História A troca - Lucy Heartfilia

Lucy Heartfilia

Acordei batendo no criado mudo, à procura do despertador que não parava de tocar. O relógio apitava marcando quatro e meia da manhã.

– acordei, tô acordada – me levantei com calma, e um pouco de preguiça, e fui tomar meu banho.

Nada como um banho de água fria para acordar os sentidos... Pena que tá frio...

Saí do banheiro e vesti meu uniforme. Uma blusa social esportiva já que a primeira aula seria educação física e uma saia de pala, mas claro que coloquei um short na mochila, assim me troco assim que a aula começar.

Desci para a cozinha e preparei o café da manhã. Da última vez que eu não o fiz, pois acordei atrasada, tive que ouvir a reclamação dos meus pais.

Fiz um bolo de chocolate, suco de laranja e outro verde para minha mãe, passei algumas torradas e coloquei algumas frutas na mesa.

Olhei em meu relógio de pulso e já eram seis e meia.

Peguei minha mochila e calcei os tênis antes de sair de casa. Está cedo mas ainda tenho que passar em um lugar antes da escola.

Sai de casa e fui em direção a uma cafeteria que costumo frequentar todos os dias. Graças a Mira, a dona do lugar, aquele café abria bem cedo para quem trabalhava. Sorte a minha.

– bom dia Mira – disse para a albina do outro lado do balcão, que ao me ver deu um sorriso.

– dois pedaços de torta de maçã, um para comer aqui e o outro para a viagem, também um suco de laranja, certo? – ri e assenti, eu já era uma freguesa constante do café e Mira sabia bem dos meus gostos.

– isso aí – disse colocando o dinheiro em cima do balcão.

Olhei em volta enquanto ela foi pegar meu pedido, agora que eram quase sete horas o café já estava mais movimentado.

Mira é uma ótima cozinheira, junto de suas ajudantes elas tocam esse café sozinhas. Ela é a minha meta de independência.

– Lucy, aqui – a garçonete disse sorrindo e me entregando um copo de suco - Mira já volta com as tortas.

– obrigada Kinana – agradeci.

– Vou chegar bem mais tarde que o de costume hoje tá? – avisou e eu assenti com a cabeça, pegando o suco de sua mão.

– claro Kinana, sem problemas.

Eu trabalhava na casa dela depois da escola, cuidando de sua mãe já que a mesma não dava conta de segurar os dois empregos e cuidar da mãe doente. Achar esse trabalho, para mim foi uma benção. A mãe de Kinana é um amor de pessoa, e cuidar dela é bem fácil.

– obrigada – disse pegando o pedaço de torta embrulhado que Mira havia trago e o colocando dentro da mochila e peguei o segundo pedaço com um lenço e comecei a comer – Tchau meninas, um bom trabalho – disse após emborcar o copo de suco na boca.

– Tchau Lucy! Boa aula! – gritaram.

Saí do café e me dirigi a escola, já são quase sete horas, ainda bem que não estou atrasada.

Cheguei na Fairy Tail às sete e cinco e fui direto para a sala de aula. Eu tenho muita sorte de a Minerva nunca chegar cedo para me atazanar logo de manhã.

Minerva é a garota perfeita da escola. Chefe das líderes de torcida, presidente do Grêmio e a querida dos professores.

Só que ela não é nada disso, exceto líder de torcida, quem cuida do Grêmio para Minerva é a Bisca, uma das suas seguidoras, já que Minerva já demonstrou não ter paciência nenhuma para administrar a papelada dos alunos. E nem de longe ela é a santinha que os professores pensam que é.

Mal deu tempo de ler um capítulo do meu livro e o professor entrou em sala.

Estava no terraço, onde costumo ficar na hora do intervalo. Sempre que estou lá, tenho o costume de colocar uma velha cadeira para fechar a porta.

Sabe-se lá se alguém vai querer me atacar de novo aqui.

Semana passada eu fui pega de surpresa com Minerva entrando aqui e me arrastando até o banheiro para me "colar" no vaso sanitário com fita adesiva.

Se isso acontece constantemente? … bom… acontece às vezes.

Quando dou sorte, uma garota chamada Levy me ajuda a sair desse apuros. Mas antes que perguntem, ela também não é minha amiga.

Além do mais, Levy é do grupo do Natsu Dragneel, o aluno modelo da escola, o príncipe desejado, o melhor aluno dos professores. Enfim… essas coisas.

...

Eu acho que eu tenho um pouco de inveja, dele e da Minerva.

Ele é tão calmo, gentil e inteligente, e ela é tão destemida, forte e inabalável... tá bom, as vezes ela é agressiva e exagerada também, mas… quem sabe… talvez eu devesse ser mais como eles...

Deixar de ser essa Lucy chata, fraca e facilmente influenciável.

Por mais que eu goste de ser assim, o mundo costuma acabar com pessoas desse tipo. Sara diz que eu preciso amadurecer mais para conseguir bater de frente com quem me intimida.

Mas eu penso que… eu não deveria mudar por causa do que o mundo acha do meu comportamento.

Uma vez eu ouvi:

 "mude o mundo antes que o mundo mude você."

Mas sei lá… talvez mudar o mundo seja coisa demais para mim.

