Terça-feira, dia 27 de agosto, numa sala de aula
— Ei, Fábio, que aula é essa mesmo? — Henry pergunta, cutucando o ombro de Fábio com impaciência.
— Meu Deus, Henry, você já disse isso pela quinta vez hoje — Fábio responde, lançando um olhar cansado para o amigo. — É Resistência dos Materiais, como sempre.
Henry dá um suspiro aliviado, como se finalmente tivesse entendido algo que vinha o atormentando. Ele abre o caderno, mas as páginas em branco parecem zombar dele.
— Não sei por que você pergunta isso se nem copia nada — Fábio comenta, balançando a cabeça em desaprovação enquanto continua a anotar o que estava na lousa.
Henry sorriu de lado, sem realmente se importar com a crítica.
— É um plano, você não entende — ele responde, com um brilho de fragrância nos olhos. — Se o professor passar por aqui, ele vai ver que estou na matéria dele, provavelmente fazendo uma atividade muito importante.
Fábio não consegue conter uma risada.
— Ah, não, Henry, você é inacreditável.
O professor, sem perceber a conversa na sala, continua a escrever suas anotações na lousa, quase enchendo-a por completo. Ele alterna entre suas canetas pretas para escrever, as azuis para destacar conceitos importantes, e as vermelhas para desenhar os circuitos dos exercícios. A sala, com 23 alunos, é dividida entre aqueles que prestam atenção e outros que claramente perderam o interesse. Seis alunos se aglomeram no fundo, conversando e confundindo no celular, enquanto os outros 17 estão na frente, alguns atentos, outros apenas fingindo.
No fundo da sala, Igor ajeita os óculos enquanto se inclina em direção a Mateus.
— Aí, eu chamei ela pro cinema, né — diz Igor, como se estivesse compartilhando um segredo importante.
— Sério, Igor? Para assistir o quê? — Mateus pergunta, interessado.
— "É Assim Que Acaba" — responde Igor, com um ar de satisfação.
— Nossa, mano, mentira que você vai assistir isso! — Diego se intromete na conversa, sua voz cheia de descrição.
Mateus não deixa passar a oportunidade de provocá-lo.
— Cala a boca, Diego, ninguém te chamou, pô — ele diz, apontando para Diego.
— Eu li o livro, tá? E é péssimo — Diego retruca, cruzando os braços em desafio.
Enquanto a discussão se intensifica, Henry e Fábio observam uma cena de longa duração, contendo risos. A leveza da situação traz uma pausa bem-vinda no tédio da aula. Quando uma conversa no fundo finalmente se esgota, a aula segue normalmente até seu término, e todos começam a arrumar suas coisas para a próxima aula.
— Bem, foi bom até agora, mas preciso ir — diz Igor, enquanto digita algo no celular com uma expressão específica.
— Mas você não vai para a próxima aula? — pergunta Henry, levantando uma sobrancelha.
— Eu vou com você, Igor — Diego se oferece, mas sua voz não esconde a intenção de seguir o amigo mais por curiosidade do que por vontade própria.
Igor, no entanto, balança a cabeça.
— Sai, Diego, não quero ninguém de vela, não.
Fábio, sempre o pragmático, lança uma advertência com um sorriso de canto.
— Essa mulher tá te levando pro mau caminho, irmão.
Igor sorri, mas seus olhos refletem uma determinação que vai além da provocação.
— Não existe mau caminho pro amor, Fábio — diz ele, se afastando com um aceno.
Fábio e Henry trocam olhares e, com um suspiro, se resignam à próxima aula.
— E agora restamos nós três, né? — comenta Henry, já antecipando o que virá a seguir.
— Na verdade, não. Eu também preciso ir atrás da minha alma gêmea — diz Diego, sorrindo com malícia.
— Mas você conhece ela há três dias! — Fábio exclama, quase sem acreditar.
— Cala a boca, Fábio, cala a boca — Diego ri, afastando-se rapidamente.
Agora apenas Henry e Fábio seguem para a aula. É a aula mais temida pela turma, aquela em que a maioria já está derrotada antes mesmo de começar. Alguns alunos estão com a cabeça baixa, lutando contra o sono, enquanto outros tentam anotar o que podem. Fábio, sempre atento ao que realmente importa para ele, verifique o telefone discretamente, sem que a professora perceba. Henry, por outro lado, encara a lousa, mas sua mente viaja para outro lugar.
