Escrita por: ROCKSTAR
Pablo apareceu na secretaria dez minutos após o término da aula. Ele queria saber se o próximo feriado, que cairia numa quinta-feira, iria emendar ou não com a sexta-feira. Não, não iria. Teria aula normal. Mais alguma coisa? Não. Mas ele ainda se demorou um pouco sentado na cadeira. Rui fingiu estar vendo alguma coisa na tela do computador. Voltou o olhar para Pablo e disse assim: tenho interesse sim. Pablo fez: hã? O Rui perguntou: não foi você quem deixou o recado? Pablo confirmou com a cabeça.
— Que dia está bom pra você?
— Pode ser hoje mesmo. Você já tá de saída?
— Saio seis horas.
— Eu te espero ali no pátio.
Tinham tido essa conversa na frente da Alicia. Ela estava concentrada no trabalho e nem prestou muita atenção.
Quando deu seis horas, Rui escovou bem os dentes e saiu para o pátio, onde Pablo o esperava ouvindo música nos fones de ouvido. Ele os retirou quando o outro se aproximou. Foram caminhando juntos para o portão de saída.
— Pra onde a gente vai? — quis saber Pablo.
— Pra minha casa. Pode ser?
— Claro.
Rui o levou de carro. Deixou tocando um CD do Belchior durante o trajeto.
Pablo comentou que não sabia que eles moravam tão perto, Rui comentou que sabia porque já o conhecia de vista dali do bairro mesmo. Eles saíram do carro, passaram pelo portão e atravessaram o jardim até a casa de dois andares.
Chegando à sala, deixaram suas mochilas num canto e se sentaram num dos sofás.
— Você quer alguma coisa? — perguntou Rui. — Uma água?... Sei lá.
— Não, obrigado.
Ficaram quietos. Ainda sem muita coragem de se olharem diretamente.
— O que você curte? — indagou Pablo, por fim.
— Curto dar — disse Rui, e só de pronunciar essas palavras já começou a ficar excitado. — Mas eu posso te chupar primeiro?
— Claro.
Pablo foi abrindo o zíper. O pinto já pulou duro de baixo da cueca que, junto da calça, ele abaixou até os joelhos.
Rui chegou um pouco mais perto, inclinou-se em sua direção e chupou. Pablo acariciou-lhe os cabelos.
Sua intenção nem era gozar na boca dele, mas o boquete estava tão bom e Rui parecia estar curtindo tanto que preferiu não interrompê-lo.
Para sua surpresa, ele engoliu a porra toda.
— Você pode deixar pra me comer outro dia? Tô com um pouco de medo — disse Rui.
— Você quer tomar um banho antes? Eu espero.
— Não é isso. É medo mesmo. É que vai ser minha primeira vez.
— Tudo bem.
Pablo subiu de volta a cueca e a calça.
— Ei, posso te perguntar uma coisa? — disse Rui.
— Claro.
— É verdade que você tem namorada?
— Quem te disse isso?
— Uma vez escutei você falando que namora.
— Terminei faz pouco tempo, não se preocupa.
— Eu namoro.
— Uma mina?
—É.
— Então você é bi também?
— Hã?
— Gosta dos dois? Homem e mulher?
— Não... na verdade...
— Eu posso te beijar?
A pergunta pegou Rui de surpresa.
— Você é tão bonito — Pablo disse, e foi chegando perto.
Quase um jogador de basquete. Uns dois metros de altura? Isso ou quase isso. A pele caramelada. Cabelo cortado rente. Óculos. O nariz estreito, altivamente arrebitado. Os olhos claros por trás dos óculos e a boca rosada, europeia. Uma maravilha da miscigenação. Mas ainda assim um homem — como era estranha a ideia de beijá-lo.
Deixou que ele fizesse tudo. Provavelmente beijou muito mal. Ainda assim, Pablo insistiu nesse beijo desajeitado por bastante tempo. Vai ver estava até gostando. Quando percebeu, tanto seu pau quanto o dele já estavam duros de novo.
— Eu mudei de ideia — murmurou Rui. — Eu quero dar pra você agora.
— Beleza.
Ficaram pelados, Rui abriu as pernas e Pablo comeu ele ali no sofá mesmo, olhando bem no rosto dele, pro semblante quase sempre angustiado, o que contrastava com seus gemidos de putinha sedenta.
No meio da foda alguém ligou e foi ignorado. A pessoa insistiu um pouco, mas depois parou.
Dali a pouco Rui viria a descobrir que tinha sido sua namorada. Ficou sem saber o que fazer. E agora, como poderia olhar pra ela de novo depois do que acabara de se passar? Decidiu que o melhor seria dar um pouco mais de cu porque não sabia quando teria a chance de fazer isso de novo. Dessa vez pediu que Pablo deitasse por cima dele, enquanto estivesse deitado de bruços no sofá. Foi uma delícia sentir todo o seu peso. O celular voltou a tocar e outra vez não foi atendido.
Pablo teve que ir embora. Antes bebeu um copo d’água e beijou bastante a boca de Rui, sendo retribuído novamente com a mesma frieza. Rui, ainda pelado, ligou pra namorada e falou que gostaria de terminar o relacionamento. Ela nem quis explicações, só perguntou se ele tinha certeza e ele disse que sim. Pronto, agora podia ficar de consciência tranquila.
Foi tomar um banho e percebeu que estava escorrendo porra de dentro de si. Ficou se dedilhando embaixo do chuveiro.
