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História A Social - Bola, Bruxa e Ônibus


Escrita por: leumasaocontra

Capítulo 11 - Bola, Bruxa e Ônibus


A tenda da Madame Zelda não era bem uma tenda, o nome era puramente comercial. A vidente, na verdade, atendia em uma lojinha nos fundos de um prédio antigo no centro de Caricostes. Ela estava devendo três meses de aluguel, e conseguia se safar com isso fazendo previsões para os donos do prédio, mas não imaginava que fosse ganhar muito mais tempo com esse método.

Nos dias de semana ela deixava a tenda aberta até mais tarde, na esperança que alguém aparecesse para uma leitura de búzios ou cartas no fim da noite. Zelda sempre acreditou que a noite era sombria para a mente, e despertava sentimentos confusos e ocultos, e ela queria estar lá para ajudar as pessoas.

Ao menos era a propaganda dela.

Sacha parou o carro na frente do prédio, a entrada da tenda era nos fundos, em uma rua estreita demais para ir de carro. Benny e Deise se despediram dele e partiram andando para o outro lado do quarteirão.

-Não tô botando muita fé nisso não, Deise... - Benny começou a duvidar da ideia.

-Benny, fala sério, eu te conheço. Faz oito anos que eu fui embora mas algumas coisas não mudam. - Deise argumentou - Talvez você não tenha pensado nisso sozinha, mas bastava uma pessoa no futuro te perguntar "O que aconteceu com a vidente?" e você já ia embarcar numa jornada de dúvidas e ficar toda ansiosa. Estamos fazendo isso pra tirar essas dúvidas.

-É, eu com certeza ia surtar se isso acontecesse mesmo. - Benny considerou - Tá, vamos lá.

As duas entraram na rua de trás e foram até a tenda. A porta vermelha de madeira parecia muito velha, mas ainda era a mesma da última vez que Benny tinha ido lá. Ela respirou fundo e deu duas batidas.

-Entrem! - a mulher berrou de dentro.

Benny abriu a porta e entrou com Deise ao seu lado. -Estou aqui dentro! - Madame Zelda disse. Ela estava na sala onde realizava as previsões e leituras, atrás de uma cortina com desenhos que Benny nunca entendera.

-Madame Zelda. - Benny afastou a cortina e entrou.

-Ora, ora, vejam quem é. - Zelda deu um sorriso faceiro - Veio descobrir sua sorte, querida?

-Sem sorte hoje, quero conversar. - Benny se sentou de frente para ela, na outra extremidade da mesa, Deise sentou ao lado dela.

-Você não viu a tabela de preços? - ela apontou para um cartaz na parede.

-"Aconselhamento quinze reais" - Deise leu.

-Não quero conselhos, temos alguns assuntos pra tratar. É sobre o Gabriel.

-Eu sei que é, sou vidente, lembra? - ela respondeu.

-Muito fácil dizer que já sabia depois que eu falei... - Benny sussurrou pra si mesma - Enfim, eu vou tomar uma atitude sobre ele em alguns dias e quero ouvir sua versão da história.

-Está falando sobre o término de vocês?

-E sobre as músicas que ele escreveu sobre mim e continua tocando apesar de eu pedir pra ele parar. - Benny esclareceu - Sei que tem uma música sobre você, então achei justo vir conversar com você sobre essa coisa toda antes de eu fazer o que eu vou fazer.

-Você quer a história completa? - Zelda perguntou.

Deise e Benny se olharam.

-Sim. - Benny confirmou - Quero saber de tudo.

-Muito bem, vou guardar isso então. - ela retirou a bola de cristal de cima da mesa - Não é uma história muito feliz, tem certeza que...

-Conta logo! - Deise interrompeu.

-Credo, calma. - ela se assustou - Bom, tudo começa alguns anos atrás. Um jovem rapaz loiro cheio de sonhos passou pela minha porta querendo saber o que o futuro reservava pra ele. Ele tinha uma banda de garagem com alguns amigos, e estava ansioso pra descobrir se fariam sucesso. Eu fiz uma leitura simples, não tinha muito no futuro da banda para ler naquele momento.

-Como assim? - Benny perguntou.

-A banda estava estável, e continuaria estável por um tempo. Não iria pra frente nem pra trás. - ela explicou.

-Nessa previsão você errou, eles fizeram mais sucesso depois disso, com as músicas sobre mim, principalmente. - Benny apontou.

-Você está certa e errada ao mesmo tempo, mocinha. A banda por si só não iria pra frente, eu estava lendo sobre ela. O que impulsionou a banda para o sucesso que tem hoje, não veio dela, óbvio que eu não conseguiria encontrar isso nas leituras.

-Parece uma explicação meia boca que você inventou depois. - Deise comentou.

-Parece mesmo.

-Quer que eu continue a história ou não? - Zelda cruzou os braços e as duas concordaram com a cabeça - Bom, não precisava de clarividência ou sexto sentido pra ver que tinha algo mais perturbando aquele rapaz. Com algumas perguntas simples eu descobri que ele estava infeliz com a namorada. Você. - ela apontou o dedo para Benny.

-Infeliz? - Benny estranhou.

