1. Spirit Fanfics >
  2. A Troca >
  3. A Fotografia

História A Troca - A Fotografia


Escrita por: MrsRidgeway

Notas do Autor


Oie gente,

Estou aqui, com algumas horas de atraso, já que eu disse na page que postaria ontem. Mas a madrugada do domingo ainda é sábado, então estou perdoada.
Aos que não gostam de capítulos grandes, peço mil perdões, mas não consegui maneirar. Foi tudo muito intenso, espero que gostem ainda sim.

Finalizando, aviso a todos que esse é o penúltimo capítulo da 1ª temporadaaaa. Nem acredito que tá acabando essa primeira parte.

Enfim, vamos ao que interessa. Vocês já esperaram demais...

Capítulo 39 - A Fotografia


– E, por favor, não se esqueça de dizer que nós estivemos aí enquanto ele estava em coma.

Sorri ao telefone.

– Tudo bem, papai. Eu digo sim – garanti – Façam uma boa viagem...

– Avisaremos assim que chegarmos lá – ele disse – E você, mocinha, se cuida.

– Eu vou pra casa do Neville assim que voltar do hospital. Iremos juntos a formatura.

– Tem certeza que não quer vir com a gente?

– Tenho sim. Aproveitem esse tempinho a sós.

– Já passamos muito tempo sem você – ele resmungou – Quase o ano todo.

– Eu sei papai – repliquei, paciente – Mas você entendeu o que eu quis dizer...

Meu pai suspirou do outro lado da linha, contrariado.

– Você que sabe, meu bem – ele se deu por vencido – Agora eu preciso ir, antes que a sua mãe comece a me gritar...

– Curtam bastante as dunas por mim – desejei – Eu amo vocês.

– Nós também te amamos.

Papai e eu nos despedimos e logo em seguida a ligação foi encerrada. Pus o celular na bolsa e me olhei no espelho, antes de sair do quarto.

– Ok, Hermione. Acho que está satisfatório... – sussurrei para mim mesma, passando a mão pela saia plissada.

Há dias eu me preparava para falar com o Ron, mas, todas as vezes que eu pensava em tudo o que havia acontecido, antes e depois do acidente, a minha coragem se esvaia, junto com o vento. É que eu não fazia a mínima ideia de como eu iria reagir à presença dele. Pelo que eu conhecia do ruivo, ele deveria estar uma fera comigo. Eu prometi não ir embora, no entanto, desapareci. Tentei dar um passo para fora do quarto, porém travei no mesmo lugar.

     O que é que tá acontecendo comigo?!

Fechei os olhos momentaneamente.

– Respira... – puxei o ar com força e o soltei dos pulmões logo em seguida – Você consegue. Dessa vez você consegue...

Chacoalhei a cabeça e saí do quarto, decidida.

Cheguei ao hospital um pouco antes do almoço. Passei pela recepção, apressada, e subi direto para o andar dos apartamentos. Não encontrei ninguém no quarto. O cômodo estava completamente vazio. Dei meia volta e me bati com um dos enfermeiros da equipe do Dr. Davis.

– Hermione! – ele saudou, simpático – Bom dia!

– Ah, oi, Travis. Bom dia...– respondi, ainda um pouco desconcertada.

Aproveitei para tirar a minha dúvida. Apontei na direção do quarto.

– O Ron foi transferido...?

– Não, ele recebeu alta.

Minha expressão de surpresa o fez franzir o cenho.

– Você não sabia?! – Travis parecia não estar entendendo a minha falta de informação – Ele foi embora hoje pela manhã. Bem cedo, por sinal. Eu o vi saindo com a família na hora que eu iniciei o plantão. Até estranhei você não estar junto.

     Boa, Hermione! Olha no que deu a sua enrolação...

Meus ombros caíram. Eu estava frustrada.

– Pelo visto eu cheguei tarde demais – comentei, chateada.

– Acontece... – o enfermeiro pôs uma mão no meu ombro.

Começamos andar para fora do corredor.

– Eu deveria ter vindo mais cedo.

– Você realmente não sabia que ele estava na iminência da alta?

Balancei a cabeça, indicando que não. A Sra. Weasley havia comentado algo comigo, há uns dias atrás, mas eu não imaginei que o Ron seria liberado assim tão rápido.

– Bom... – paramos na bifurcação, em frente ao elevador – Se te serve de consolo, eu acabei de ver outra colega sua não tem nem cinco minutos. Ela deve ter vindo fazer uma visita também.

Ergui as sobrancelhas, curiosa.

– Que colega?

– Eu, Hermione.

Olhei por cima dos ombros, rapidamente, e dei de cara com Angelina. Contraí o diafragma, tensa. Ela vestia a farda da SeMz e trazia consigo uma mochila nas costas. Seus cabelos escuros estavam presos em um rabo de cavalo alto, despretensiosamente bagunçado.

– É, ela – Travis confirmou, com um sorrisinho divertido.

Mais a diante, outra enfermeira fez sinal para ele, solicitando sua presença. O homem concordou silenciosamente.

– Enfim, acho que vocês duas conseguem se virar sozinhas agora. Eu preciso ir. Tenha um bom dia, meninas – ele desejou, educado – E, já adianto um feliz natal pra vocês.

– Pra você também – respondi, sorrindo de volta para ele.

Angelina apenas fez um sinal com a cabeça, em um agradecimento mudo. O enfermeiro se afastou rapidamente logo em seguida. Eu estava prestes a fazer o mesmo quando ela se manifestou, me fazendo recuar.

– Ah, então é assim...?! – Angelina deu um risinho sarcástico, que me irritou profundamente – Você vai simplesmente entrar nesse elevador e fingir que não me viu? Não sei por que eu não me surpreendo, sabe?!