Pensamento de Henry
Ele se vê num bote de madeira, navegando por um mar infinito e vazio. O único som que o acompanha é o suave vaivém das ondas, e o céu acima exibe uma pintura de nuvens deslumbrantes. O menino está deitado no bote, os olhos fechados, deixando-se embalar pelo ritmo constante do mar. O calor do sol em seu rosto é reconfortante, como se ele estivesse sendo abraçado por uma força invisível e protetora. Ao abrir os olhos, ele vê as nuvens formando pequenos animais, objetos e rostos familiares. Um, em particular, chama sua atenção e o deixa pensativo: o rosto de uma garota com cabelos lisos, olhos verdes e um sorriso alegre. A imagem dela provoca uma sensação que ele tenta ignorar, mas não consegue. O menino no barco se senta, agora inquieto, e olha fixamente para o mar, tentando se distrair, até que ouve uma voz que ecoa em sua mente: "Entendeu?". Ele esfrega os olhos, e ao abri-los novamente, vê o rosto de uma senhora emergindo do mar, dizendo: "Entendeu, senhor Henry?". Assustado, ele se mexe bruscamente, fazendo o bote virar, e então acorda abruptamente na sala de aula.
— E-entendi, entendi — Henry responde, ainda atordoado, com os olhos arregalados enquanto encara o rosto da professora, que o observa com uma mistura de curiosidade e riqueza.
- Hmm. Está certo. Semana que vem darei uma prova sobre o assunto. Bom intervalo — diz a professora, antes de se afastar, deixando Henry recuperar a respiração.
Os alunos se levantam e se espalham pelo corredor, ansiosos pelo intervalo. Fábio e Henry caminham juntos, observando Igor e uma garota conversando de forma animada. Diego, por sua vez, está sentado sozinho, absorto em um livro. O tempo passa rapidamente, e o sinal toca, chamando todos de volta para a realidade das aulas. A próxima aula começa de forma rotineira, até que a professora traz uma mudança inesperada.
— Hoje, a gente vai fazer grupos de 2 a 4 pessoas para uma atividade rápida. Façam e me entreguem, que eu libero vocês — anuncia a professora, provocando uma onda de entusiasmo na sala.
Henry, Igor, Fábio e Bruno se juntam rapidamente, formando um quarteto. Enquanto Bruno começa a trabalhar diligentemente, Igor e Fábio conversam e brincam, com Henry rindo de suas piadas.
— Você sabe que preciso de ajuda aqui, né? — diz Bruno, sua voz carrega de frustração, enquanto tenta dar conta da tarefa sozinha.
— Verdade, né — dizem Fábio e Igor, finalmente se voltando para a tarefa, enquanto Henry continua rindo.
No final, todos ajudem Bruno, que se levanta para entregar a atividade à professora.
— Então, Igor, como foi com sua alma gêmea? — pergunta Fábio, com um tom de curiosidade maliciosa.
— Verdade, né, como foi? — completa Henry, mais sério.
— Foi bom, né — diz Igor, mas há uma falta de entusiasmo em sua voz.
— Só isso? — Henry levanta as sobrancelhas, aguardando mais detalhes.
— Ué, você quer que eu fale o quê? — Igor ri, mas há algo em seu sorriso que parece não estar completo.
Após essa breve conversa, as três etapas para o pátio. Henry e Igor se despedem de Fábio e começam a andar em direção a suas casas. Eles conversam e riem, mas há uma leve tensão no ar, algo não dito.
Quando chega ao ponto em que seus caminhos se separam, Igor faz uma pausa, olhando seriamente para Henry.
— Até amanhã, Henry — diz Igor, mas antes de partir, ele solta a pergunta que estava em sua mente o tempo todo. — Ah, Henry, não tá na hora de você achar alguém, não?
Henry, pego de surpresa, sente o peso da pergunta.
— Eh... o que você está falando? — ele respondeu, confuso, tentando ignorar o nervosismo que cresce em seu peito.
— De você ficar com alguém — Igor fala com mais clareza, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.
Henry olha para o chão, evitando o olhar de Igor.
— Eu... não estou bem assim — diz ele, sua voz baixando.
Igor, percebendo a resistência do amigo, tenta aliviar o clima.
— Amanhã a gente faz alguém ficar com você — brinca, dando um soco leve no ombro de Henry.
Henry ri, mas o riso é solicitado.
— Cara, eu não quero isso — ele responde, tentando parecer despreocupado.
— Eu sei, eu sei. Até amanhã, então — Igor se despede, indo embora, mas ainda preocupado com o amigo.
Enquanto caminha até o terminal, Henry reflete sobre o que aconteceu. As palavras de Igor ecoam em sua mente, misturadas com o rosto da garota do seu sonho. Ele pega o ônibus e o metrô até chegar em casa, o tempo todo envolto em seus pensamentos.
"Eu não preciso de alguém, né? Não de novo", ele se perguntou em silêncio.
Após tomar um banho quente e jantar em silêncio, Henry se deita na cama. Ele fecha os olhos, mas o sono demora a vir. O sonho na sala de aula continua a assombrá-lo, e ele se pergunta, quase em uma sugestão: "Será que ela ainda se lembra de mim?".
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