1. Spirit Fanfics >
  2. A Troca >
  3. O Reencontro

História A Troca - O Reencontro


Escrita por: MrsRidgeway

Notas do Autor


Oie, gente

Cheguei com mais um capítulo, um pouco atrasado, como sempre, mas feito com bastante carinho. Espero que gostem.

Agora vamos ao que interessa!

Capítulo 38 - O Reencontro


– Ai! – reclamei – Mamãe, cuidado com isso!

– Desculpe, meu bem – ela consertou a posição do tecido – Melhorou?

Assenti com a cabeça. Não havia dado nem seis da manhã, e, eu já estava acordado. Faltavam dois dias para o natal e nós estávamos no quarto do hospital. Mamãe me ajudava a vestir a camisa, enquanto o meu pai resolvia as ultimas pendencias burocráticas para a minha alta. Embora os meus ferimentos tivessem já quase todos sarados, algumas partes ainda doíam bastante quando tensionadas.

– Me dá tanta agonia te ver assim, tão magrinho...

Ela se lamentou. Eu sorri.

– Já, já, isso passa, mãe – a acalentei – Prometo comer o suficiente pra te deixar feliz, tudo bem?

– Como se pra você isso fosse muito difícil.

– Faço tudo pelo bem maior.

Agora era mamãe que ria do meu cinismo. Ela afagou os meus cabelos antes de se afastar, até um pequeno armário, ao longe.

– Tem certeza que não vai te sobrecarregar sairmos direto daqui para o aeroporto? – indaguei, analisando a quantidade imensa de sacolas e malas ao lado da porta.

– Não, creio que não – mamãe negou, entretida em arrumar algumas coisas – O Gui ligou. Ele me disse que ele e os seus irmãos já ajeitaram bastante as coisas na Toca. Por isso eles foram mais cedo. Seu pai e eu não vamos precisar nos preocupar com isso quando chegarmos.

– Quem já está lá?

– Seus irmãos, menos o Carlinhos, que chega de viagem hoje à tarde. A Fleur com a Vic, a Gabrielle e a Audrey. O Quim e a esposa vão chegar à noite. O resto das pessoas só chegará amanhã mesmo.

     Resto das pessoas?

– Que pessoas? – questionei, curioso.

– Ah, querido... – mamãe se virou na minha direção – Uns amigos do seu pai, recentes. Os convidamos para passar o natal conosco.

Arqueei a sobrancelha e assenti com a cabeça, concordante. Logo em seguida a porta do cômodo fora aberta e o Dr. Davis e Liza, uma das enfermeiras, entraram no quarto. Papai, Ginny, Harry e Miguel vieram em seu encalço. Os dois últimos, assim como a Angel, que viajaria no dia seguinte, também iriam passar o natal na toca conosco. O médico sorriu para mim. Ele estava com o meu prontuário na mão.

– Bom dia, Ron... – ele me cumprimentou – Como você está se sentindo?

– Ótimo... – respondi – Melhor impossível – ressaltei – Já posso ir embora daqui?

– Calma, rapaz... – o médico riu – Eu tenho que conferir algumas coisas antes.

Rolei os olhos. Eu já não aguentava mais ficar naquele lugar.

– Eu juro que não acho que estamos em 1920 e eu sou um viajante do futuro, ou, muito menos acho que estamos perdidos em outra dimensão do universo – brinquei – E eu também posso afirmar que lembro o nome da minha família toda de cor e de inúmeros acontecimentos da minha infância – garanti, impaciente – Tipo o dia que a Ginny caiu de cara na lama, no colégio, na frente de todo mundo, e ficou com uma aparência horrível.

– Ron! – a minha irmã protestou, inconformada.

As pessoas que estavam no quarto riram da sua reação.

– Mas é a verdade! Seu cabelo ficou todo grudado e eu tive que carregar sua mochila, que também tava nojenta, porque você ficou com raiva quando aquele menino idiota que você gostava... como era o nome dele mesmo? – estalei os dedos e franzi a testa, forçando a minha memória – Drew! Drew Anthony! Lembrei... enfim, depois que ele ficou rindo da sua cara toda suja.

– Ele era um imbecil! – ela torceu o nariz, desdenhosa.

– Era mesmo... – concordei, pensativo.

– E você também.

– Eu?!

Os espectadores assistiam a nossa discussão idiota, interessados.

– Caso você tenha esquecido, Ronald, você também foi o caminho todo de volta rindo de mim!