Me virei em sua direção.

– E o que você quer que eu faça? – retruquei, irritada – Te aplauda?! Estenda um tapete vermelho?! Ou melhor, solte fogos de artificio porque eu encontrei vossa senhoria no meio do corredor do hospital?!

– Eu quero que você largue de ser burra, Hermione. É isso que eu quero.

Arregalei os olhos. Eu estava pasma.  Ninguém nunca na vida havia me dito algo daquele tipo. Exatamente ninguém.

     Ok, Hermione, respira...

– É o quê?!

Inconscientemente, alterei a minha voz.

– Isso mesmo que você escutou.

Angelina se manteve impassível. Eu não estava acreditando.

 – Quem você pensa que é pra falar comigo dessa forma?!

– Alguém que quer que você pare de agir feito uma criança mimada e birrenta e volte a assumir a sua postura de uma pessoa adulta e madura – ela enfatizou, me irritando ainda mais – A gente precisa esclarecer algumas coisas.

– Eu não tenho nada pra falar com você, Angelina – vociferei.

– Ah, tem sim... – ela insistiu, se aproximando – Temos algo muito importante pra resolver. Uma questão que eu já deixei se estender demais, por sinal.

A essa altura, algumas pessoas já nos olhavam, tentando entender o que estava se passando. Deixei o meu bom senso falar mais alto. Não seria interessante que ficássemos discutindo dentro do hospital.

– E então?!

Angelina permaneceu me encarando. Passei a mão pelos cabelos, exasperada.

– Ok...! – cedi, com bastante antipatia – Vamos descer. Tem um café aqui perto, a gente pode conversar lá.

Ela concordou de prontidão. Entramos no elevador e partimos juntas, em silêncio. Como o restaurante era realmente perto, seguimos a pé até ele. Fomos recepcionadas pela senhorinha simpática de sempre. Como de costume, ela me saudou, amável.

– Bom dia... – Angelina falou, neutra, se colocando ao meu lado.

– Bom dia, meninas! – a mulher respondeu – Desejam provar uns biscoitinhos da casa hoje? Acabaram de sair do forno!

– Bom dia, Batilda – a cumprimentei, tentando disfarçar a minha raiva – Na verdade estamos procurando um lugar mais reservado, se possível. Tem alguma mesa assim disponível?

– Claro que sim, minha querida. Fiquem a vontade – ela disse, de imediato – Se quiserem algo a mais, é só chamar.

– Obrigada...

A dona do café nos guiou até uma mesa menor, de frente a janela larga, próxima à entrada da cozinha. Ela deixou o cardápio conosco e se afastou. Angelina e eu nos sentamos, uma de frente a outra. Nenhuma de nós tinha uma expressão satisfeita no rosto. Ela jogou a mochila no canto do assento, se livrando do peso. Mantive minha bolsa no meu colo e a encarei, decidida.

– Seja breve – anunciei.

– Serei...

O tom da resposta não me deixou dúvida alguma.

– Eu e o Ron não tivemos nada – ela foi direta – Pelo menos não depois de você entrar na jogada.

Prendi a respiração momentaneamente. Ainda sim, não abaixei minha postura.

– Meio tarde pra você me dizer isso, não acha?

– Não era como se você estivesse disposta a escutar nada que alguém quisesse dizer, não é mesmo?

– E por que eu deveria acreditar em você?!

– Eu não sei se você se faz de cega ou se realmente não quer ver isso.

Não me abati com a provocação.

– Eu vi vocês dois... – falei, baixinho, entre os dentes – Eu vi vocês dois naquela maldita sala... Ele me disse que sim, que vocês haviam tido alguma coisa naquele dia...

– Você não viu nada demais – ela rebateu, enraivecida – E, pra ser sincera, o Ron te deu a resposta que você mereceu ouvir.

– Não queira me tratar como se eu fosse uma louca descontrolada, Angelina! Se ponha no meu lugar! – bradei, inconformada – Se fosse o seu namorado agarrado com alguém que ele já teve um envolvimento, sem camisa, aos risos, você ia mesmo continuar com toda essa sua postura de quem está acima de tudo e de todas as coisas?!

Ela engoliu a seco e desviou o olhar. Continuei.

– Eu sempre via a forma como vocês dois se tratavam, as brincadeirinhas muito próximas, as suas indiretas, a forma como o Ronald aceitava isso... Não tinha como eu não me sentir insegura. Olha pra você, Angel... Você chama atenção de todo mundo. E sempre foi assim.

Abaixei a cabeça e me joguei no recosto alaranjado. Percebi, pelo barulho do estofado, que ela fizera o mesmo.

– Só que nunca foi uma competição, Hermione.

Levantei os olhos. Incrivelmente, vi que no seu rosto não havia mais cólera.

– Não...?

– Não – ela confirmou – Até porque, ainda que fosse, eu nunca ganharia.

Franzi a testa, sem entender.

– O Ron é louco por você. Completamente maluco.

Um sorriso inevitável brotou dos meus lábios, tímido.

– Eu não vou ser hipócrita, tá legal? Eu acho o Ron gato pra caralho, desde o dia que eu bati o olho nele. Fora que ele é uma pessoa maravilhosa, em todos os sentidos. Quem na Terra não iria querer pegar aquele ruivo, pelo amor de Deus?

Me segurei para não voltar a ficar histérica depois das afirmações irritantes.

– Eu teria sim ficado com o Ron outras vezes, só que ele nunca quis. Sempre desviava, mudava o assunto, inventava uma desculpa, só faltava sair correndo – ela umidificou os lábios e deu um meio sorriso – Olha, no dia que a gente ficou, o Ron simplesmente parou e se afastou de mim, confuso. Parecia que ele estava sentindo que tava fazendo algo errado, sabe...? Agora eu vejo o porquê daquela reação. Ele já tava pensando em você, desde sempre.

