Há muito que Gaara notara as diferenças entre o clima de Konoha e de Suna. Excluindo o facto de que Suna ficava no deserto, no verão, o sol de Konoha ainda tinha um quê de ternura que fazia do seu calor uma experiência maravilhosa. Conseguia sentir isso naquele momento, na medida em que os raios infiltravam-se pela janela e aqueciam as pálpebras semicerradas.
Gaara não estava tentando adormecer nem nada parecido. Longe disso; ficar deitado na cama, as mãos atrás da cabeça, era só uma forma de tentar organizar seus pensamentos que atropelavam uns aos outros sem nenhuma coordenação. Estar com fome certamente não ajudava, e, diferente do que tinha prometido, Temari não parecia estar se apressando com a comida.
E como se já não bastasse não ter comido nada o dia inteiro e ido à reunião com Naruto, Gaara tinha acabado de ter uma segunda reunião ali mesmo, no quarto, dessa vez com Gekko, o Chefe da Guarda de Suna em Konoha.
Ao chegar na pensão em que estava hospedado, a dona do lugar, uma senhora de meia-idade com olhos gananciosos, tratou de o avisar de que tinha visita. A voz dela estava trêmula, assim como as mãos, obviamente temerosa de que a notícia irritasse Gaara e isso, por sua vez, fizesse despencar a boa reputação do lugar. Como se Gaara não tivesse mais nada a fazer exceto relatar suas experiências em pensões.
- Tentei dissuadi-lo a esperar aqui, mas ele me disse que tinha permissão para falar com o Kazekage – explicou a velha senhora, falando mais rápido do que era costume em pessoas da idade dela. – Mas não o deixei entrar no quarto! Apenas no corredor. Ele está lá até agora, à sua espera, Kazekage-sama.
- Sabe de quem se trata? – Gaara perguntou.
- Ele não disse o nome. Só que era Chefe da Guarda de Suna. Espero que não haja problema.
Gaara lhe garantiu que não, embora estivesse admirado que o nome de Gekko não fosse já conhecido por todos os habitantes de Konoha. A segurança deles dependia do serviço que Gekko prestava, e nem mesmo os idosos, que deviam ser os conservadores e prudentes, haviam se importado em coletar mais informação. A ignorância era de uma ousadia terrível. Uma ignorância ingrata, obviamente.
Gaara agradeceu e se afastou, seguindo em direção ao quarto. Conforme a pensionista contou, Gekko estava à sua espera no corredor, recostado na parede ao lado da porta.
Gekko era um homem grande e pesado, e, no entanto, era também dos ninjas mais competentes que Gaara tinha ao seu dispor. Sabia manter os esquadrões disciplinados, de maneira que as ordens de Gaara fossem sempre cumpridas e vez a outra atuava como Embaixador, quando Temari, à quem o título pertencia por excelência, estava indisponível para viajar até Konoha ou quando o assunto exigia intervenção rápida.
O homem sempre sorria amistosamente para Gaara, mas nesse dia seu sorriso tinha o dobro do tamanho. Estava certamente feliz por poder voltar à casa agora que não havia mais qualquer aliança entre Konoha e Suna. Era um homem de família, tinha deixado esposa e três filhas em Suna; nada mais normal que querer voltar para elas. Ainda mais com essa situação da epidemia; um pai que amava verdadeiramente os filhos preferiria arriscar a própria vida estando perto deles do que em segurança numa terra estranha, agonizando com a perspectiva de receber más notícias. Não mudava nada estar por perto, exceto que mudava absolutamente tudo.
Gaara destrancou a porta e o convidou a entrar.
- Não era suposto falarmos agora. – Gaara disse, caminhando em direção a janela. Afastou as cortinas, trazendo iluminação para dentro do quarto.
Gekko sorriu.
- Não, não era, mas quis poupá-lo do trabalho de se dirigir à nossa base de operações.
Gaara assentiu de forma ausente, sentando-se na cama. Sem outro móvel onde pudesse sentar, Gekko manteve-se de pé. O quarto era coisa pequena, bastante impróprio para uma reunião, mas já que ele estava ali, o jeito era se ajeitarem.
- São aposentos bastante curiosos para um Kage, Kazekage-sama – reparou Gekko, lançando um olhar avaliador sobre o quarto.