Secou-se todo, pegou o celular e tirou umas fotos da bunda pra mandar depois pro Pablo. Pegara o número dele pra poder pedir umas fotos de rola, então mais que justo que retribuísse.
Aproveitou pra contar que tinha terminado com a namorada e que queria dar pra ele amanhã de novo.
Pablo demorou a responder, mas pelo menos retribuiu as nudes e disse que comeria sim, com todo o prazer.
Cecília ligou pro trabalho do ex no dia seguinte pedindo que se encontrassem depois do expediente para terem uma conversa sobre o término. Rui disse que hoje não podia porque já tinha marcado um compromisso. Novamente levou Pablo para sua casa e deu bastante pra ele, agora no quarto, na cama em que tantas vezes tivera momentos românticos com ela.
Já estavam vestidos, fazendo um lanche na cozinha, quando a campainha tocou.
Pablo perguntou se ele não ia atender.
Rui disse:
— Não, é minha ex.
— Não é melhor você pelo menos conversar com ela?
— E eu vou dizer o quê?
— Diz a verdade, ora.
— Como se fosse fácil assim.
— Depois que você começa é bem simples. Todo mundo no curso sabe de mim. Em casa também e todos respeitam.
— Eu garanto que não vai ser a mesma coisa comigo. Minha família é muito preconceituosa e se a Cecília souber pode ser que conte pra todo mundo na hora da raiva. — Essa atitude não era do feitio dela, mas ele precisava de um argumento que justificasse sua covardia.
Conversou com ela na quinta-feira.
Sentaram-se à mesa de um quiosque situado numa pracinha construída à beira do rio Paraíba, alguns metros acima do nível d’água. Era uma tarde de sol e uma sombra de árvore os protegia do calor intenso. Pediram uma porção de batatas fritas e Guaraná Antártica. Ele começou assim:
— Eu quero terminar para que você não sofra.
Cecília ficou olhando para ele. Estava de óculos-de-sol, os cabelos esvoaçando com a brisa fresca.
— Eu te amo, é por isso que tô terminando — ele prosseguiu depois de muito pensar. — Desculpa.
— É só isso que você tem a dizer?
As batatas chegaram e eles comeram.
A garota não parecia triste, só curiosa.
— Eu disse que não ia adiantar muito se a gente se encontrasse — disse Rui. — Eu não tenho muita coisa pra falar mesmo. Só quero terminar e pronto.
— Fazer o que, né? — Ela limpou a boca com o guardanapo. — Eu vou ficar desconfiada de que alguma coisa está acontecendo, mas não vou insistir. Não quer falar, não fala.
— É que eu não tenho nada pra falar mesmo.
— Eu já cansei de dizer que te aceito. Não dá pra te entender, viu? — Deu uma golada no refrigerante gelado e suspirou. Atrás dela pessoas se divertiam na pista de skate.
— Não tem nada a ver com aquele assunto de sempre. Pode ficar tranquila.
— Claro que tem. Eu mais que ninguém sei como isso te afeta. Mas não posso fazer nada, né? Se você não acredita em mim.
— Você é quem não está acreditando em mim.
— Talvez eu tenha meus motivos. Eu te conheço.
Ela se levantou pra ir embora, dizendo que não precisava de carona.
Ali mesmo, sentado naquela cadeira de plástico vermelha estampada com o logo da Brhama, assim como a mesa diante de si, ele contatou Pablo por Whatsapp, recebendo como resposta que eles não podiam continuar com aquilo porque Pablo tinha voltado pra sua ex. “Mas nada impede de a gente continuar sendo amigo,” ele deixava bem claro na mensagem.
Rui passou o resto do dia na casa dos pais, tomando banho de piscina sozinho.
À noite, ajudou no preparo do jantar e anunciou que tinha terminado com a Cecília, sem dar maiores explicações. Seus pais não levaram muita fé: acreditavam que ele logo mudaria de ideia e voltaria atrás na decisão.
É, talvez eu deva fazer isso mesmo, pensou ele enquanto assistia sozinho ao filme dos Simpsons na TV a cabo, comendo o resto do mousse que ajudara a mãe a fazer.
Dormiu um sono profundo na cama de solteiro que costumava ser sua. Teve uma noite inquieta, entretanto. Sonhou que tinha ido pra fazenda do tio Sérgio e precisava encontrar uma espiga de milho de qualquer jeito. Por quê? Não sabia. Embrenhou-se em meio ao capim alto, onde seres invisíveis transitavam, agitando as folhas. O milharal estava logo ali, mais um pouco e encontraria. De repente a voz do chefe chamou distante. Ele estava bravo porque Alicia tinha misturado uns documentos. O sonho então mudou de cenário. Agora Rui acendia uma vela na cozinha da casa da falecida avó, após o que saía procurando por ela nos cômodos escuros e vazios. No canto de um quarto avistava algo. Aproximava-se, temeroso. Chamava por ela e a voz não saía. À medida que chegava mais perto, o vulto se encolhia. Foi dando pra ver que não era uma pessoa e sim algo bem menor. Espantado, tomou entre os dedos a espiga de milho.
Visitou o padre de manhã bem cedo e contou-lhe tudo. Antes de sair da igreja, molhou um dedo com água benta e traçou com ele uma cruz na testa. Dessa vez não se esquecera de vir com o crucifixo.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.