1. Spirit Fanfics >
  2. A vez de Lacey >
  3. Não-me-esqueças

História A vez de Lacey - Não-me-esqueças


Escrita por: CameliaBardon

Notas do Autor


Oi ♥
Chegamos na minha irmã preferida, a estabanada dos livros. Por que será, não?

Capítulo 3 - Não-me-esqueças


Fanfic / Fanfiction A vez de Lacey - Não-me-esqueças

Lacey não tinha por hábito escrever enquanto viajava de carruagem. Porém, contando com o fato de que Lacey não tinha por hábito viajar de carruagem, Lacey se permitiu uma dose de autocomiseração quanto à caligrafia com traços repuxados aqui e ali. Era apenas um rascunho, para matar o tempo. Se errasse seus registros com tinta, contudo, aí então seria humilhante.

Não-me-esqueças, era o título da página. Embaixo, o subtítulo: Myosotis sylvatica, o qual Lacey tomava o cuidado especial de caprichar. Uma vez que Janessa a ensinara sobre nomenclatura binomial, Lacey considerava-as de extrema importância. Diferente de Janessa, entretanto, Lacey se apropriava dos nomes científicos para fins estéticos. Embora desorganizado, o rascunho era perfeitamente legível:

 

Não-me-esqueças

Myosotis sylvatica

Verão/primavera

Sol e umidade

Sinceridade no amor

(espaço para prensa)

 

Lacey deu-se por satisfeita. Como se estivesse espionando-a, o cocheiro estacionou a carruagem bem quando Lacey finalizou suas anotações. Ela teve de resistir a um forte impulso em resmungar, porquanto que conhecia o suficiente de etiqueta para lembrar-se de que, se aquilo se tornasse um costume, a próxima Lady Winters seria ela. Com um arrepio passando pela espinha, Lacey reafirmou para si mesma que aquilo jamais aconteceria.

Aceitando o auxílio do cocheiro para descer da carruagem, Lacey afastou a terrível Lady Winters da nuvem de pensamentos para concentrar-se no presente. Como dizia seu caderno de rascunhos, o dia era de quem amava miosótis. Estranhamente, ao vê-la Lacey sempre se recordava da valsa do Danúbio Azul... Deve ser o vestido, riu sozinha ao acenar para a irmã que viera recepcioná-la ao ouvir a carruagem.

A dama de azul, também conhecida por Princesa Courtney, número 3 e gerente da biblioteca pública, sorriu delicadamente para a irmã mais nova. Como miosótis, Courtney era modesta e retraída. Um sorriso daqueles, portanto, era um grande presente.

— Seja bem-vinda, Lace! Como vai hoje? Foi boa a viagem até aqui? Está com fome?

— Vamos com calma! — Lacey gargalhou, precipitando-se para abraçar a irmã.

— Ah, me desculpe... Aqui é quieto, até me esqueço de que gosto de tagarelar esporadicamente!

— Imagine, imagine! Vejamos... Obrigada, vou muito bem, foi uma viagem tranquila e já comi, mas se quiser me oferecer uma xícara de chá eu ficarei muito feliz.

— É uma ideia maravilhosa. Paul deixa o chá pronto desde cedo.

Sei bem disso, Lacey sorriu sozinha enquanto ela e Courtney caminhavam pelo átrio do edifício singelo. Lacey achava curiosa a estrutura da casa: no andar de baixo, encontrava-se a “biblioteca” do reino, que nada mais era do que um compilado de livros do acervo pessoal de Courtney e Paul, seu esposo. Ambos eram feitos um para o outro até mesmo nesse sentido – como professor e tutor, Paul conservava mais livros técnicos, diferente de Courtney, que devorava páginas e páginas de romances. No andar de cima, encontrava-se o lar modesto do casal. Se questionados quanto à segurança de morar e trabalhar no mesmo local, Paul e Courtney se entreolhavam e riam. E eles irão roubar o quê de bem material? Os livros têm muito valor, mas este é um valor sentimental.

Por falar em Paul, Lacey supôs que ele estivesse no andar de cima estudando a próxima aula que daria. Boa parte delas era voluntária, uma vez que Courtney tinha seu direito à herança como terceira mais velha. Apesar de ainda sorrir e realizar mesuras quando a tratavam por “Sua Alteza”, Courtney sorria bem mais quando era chamada pelo sobrenome do esposo.

— Podemos falar normalmente... Paul está lá em cima com um de seus alunos. Geralmente não temos tantos visitantes nesse dia da semana — Courtney comentou enquanto servia as xícaras de chá, o que fez parecer que ela não falava com ninguém em específico. — É um menino muito inteligente, o Julian.

— Que bom que escolhi um bom dia para ver — Lacey sorriu, resgatando a xícara com carinho. — Oh, eu sei! Luke me contou que ele é muito atencioso. Eu penso que é bom para uma criança aproveitar enquanto sua curiosidade está no auge.