- Aposto que os seus são melhores – disse Gaara.
- Estaria a mentir se dissesse que não, mas há uma boa razão para ser assim – disse Gekko.
- Pergunto-me que razão seria essa.
- Sou um homem casado, Kazekage-sama – disse Gekko. – Mesmo quando durmo sozinho, preciso de uma cama onde caibam duas pessoas... ou três, se contar com o meu tamanho. – Gekko riu. – Sem contar que tenho três filhas pequenas que adoram brincar. Morreria se desse um mau jeito nas costas.
- É uma boa razão – disse Gaara, com um sorriso nos lábios. Fazia bem sorrir, apesar dos infortúnios iminentes.
Gaara conhecia as filhas de Gekko, assim como a esposa deste. A mais velha tinha 9 anos e Gekko insistia para que Gaara a tomasse como sua discípula.
- É uma menina obediente, aprende rápido. Não vai dar muito trabalho. – Gekko dizia. Gaara não duvidava que esse fosse o caso, embora não soubesse de nenhum pai que abrisse a boca para dizer o contrário dos filhos. Mas apesar de achar valor na ideia de, enquanto Kazekage, participar na formação de pelo menos um ninja, Gaara não podia assumir um compromisso que não poderia levar até o fim... sua própria vida dependia de uma decisão muito parecida àquela, e a cada dia que passava ele estava mais disposto a dizer sim e aceitar a morte.
Pelo País do Vento, por Suna, pelo povo, pelas crianças. Pelas suas filhas!, Gaara acresceu mentalmente, olhando para Gekko.
- Então, já tem um plano? – Gaara perguntou.
- Já sim – disse Gekko, pondo-se a contar seu plano.
Gaara passou o tempo todo da explicação assentindo, não necessariamente concordando, mas mostrando que entendia o que Gekko estava dizendo. Tinha estado demasiado ocupado com outras coisas para saber o número exato de ninjas ao dispor de Konoha, por isso confiava no discernimento de Gekko para orientar a mudança.
- Penso que é mais prudente evacuarmos em pequenos grupos, para não chamarmos muito a atenção – disse Gekko, já no final da sua explanação. – Vinte ou talvez trinta por dia, e acredito que estaremos em Suna dentro de mais ou menos duas semanas.
- Um grupo de trinta ninjas não é propriamente pequeno – disse Gaara. – Ou mesmo vinte. Ainda mais viajando em dias consecutivos.
Gaara não estava realmente preocupado com a questão do “êxodo” chamar ou não a atenção. Havia uma razão para a Guarda de Suna ter sido destacada para proteger todas as Nações, e não era apenas pelo número de Jounins que o País do Vento possuía. A Guarda de Suna era uma Elite constituída pelos ninjas mais capazes que havia; era suicídio alguém se meter com eles.
Mas por outro lado, haviam questões logísticas que não Gaara não podia deixar de considerar ao lidar com aquele assunto. Um Distrito inteiro tinha sido posto em quarentena em Suna para o tratamento da epidemia, e a probabilidade de que precisassem isolar outro era muito alta. Precisavam racionar o espaço, e receber ninjas a torto e a direito, ainda que fossem legítimos habitantes de Suna, não lhes faria bem nenhum.
- Bem, isso pode ser resolvido de duas maneiras – disse Gekko, depois de pensar por um tempo. – Mantendo o número de ninjas por viagem e ampliando o intervalo entre as viagens, ou mantendo a cadência, reduzindo somente o número de ninjas por viagem.
- Prefiro a terceira opção – disse Gaara.
- Terceira opção?
Gaara assentiu.
- Quero que reduza o número de ninjas por viagem e também que amplie a cadência entre as viagens. Dez ninjas por grupo. Se puderem ser menos, melhor.
- Não percebo, Kazekage-sama – confessou Gekko. Parecia confuso. – Desse jeito poderemos levar de cinco meses a meio ano para voltarmos à Suna. Não vejo interesse algum em permanecermos aqui por mais tempo.
- E nem eu tenho interesse em manter-vos aqui – disse Gaara. – Sei o quanto querem voltar para casa. – Gekko corou, e Gaara sorriu. – O problema é que não são os únicos a retornar, e não quero que haja coincidência na escala. – Gaara deu mais detalhes do porquê de não querer grupos maiores viajando e, para consolidar, citou o grupo de Kirigakure, que levaria de sete meses à um ano para retornar por completo ao País do Vento.
