História A Series Of Coincidences (That Brought Us Together) - Lull Me (His Poison Tasted So Sweet)

-Jimin-

Eu o vi se afastar com passos largos, atordoado demais para fazer qualquer coisa sobre. Não sei quanto tempo se passou, podia ter sido um segundo ou uma hora, mas eu fiquei encarando aquele mesmo ponto fixamente, o ponto onde Yoongi tinha desaparecido no meio de luzes, fumaça e bagunça. Eu não sabia o que fazer.

Uma coisa era gostar de alguém.

Uma coisa era imaginar essa pessoa correspondendo os seus sentimentos, imaginar um mundo utópico no qual vocês ficam juntos, imaginar os lábios dessa pessoa nos seus.

Uma coisa totalmente diferente era assistir essa pessoa explodir e gritar com você, te beijar e em seguida sair correndo.

Caralho.

O Yoongi me beijou.

Caralho.

Caralho.

O Yoongi.

Me.

Beijou.

Caralho.

- Jiminnie! – Eu praticamente guinchei quando um Taehyung muito bêbado se jogou no meu colo. – Cadê o Yoongi? A Eunsoo falou que ele tava te procurando.

- Tae.

- Eu.

- Fodeu.

- Hm?

- Fodeu tudo.

- O que houve Chim? – Ele me perguntou saindo do meu colo e me olhando com preocupação.

- O Yoongi me beijou.

-o-

Eu gostaria de dizer que eu era uma pessoa matura e que eu não estava evitando o Yoongi, mas a verdade é que eu estava. Quando ele foi ao café nos dias seguintes à festa eu não olhei nos olhos dele, sempre me esquivando para debaixo do balcão antes de ser notado e implorando para o Minhyuk me cobrir e dizer que eu estava no meu intervalo de dez minutos.

Gostaria de dizer que depois de ele ter me beijado eu corri atrás dele e disse que sentia o mesmo, gostaria tanto de dizer tantas coisas.

Mas eu não consegui, não consegui obrigar minhas pernas a se moverem em direção à porta – em direção a ele – não consegui obrigar as palavras a se desenrolarem do nó no qual elas se encontravam, não consegui desprende-las da minha língua. Porra, eu não conseguia nem olhar ele nos olhos.

- Minnie.

- O que foi Minhyuk?

- É a terceira vez que ele vem aqui essa semana procurando por você, o que aconteceu? Vocês brigaram?

- Ele... Eu... – Mordi os lábios enquanto brincava com a ponta de um saco de açúcar mascavo na cozinha do café. – Ele talvez tenha meio que... se declarado pra mim na... festa... do JB.

- COMO ASSIM PARK JIMIN ESSA FESTA FOI HÁ QUASE UMA SEMANA E VOCÊ NÃO ME FALOU NADA? – Ele gritou comigo em seguida me dando um tapa no braço, logo em seguida continuando a expressar toda a sua revolta verbal e fisicamente.

- Eletambémmebeijou.

E com isso ele parou, os olhos se arregalaram enquanto a informação processava na cabeça dele.

- Eu estou... contérrito.

- Hm?

- Chocado. – Ele disse explicando. – Tá, mas por que diabos você tá aqui se escondendo e não tá lá dando uns pegas nele?

- Eu não sei!

- Jimin.

- Quê?

- Você é idiota ou é idiota? – Eu bufei em resposta ofendido. – Você gosta do Yoongi, não gosta?

- Gosto.

- E ele claramente gosta de você, certo?

- Certo? – Ele revirou os olhos para a incerteza com a qual eu respondi a pergunta.

- Então? Qual o problema? Ele gosta de você, você gosta dele, a única coisa impedindo vocês de ficarem juntos é você.

- Eu sei... Eu só... – Suspirei. – Não consigo encara ele, só de pensar meu estomago já embrulha e eu não consigo. Sem falar que não é justo eu ficar com ele enquanto eu ainda gosto de outra pessoa. – Minhyuk soltou o ar dos pulmões em um quase riso e se sentou ao meu lado.