– Eu também já estava pensando nele... – deixei escapar, sorrindo de canto da mesma forma.

Angelina se debruçou sobre a mesa.

– Eu realmente sinto muito, Hermione. Eu sei que parte da culpa disso tudo é minha, e eu não queria ter causado essa confusão toda. Se eu realmente soubesse da sua insegurança, eu teria maneirado. Nunca foi minha intenção atrapalhar vocês dois.

Fitei a mulher a minha frente. Não havia nenhum tipo de deboche no seu olhar, pelo contrario, Angel me observava de volta, como se estivesse à espera de uma resposta. Eu enfim abaixei a guarda.

– Eu também te devo desculpas. A vocês dois. Eu fui uma idiota precipitada.

– É, você foi muito imbecil mesmo...

– Você é sempre tão amável assim com as pessoas? – ironizei.

– Só com as que eu gosto mais – Angel replicou, no mesmo tom.

Semicerrei os olhos para ela. Angel soltou uma gargalhada.

– Me sinto mais leve – Angelina expulsou o ar dos pulmões, com força – Agora preciso ir pra casa terminar de arrumar a minha mala, já que eu vou ter que esperar até mais tarde.

– Esperar? Você não vai trabalhar agora? – indaguei, curiosa.

– Não... – ela negou, balançando a cabeça– A minha coordenadora me liberou. Fui ao hospital pra ver se eu encontrava alguém, mas eles já tinham ido embora. Vou ter que viajar durante madrugada mesmo.

– Ah...

– Você não vai?

– Não. Vou passar o natal com o Neville.

– Hm...

Angel levantou uma das sobrancelhas arqueadas por um instante.

– Bom, você que sabe... – ela disse, por fim – Eu já fiz minha parte.

Assenti com a cabeça. Nos despedimos e ela saiu do café, apressada. Ainda permaneci sentada por um bom tempo, digerindo tudo o que eu escutara.

Como o combinado, eu cheguei à casa do meu amigo no inicio da noite. Íamos juntos a formatura dos meninos. Neville me recebeu, já parcialmente arrumado. Ainda sim, ele abriu a porta, preguiçoso. Fui recepcionada por um enorme bocejo, precedido de um coçar de olhos.

– Parece que alguém andou se cansando – comentei, já no hall.

– Não dormi direito e trabalhei na estufa o dia todo – ele respondeu – Tô quebrado.

– Por que você não dormiu direito? – questionei, enquanto colocava a mochila com as minhas roupas no canto do sofá, e o cabide com o meu vestido já passado do outro, antes de me sentar.

– Ah... – ele exclamou, teatralmente – Adversidades, sabe...

Levantei as sobrancelhas, incrédula com a resposta. O meu amigo apenas sorriu, maroto.

– Enfim, vai se arrumar – Neville jogou uma almofada em mim – Vamos nos atrasar se você continuar aí sentada.

– Tô com preguiça.

– Ainda tá em tempo de desistir.

Vi um brilho de esperança no olhar do meu amigo.

– Nada disso – o brilho se apagou – Prometemos aos meninos. Nada de voltar atrás agora.

Neville bufou, contrariado. Levantei do sofá rindo. Peguei o vestido e segui para o banheiro. Demorei um bom tempo até ficar pronta, mas, no fim gostei do resultado. A peça que eu havia escolhido para a ocasião era mesmo muito bonita e se ajustava bem ao meu corpo. O vestido branco, de mangas longas, visto de frente era discreto, porém nas costas descia um longo decote em v arredondado, que parava somente na costura negra, em uma única linha, que demarcava o início da cintura. Seu comprimento também era ideal. O corte se estendia até os joelhos, mas possuía uma fenda lateral, não muito cavada, em uma das pernas. O conjunto ficava completo com o scarpin preto em verniz, dando harmonia final a minha imagem. A maquiagem acompanhava a discrição do visual, se concentrando em tons leves e terrosos, exceto pelo batom vinho que Ginny havia me dado de presente há algumas semanas atrás e que se destacava muito bem nos meus lábios.

Após pendurar o cabide no prendedor do banheiro, alisei o tecido macio no meu corpo com as mãos mais uma vez e saí do cômodo. Quando retornei a sala, o meu amigo dormia deitado no sofá, de terno.

– Longbottom!

Ele se assustou, abrindo os olhos rapidamente.

– Você vai amassar a sua roupa toda! – ralhei.

– Você parece a minha avó... – ele resmungou, se sentando.

– Alguém precisa te consertar...

Nel fez uma careta e se pôs a calçar seu mocassim preto. Aproveitei para gastar esses minutinhos dando uns últimos retoques no meu cabelo, que estava preso em um coque alto e volumoso, no espelho do aparador. Quando me virei de volta, percebi que o meu amigo me olhava.

– Wow...!

– O que foi?!

– Você tá gata.

Ri com vontade. Andei até ele e consertei a gola da sua camisa.

– Obrigada pelo elogio.

– Parece que alguém vai voltar comprometida dessa formatura hoje.

Rolei os olhos. Dessa vez foi Neville que riu.

– Dispenso – neguei, enquanto ajustava sua gravata – Eu não quero arrumar outro namorado.

– É, eu sei... – Nel olhava para o teto – Você ainda tem um. Ele só não sabe disso.

– Quem te disse isso?

– Precisa alguém me dizer?

Nel se afastou um pouco quando eu finalizei meu trabalho. Desviei o olhar, divertida. Meu amigo não insistiu. Ele conferiu as horas no relógio de pulso.