Estava saindo da sala, as aulas acabaram e eu ainda não entendi o comportamento de Minerva.

Ela faz algo comigo todos os dias, e hoje... Ela nem mesmo me olhou com desprezo como normalmente faz. O que geralmente eu não sei é o motivo de tanto rancor, sério. Continuo tentando lembrar se fiz algo errado para ela, mas sinceramente, acho que ela só gosta de ser má e acaba descontando em mim mesmo.

Sai da sala com um sorriso no rosto, nem eu sei porquê, talvez estivesse feliz por ninguém ter feito nada e hoje ter sido um dia tranquilo. Quem mais mexe comigo não fez nada, por que eu não estaria pelo menos, cogitando, que ela mudou… só um pouquinho.

– Lucy! – olhei mais adiante e vi Minerva acenando pra mim. Pensei em correr ou me fingir de morta mesmo. 

Mas ela veio em minha direção e só parou quando ficou na minha frente.

– quer ir comigo hoje? – ela perguntou. Eu tinha me abaixado pensando "é hoje". Mas essa frase me fez olhá-la com um semblante assustado.

Eu? Ir com ela?

Ela sorria abertamente, parecia muito sincera.

É... A serpente também parecia sincera aos olhos de Eva...

Para Lucy! Ela tá me convidando, por quê não?

Mesmo querendo acreditar do fundo do meu coração, ainda sim restava aquela dúvida. Cheguei a conclusão que podia ser uma armação, mas… pode ser que não né.

– sim... – eu disse, então seu sorriso se alargou ainda mais e ela pegou meu braço me levando até a saída. Sendo bem sincera, doeu um pouco.

– que bom! Quase achei que não aceitaria – ela disse – sabe, vou dar uma festa à fantasia hoje à noite, que tal ir?

– festa? – questionei chegando ao jardim antes do portão da escola. Nós paramos.

– sim bobinha, não se preocupe se não tiver dinheiro para uma fantasia, eu mesma te dou uma – ela disse se afastando. Eu sorri, mas ainda um pouco com o pé atrás, tinha uma sensação estranha. Ela estava estranha.

Aquela era mesmo Minerva?

...

Sim, era ela... Concluí isso quando senti algo se chocando contra minha bochecha. Passei a mão e era um ovo, que quebrou ao bater no meu rosto se espalhando inteiro no meu rosto e roupa. Eu preferi nem olhar pra frente onde muita gente já me esperava com bandejas de ovos nas mãos.

Eu apenas me abaixei abraçando as pernas esperando aquela "chuva" que tinha começado, parar.

Depois de sentir muitos ovos se quebrando assim que tocavam em mim, uns com força outros não, eles pararam.

Eu contei até três e olhei para cima, só para ver Minerva e Angel com um saco nas mãos prontas para jogar o que quer que fosse em mim.

Pensei ser trigo, e quando senti algo macio na pele duvidei, mas tive certeza ao sentir o cheiro e principalmente a risada de Minerva.

– agora sim, está a caráter – levantei o rosto a olhando – uma perfeita galinha, gostou da fantasia? De nada – disse sem me deixar responder.

Espirrando, suspirei e peguei minha mochila me levantando e saindo dali, indo direto para a saída, sem parar para falar com ninguém.

– ai meu Deus! LUCY! – a senhora gritou assim que me viu.

Não queria passar do carpete da porta para não sujar a sala.

Havia acabado de chegar na casa de Sara, a mãe de Kinana, a qual eu cuido há quase dois anos.

– entre meu amor – ela disse com aquele semblante de desespero, sabia que era por minha causa... Odeio preocupa-la.

– mas a sua sala...

– ora! – ralhou – quem é que liga para a sala quando você está desse jeito!?

Ela me segurou e me pôs para dentro com a gentileza de sempre. Logo já me vi no banheiro.

– Sara, isso vai acabar com o seu shampoo – disse apontando para o meu cabelo cheio de ovo e a vendo torcer o berço.

– eu não ligo meu bem, pode usar tudo se precisar, amanhã compro outro – assenti tirando as roupas – vou pegar umas da Kinana para você vestir, ela é mais velha, mas acho que vocês têm o mesmo corpo – entrei debaixo do chuveiro e ela saiu para buscar o que havia dito.

Demorei bastante, principalmente para tirar o cheiro pitiú do ovo.

Vesti um blusão e um short que estava em cima do vaso sanitário. Com certeza foi Sara quem deixou lá.

– amanhã te compro um shampoo – disse chegando na sala e a vendo sentada no sofá.

– não precisa meu amor – abriu os braços me chamando para sentar com ela.

– eu insisto – disse me sentando e a abraçando.

O dia de hoje pode ter sido bem ruim, mas com o carinho da Sara fica milhões e milhões de vezes melhor. Eu meio que sou paga pra cuidar dela mas… poderia cuidar mesmo sem receber nada, ela já é como uma mãe para mim.

– quer fazer biscoitos comigo? – ela sussurrou enquanto olhava nós a tv, sorri e assenti. Ela riu – vamos! – disse levantando com um imenso sorriso.

... já até esqueci dos meus problemas…

– Lucy, biscoitos! – ela cantarolou da cozinha e eu me levantei rindo.

– tô indo!