- O que você sente pelo Kookie, Minnie?

- Eu... gosto dele. – Eu tinha certeza disso, mas eu não consegui controlar a nota de incerteza que saiu da minha boca junto com as palavras.

- Você quer ir a encontros com ele? Ter um relacionamento com ele?

- E-eu não sei! Podemos por favor parar de falar sobre isso? A gente já tá aqui há muito tempo.

Minhyuk concordou a contra gosto e voltamos para a frente do café, ele reabastecendo alguns folheados e cookies e eu atendendo os pedidos. Enquanto eu fazia um expresso comecei a pensar nas perguntas do Minhyuk, tentei me imaginar indo a encontros com Jeongguk, andando de mãos dadas e trocando beijos breves, mas eu não conseguia, algo parecia fundamentalmente errado naquelas cenas, como imaginar um elefante e um peixe nadando lado a lado no oceano, ou uma foca escalando uma árvore, não se encaixava. Mas quando imaginei Yoongi na mesma posição a imagem veio fácil, eu conseguia nos visualizar de tantas formas diferentes, em tantos encontros diferentes, e todas as formas pareciam certas.

Então pensei sobre Jeongguk e sobre Yoongi, sobre o quão diferentes eles eram, sobre o quão diferentes eram meus sentimentos por cada um, eu gostava de ambos, mas de formas diferentes, os sentimentos que eu tinha por Jeongguk eram como aqueles que você tem por um ator ou um cantor, era um gostar platônico, ele era muito bonito, apesar de a beleza dele ser bem diferente da do Yoongi - enquanto Yoongi tinha praticamente a minha altura, Jeongguk era mais alto, Yoongi tinha olhos pequenos e um olhar intenso, Jeongguk olhos grandes e inocentes, um era magro e quase não tinha músculos o outro tinha os seus bem definidos - eu podia ficar horas listando cada uma das características físicas de ambos e o quão diferentes elas eram sem definir um favorito, então minha mente passou a listar características menos visuais, como por exemplo como a voz do Yoongi era grave e levemente rouca e fazia meu estomago se contrair de uma forma engraçada que não era necessariamente ruim enquanto a voz de Jeongguk não fazia nada disso acontecer, apesar de ela ser muito agradável e ele ser um ótimo cantor, enquanto Yoongi não conseguiria cantar nem se a vida dele dependesse disso. Comecei a listar mentalmente todas essas pequenas coisas que me encantavam em Yoongi, todos os pequenos hábitos e maneirismos e percebi que quando eu tentava fazer o mesmo com Jeongguk eu não conseguia, enquanto a lista do Yoongi crescia sem esforço, a do Kookie mal tinha um terço da quantidade de itens.

Eu não entendia, não fazia sentido, eu era apaixonado por Jeongguk há tanto tempo, como Yoongi conquistou um espaço tão grande no meu peito em tão pouco tempo? Quando eu exprimi a minha confusão Minhyuk me olhou com uma cara que eu interpretei como “É sério isso?” e disse:

- Jimin, posso ser bem honesto?

- De preferencia?

- Você não gosta do Jeongguk, pelo menos não realmente. – Ele deve ter visto a expressão ofendida que cruzou o meu rosto porque em seguida completou. – Não faz essa cara pra mim porque você sabe que é verdade. Você só gosta dele porque é mais fácil, porque ele é hétero e porque você prefere lidar com um amor platônico do que com sentimentos reais. Você usa os seus “sentimentos” pelo Jeongguk como um escudo contra relacionamentos, você se prende à ideia de gostar dele como um colete salva vidas, mas cara, isso não vai dar certo pra sempre, não deu certo pra sempre. - Ele suspirou. – Jimin, o Yoongi não é o Taekwon. Você sabe disso, não sabe?

