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História A Seleção (Maxon Schreave) - Sua história.


Escrita por: Sam_Corvina

Notas do Autor


Voltei gente, sentiram saudades? É claro que sentiram 💚 HAHA

Esse capítulo está TÃO lindo, espero mesmo que gostem da mesma forma que eu gostei. Boa leitura pessoal e até semana que vem

Capítulo 16 - Sua história.


Fanfic / Fanfiction A Seleção (Maxon Schreave) - Sua história.

 

A caneta de aço rodopiava entre meus dedos enquanto meu pai - o rei - seguia com a insuportável reunião de negócios. Novamente o corte de verbas de hospitais e escolas na região mais precária do país era a pauta. 

 

Houve vezes que rebati com ele e seus homens, vezes que passei madrugadas montando relatórios e gráficos sobre como essa prática não era vantajosa para nenhum dos lados, mas depois de ser ignorado repetidas vezes, abandonei a ideia.

 

Talvez quando um dia eu assumir o trono minha visão seja respeitada, mas até lá, meu lugar nessa mesa é apenas mera formalidade.

 

Minhas pernas já estavam dormentes por permanecer sentado durante três horas nessa cadeira. 


 

_ Ainda acredito que a Casta Seis está na vantagem - a voz calma e relutante do secretário me fez girar o pescoço na sua direção - Podemos reduzir a quantidade de escolas na região ou até mesmo o salário dessa Casta. Tenho certeza que as outras Castas não vão se importar.

 

_ É claro que não vão se importar. A vida deles continuará a mesma, mas como será a vida dessas pessoas? 

 

Todos os olhares daquela sala se voltaram para mim, assustados. Eu tinha interrompido uma reunião importante. O ser invisível tinha se comunicado.

 

_ Não me lembro de sua opinião servir para algo, Maxon. - meu pai sussurrou no meu ouvido me fazendo abrir um sorriso forçado na direção dele - Cuidaremos disso mais tarde. Até lá, quero você de boca fechada.

 

Engoli em seco quando entendi o que ele queria dizer. Minhas cicatrizes ainda doíam desde a última vez.

 

Pela porta de vidro pude notar uma das criadas com uma bandeja na mão, olhando em direção a mesa, parecia procurar alguém. O rei revirou os olhos esticando uma das mãos de forma que ela entrasse na sala. A mulher estremeceu da cabeça aos pés e caminhou na minha direção.

 

_ Alteza. É para o senhor. - seu olhar apenas encarava o chão

 

_ A rainha está organizando outra festa? - sorri para a criada que negou com a cabeça, indicando o pedaço de papel. O retirei.

 

" Vossa Majestade.

Mão na orelha. Quando puder."

 

 

_ Obrigado, Alis - observei o broche em seu uniforme - Peça a senhorita que me espere no corredor principal.


 

América devia estar com problemas, não arriscaria um bilhete com nosso código secreto se não tivesse. Será que estava bem? Doente? Desanimada com a Seleção? Cansada de mim? 

 

As possibilidades eram tantas e em todas me causavam tremores. 

 

Fiquei sentado alguns minutos depois que a criada se retirou, esperando até que a atenção do rei voltasse para algo que ele estava interessado "verbas públicas" 

 

Deixei a cadeira sem nem ao menos ser notado ao sair. Pensar que América poderia desistir da Seleção - de mim - tão facilmente me assustou. Fora do palácio eu jamais a veria novamente, era perturbadora essa ideia. Desci a escada com pressa, precisava convencê-la de ficar um pouco mais.

 

Precisava tê-la por mais tempo. Necessitava disso, na verdade.

 

Mal cheguei ao corredor principal quando a vi encostada na parede, brincando com as mãos. Parecia… bem.

 

_ América? - desci o último degrau e os olhos grandes e azuis se voltaram para mim

 

Podia ser loucura minha mas no momento que me aproximei vi um brilho diferente em seu olhar. Segurei seus pulsos na intenção de sentir seu toque, poderia estar com febre. Mas sua pele não estava gelada nem quente, normal.