No final, Gekko concordou, conformado com a ideia não poder ver suas filhas tão cedo. Se sobrava algum ressentimento ou ligeira insatisfação, estava bem guarda, pois Gaara não viu nada.
- Vou tratar para que tudo corra segundo suas ordens.
- Obrigado – disse Gaara.
Gekko assentiu, desejou que Gaara tivesse boa viagem e por fim se retirou. Sozinho, Gaara sorriu ao constatar o efeito ilusório produzido pela saída de Gekko: o quarto, antes pequeno até para ele mesmo, parecia maior agora.
Gaara saiu da cama e começou a despir o manto. Estava cansado de usá-lo. Despiu-o por completo, junto com a camisa carmesim que usava por baixo. Deixou os itens jogados no tapete e deitou-se na cama, pensando numa solução para todos os problemas que enfrentava, a começar pelo surto epidêmico em Suna.
Uma coisa estava clara e podia ser riscada da lista de opções: Konoha não ajudaria. E se a Nação mais bem provida de recursos médicos lhe virava as costas, então Gaara não tinha outra escolha exceto...
Bateram na porta. Gaara adivinhou quem era pelo som da maçaneta sendo rodada; a batida era uma mesura. De tanto pensar, Gaara quase que tinha perdido a fome.
- Por que demorou tanto? – Ele perguntou, erguendo o torso para observar a irmã. O cheiro de comida inundou o cômodo inteiro; como ninja, isso era mais do que suficiente para Gaara saber qual marmita trazia o quê.
A linguiça, o frango, a costeleta... sem massa, conforme instruíra.
- Não quis interromper sua reunião – disse Temari, entrando e fechando a porta atrás de si. Ela franziu logo o cenho, incomodada com o tamanho do quarto. – Não tinha outro quarto?
Gaara sorriu. A mansão Sabaku, em Suna, tinha ao todo onze quartos, todos muito mais grandes que aquele.
- Partimos ao pôr-do-sol, esqueceu?
- Ainda assim. – Temari olhou para a roupa jogada no chão e balançou a cabeça. Tratou de apanhar todas as peças, jogando-as na cama.
- O tapete está limpo. – Gaara se defendeu. Não tinha certeza disso, mas mesmo que soubesse que o tapete não estava limpo, ele teria jogado o manto na mesma. Uma peça de vestuário não devia pesar tanto assim e nem portar tanta reverência. Às vezes tinha a impressão de que tudo o que as pessoas viam era o manto. A pessoa dentro dele podia ser substituída e ninguém ficaria afetado.
- Eu não disse nada – rebateu Temari, estendendo o saco. – Está tudo ai – acresceu. Ficou recostada na porta, apenas assistindo Gaara espreitar para dentro do saco.
- A demora valeu a pena. – Gaara sorriu, satisfeito.
Temari assentiu. Gaara tirou a primeira marmita do saco, junto com o hashi e recostou-se na cabeceira da cama.
- Me encontrei com a Sakura – disse Temari.
- Sobre o que conversaram? – Gaara perguntou.
- Sobre a reunião. – Temari respondeu. Gaara apenas assentiu, sem muito interesse. Estudava a marmita, tentando entender por onde se abria. – Tive a impressão de que ela ficou preocupada com a possibilidade da reunião ter afetado a nossa amizade.
- E afetou?
- Claro que não. Nós dois sabemos que ela foi obrigada a recusar. E ela me confirmou isso.
- Isso não muda nada.
- Não muda, e eu disse isso à ela, mas ela insistiu que eu te contasse, para o caso de não teres notado e teres ficado com uma má impressão acerca dela.
Gaara arregalou os olhos. Não pelo que Temari disse acerca de Sakura, e sim por, enfim, ter conseguido destampar a marmita, revelando seu conteúdo ao glorioso sol: linguiça fatiada com cebolas caramelizadas. Um de seus pratos favoritos!
- Quanto à isso ela não tem porquê se preocupar. – Gaara disse, ainda fitando a tigela. – Não tenho nenhuma opinião sobre ela. Nem boa, nem má.
- O que isso quer dizer?
Gaara ergueu o olhar da tigela, sem entender o que havia de tão complexo no que dissera para Temari precisar de uma “tradução”.