– Rir da sua cara era o meu papel de irmão mais velho – objetei – E nem vem, você se vingou colocando aquela aranha horrorosa no meu quarto no dia seguinte!

Harry encarou a minha irmã, assustado, com um quê de interrogação no olhar. Ela riu, maléfica.

– Ah, não foi vingança, querido Ronald... – Ginny retrucou, dissimulada – Foi apenas uma retaliação...

– Ah, claro... – acabei rindo também.

Papai nos interrompeu.

– Tá bom, crianças. Vocês já lavaram a roupa suja de vocês. Agora deixem o Dr. Davis falar, antes que eu coloque os dois de castigo.

Fizemos cara de anjinhos, exatamente como na nossa infância. O médico balançou a cabeça, sorridente, antes de prosseguir.

– Eu acredito na sua recuperação cerebral, Ron. Até porque a sua ressonância já me confirmou isso – ele me olhou por cima dos óculos, maroto – Eu vim aqui para conversar sobre o seu braço.

Franzi a testa, sem entender. Ele continuou.

– Como eu já te expliquei, você rompeu boa parte do ligamento que une o seu pulso ao seu antebraço. Isso interfere diretamente no movimento da sua mão.

O Dr. Davis se sentou na beirada da cama, ao meu lado.

– Eu vou ser o mais sincero que eu posso ser, Ron. Mesmo quando você retirar a tala fundida, daqui a quatro semanas, é possível que você permaneça com a dificuldade em locomover essas articulações.

– Mas vocês não fizeram uma cirurgia, no dia do acidente, pra poder corrigir isso?

– Fizemos... – ele confirmou – Mas essa área, apesar de ser muito flexível, ela é muito sensível também – ele explicou – O impacto que ela recebeu foi muito forte.

Umidifiquei os lábios, sem reação. Demorei um pouco até voltar a fazer outra pergunta. Inclusive, me senti a pessoa mais boba da face da terra ao dizê-la em voz alta.

– E agora?

– Bom, tudo isso é apenas uma possibilidade. Assim que você retornar, para a revisão, se os ligamentos já estiverem recuperados, vamos iniciar a fisioterapia e alguns outros procedimentos auxiliares. Mas, pela forma que o seu se regenerou rapidamente dos outros agraves, eu acredito que o seu pulso também irá pelo mesmo caminho.

Me senti um pouco melhor com a observação. O médico deu batidinhas de leve no meu ombro.

– Você vai ficar bem, rapaz. Considere a sua luta. Você é forte. Mesmo inconsciente, você não desistiu em momento nenhum.

Sorri de canto. O Dr. Davis passou a palavra para a enfermeira e ela nos entregou uma chuva torrencial de instruções de repouso, precauções e higiene, que mamãe prestou atenção com o maior afinco do mundo. Assim que a aula acabou, o Dr. Davis oficializou a minha alta. Meu pai, minha mãe seguiram com o médico. Harry e Miguel se adiantaram até o estacionamento, com quase toda a bagagem que estava atrás da porta, me deixando a sós com Ginny.

– Você não parece muito feliz... – a minha irmã comentou, me observando.

– Não é muito legal saber que eu posso ficar aleijado pra vida toda – rebati.

– Não fala assim, Ron. É feio e ofensivo – ela ralhou – Além do mais, o Dr. Davis disse que isso era apenas uma possibilidade. É o papel dele de médico te avisar...

Concordei , sem dizer nada.

– Então... qual o problema? – Ginny insistiu – Não vai me dizer que você ainda tá chateado com a história da aranha...? – ela sorriu, tentando fazer graça – Já faz quase dez anos isso...

Neguei levemente com a cabeça. Fixei o meu olhar na janela aberta. Apesar do horário, a lua crescente ainda marcava sua existência no céu. Suspirei

– Ela não tá aqui...

O meu problema era bem óbvio.

– Mas ela me prometeu que ficaria...

Ginny se sentou do meu lado. Por causa do seu tamanho, seus pés ficaram suspensos no ar. Continuei a falar, enquanto ela os sacodia para frente e para trás.

– Eu pensei que depois daquele dia... que... – soltei o ar dos pulmões novamente, dessa vez mais forte – É tão complicado entender a Hermione...

Bufei, frustrado. A minha irmã me chamou, prendendo a minha atenção.

– Ron, não teve um dia sequer, durante o seu coma, que eu não vi a Mione nesse quarto, debruçada sobre essa cama, esperando alguma reação sua – ela disse, paciente – E durante esses dias também, ela veio várias vezes. Você sabe disso...