 

_ Você está bem? O que houve de errado? 

 

_ Nada, estou bem. - um v surgiu na sua testa franzida 

 

Um alívio percorreu meu corpo de imediato, certo, ela estava bem, afinal. 

 

_ Ainda bem. Quando recebi seu bilhete, pensei que estivesse doente ou que algo tinha acontecido com sua família. 

 

_ Não, não. Maxon, sinto muito. - parecia nervosa ao tentar explicar - Sabia que era uma ideia idiota. É que não tinha certeza de que você estaria no jantar e quis te ver antes.

 

_ Bem, e para quê? - questionei, intrigado.

 

_ Só para ver você.

 

Tombei a cabeça para o lado analisando o que tinha acabado de escutar. Meu coração batia de forma descompensada dentro do peito como se a qualquer momento fosse explodir. 

 

América estava com… saudade de mim? 

 

_ Você só queria me ver? - perguntei novamente, fixando a ideia na cabeça para se tornar real.

 

_ Não fique tão chocado. Amigos, geralmente passam tempo juntos - o tom de voz dela tentava expressar o óbvio daquilo.

 

_ Ah - passei a mão pelo cabelo fazendo uma careta ao encarar seu rosto novamente - Você está chateada comigo porque estou cheio de compromissos esta semana, não está? Não era minha intenção deixar nossa amizade de lado, América.

 

_ Não, não estou brava. Só estava me explicando. Mas você parece ocupado. Volte ao trabalho. A gente se vê quando você estiver livre. - seus olhos caíram sobre minhas mãos ainda presas ao seu pulso

 

_ Na verdade, você se incomodaria se eu ficasse alguns minutos? Eles estão fazendo uma reunião de orçamento lá em cima, e odeio esse tipo de coisa. - soltei seu pulso deixando um sorriso de leve em sua direção.

 

Segurei sua mão dessa vez a arrastando para um sofá próximo a janela. Não dei tempo de América dizer nada, precisava ficar um pouco ao lado dela. Eu também estava com saudade mas nenhum de nós era corajoso o suficiente para admitir isso, conclui.

 

Conseguia sentir dentro de mim que alguma coisa estava mudando entre nós.

 

_ O que é tão engraçado? - perguntei quando novamente ela soltou outra risada na minha direção 

 

_ Você - o sorriso aberto no rosto - É engraçado saber que fica incomodado com o trabalho. O que há de tão ruim nessas reuniões? 

 

_ Ah América! - Lamentei antes mesmo da conversa começar - Eles só andam em círculos. Meu pai até consegue acalmar os conselheiros, mas é difícil demais fazer os comitês seguirem qualquer instrução. Minha mãe sempre fica no pé do meu pai para que ele dê mais dinheiro para educação. Ela acha que quanto mais educação todos tiverem, menores as chances de surgirem criminosos, e eu concordo com ela. Mas meu pai nunca é forte o bastante para fazer o conselho retirar recursos. Fico furioso! E como não estou no comando, minha opinião é facilmente desprezada. - Apoiei os cotovelos no joelho, segurando o rosto entre as mãos.

 

_ Sinto muito. Mas veja pelo lado positivo: você terá mais voz no futuro - suas mãos alisavam minhas costas como um apoio 

 

_ Eu sei. Digo isso a mim mesmo. Mas é tão frustrante porque poderíamos mudar as coisas agora se eles ao menos ouvissem - murmurei 

 

_ Bem, não fique desmotivado. Sua mãe está no caminho certo, mas educação não vai resolver nada por si só.

 

Levantei a cabeça encarando. América estava defendendo as idéias do rei?