- Significa o que significa: a Sakura é uma ninja de Konoha e deve lealdade ao País do Fogo. Nada que ela faça em função disso me afeta.
- Ainda que custe vidas?
- O que quer que eu diga, Temari? – Gaara perguntou, com um sorriso divertido nos lábios. Conhecia bem sua irmã. Quando Temari vinha com tantas questões era porque havia algo mais que ela queria saber, algo que acreditava que, se perguntasse diretamente, ele não responderia.
Temari soltou um suspiro.
- Estavas muito calmo durante a reunião. É estranho, atendendo os problemas que enfrentamos. Tem essa epidemia e ficamos sem aliados.
- Nada que não se resolva – disse Gaara.
- Como?!
- Não sei ainda – respondeu Gaara. – Mas vou encontrar uma solução. Confie em mim.
Temari balançou a cabeça, incrédula. Gaara não esperava outra coisa dela. Sua irmã não era nenhuma criança que ele pudesse enganar com promessas. Aliás, Temari era mais velha de Gaara. Ela tinha perfeita noção do que se passava e jamais aceitaria que se tratava de algo algo que pudesse ser ultrapassado de uma hora para outra. Não pelos meios certos.
- Vai dar o que eles querem? – Temari perguntou.
- Isso não é uma opção – disse Gaara. Temari ia reclamar, mas ele se adiantou. – Além disso, nenhum deles se manifestou diretamente a respeito disso.
- Mas você sabe que é isso que eles querem!
- Sei, mas não serei eu a lhes oferecer isso como opção, de bandeja. Eles terão que pedir; se e quando o fizerem, nenhum acordo será firmado fora dos nossos termos.
- Não está pensando direito, Gaara. Não estamos em posição de exigir nada. Precisamos mais do que eles. Suna não se aguentará por si mesma.
Gaara fez que não com a cabeça. A afirmação de Temari era a opinião generalidade de todo mundo, mas ela só tinha lógica para quem não analisava as hipóteses todas, arriscando-se a pensar fora da caixa. O deserto era uma terra árida, é verdade, mas... nada era impossível. Não com os métodos certos!
- Não quero discutir isso aqui. – Gaara disse, olhando à sua volta desconfiado. – Não estamos em Suna, e as paredes podem ter ouvidos.
Temari arregalou os olhos e Gaara teve certeza de que ela compreendia o que ele não queria falar – principalmente ali, em Konoha.
- Você não...
Gaara lhe dirigiu um olhar ameaçador, típico de quando se irritava. Temari podia ser durona, mas tinha assuntos que cruzavam o limite e a fazia desabar com facilidade. Aquele era um deles. Toda vez que pensava a respeito, Gaara lembrava a objeção dela ao saber da mera possibilidade dele fazer aquilo e de como ele, para tranquilizá-la, havia prometido nunca mais considerar a opção. Estava quebrando uma promessa, é verdade, mas eram vidas que estavam em jogo. Entre essas duas coisas – salvar vidas ou manter uma promessa -, Gaara escolheria salvar vidas e quebrar uma promessa em qualquer dia da semana.
Por mais que Gaara odiasse voltar atrás com a sua palavra, era por Suna que fazia isso, e não por qualquer desejo leviano. Gaara não podia medir esforços para salvar seu povo. Cada cidadão que agonizava até a morte era uma estaca que era cravada em seu coração, era uma parte dele que morria também, e se nenhum outro País se solidarizava com isso, então Gaara não tinha outra escolha.
Bem, até tinha, mas se fizesse como Temari sugeria, dar aos outros Países o que queriam, que era, não recursos humanos, que Suna tinha em abundância, mas sim dinheiro, tão logo a epidemia fosse vencida – se é que seria vencida -, esse mesmo dinheiro faria uma tal falta que colocaria o País do Vento à mercê de tudo e de todos. Seria um trabalho nulo, como plantar pedras e esperar que crescessem árvores.
- Não vou empobrecer Suna a troco de nada. – Gaara avisou. Esse era outro assunto que não queria falar ali, mas era melhor falarem disso e não de seu plano original. Essa conversa serviria perfeitamente para desviar as atenções de quem quer que pudesse estar ouvindo-os naquele momento.
Temari recuperou a compostura, afastando o terror dos olhos.