— Sem dúvidas. Incentivar uma criança a estimular seus talentos ao invés de inibi-la é o primeiro passo para que ela venha ser um adulto saudável. A mamãe costumava pensar assim... Não com todas essas letras, é claro. Mas hoje conseguimos equilibrar os passatempos com os deveres, por exemplo.

Lacey sorriu ante a menção da mãe. Era bem mais reconfortante ter a rainha Isabella vivendo nas memórias das irmãs mais velhas do que não ter nada a se apegar. Algo que a caçula aprendeu ao longo dos anos era que o contrário acontecia a elas – era um prazer dividir as lembranças da mãe com as mais novas. Relembrar as memórias boas de alguém ajudava a manter viva a pessoa em si... No coração.

— Mas não veio aqui para falarmos do Julian, veio?

— Bem, se levar em conta que sequer sabia que ele estaria aqui hoje...

Courtney riu em seu tom baixo de praxe. Em seguida, tomou um gole de seu chá com toda a calmaria do mundo.

— Não, eu... Vim para conversar — imitando-a, Lacey ingeriu o líquido morno com gosto. Chá de camomila... Precisaria de uns quinze desses para ter a calma que Courtney tem... — Sabe, você é a mais centrada de nós... Mentalmente, ao menos. E sem deixar de ser imaginativa. Qual é o segredo?

— O... Segredo?

Courtney piscou algumas vezes, raciocinando na pergunta e todos os seus espectros por trás das motivações. Por ouvir mais, Courtney havia desenvolvido uma habilidade nata em decifrar as motivações alheias. Apesar de ter suas suspeitas, era necessário mais do que apenas palpites.

— É, eu... Como faço para ser séria sem ser chata? Sabe... Ter passatempos divertidos, como as outras...

— Está com medo de virar Lady Winters, por acaso?

Lacey olhou-a por trás da xícara de chá. Seus olhos azul-turquesa cintilaram com a perspectiva.

— Seria muito bobo da minha parte se eu dissesse que sim...?

— Ah, não, querida. Existe apenas uma Lady Winters por vez no mundo. Não se preocupe.

— Está me dizendo que tenho que me preocupar quando ela morrer?

Courtney riu, finalizando a xícara de chá. Lacey, embora segurasse a xícara, havia se esquecido do chá em si. Por isso, ela tomou um gole um tanto desnorteada quanto aos próprios sentimentos.

— Acho que funciona por método de nascimento... Quando uma morre, nasce outra.

— Ah, ufa! Sinto-me bem mais feliz agora!

Ambas compartilharam um riso sincero, ao passo que igualmente viraram-se simultaneamente para olhar para trás quando os passos na escada ressoaram pelo andar vazio. Paul e Julian, sua cópia menor, conversavam animadamente sobre qualquer coisa relacionada à geologia. Courtney sorriu de escanteio, ainda encantada em ver o marido como na primeira vez, quando ainda trocavam livros de presente como forma de cortejo. Se continuar mandando-me tantos livros, não sobrará nenhum para os seus alunos, escreveu ela. A princesa ainda guardava seu singelo bolinho de cartas e relia-as sempre que Paul precisava ausentar-se por mais tempo que o de costume.

— Estamos atrapalhando? — Courtney sorriu, polida e carinhosa como sempre.

— Ah, não, já estávamos de saída — Paul riu baixo, assim como seu tom de voz. Lacey às vezes cogitava se isso era algum costume para que os alunos fossem obrigados a chegar mais perto para ouvir. — E nós, atrapalhamos vocês?

— Com seu timbre de voz, querido? Não atrapalhariam nem um monge!

Julian riu de sua piada. Apesar de ser um garoto sério demais para seus cinco anos, conservava seu bom-humor inabalável para as melhores situações. Seus olhos azuis cintilantes sorriram para as duas princesas.

— Bom dia, Altezas! Senhora — concluiu ele, com uma mesura educada.

— Vou levar este aqui de volta para casa. Volto dentro de meia-hora. Gostariam de algo do mercado?

— Por que não compra aqueles rocamboles de açúcar e canela que vendem na padaria? — Courtney sugeriu, levantando-se para beijar o esposo na bochecha. — E um grande caneco de leite para tomarmos à tarde?

— Seu pedido é uma ordem, Alteza. Até mais tarde?

Lacey acenou de maneira simpática. Derreter de amores pelo relacionamento dos dois ficaria para mais tarde, afinal de contas.

❀⊱┄┄┄┄┄┄┄┄┄┄┄⊰❀

— Posso ser suspeita para dizer, mas tenho certeza de que há algum livro botânico por aqui. Não é uma ala que eu visite com frequência.