– Tá quase na hora da cerimônia... – Nel avisou – Vamos?

– Vamos sim...

Peguei minha bolsa de mão e o meu celular e o segui até a garagem. Chegamos à universidade a tempo. Um grande palco fora montado no jardim e o lugar fora enfeitado com diversas luzes, flores, cadeiras e mesas de festa, ao redor da piscina. Identifiquei boa parte dos formandos reunidos mais a diante, a espera do inicio da cerimônia. Pais, mães e muitos outros parentes e entes queridos estavam ali, como nós, para prestigiar os mais novos advogados do mercado. Neville e eu estávamos à procura de uma mesa vazia para nos sentar, quando fomos abordados por uma pessoa extremamente sorridente.

– Eu estava procurando por vocês dois! – Cedrico exclamou, contente – Por um momento achei que vocês não viriam mais!

– Eu não deixaria de prestigiar vocês de forma alguma, Ced – falei, com mesma animação.

– Nem eu! – Neville deu batidinhas nos ombros de Cedrico, que o abraçou lateralmente.

     Dissimulado...

– Essa decoração ficou linda... – comentei, ainda analisando o espaço ao meu redor.

– Mamãe tava comentando o mesmo agora a pouco – Cedrico me puxou em sua direção – Por falar nisso, venham! Tem dois lugares guardados pra vocês a nossa mesa!

O seguimos por entre o aglomerado de convidados, até uma mesa mais a diante. Os pais do Cedrico estavam sentados, conversando com outras pessoas que eu reconheci na hora. Viktor e seus pais me viram quase no mesmo instante que eu os identifiquei. Os três sorriram para mim.

– Hermione, minha querida! – Emma, mãe de Viktor, me cumprimentou, se levantando e vindo até mim.

Trocamos um abraço apertado.

– Quanto tempo eu não te vejo...

– É, faz um tempinho...

– É uma pena que você e o Viktor não estejam mais juntos. Fiquei muito triste quando eu soube.

– Algumas coisas não acontecem muito bem da forma como planejamos...

Ela sorriu.

– Eu sei, eu sei... – a mulher abaixou o tom de voz – Mas você sempre será a minha preferida...

Emma sussurrou, me fazendo rir também.

– A minha também.

Viktor apareceu atrás de mim. Seu tom era divertido. Ele me segurou pelos ombros e apertou de leve.

– Mas é segredo – Viktor completou, olhando para a mãe.

– Não contarei a ninguém, querido. Fique tranquilo.

Ela piscou para nós dois. Rolei os olhos, jocosa. Emma se afastou, voltando a se sentar. Percebi o olhar de Viktor percorrendo o meu corpo. Gelei momentaneamente.

– Nossa... – ele suspirou, teatral – Você tá maravilhosa, Mione.

– Obrigada... – agradeci ao elogio, um pouco sem graça – Você também está à altura da ocasião.

Ele sorriu de canto e acordou com a cabeça. Ele arqueou o corpo e estendeu o braço, tocando a minha mão.

– Posso?

– Sim, senhor.

Seguimos juntos, de braços dados, até a mesa, onde eu me sentei e cumprimentei os outros convidados.

A conversa em grupo se desenvolveu animada, por cerca de uma hora, até que Viktor e Cedrico fossem convocados para se reunir com ou outros formandos. Assim que eles partiram, troquei de lugar e me coloquei ao lado de Neville. O meu amigo passou o braço pelos meus ombros e eu apoiei a cabeça em seu peito. Um garçom se aproximou e reencheu a bandeja de vidro que estava em cima da mesa com vários salgadinhos e doces.

– Só aqui nessa mesa tem mais comida do que na minha formatura inteira – Nel comentou, se esticando para pegar um camarão empanado.

– Não fale assim. A sua festa também foi muito bonita – rebati, enquanto escolhia um canapé – Todo mundo adorou. Principalmente o Harry e os gêmeos.

– Claro, os três ficaram bêbados!

– Você tinha que ter visto a Ginny levando eles pra casa. Foi cômico.

Me lembrei da cena dentro do carro e sorri comigo mesma. A formatura do Neville foi o primeiro episodio que eu tive a oportunidade de me divertir depois que o Ron acordou do coma.

– Por falar nisso, como vocês realmente estão?

– Vocês?

Neville me encarou quando eu levantei os olhos para encara-lo.

– É, você e o Ron.

– Não conversamos ainda – eu disse, voltando a olhar para a bandeja com os canapés.

– Por quê? – Nel insistiu.

Suspirei.

– Não tive coragem – assumi.

Houve um breve momento de silencio até que ele se manifestasse outra vez.

– Eu e a Hannah terminamos.

Voltei a fita-lo, surpresa.

– Quando? – agora eu estava interessada em saber.

– Foi logo depois da formatura.

 – Mas isso já tem uma semana! Você não me disse nada...!

– Não tive coragem.

A repetição da minha frase nos fez rir. Continuei o questionário.

– O que houve?

Nel balançou a cabeça, difuso.

– Nada em especifico... – ele respondeu – Eu só não sabia se ainda era o correto.

– E ela?

– Aceitou. Acho que a Hannah já tinha percebido que não íamos dar certo daquela forma e que nenhum dos dois estava muito afim de abdicar de certas coisas pra consertar a relação.

     Abdicar de certas coisas...?

Interessante.

– Então vocês ainda se gostam? – questionei, erguendo as sobrancelhas.

– Eu... – percebi que Neville engolira a seco – Eu não sei, Mi. Tô bem confuso, pra ser sincero.

Me ajeitei no assento, ficando de frente para o meu amigo.

– Fui ao hospital hoje pela manhã.

Neville não se surpreendeu.

– E aí?