 

_ O que você quer dizer? - minha voz soou ríspida e tive certeza disso quando ela ergueu as sobrancelhas se ajustando no sofá 

 

_ Bem, comparada a educação com os tutores fantásticos que pessoas como você têm, a educação dos Seis e Sete é uma lástima. Acho que melhores professores e instalações fariam um bem imenso. Mas e o que dizer dos Oito? Não é essa casta de que faz parte a maioria dos criminosos? Eles não recebem nenhuma educação. Se tivessem um pouco, um pouquinho que fosse, talvez ficassem mais motivados. Além disso… Você já sentiu fome, Maxon? Não apenas aquela fome antes do jantar, mas fome de verdade? Se aqui não tivesse absolutamente nenhuma comida, nada para seu pai e para sua mãe, e você soubesse que podia pegar um pouco das pessoas que comem mais em um dia do que você vai comer a vida inteira… O que faria se sua família estivesse contando com você? O que faria por alguém que ama?


 

Um ar sombrio preencheu o ambiente entre nós dois. América tentava me explicar algo que nunca senti nada vida, algo distante demais para ser… sentido. Era um abismo gigante entre minha realidade e a realidade por trás daqueles muros. Apenas fiquei em silêncio, pensando sobre o assunto, tentando ter uma vaga ideia de uma realidade que nunca parei para refletir, para sentir. 

 

Mas até que ponto a honestidade de alguém poderia justificar seus atos? Roubar ainda era crime e como qualquer crime, era errado.

 

_ América, não estou negando que a vida de algumas pessoas seja dura, mas roubar é… - tentei argumentar mas ela me calou com a mão erguida.

 

_ Feche os olhos

 

_ O quê?

 

_ Feche os olhos.

 

Não neguei a careta quando ela surgiu no meu rosto mas permaneci assim, de olhos fechados e em silêncio. 

 

_ Em algum lugar desse palácio está a mulher que será sua esposa.

 

Foi inevitável sorrir pois era como se América estivesse se referindo a uma garota distante de nós, como se fosse algo inalcançável, ainda. Quando na realidade o primeiro pensamento que surgiu na minha mente foi o rosto dela.

 

"Uma palavra dela acabaria com essa Seleção de uma vez por todas!" pensei comigo, voltando minha atenção a sua imagem cada vez mais nítida na minha mente.

 

_ Talvez você ainda não saiba quem ela é, mas pense nas garotas no salão. Imagine aquela que mais ama. Imagine sua "querida".

 

Amor ainda era uma palavra muito forte, forte demais, mas minha mão automaticamente buscou seus dedos no sofá quando sua voz cantou próximo de mim. América puxou a mão quando sentiu o toque.

 

_ Desculpe - murmurei abrindo os olhos, não tinha intenção de tocá-la sem permissão.

 

_ Fechados! - disse mandona, sorri na direção dela voltando a fechar os olhos. - Imagine que essa garota depende de você. Ela precisa que a ame, e vocês vivem como se a Seleção nunca tivesse acontecido. Como se você tivesse caído de paraquedas no meio do país para bater de porta em porta em busca de alguém, e mesmo assim a encontrasse. Ela seria sua escolhida.

 

A imagem dela vestida com uma calça jeans simples e uma regata invadiu minha mente, mas dessa vez eu não estava com um paletó caro ou com a coroa presa na cabeça, não, nada disso. Usava um tênis comum, uma camiseta comum e uma calça comum, suja de tinta. Estava pintando uma casa, América tinha na mãos uma jarra de suco e dois copos. 

 

Pessoas normais. Vidas normais. Ela então continuou 

 

_ Ela precisa que você cuide dela, que a proteja. E se chegasse o dia que não houvesse absolutamente nada para comer, a noite em que você não pudesse nem dormir porque o ronco do estômago dela não permitisse…

 

_ Pare! - Ordenei depressa, a respiração oscilando.

 

Já estava de pé quando me dei conta, andando de um lado para o outro pelo corredor tentando afastar a imagem de América em uma mesa com o prato vazio. Aquilo me deixou… pertubado demais.

 

_ Desculpe - sua voz soou baixa.

 

Apenas concordei com a cabeça, o olhar preso no quadro à minha frente, uma pintura da minha família. Aquele quadro valia uma fortuna enquanto a vida de muitos não passava de números... A imagem de América chorando de fome ainda me atormentava.