– Do que adianta ela vir quando eu tô dormindo? Ou fazendo algum exame?! É a mesma coisa de não ter vindo...

Passei a mão pelos cabelos, irritado.

– Ela me deixa perdido, Ginny. Eu nunca sei o que fazer. Eu nunca sei como agir. Hermione bagunça a minha cabeça de uma forma absurda que chega a me deixar com raiva. Com raiva dela e, principalmente, com raiva de mim mesmo.

– Por quê?

– Porque ainda sim eu não quero me afastar. E eu não quero que ela vá embora. Eu sinto a falta dela desde quando eu acordei desse maldito coma. Deveria estar sentindo também quando estava inconsciente. E já sentia antes do acidente, muito.

– Você sabe que parte dessa culpa é sua, não é, Ron? – a minha irmã salientou, dura – Você mentiu pra Mione. Você confirmou que tinha ficado com a Angel e não voltou atrás nisso.

– Eu tava com raiva, Ginny! – me defendi, mesmo sabendo que eu estava muito errado – E não é como se a Hermione não soubesse que era mentira. Eu nunca faria isso... – não faria mesmo – Só que quando ela falou do Krum eu perdi a cabeça. Eu fico maluco só de imaginar ele chegando perto dela...

– Mas independente de qualquer coisa, Ron, você quis magoa-la. E foi isso que doeu mais na Mione.

– Eu sei. Quando eu percebi que tinha feito merda eu fui falar com ela, mesmo sem admitir algo, de fato. Mas aí já era tarde demais...

– Tem certeza que era mesmo tarde demais?

– Não era...?!

Franzi o cenho, confuso. A minha irmã sorriu anasalado e negou com a cabeça. Eu a encarei, sem entender.

– Quando ninguém mais tinha esperanças, Ron, foi a Hermione que ainda sim persistiu. Ela pôs tudo de lado, tudo, só pra se dedicar a você. E não, não foi por pena, ou culpa, porque ela fazia isso com gosto e dedicação – Ginny pôs as mãos de cada lado do corpo, se impulsionando no colchão antes de me fitar – A Mione sente sua falta da mesma forma que você sente a dela. Eu sei que ela é capaz de fazer qualquer coisa pra te ver bem, e sem ter que ganhar nada em troca. A maior prova disso tudo é que, se você tá aqui vivo hoje, do meu lado, foi somente porque ela não desistiu de você.

Me senti a pior pessoa da terra depois do que eu escutara. Merecidamente, por sinal.

– Eu sou um idiota.

– Sim, você é.

O maior de todos.

– Obrigado... – agradeci, sincero.

– Por te chamar de idiota?! – Ginny sorriu.

– Não, por me mostrar isso.

– Te mostrar o quanto você é idiota é o meu papel de irmã mais nova.

    Touché.

Trocamos um abraço meio desajeitado por causa da tala, mas carregado de cumplicidade fraternal. Demorou alguns anos até que a gente conseguisse trabalhar nisso.

– Ah, trouxe uma coisa pra você...

Ginny se afastou de mim e desceu da cama. A observei andar até a mala roxa que estava no canto do quarto e retirar de lá algo extenso e maleável.

– Pra você voltar cheio de estilo à civilização. Assim como no dia que você chegou de Londres.

Ela estendeu a minha jaqueta marrom no ar e eu ri, satisfeito. Ginny me ajudou a vesti-la. Acabei me tocando sobre uma coisa. Pus a mão livre nos bolsos, procurando a carta que eu havia pegado na mansão dos Potters. Não a encontrei.

– Você por acaso viu um papel que estava nesse bolso aqui? – questionei, preocupado.

– Papel...? – Ginny fez uma careta, desentendida – Que papel?

Estranhei.

– Uma carta – expliquei ainda sim – O envelope tava fechado.

– Uma carta? Interessante, Roniquinho... – a minha irmã levantou as sobrancelhas, com um  semblante que eu diria ser de surpresa – Mas não, eu não vi...

Por um segundo nossos olhares se cruzaram, o suficiente para eu perceber um brilho diferente. E eu conhecia bem aquela expressão. Ginny havia aprontado alguma coisa. Me levantei da cama e semicerrei os olhos.

– Você por acaso tem algo a ver com o sumiço misterioso desse papel, Ginny?