– Eles já tinham ido embora – falei, pesarosa – Eu deixei o Ron viajar sem dizer a ele o quanto eu sinto muito. Ele deve estar me odiando agora, provavelmente achando que eu não sinto nada por ele.

– Eu não acho, Mione – meu amigo discordou – O Ron sabe o quanto você desejou que ele acordasse. O quanto você o apoiou, mesmo quando ele não tinha nenhuma reação. Isso tá longe de ser a postura de uma pessoa que não sente nada.

– Acho que isso não importa mais, Nel. Eu cheguei tarde demais. Em todos os sentidos que essa frase possa ter.

Neville passou a mão pelo meu rosto, condescendente.

– Vocês dois erraram. Eu tenho certeza que o Ron sabe disso. Vocês vão se acertar – Nel me encarou – E nunca é tarde demais, Mione. Acredite.

Havia um quê de experiência depositado na afirmação. Acho que eu sabia o porque. Preferi não levar à diante. Tem assuntos que devem ficar guardados dentro de nós mesmo. Ainda sim, abracei o meu amigo, buscando conforto.

Uma voz ecoou ao fundo, no microfone, anunciando o inicio da colação de grau. Nos viramos para assistir a celebração. Os nomes foram chamados um por um, em ordem de chamada, pelo orador da turma, que claro, era o Cedrico. A dinâmica de apresentação era bem feita. Após um breve texto introdutório, cada nome vinha acompanhado de um título, em homenagem a trajetória dos formandos até ali.  

Amanda Stilles – o orador deu inicio – Aquela que sempre sonhou em executar a lei.

O tempo se estendeu preguiçoso. Cedrico já estava além da letra “S” quando senti algo vibrar no meu colo. Bocejei, entediada, sem pegar no celular, ouvindo o meu amigo continuar sua entoação.

Theodore McNess – Cedrico chamou – Aquele que fez do riso sua técnica de conciliação.

Um homem alto e rechonchudo andou até o centro do palco para assinar o seu diploma, fazendo algumas gracinhas mudas. A maior parte das pessoas, inclusive eu mesma, riram de suas expressões divertidas. O aparelho tremeu brevemente, mais uma vez, e a luzinha vermelha na parte superior da tela começou a pulsar, impaciente. Era uma indicação de que eu havia recebido algo novamente. Desbloqueei o visor do celular, distraída, e abri o aplicativo. Me surpreendi ao ver quem mandara a mensagem.

Valéria Damon, aquela que escolheu dar continuidade a um legado.

Abri a conversa.

Um homem só se torna um grande e verdadeiro mestre

quando se dedica a aprender mais sobre a sua própria vida,

e não quando insiste em ensinar as outras pessoas  a viver as delas.

 

Espero estar me tornando pelo menos um bom mestre, Hermione.

Faça o necessário.

 

Anexado à mensagem havia uma fotografia em preto e branco, em baixa resolução. Não tão baixa o suficiente para que não conseguisse identificar a pessoa no centro da imagem. 

Viktor Krum – A voz de Cedrico se propagou pelos alto-falantes, captando outra vez a minha atenção – Aquele que nunca abriu mão facilmente.

 Os que estavam na minha mesa bateram palmas, seguidos de outros. Olhei para o palco novamente, onde a figura convocada sorria ao se aproximar dos coordenadores. Voltei a fixar os meus olhos na fotografia. Aparentemente, ela fora tirada de uma gravação de uma câmera de segurança de algum estabelecimento ao lado do lugar onde os dois homens estavam. Datada de exatos dez dias, na imagem Viktor recebia de alguém um borrão claro e retangular. Aproximei a foto com os dedos. Pelos contornos, não me restava duvidas sobre o que era o objeto. Aquela era a pasta onde estava o dossiê que Ron trazia consigo, dentro da mochila, no dia do acidente.

     Isso não é possível...

Ri de nervoso.

– O que foi? – Neville indagou, curioso.

– Nada... – respondi de prontidão.

Guardei o celular na bolsa de mão novamente, ciente de que eu precisava fazer algo.

A colação de grau terminou não muito depois, dando continuidade a cerimônia. Alguns professores disseram mais algumas coisas importantes e, logo em seguida, os formandos retornaram as suas mesas. Retornei ao lugar onde eu estava antes e deixei que Viktor se sentasse ao meu lado. Ele sorriu para mim, contente. Assim como Neville fizera antes, Viktor passou o braço pelas minhas costas, me trazendo para mais perto dele.

– Eu tô muito feliz por você ter vindo – ele sussurrou ao meu ouvido.

O fitei, sorrindo de canto.

– Eu também.

Eu já sabia o que iria fazer.

O Buffet principal foi liberado alguns instantes depois. O jantar foi servido, juntamente com as bebidas. Aos poucos, com o passar do tempo, as pessoas foram se dispersando. Cedrico, Viktor e mais alguns outros amigos decidiram sair dali e ir para outro lugar mais animado.

– Ah, larga de ser babaca! Vamo! – Ced deu um murrinho no braço de Neville.

– Sem condições... – Neville negou, zumbificado pelo sono – Eu tô cansado pra caralho. Preciso dormir.

– Dormir é pra os fracos, Longbottom.

– Prazer, esse sou eu.

Rimos.

– E você, Mione? – Cedrico se virou para mim – Não vá me dizer que tá com sono também...?

– Não... – respondi, negando com a cabeça.

– Então você vem com a gente?

– Com certeza.

– Ótimo! Vou chamar os outros!

Cedrico se afastou alguns metros, gritando para algumas pessoas. Automaticamente, Nel me encarou, de cenho franzido.

– Mione?! – havia um questionamento mudo na chamada.