Lacey e Courtney caminhavam por entre as estantes, tendo como companhia o aroma das páginas antigas morando nas prateleiras e os cinamomos que vez ou outra deixavam escapar alguma folha dentro da biblioteca. A mais nova perdeu-se na tarefa de prestar atenção nos livros que lhe eram ofertados para tirar tempo para olhar as folhas agitando-se com o vento. Era tão pacífico...

— Ah! Aqui! Orquídeas, na Enciclopédia Botânica, volume 4. Pode ficar com ele quanto tempo quiser.

— Obrigada, Courtney — Lacey segurou o livro quando a irmã o passou, abraçando-o contra o peito. — Farei bom uso. Não quero gastar minhas sementes e brotinhos antes de descobrir qual é o modo correto de cultivá-los.

— É uma atitude muito sensata da sua parte.

Lacey abriu um largo sorriso com o elogio. Já Courtney sentou-se em sua poltrona, confortável com seu extenso livro épico. Com pouco mais de trinta anos, Courtney havia começado a aventurar-se em livros de aventura e magia. Talvez também estivesse com saudade dos velhos tempos...

— Então — iniciou ela, assim que Lacey sentou-se ao seu lado. — Você quer saber como ser séria sem ser chata?

— É...

— E o que te faz pensar que você é séria demais ou chata, Lace?

— Não é exatamente isso. Está mais para... Eu quero prevenir que isso não aconteça. Porque talvez eu não tenha um passatempo preferido ou um talento especial para me destacar das outras... Sinto-me atrasada nisso.

Courtney analisou-a com cuidado, desta vez conseguindo ler suas motivações através dos olhos turquesa. Ela lembrou-se de quando se sentia assim, na idade dela. Com duas irmãs mais velhas tão incríveis e duas mais novas tão ativas, era difícil não se sentir pequenina.

— Se eu não encontrar um passatempo em que me destacar, quero saber como crescer sendo alguém agradável... E não reclamando pelos cantos por não saber nada. Quero ser uma boa perdedora. Entende?

— Entendo. Mas não precisa provar nada para ninguém... Nem para si mesma. Sabe disso, não sabe?

— O que quer dizer com isso...?

Deixando os livros na mesinha ao lado, Courtney suspirou no intuito de organizar os pensamentos. Jogando os cabelos castanhos para trás, ela voltou-se para a irmã carinhosamente.

— Quero dizer que, muitas vezes, já temos um talento. Mas, por olharmos muito para o lado, é bem comum tropeçarmos ou trombarmos com algum objeto no caminho. E sei do que estou falando, eu leio muito andando.

Lacey riu baixinho, parando para prestar mais atenção às palavras da irmã.

— Não é errado querer ter mais que um talento. Mas, geralmente, descobrimos os talentos por acidente... E não por buscá-los desenfreadamente. Eles nos escolhem, Lacey.

Fazia sentido... Apesar de parecer um tanto poético demais.

— E como eu sei se um talento me escolheu? — Lacey sussurrou, com medo de que se ela dissesse as palavras em voz alta se comprometeria com o talento oculto que ainda não a havia encontrado. — Como você soube que a leitura tinha te escolhido?

— Bem... Quando a mamãe me deu a minha cópia de As Princesas Bailarinas, eu me apaixonei na hora. Um mundo mágico tinha se aberto para mim. Nem em questão da história se tratar de magia. Eu só... Achei incrível que fosse possível ter um mundo novo e mágico em coisinhas tão pequenas quanto um livro. A cada dia que passava, era a primeira coisa que eu ansiava fazer: ler e descobrir mais um mundo. É assim que um talento te encontra.

— Temos um problema, então... A primeira coisa que quero fazer quando acordo é tomar café... E comer não é um talento...

Courtney riu, e Lacey parabenizou-se por arrancar tantas risadas longas da irmã. Apesar de não serem as mais próximas, nenhuma das doze tinha favoritas entre si. Agora que a diferença de idade entre todas havia atingido um patamar mais equilibrado, até mesmo as trigêmeas sentiam-se bem-vindas em todas as programações. Se Lacey havia rido por tantos anos das piadas das mais velhas, agora era hora de balancear as coisas.

— Ah, você entendeu o que eu disse! Acha que funcionou para esclarecer um pouco as coisas, Lace?

— Acho — Lacey sorriu, abraçando-a de lado. — E não poderia estar mais contente por ter uma irmã com uma linha de pensamento tão lógica e tão sensível. Obrigada, Courtney.

Com as bochechas coradas, Courtney retribuiu o abraço. Lá fora, as folhas dos cinamomos cantavam ao ritmo do vento da tarde. Então, quando Lacey pensou que estava tudo pacífico demais para o mundo real, Courtney comentou num tom cômico e provocativo:

— Então... Luke, hein?

— Ah, eu sabia que estava tudo muito calmo... — Lacey resmungou, afundando-se em sua poltrona.


Notas Finais


Digam para mim o que estão achando, vou amar conversar com vocês :3
Até semana que vem!


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...