A minha irmã deu de ombros, dissimulada, enquanto puxava para cima o pino da mala.

– Não faço a mínima ideia sobre o que você esteja falando.

Ela saiu, cômodo a fora, arrastando a sua bagagem pela rodinha. Permaneci parado, rindo, sem acreditar, até que ela colocou a cabeça pela fresta da porta.

– E é melhor você adiantar o lado – ela avisou – Papai e mamãe já estão nos esperando lá embaixo.

Ginny sumiu novamente, antes que eu dissesse algo. Fui atrás dela, deixando de uma vez aquele quarto, depois de todas aquelas semanas.

A viagem foi bem tranquila. Chegamos a Toca no início da tarde, logo após o horário do almoço.  Assim que papai estacionou o carro no jardim, de frente a varanda, uma manchinha loira e descalça saiu de dentro da construção, agitada.

– Vovô! Vovô! – ela pulou nos braços do meu pai, que a segurou, com um pouco de dificuldade.

– Nossa, que menina gigante! – papai brincou com a neta, que riu – Ou eu estou ficando velho...

– Eu tô enorme, vovô. Cresci três centímetros!

– Meu Deus, realmente, isso é muito!

Ele a pôs no chão e o sorriso da minha sobrinha se iluminou, encantado. Ri da forma como as crianças enxergavam o mundo. A menina se deu conta da minha presença logo depois.

– Tio Ron!

Assim como fizera com o meu pai, ela também pulara na minha direção. A amparei, cambaleante, com uma mão só, em meio a risos. A última vez que vira a menina, ela era muito mais leve que agora.

– Você tá melhor?

Seus olhos azuis me encararam, esperando uma resposta.

– Tô sim...– garanti – Minha sobrinha favorita...

Encostei minha testa na de Victoire. Ela riu.

– Mamãe me disse que você sofreu um acidente, e, estava dormindo por muito tempo, sonhando com muitas coisas boas pra sarar logo.

– Pois é, eu sonhei com muitas e muitas coisas mesmo, sabia?

– Que coisas...? – ela sussurrou, curiosa.

– Não posso contar... – respondi, no mesmo tom baixo – São segredos muito importantes...

Vic abriu a boca, deslumbrada.

– O que importa é que agora eu acordei. Tô novinho em folha e pronto pra outra.

Minhas costelas, ainda em recuperação, me diziam ao contrário.

– Nem brinca com isso, Ronald – mamãe ralhou comigo, me lançando um olhar mortífero.

Ela passou por trás de mim, apressada, e se virou na direção da neta.

– E da vovó, você não estava com saudades?

A menina sorriu, animada.

– Claro que sim, vovó!

– Então vem pra cá, vem. O seu tio Ron tá se recuperando, não pode carregar peso não.

Victoire foi para o colo da avó sem reclamar. Vi, mais adiante, outra loira aparecer momentaneamente na lateral da casa. Essa, porém, era alta e de longos cabelos prateados. Sua expressão estava preocupada.

– Vic?! – ela chamou, irritada.

Fleur voltou a reaparecer após alguns segundos, dessa vez na varanda. Tomei um susto ao ver com clareza a barriga proeminente de grávida que ela exibia.

     Por que ninguém me conta nada?

– Victoire?!

Ela voltou a chamar em tom de reclamação, mas se deu conta que a menina não estava sozinha.

– Mon Die! Vocês já chegaram! – Fleur desceu os degraus, vindo em nossa direção.

Ela abraçou cada um de nós, enquanto falava inúmeras coisas, rapidamente. Percebi que ela já dominava o nosso idioma com bastante fluidez.

– Gui acabou de sair com Gabrielle e os gêmeos. Percy está lá nos fundos, com a Audrey. Estávamos arrumando algumas coisas.

Ela se deteve por mais tempo quando chegou a mim.

– Fico tão feliz que tenha se recuperado, Ron.

– Eu também.

Brinquei. Ela riu, graciosa como sempre.

– Bienvenue, outra vez...

 Agradeci e Fleur me deu dois beijos com gosto, um em cada bochecha. Bem ao costume francês.

– É menino ou menina? – perguntei, interessado em saber sobre meu novo sobrinho ou nova sobrinha.

– Menina... – ela respondeu, sorridente, acariciando a barriga levemente – Dominique.

– É um nome muito bonito – elogiei, sincero.

– É, eu sei... – a loira confirmou, alegre – O seu irmão que escolheu.