-Sim. Ele sentia que amava você muito mais do que você amava ele. Claro que eu não conhecia você, eu só estava ouvindo o que ele tinha a dizer. - Zelda esclareceu - Pelo que eu entendi na época, você não demonstrava o amor, se é que você sentia algum. Ele estava triste e solitário.

-Isso não faz sentido, Benny é uma das pessoas mais carinhosas que eu conheço. - Deise argumentou.

-Deixa ela terminar. - Benny disse, séria - O que mais?

-Ele disse que gostava muito de você, mas que você não estava satisfazendo ele em várias áreas. - Zelda falou - Ele parecia mais aborrecido do que triste, pra ser sincera. Eu ofereci aconselhamento a ele, na época ainda era grátis, mas ele queria mais. Eu disse a ele que, como uma mulher experiente que sou, sabia pelo que ele estava passando, ele não era o primeiro homem que entrava na minha tenda insatisfeito com uma mulher.

-Espera aí, você se ofereceu pra ele? - Deise perguntou.

-Sim. - Zelda disse naturalmente - Foi só uma noite, nada demais. Depois disso ele tentou fazer dar certo com você, aparentemente ele tinha sido iluminado ou algo assim. Você veio aqui, eu fiz sua leitura para você acreditasse que vocês dois ficariam felizes juntos, mas ele estragou tudo quando contou pra você que dormiu comigo.

-Ele estragou tudo? Tem certeza? - Deise disse irritada - Isso é um absurdo!

-Ora! Eu só dei a ele o que ele queria! Como diz o ditado, quem não tem em casa procura na rua! Ele ainda queria ficar com ela, só estava sentindo falta dessas coisas.

-Isso com certeza é algum crime! Você se aproveitou de um momento vulnerável de um cliente! - Deise já estava gritando - E estragou a vida de outra pessoa ainda por cima!

-Ei, eu não fiz nada disso, eu só ofereci uma oportunidade. Aceitar foi decisão dele, contar pra ela foi decisão dele também. - Zelda não se sentia constrangida - E fazer músicas depois sobre tudo que aconteceu, eu com certeza não tenho nada a ver com isso. Mas até gosto de ser uma musa inspiradora.

-Você é uma bruxa, isso sim! - Deise bradou.

-Eu avisei que era uma história infeliz! Vocês quiseram ouvir. Pelo menos ela teve a educação de ir embora em vez de ficar aqui gritando comigo na minha casa! - Zelda retrucou.

Deise não tinha reparado, mas Benny tinha saído antes da gritaria começar. Ela levantou resmungando e pisando duro e saiu correndo na rua procurando por sua amiga. Deise gritou por ela na escuridão da noite, mas sem resposta. Dando a volta no quarteirão, ela viu Benny indo até o ponto de ônibus e correu até lá.

-Benny! - Deise chegou tentando recuperar o fôlego - Benny... Desculpa ter feito você vindo aqui. Eu não tinha ideia que ia te afetar assim...

-A culpa é minha, desde o começo. - Benny disse, chorando - Se eu fosse uma namorada melhor isso não teria acontecido, nada disso.

-O quê? Benny, não!

-Você ouviu o que ela disse! Ele tava insatisfeito comigo, se eu... Se eu fosse... Melhor, isso não tinha acontecido.

-Não diga isso, Benny! Você é incrível! Você tá olhando pra isso pela ótica errada.

-Não, eu não sou! Eu não consegui segurar meu namorado porque eu não queria transar com ele, não sabia amar ele, eu fico apavorada quando as pessoas falam de dinheiro, eu tratei a Valéria tão mal quando ela ainda era Laura McHale, eu sou horrível, Deise.

-Benny, ele não traiu você porque tava insatisfeito com qualquer coisa, ele traiu você porque ele é um bosta. - Deise abraçou Benny - Não tem nada de errado com você, Benny... As pessoas amam de maneiras diferentes, você nunca foi de fazer declarações, você usa gestos. Ele não entendeu você, queria te mudar, mas ele teria traído você de qualquer jeito, isso não é sobre amor, não é sobre sexo.

Benny não disse nada. Apenas chorou um pouco.

-Eu sinto muito que você se sinta assim, mas não é verdade. Você não é horrível, Benny. - ela apertou o abraço - Eu vou te dizer quantas vezes precisar, você não é horrível. Desculpa não ter estado aqui pra você na época, mas eu estou aqui agora, pra essas coisas do Gabriel, e todas as outras que você mencionou e eu não tenho ideia do que se tratam.

-Essa vagabunda ainda fez uma leitura falsa pra mim... - Benny fungou.

-É, ela é outra merda. - Deise confortou - Mas, olha, agora você não tem dúvidas e pode fazer isso confiante.

-Tem razão, pelo menos algo de bom saiu disso. - Benny suspirou - Vou acabar com os dois.

-Amanhã. Hoje você vai tomar um banho e um chá e relaxar. - Deise deu mais um abraço - Mas amanhã você vai mesmo acabar com ele.

Benny respirou fundo e soltou mais algumas lágrimas que mancharam a blusa de Deise. Amanhã.



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