– Tá tudo bem – o tranquilizei – Eu só preciso fazer uma coisa.

Ele abriu a boca, mas eu o interrompi.

– Não pergunte, por favor.

Ced fez sinal com a mão, me chamando. Me levantei da cadeira, apressada.

– Eu vou voltar de taxi. Não pretendo demorar.

Neville concordou com a cabeça, ainda desconfiado. Dei um beijo em sua testa e fui em direção ao grupo.

Nos dirigimos até uma das boates mais conhecidas da cidade, a The Hall. Os meninos já haviam deixado a reserva feita, então não demorou para que nós entrássemos na festa. Uma vez lá dentro, arquitetei um esquema. Eu embebedaria Viktor e o convenceria a me levar até a casa dele.

Ok, não que eu estivesse de acordo com essa postura. Longe disso. Nunca me imaginei embebedando ninguém e, tempos atrás, condenaria imediatamente qualquer um que me dissesse que estava decidido a fazer isso. Entretanto, diante do que eu descobri, eu não via outra solução tão rápida quanto essa. A ocasião era perfeita. Eu não podia desperdiça-la.

Me aproximei de Viktor e pus o meu plano em ação. Para minha sorte, foi incrivelmente rápido. Não precisei fazer quase nada, exceto permanecer ao seu lado. Depois de algumas danças e um pouco de conversa, Viktor já estava bem alcoolizado.

– Seus pais não estão em casa? – indaguei quando achei que era a hora.

Deixei Viktor encostar-se a mim, enquanto dançávamos.

– Não, eles foram dormir na casa da minha tia... – ele respondeu, ao meu ouvido – Preparações pra o natal, você conhece a minha mãe.

Concordei, fingida. Viktor me virou de frente para ele, me segurando pela cintura. Seu toque me dava nojo. Minha vontade era de chuta-lo naquele lugar. Ainda sim, prossegui com o plano.

– E se a gente fosse pra lá...? – sugeri como quem não queria nada.

Viktor me olhou malicioso. Eu havia plantado a sementinha

– Mione, Mione... – ele deveria estar se divertindo com isso – O que aconteceu com você...?

– É só uma sugestão... – o provoquei – Você não se lembra de quando éramos adolescentes...

– Era difícil te arrastar até o meu quarto naquela época...

– Pois é – sussurrei – Mas os tempos mudam, as pessoas também...

Deixei a mensagem no ar. Viktor sorriu mais uma vez, se sentindo vitorioso. Ele enlaçou nossas mãos.

– Vamos – anunciou, decidido.

Eu reguei. A árvore crescera. A primeira parte do plano dera certo.

Seguimos em meio à multidão da boate até a saída. Ele estava tão afobado que nem se dera o trabalho de se despedir dos outros. Melhor assim. Andamos até o estacionamento. Viktor destravou o carro e eu entrei um pouco amedrontada. Ele estava alcoolizado e dirigir sob essas condições não era uma das coisas mais seguras da face da terra.

     O risco é válido, Hermione.

Pensando nisso, mantive a minha postura. Viktor deu a volta no automóvel e se sentou no banco do motorista. Antes de ligar o motor, ele me puxou em sua direção, visando me beijar. Mais uma vez mantive o controle depois de um esforço abissal.

– Ei... – me desvencilhei antes que os nossos lábios se tocassem, escorregadia – Não queira comer o bolo antes da festa.

– É só um pedaço... – Viktor pediu, impaciente.

– Nada disso – neguei com a cabeça, sorrindo provocativa – Seja paciente... – insisti – Vamos sair daqui logo...

Ele acelerou o carro quase que imediatamente. Chegamos a sua casa em poucos minutos, dada à velocidade qual o percurso foi feito. Viktor abriu a porta com um pouco de dificuldade. Nós subimos para o seu quarto. Assim que entramos no cômodo, fui novamente agarrada por trás.

– Eu até que gosto dessa nova, Hermione, sabe...?

– É mesmo...? – tentei enrolar – Por quê?

– Ela tem atitude – ele sorriu.

     Você não sabe o quanto.

– Eu gosto disso...

– Ah é? Mas sabe do que eu ainda gosto?!

– O quê?

– Do clima romântico que você criava, pra me agradar...

Viktor sorriu ao meu ouvido e se afastou. Ele andou até a lareira antiga, no canto do quarto a acendeu o fogo. Uma das luzes do cômodo foi apagada, nos deixando na penumbra. Antes de vir até a mim novamente, Viktor tirou a camisa que usara por baixo do terno e jogou em um lugar qualquer do quarto, exibindo o peito nu. Há meses atrás eu teria achado tudo isso perfeito, mas agora aquela situação me causava repulsa.

– Tá melhor agora? – ele me perguntou, vindo em minha direção.

– Está perfeito – mantive o meu sorriso dissimulado.

Viktor não esperou. Ele beijou o meu pescoço com vontade. Meu estômago embrulhou, enojado. Fui guiada até a parede lentamente, com ele entretido no que estava fazendo. Mesmo de cara feia, olhei ao meu redor, procurando uma solução, pois meu estoque de desculpas já havia acabado. Encontrei uma quando mirei a estante. Viktor se afastou momentaneamente do meu corpo e me encarou.

– Eu estava com saudade, Mione... – ele falou, passando a mão pelo meu rosto.

Aquele era o momento.

– Sabe, Viktor... – o encarei, decidida – Eu não.

Ele franziu a testa, sem entender. Antes que a minha coragem fosse embora por completo, estiquei a mão e peguei um apoio de papel que estava ao meu lado, na bancada da estante. Bati com a peça na têmpora do homem a minha frente. Viktor caiu aos meus pés, desmaiado. Me afastei rapidamente. Meu corpo tremia quase que incontrolável.