Sorri mais uma vez, feliz por ver a nossa família crescer. Fui desperto pelo barulho do carro do Harry atravessando a lama. O automóvel avançou até perto. Ele, Ginny e Miguel desceram.

– Ficamos presos lá no fundo... – Harry se justificou.

– Esse pântano é horrível mesmo – Mamãe confirmou, ainda com Victoire no colo – Mas venham, entrem. Vocês devem estar morrendo de fome.

Seguimos para dentro da casa. Analisei todo o espaço, sentindo uma falta imensa daquela bagunça.

Mamãe serviu o almoço atrasado com a ajuda dos que já estavam na casa. Logo após o descanso e uma roda de conversas, o espaço de cada um foi dividido. Mamãe, seguindo a risca os velhos costumes, fez questão de separar tudo ela mesma. Ginny iria dividir o quarto com Gabrielle e Angelina, quando esta chegasse. Miguel dormiria com os gêmeos, no quarto dos dois. E, como era de se esperar, Harry e eu ficaríamos no meu antigo quarto. Após o jantar, nós subimos para o último andar, debaixo do sótão. Abri a porta e sorri, ao perceber que tudo estava exatamente da mesma forma que eu deixei, há mais de dez anos. Até o pôster antigo, e laranja berrante, do Cannons continuava colado na parede.

– Seu gosto para decoração era um tanto peculiar... – Harry comentou, logo atrás de mim, assim que entrou no quarto.

– Porque com 13 anos você era formado em design de interiores, não é mesmo? – ironizei.

Ele riu.

– Snape nunca me deixou colar nem uma figurinha na parede.

– Por quê?

– Segundo ele, isso estragava o ambiente e era coisa de pessoas sem disciplina.

– Bem vindo à família Weasley.

Abri os braços, antes de me jogar na minha antiga cama.

– Eu gostei daqui... – Harry ainda admirava ao seu redor – É, sei lá... aconchegante.

Sorri de canto, entendendo o que ele dissera.

– Mas e aí?! – ela indagou, se sentando na cama dobrável, preparada para ele – Como você tá?

– Bem... – respondi, incerto – Eu acho...

– A gente quase não teve oportunidade de conversar nesses últimos dias. Você estava sendo muito requisitado.

– Tá com ciúmes, Potter?

– Um pouco... – Harry piscou um dos olhos verdes pra mim, por baixo dos óculos.

Joguei uma almofada nele, que tentou se esquivar, sem sucesso.

– Sua sorte é que você ainda está em recuperação, Weasley.

– Que agressivo...

Harry riu. Ele se aproximou.

– Não faça mais isso não, cara.

– Isso o quê?

– Isso de quase morrer.

Apesar de ter soado cômico, Harry estava sério.

– Estávamos todos preocupados, Ron. Foi um período horrível. A forma como aconteceu mais ainda.

– Algum avanço da polícia nas investigações? – perguntei, interessado.

Harry negou com a cabeça.

– Longe disso... – ele disse – A placa do carro era fria e nenhuma das testemunhas chegou a ver o rosto da pessoa que estava dentro do veiculo.

– Tudo isso é muito estranho...

– É... mas nós sabemos muito bem quem foi o mandante.

Desde quando eu acordei, eu me perguntava todos os dias sobre quem teria o responsável pelo meu acidente. Harry e Ginny, que por algum motivo sabia do dossiê, acreditavam que Malfoy era o responsável, mas na minha cabeça, alguma coisa não batia. Era como se eu me lembrasse de algo, mas estivesse deixando passar.

– E se eu te dissesse que não tenho certeza sobre isso? – arrisquei expor minha opinião.

Harry me encarou.

– Por que não teria? – ele me questionou, desconfiado.

– Não sei explicar, só não tenho. É como se tivesse uma peça faltando.

– Você sabe que peça é essa?

– Não faço a mínima ideia.

Minha afirmação era completamente verdadeira. Harry suspirou e se levantou rapidamente, se sentando ao meu lado.

– Então vamos descobrir.

– Você não precisa se envolver nisso, Harry – falei – A sua vida já tem problema demais...

– A gente adiciona mais um. Pra mim não faz diferença... – ele deu de ombros, como se fosse uma coisa muito simples – Você é o meu melhor amigo, Ron. É como se fosse meu irmão. E eu quase perdi você também, foi por pouco. Eu não vou deixar isso passar.

