bizarro! Eu poderia ter dito que aquele relacionamento era coisa do passado, que foi uma fase... Mas essa não sou eu! Não iria negar minha realidade, meu amor, minha namorada!

-Até pensaram em assinar com você e, só depois, te propor um namorado de mentira... apenas pra mídia, mas perceberam que você não é do tipo que concordaria com isso.

-Não mesmo! A minha namorada é advogada. Sabe o que ela tá fazendo, nesse exato momento?- o homem negou- Ela tá falando pra os sócios sobre si... sobre nós! EU NUNCA NEGARIA A MINHA NAMORADA- gritei assustando seu Maurício- NUNCA NEGARIA A MIM MESMA! E, se a indústria musical é tão difícil, tão preconceituosa... Eu prefiro ficar do jeito que estou. Sou feliz cantando aos finais de semana no barzinho de seu Carlos, tendo meus fãs que me cercam de amor e carinho mesmo sabendo quem eu sou... Escrevo também e mando pra alguns artistas através das redes sociais. Alguns nomes famosos já gravaram músicas minhas. Sou feliz assim!

O homem disse que entendia meu ponto de vista, que entendia muito bem por sinal, mas não podia assinar comigo se o diretor da produtora não havia dado seu aval para meu nome. Ele falou que lamentava muito o preconceito com o qual a produtora estava me tratando e disse que, por ele, eu seria contratada imediatamente.

Eu o agradeci e ele me passou o contato de um amigo seu que era um "caçador de talentos". Disse que havia comentado com esse amigo sobre mim e o levaria até o bar para me ver cantar um dia.

-Desculpa pelo desabafo, senhor... é que sofrer preconceito, ainda hoje, é muito difícil e revoltante. Muito obrigada pelas palavras de incentivo e, principalmente, pelo contato do seu amigo. O senhor e ele serão sempre bem vindos ao bar.

-Não precisa agradecer... Agora preciso ir... Até mais! Não desista nunca dos seus sonhos!

Agradeci novamente e ele saiu rapidamente do meu campo de visão. Fiquei sentada um tempo, tentando engolir que o preconceito havia me tirado mais essa oportunidade de crescimento profissional. Mas precisava me reerguer pois aquilo não era em relação somente a mim. Todos os dias, no mundo inteiro, pessoas são vítimas de todos os tipos de preconceito que se possa imaginar.

Levantei, depois de chorar um tanto, e segui sem rumo.

Fui parar na casa de seu Carlos. Contei tudo para ele e recebi seu apoio e seu abraço.

Nem vi a hora passar e só percebi o adiantado da hora quando minha namorada me ligou.

-Amor? Até que enfim! Fiquei preocupada com você... Tá tudo bem?

-Oi minha linda! Desculpa! Nem consegui te ligar. Deu um pouco errado com a produtora... Mas peguei um contato com um "caça talentos".

-Sinto muito, amor... o que ele disse?

-Que sou talentosa, carismática e outras coisas mas... sou lésbica e o diretor da produtora é preconceituoso e mais algumas coisas. Te conto mais tarde quando for te ver. Mas e aí? Como foi a conversa com os seus sócios?

-Foi tudo bem!- respirei aliviada- Só Guilherme mesmo, com o preconceito dele, que quis dar lição de moral... Mas ele entendeu e vai vender a parte dele... Eu quero falar com você sobre isso. Vem logo pra eu te encher de beijos e de carinho. Você é muito boa em tudo o que faz! talentosa, linda, cheirosa e gostosa! 

Eu sorri envergonhada e nós conversamos um pouco mais sobre seu dia e o meu. Desliguei e me despedi de seu Carlos. Pedi o carro e, não demorou muito, estava nos braços da minha namorada. Dona Ana avisou que estaria no quarto, caso precisássemos de algo. Agradecemos e também fomos para o quarto. Quando estamos juntas criamos uma bolha onde não há preconceito, dor, maldade... Só existe nós duas e o nosso amor!