– Eu sabia que as aulas de fisiologia humana iriam servir pra alguma coisa um dia – sussurrei para mim mesma.

Agora eu tinha uma missão, encontrar o dossiê. Eu precisava ser rápida. Porém, antes de fazer qualquer coisa, fui até a porta e pus a chave pelo lado de fora da fechadura, como medida de segurança. Logo depois, me voltei ao quarto novamente e comecei a vasculhar o lugar por alguns minutos.

     Onde essa pasta deve estar...?

Tentei organizar o meu pensamento, pois eu precisava poupar tempo. Se eu fosse o Viktor, onde eu esconderia uma informação dessas?

Quando éramos mais novos, Viktor tinha o costume de esconder o dinheiro das suas apostas no colégio em um lugar especifico, para que a mãe não encontrasse. Tudo naquele quarto ainda me parecia igual como antes. Talvez o meu palpite estivesse certo.  Fui até o guarda-roupa embutido e puxei para o lado as roupas estendidas no cabide.  A caixa continuava lá. Abri a tampa de MDF e sorri para mim mesma.

– Os melhores esconderijos são os lugares mais óbvios...

Peguei o dossiê de dentro da caixa. Eu estava prestes a fechar o armário novamente até que percebi um movimento as minhas costas. Viktor havia acordado. Olhei pelo ombro, ele se levantava com dificuldade, apertando a têmpora com a mão. Ao ver que eu ainda estava ali, sua expressão mudou rapidamente. Havia fúria em seu olhar. Não esperei. Nesse instante, tentei correr, mas ele também avançou. Fui puxada bruscamente pelo braço.

– Sua vagabunda! – ele me sacodiu, enquanto eu tentava me desvencilhar.

– Você tá me machucando! – gritei, desesperada.

Infelizmente, fisicamente, Viktor era mais forte que eu. Ele tomou a pasta dos meus braços. Tentei pegar de volta, mas foi em vão.

– Esse teatro todo foi por isso, Hermione?! – Viktor estava transtornado – Por aquele ruivinho de merda?!

– Lave sua boca pra falar do Ron! – vociferei – Ele é muito mais homem que você!

Vi que suas narinas se abriram, exasperadas. Achei que Viktor avançaria novamente na minha direção novamente, mas, vi que ele se controlou.

– Ah, é?! – ao invés de reagir, ele abriu um sorriso louco – Então olha o que eu faço com as provas de vocês...

Sem que eu esperasse, o dossiê foi jogado na lareira acesa. Me desesperei.

– Não!

Corri até o fogo e me abaixei, tentando salvar algo. Não obtive êxito. Exceto por duas únicas folhas que se desprenderam da pasta e caíram no chão, o resto fora perdido. Viktor continuava rindo insanamente atrás de mim.

– Como você foi capaz de forjar aquele acidente?! – exclamei, em plenos pulmões – Tentar matar uma pessoa inocente e indefesa! Isso é crime!

– Não, não, não. Eu não forjei nada...! – ele apontou na minha direção – Eu apenas me aproveitei da situação.

– Quem te passou isso aqui?! – mostrei as páginas na minha mão – Quem te passou esse dossiê?!

– Eu não sei... –Viktor abriu os braços, negando com a cabeça – E quer saber, pouco me importa. Com esse dossiê eu tinha o Malfoy em minhas mãos, caso eu precisasse disso no futuro, mas sem ele, nada muda. Eu continuo na vantagem.

Me levantei, dobrando os papeis rapidamente. Ele continuou.

– Mas eu te digo uma coisa, Hermione, essa pessoa me fez um favor. Era pra o Weasley ter morrido naquele acidente.

– Cala a boca!

– Ele deveria ter se despedaçado naquele penhasco.

– Você é louco...

Senti meus olhos marejarem. Mais que a raiva, a decepção tomou conta de mim. Me preparei para sair do quarto.

– Aonde você pensa que vai?!

– Pra longe de você!

Viktor avançou, mais uma vez. Fui barrada com violência. O empurrei com o máximo de força que eu pude. Ele se desequilibrou e caiu pela lateral da cama. Corri em direção à saída do quarto. Como eu imaginei, Viktor se levantou rapidamente e partiu atrás de mim, furioso. Por sorte, consegui ser rápida o suficiente para não ser alcançada. Assim que passei, bati a porta e girei a chave. Pude sentir a vibração do corpo dele se chocando com a madeira.

– Hermione! – ele bradou, batendo na porta com força – Hermione, abre essa porra dessa porta!

Eu tremia descontroladamente. Olhei para os lados, me situando.

– Mione, meu amor! – Viktor gritou mais uma vez – A gente não precisa ficar assim. Podemos esquecer isso...

– Você é doente, Viktor! – esbravejei em resposta, segurando com força as duas únicas folhas de papel que eu consegui salvar – Completamente doente!

– Hermione, abre essa merda!

Viktor chutou a porta com força. Me afastei mais ainda, assustada, e com lágrimas nos olhos. Não esperei mais nenhuma reação. Desci as escadas rapidamente, um pouco bamba, e corri para fora da casa. Uma lufada de ar me recebeu do lado de fora, arrepiando a minha pele. Andei mais alguns metros, até uma área mais movimentada, e fiz sinal para um dos táxis parados na lateral da rua. Um dos homens confirmou com a cabeça e veio até a mim. Entrei no veículo, afobada.

– Só segue, moço – ordenei, ofegante – Por favor...

Ele acelerou o automóvel, obedecendo. Pela janela do carro vi Viktor alcançar à calçada, revolto, logo depois. Subi o vidro de imediato, antes que ele me visse, e me permiti chorar copiosamente por alguns minutos.