Sorri, extremamente agradecido. Eu sabia o quanto era difícil para o Harry falar coisas daquele tipo. Como em um acordo mudo, trocamos um abraço apertado. Dali em diante a conversa se desmembrou em algo mais leve, até a hora que o sono chegou.

Assim que o sol despontou, logo cedo, na manhã daquele domingo de natal, eu acordei. A casa, pela primeira vez desde quando nós chegamos, descansava, silenciosa. Olhei o horário no relógio do celular e tentei voltar a dormir, mas a investida foi inútil. Vencido, me levantei da cama. Harry ressonava, mais adiante, enrolado no edredom. Saí do quarto, da maneira mais silenciosa possível, e desci em direção à cozinha. No meio do caminho, senti um cheiro conhecido e que eu gostava muito. Mamãe já estava acordada.

– Bom dia... – a cumprimentei com um beijo na testa, em voz baixa.

– Bom dia, Roniquinho...

Seu olhar indicava a surpresa em me ver ali tão cedo. Eu me sentei em um dos banquinhos altos, perto do balcão.

– Está com fome? – ela me perguntou, puxando uma das louças da pia.

– Na verdade não.

Eu realmente não estava com fome. Isso soava estranho.

– Não...? – a pergunta foi refeita.

– Não... – mantive a minha resposta, achando graça.

Mamãe se virou na minha direção, enxugando as mãos no avental.

– O que houve?

– Como assim?

– Meu filho, eu te conheço há 24 anos. Você saiu de dentro de mim, esqueceu? – ela disse, firme Eu só te vi acordar cedo por livre e espontânea vontade, e, sem estar com fome, duas únicas vezes na vida. A primeira foi no dia do seu aniversário de onze anos, quando o seu pai prometeu trazer um violão de presente pra você. A segunda foi no dia que você se sentou nesse mesmo banco e me disse que estava indo de vez para a Inglaterra.

Ergui as sobrancelhas, achando divertidas as constatações dela.

– E então? – mamãe insistiu – O que aconteceu?

– Nada... – falei, despretensioso – Só a minha cabeça que tá meio embaralhada.

– Você tá sentindo alguma coisa? – ela soou preocupada.

– Não... – garanti rapidamente, a acalmando – São apenas os pensamentos mesmo.

– Ah... – ela riu de canto – Até imagino quais sejam estes pensamentos...

Aquilo era novidade.

– Imagina?

Mamãe me deu as costas outra vez, voltando aos seus afazeres, quanto se justificava.

– Imagino sim, meu filho. Mas cabe a você pensar sobre eles, não a mim.

Franzi a testa, sem entender.

– Porém, se você me permitir, eu gostaria de te dizer que às vezes o coração erra sim, mas ele não faz isso por mal. É que ele sente demais e comete algumas bobagens, justamente por medo de não acertar.

Assimilei lentamente o que fora dito, sem saber o que dizer.

– Mãe? – a chamei, receoso, após um tempo.

– Sim, querido – ela respondeu, concentrada na dose correta de leite que despejava na caçarola.

– Eu fiz uma besteira e agora não sei como consertar...

– As besteiras feitas com o coração tem que ser resolvidas com o coração, Ron, não com a cabeça. Escute sua velha mãe.

Me ajeitei no assento do banco, incomodado. Antes que eu dissesse alguma coisa à mamãe, ouvimos três batidinhas na porta. Estranhei, mas logo em seguida lembrei que a Angel estava para chegar pela manhã.

– Ah, deve ser a sua amiga...! – mamãe exclamou – Atende pra mim, querido, por favor?

– Claro...

Desci do banco e me dirigi até a porta, preguiçoso. Girei a chave, destrancando-a, antes de puxar a maçaneta para baixo. O clarão do dia, mais intenso, irrompeu a minha face, ofuscando os meus olhos. Mas isso, ainda sim, não fora tão impactante ao que eu via a minha frente. Pisquei algumas vezes, consecutivamente, tentando me certificar se eu estava enxergando direito, contudo, não demorou até que eu obtivesse a confirmação disto.

     Que porra é que tá acontecendo aqui...?!

Paradas, lado a lado, Angelina e Hermione me observavam. Ambas com um quê de desafio no olhar.


Notas Finais


E aí? O que acharam?!
Me contem aqui nos comentários! Eles são muito importantes para a evolução da história!

Informação sobre as próximas datas e outros detalhes na page. Dá uma olhadinha!
==> https://www.facebook.com/Mrs-Ridgeway-1018726461593381/

Beijos, meus amores!


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...