 

_ É mesmo assim? - perguntei, me virando na sua direção 

 

_ O quê?

 

_ Lá fora… Isso acontece? As pessoas sentem fome muitas vezes?

 

_ Maxon, eu…

 

_ Conte a verdade. - minha expressão era séria

 

América soltou um suspiro profundo.

 

_ Sim, acontece. Sei de famílias em que pessoas abrem mão de seu prato de comida para dar aos filhos ou irmãos menores. Sei de um menino que foi chicoteado na praça da cidade por roubar comida. Às vezes, as pessoas cometem loucuras quando estão desesperadas.

 

_ Um menino? De quantos anos? - engoli em seco

 

_ Nove 

 

" Uma criança, eu também era uma…" a voz - minha voz infantil - sussurrou no meu ouvido.

 

Uma escuridão imensa agora tomava conta de mim. Ajeitei as costas quando me lembrei dos chicotes contra minha pele em uma noite de inverno onde não consegui dormir por causa da dor.

 

_ E você - limpei a garganta - já passou por isso? Fome?

 

América não me olhou mais, os olhos tão baixos como se a vergonha tomasse conta dela, como se isso fosse me envergonhar. 

 

_ Como? - voltei a perguntar

 

_ Isso só vai deixá-lo mais irritado

 

_ Provavelmente - o ar sério percorreu ao meu redor - Mas agora estou percebendo o quanto desconheço meu próprio país. Por favor, continue.

 

Os olhos azuis voltaram a me olhar.

 

_ Sofremos muito - ela suspirou ao começar - Na maior parte das vezes, chegamos ao ponto de ter que escolher se compramos comida ou ficamos sem eletricidade. O pior momento foi perto do Natal. Fazia muito frio, então usávamos montes de roupas, mas mesmo assim conseguíamos ver nossa própria respiração dentro de casa. May não entendia por que não podíamos trocar presentes naquele ano. Em geral, nunca há sobras em casa. Alguém sempre quer mais - um sorriso triste nasceu em seu rosto.

 

Minhas mãos suavam, o sangue já não circulava em meu rosto, sabia disso. 

 

Minutos atrás estava discutindo sobre corte de verbas públicas sendo servido com o vinho mais caro do mundo, junto a aperitivos que valiam mais que hotéis de luxo enquanto do outro lado do muro, alguém - uma família - não tinha nem mesmo água para beber. 

 

Pensar nas jóias que minha mãe ganhava no natal junto com o ouro que eu tinha nas gavetas da cômoda enquanto sua irmã caçula não conseguia nem ao menos repetir um simples prato de comida era horrível, meus olhos queimavam por isso.

 

_ Sei que os cheques que recebemos nas últimas semanas ajudaram muito - sua voz soou como uma lâmpada na minha mente - Minha família sabe lidar muito bem com dinheiro. Devem ter guardado tudo para que dure bastante. Você tem feito muito por nós, Maxon.

 

" Mas poderia fazer mais pelo meu povo" a ideia começou a se formar na minha mente.

 

_ Minha nossa - encarei o olhar dela - Quando disse que só estava aqui pela comida, você não estava brincando, estava? - um nó pesado se formou na minha garganta.

 

_ É sério, Maxon, está tudo bem. Eu… 

 

"Não América, não está tudo bem e você não deveria pensar dessa forma, não deveria passar por isso. Jamais quero que torne a passar"  pensei comigo.

 

Segurei seu rosto com as mãos e deixei um beijo demorado em sua testa para tentar fechar o buraco aberto dentro de mim por causa daquela conversa. Deu certo.

 

_ Vejo você no jantar. 

 

Sai ajeitando a gravata no pescoço. América havia despertado um plano dentro de mim, só esperava ser ouvido dessa vez.

 


Notas Finais


A forma como o Maxon conseguiu sentir a dor da América foi a coisa que mais me tocou nesse capítulo, espero que tenham gostado 💚 deixem aqui a opinião de vcs


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