- Curar a epidemia importa mais do que ser uma potência econômica.
Gaara fez que não. Ele não pensava assim, e por boas razões. E se Temari realmente acreditasse nisso, saberia que esse argumento poderia ser usado para cada um dos traidores da Aliança Shinobi. Por que lhes interessava mais extorquirem Suna do que ajudarem a salvar vidas? Mais de uma vez Gaara desconfiou que a epidemia não era mera casualidade. Se um dia pudesse ter certeza desse facto e confirmar que alguém plantara a doença em Suna, por mais que odiasse a guerra e todo o terror que isso trazia, Gaara não hesitaria em resolver as coisas pela força. O País do Vento poderia não estar em posição de vencer os outros Quatro Países, mas pelo menos dois seriam reduzidos a cinzas e os outros dois não passariam de amontoados de pedras. Era uma promessa!
- Só vai ter acordo se for nos nossos termos.
- Nos teus, queres dizer – retrucou Temari, soando irritada.
- Isso é uma acusação? – Gaara perguntou. Riu sem graça, achando o cúmulo que até Temari estivesse contra ele. – Então partilha da opinião da maioria?
Temari negou com a cabeça.
- Não partilho de nenhuma opinião. Apenas reconheço os efeitos que o seu orgulho tem sobre Suna, e sobre o País do Vento em geral. Foi esse orgulho que fez os outros Países virarem-se contra nós.
- Eles viraram-se contra nós porque não suportam que Suna seja a única potência no que consideram como mais importante.
- Viraram-se contra nós porque você se recusa a dizer como isso aconteceu.
- Não tenho que dizer nada.
- Tem sim. Como Suna saiu ilesa da guerra, Gaara? Responde!
Gaara ficou calado. Tinha respondido àquela questão milhares de vezes, mas parecia que ninguém nunca o escutava. Era inútil fazê-lo mais uma vez.
- Não vai responder? – instigou Temari.
- Não tenho nada para dizer – disse Gaara. Temari assentiu e, indignada, deu meia-volta, saindo do quarto e batendo com a porta no processo.
Outra vez só, Gaara olhou para a tigela que tinha em mãos. A linguiça tinha deixado de fumegar, e o cheiro já não estava tão presente assim no quarto. E a comida, como um todo, bem como a ideia de comer, deixara de ser atraente.
Gaara devolveu a tampa e, colocando a marmita de lado, saiu da cama. Espreitou a janela, para o sol ameno que baixara ainda mais de intensidade. A hora passou depressa, Gaara pensou. Logo seria hora de partirem para Suna.
Se havia uma altura para dar adeus definitivamente à alguma coisa, esse momento era aquele. Gaara daria adeus a Konoha para sempre.
Uma rajada de vento, transportando um quê de nostalgia, passou por seus cabelos. Gaara pôde ver algumas folhas se desprendendo das árvores. Konohagakure no Sato, as árvores pareciam sussurrar. Gaara experimentou um fascínio incomum ao constatar que apesar da vegetação ser menos densa ali, no extremo ocidente, continuava sendo impossível enxergar o interior da enorme floresta que emprestava o nome à Aldeia.
Suna tinha a areia, mas não se podia dizer que era a mesma coisa. O deserto não provinha qualquer sustento à Aldeia, e mais do que era considerado prudente, o povo dependia essencialmente de negócios estrangeiros, das trocas comerciais. E deixaria de ter isso, uma vez que as rotas de comércio com as outras Aldeias fossem barradas.
Estão tentando me encurralar, Gaara pensou. Exceto ele, todo mundo pensava como Temari, que Suna não se aguentaria por si mesma, inclusive os outros Kages. Faziam o que faziam com intuito de fazerem Gaara se curvar às suas exigências.
Isso não vai acontecer, Gaara pensou, lançando um outro olhar à floresta. Era Kage há mais tempo que todos os outros, e com os anos aprendera uma ou duas coisinhas que chocariam cada um dos seus novos homônimos. Gaara não mendigaria a ajuda de ninguém e faria com que Suna bastasse a si mesma!
Temari podia não se conformar com seu plano B, mas se tentasse pensar como Gaara por um segundo que fosse, veria que era, não só a escolha mais lógica, como também a mais fácil...
A vida de Gaara por Suna. Como era possível alguém não receber o que Gaara escolheria?
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