– Ei, menina... – o taxista me chamou, olhando pelo retrovisor – Tá tudo bem?

Assenti com um movimento de cabeça, desfazendo o coque dos meus cabelos.

– A senhora quer parar em algum médico?

– Não...

– Então pra onde vamos? – ele perguntou, preocupado.

Não respondi de imediato, só apoiei mão na testa, cansada. Pensei em tudo o que eu tinha visto naquela noite. Nas barbaridades que Viktor me dissera. De repente, algo veio a minha cabeça. Passei a mão no antebraço, por cima da minha pulseira.

     E se...?

Talvez não fosse tanta loucura assim.

Olhei no relógio digital, pregado junto ao volante. Eram 02h40 da manhã.

– Segue pra o aeroporto, moço.

Não precisei falar duas vezes. O homem fez um retorno e entrou na via que nos levava até lá. Abri minha bolsa e conferi algumas coisas como documentos e cartão de crédito, antes de pegar o celular e procurar um número que eu nunca tinha discado antes. Foram três toques até que alguém atendeu ao telefone.

– Alô?

– Alô, Angelina?

– Hermione?! – o tom de surpresa era claro – Aconteceu alguma coisa?

– Não, não... – me apressei a responder.

Engoli a seco, nervosa.

– Na verdade, eu preciso de um favor seu...

– Mione, eu tô no aeroporto agora.

– Eu sei, por isso que eu liguei. Eu preciso que você compre uma passagem pra mim, no mesmo voo que você.

Angel soltou uma gargalhada.

– É serio isso? – ela disse, entre risos – Meu voo sai em uma hora, Hermione. Não vai dar tempo de você chegar aqui.

– Eu já tô no taxi – repliquei, subitamente envergonhada.

Ela riu com vontade novamente, sem me dar resposta.

– Angel, por favor... – insisti – Eu preciso disso. Você não sabe o quanto...

Mais alguns segundos e ela soltou o ar do outro lado da linha, abafando um pouco o áudio.

– Ok, eu compro.

Respirei aliviada.

– Obrigada – agradeci, sincera.

– De nada – ela respondeu, divertida – Me passa seus dados por mensagem, o mais rápido possível. Eu vou ver o que eu posso fazer aqui.

– Tudo bem.

– Pode sair um pouco cara a passagem.

– Não tem problema.

– Certo... – ela concordou – Então, até daqui a pouco.

Nos despedimos brevemente e eu desliguei a ligação, apressada em enviar os dados que ela me pediu. Quando eu cheguei ao aeroporto, não muito depois, Angelina já havia comprado à passagem.

– Vem, rápido! – ela me apressou – Você ainda tem que despachar a bagagem.

– Eu não tenho bagagem – eu disse.

Angel parou de andar, de súbito, de olhos arregalados.

– Como assim você não tem bagagem?!

– Eu vim direto da formatura pra cá.

– O que você vai vestir quando chegar lá?

– Não sei...

– Que porra foi que deu em você, Hermione?!

– Não faço a mínima ideia...

Ri de mim mesma, levantando os ombros. Ela me acompanhou. Minutos após o número do voo foi anunciado, chamando os passageiros. Seguimos até o local de embarque. Já dentro do avião, eu contei tudo o que havia acontecido a Angelina. Desde a fotografia até tudo o que Viktor me dissera. Ela ficara bastante chocada.

– Filho da puta!

Angel se jogou na poltrona, abismada.

– Mas o Krum não disse quem passou o dossiê pra ele? – ela indagou.

– Ele disse que não sabe, que alguém entrou em contato com ele, oferecendo as provas...  – respondi, também me recostando.

– E você acredita nisso?

– Não sei. Pra ser sincera, pra mim tanto faz. O que importa é que vou descobrir quem foi. E essa pessoa vai pagar caro. O Ron podia ter morrido.

Ela meneou a cabeça em concordância, tão decidida quanto eu.

O resto da viagem prosseguiu de forma tranquila. Chegamos à casa dos Weasleys bem cedo, pouco depois das seis da manhã. Assim que descemos do táxi, analisei o prédio a minha frente. A Toca, como era chamada a construção, era uma casa grande, mas aparentemente simples. Muitas pessoas não dariam nada por ela, em seu aspecto peculiar, aparentemente meio torta, mas eu, particularmente, achei a casa bem engraçadinha.

Andamos até a varanda aberta. Ouvi alguns movimentos dentro da construção. Já havia gente acordada, provavelmente a Sra. Weasley.

– Preparada? – Angel me perguntou, com um sorriso maroto no canto dos lábios.

– Não... – respondi, sentindo o meu estomago embrulhar.

– Só lamento por você.

Ri, apreensiva. Apertei minhas mãos uma na outra. Meus dedos estavam gelados.

– Vamos lá...

Angelina bateu na porta grossa de madeira umas três vezes seguidas e retornou ao meu lado. Poucos segundos depois, um barulho leve de chave se manifestou e a maçaneta foi girada, revelando quem abrira a porta. Ron nos olhou e piscou consecutivas vezes, visivelmente confuso. Ele abriu a boca, sem saber o que dizer.  Eu não esperei. Pulei em seu pescoço e o abracei com o máximo de força que eu pude.

Senti meu coração mais brando quando Ron retribuiu, na mesma intensidade.


Notas Finais


E aí? O que acharam?!
Me contem aqui nos comentários! Eles são muito importantes para a evolução da história!

Informação sobre as próximas datas e outros detalhes na page. Dá uma olhadinha!
==> https://www.facebook.com/Mrs-Ridgeway-1018726461593381/

Estarei de volta no 11, com o ultimo capítulo da temporada e mais algumas surpresas...

Beijos!


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...