Fiquei em silêncio após ouvir o nome dele, já tínhamos terminado – ele já tinha ido embora - há tanto tempo, mas eu ainda sentia meu estomago pesar ao lembrar dele. Taekwon tinha ficado comigo por um total de dois meses e cinco dias, mas nesse tempo ele fez um estrago tão grande.

-o-

Taekwon era doce, gentil, extremamente carinhoso comigo o tempo todo, ou pelo menos foi assim durante a primeira semana. Com o passar do tempo os gestos carinhosos foram sendo substituídos por ofensas em forma de elogios, as críticas “construtivas” cada vez mais duras, as “brincadeiras” cada vez mais agressivas.

Lembro de uma vez quando estávamos em casa assistindo filmes – Taekwon começou a se recusar a sair em público comigo, no inicio dizia que preferia ficar em casa, mas depois passou a dizer que era porque eu tinha ganhado muito peso e ele tinha vergonha de ser visto comigo naquele estado – logo que eu me sentei no sofá ele pediu ordenou que eu pegasse pipoca, quando questionei porque ele não ia buscar por si próprio ou ao menos me acompanhar ele respondeu com um sorrisinho:

- Porque você me ama. – O sorriso aumentou. – E porque assim você aproveita e queima algumas calorias.

Eu não comi pipoca naquele dia.

Na hora de escolher o filme nós discordamos e mesmo eu tentando sugerir que escolhêssemos juntos alguma coisa diferente das nossas sugestões iniciais ele se recusou, nesse momento eu tentei roubar o controle dele rindo, tentando brincar e desfazer a carranca que tinha se instalado no rosto dele, mas aparentemente ele não estava afim de brincar, porque logo em seguida ele me prensou contra o sofá e agarrou meu pulso cravando suas unhas na minha pele.

- Eu que decido o filme. Eu sou o seu namorado e você vai me respeitar. – Ele já tinha tomado o controle de volta, mas continuou apertando meu braço, a pressão aumentando com cada sílaba.

Naquela noite fui dormir com hematomas no braço.

Enquanto o filme progredia ele fazia comentários extremamente sexuais sobre todos os personagens e quando eu protestava de qualquer forma ele me calava com um beijo e dizia que era apenas uma brincadeira e que me amava, os comentários sobre como tal personagem era gostoso ou como tal garota era bonita me rasgavam por dentro, porque quando ele olhava para mim ele parecia não ver nada além de defeitos.

“Sabe, você podia perder um pouco de peso, malhar um pouco mais essa barriguinha e ia ficar igual a ele.”

“Já pensou em passar um creminho no rosto? O dela parece tão macio.”

Eu amava ele e lutava com todas as forças que eu tinha para que ele me amasse de volta, mas era inútil, eu nunca ia ser o suficiente.

“Sabe, você não é o mais gostoso, nem o mais bonito, nem o melhor que eu já peguei, mas dá pro gasto.”

E era naquelas palavras que eu pensava enquanto eu enfiava um dedo na minha garganta, era naquele olhar de superioridade que eu pensava enquanto eu chorava de noite, a cena se repetindo em um looping toda vez que eu me olhava no espelho, todos os dias antes de dormir, toda vez que eu comia. Mas sempre que ele me mandava mensagens isso sumia, toda vez que ele me beijava ou demonstrava carinho por mim eu esquecia do veneno que escorria pela boca dele, eu esquecia do quanto tudo isso doía quando eu estava sozinho.

Foram dois meses e cinco dias de uma relação abusiva e tóxica até que ele encontrou alguém melhor e mais bonito, dois meses e cinco dias recebendo tapas físicos e verbais que depois eram acariciados com palavras doces e um sorriso. Quando ele foi embora, cada uma das agressões que ele me infligiu ficaram marcadas na minha memória e impregnadas na minha pele, mas as palavras doces não ficaram para me acalentar.

E por quase um ano eu não consegui gostar do reflexo que eu via no espelho, por quase um ano eu me culpei por tudo isso, por quase um ano fiquei desejando que ele mudasse de ideia e voltasse, por quase um ano senti falta das palavras doces que eram cobertas de veneno.