História A Vingança - Armadilha

P.O.V Axl

Aquele filho da puta do corno conseguiu rachar a porra da minha boca! Mais que desgraçado! Esse filho da mãe ia ter minha revanche mais tarde, mas bem mais tarde. Graças a esse corno mal amado aí, eu tive perder a chance de ser " um bom anfitrião" com minha mais nova convidada e ainda levei um puta soco na cara. Infeliz.

Mas isso seria história pra outra hora. Por mais estranho que pareça, até pra mim mesmo, sentia uma pontada de remorso pelo o que tinha lhe feito no hospital. Deixá-la esperando por mim enquanto eu comia a enfermeira carrancuda não foi legal. Me sentia no dever de recompensá-la por isso.

Vou caminhando com a boca ainda sangrando até a Hell House. No caminho, uma loja que vendia chocolates me chamou a atenção. Ainda tinha bastante dinheiro no bolso pelo show de estreia . Por que não ? Entro lá e fico meio perdido no começo. Ando um pouco até as prateleiras. Queria escolher algo legal, mas que não começasse forçando a barra.

Vejo uma caixa média de trufas de chocolate em um canto. A pego nas mãos, era a última da prateleira . Sua embalagem era bem feita . Caixa marrom com detalhes em marrom claro e laço verde. O preço era razoável, então seria essa. Vou até o caixa onde um adolescente com a cara cheia de espinhas ouve Van Halen no último volume. Que porra que tava acontecendo com os jovens de hoje em dia ? Bando de frouxos.

- São US 32,50, senhor.

Ah sério, eu mal saberia disso se não tivesse lido na prateleira onde estava. Penso em bufar já irritado mas deixo isso pra lá.

-Aqui- digo e lhe entrego uma nota de 50 - Pode ficar com o troco. - não estava nem um pouco afim de esperar esse cabaço contar o troco pra me entregar, então foda-se.

-Muito obrigado, senhor, é muita...

Não o escuto agradecer, pego a caixa já em uma sacola de alças de papel e dou as costas.

Caminho o restante do trajeto me amaldiçoando por não ter um carro. Podia pegar um ônibus, mas não estava afim de ficar sacolejando em uma lata velha com um bando de coroas me olhando esquisito com suas sacolas de compras.

Mal chego e já caminho até a varanda, onde vejo que ela conversa com Izzy. Que essa panaca não pensasse em dar em cima da minha mina.

-Florence, oi!

Vejo que ela sorri aliviada ao me ver chegar, provavelmente o bundão do Izzy devia lhe estar enchendo o saco.

-Oi, Axl. Já de volta? - ela me cumprimenta.

- Axl. - diz Izzy.

- E ai cara?

Ele apenas assente com a cabeça.

- Como você está ? Se adaptando a Hell House ?

- Estou sim , é um ambiente bem peculiar.

- Essa é a minha deixa, gente. - Izzy fala e já se retira dali. Pelo menos seu senso de desconfiança ainda estava afiado.

- Com o tempo você se acostuma.- lhe respondo sorrindo e me sento ao seu lado.

- Obrigada mais uma vez por me receber. Espero que não se importe, mas eu peguei uma peça sua emprestada.

-Sem problemas. Ficou ótima em você.

- Sei que apenas está sendo simpático. - ela fala corando.

-Florence, você é uma das mulheres mais lindas que eu já conheci. - avanço um pouco mais o sinal. Aquele avião estava ali e eu não ia perder uma oportunidade sequer.

- Você sempre é muito gentil.

- Te trouxe isso de presente.- falo e lhe entrego a sacola que carregava nas mãos. - Espero que goste.

- Ah, Axl, não precisava se incomodar por minha causa!

Ela fala e se levanta pra me dar um abraço. Porra, até mesmo usando minhas roupas essa dai conseguia ser um tesão. Ela me abraça apertado e deixa que eu sinta seu maravilhoso cheiro de mulher. Aquilo ia me levar a loucura ainda!

- Olha só quem está de saltos! - reparo que ela está de sandálias altas que lhe realçavam as pernas.

- Ah, você viu, são uma graça, não ? - ela fala enquanto admira os pés.

- Não me lembrava de você ter saído do hospital com elas.- digo confuso.

- E não sai de  lá. Do jeito que estava mais cedo, ia acabar caindo com elas.

- E então de onde vieram ?

- Acredite ou não do seu quarto também.

- Como assim ? Das vezes que saio de drag eu uso as rosas. - brinco um pouco e consigo lhe arrancar um sorriso de canto.

- Ah, eu as achei em um canto e pensei que não se importaria se eu as usasse. É de alguma conhecida ?

Caralho, esses sapatos deviam ser de alguma groupie que veio aqui em casa e acabou se esquecendo. Como acho que não voltaria lá, não vejo problemas para que use.

- Pode ficar, ficaram melhores em você do que ficariam em mim.

- Ah que anjo! - ela fala feliz e me dá um beijo na bochecha. Gata, se você soubesse onde realmente queria que eu beijasse, ficaria espantada.

- Florence, você já se sente melhor pra sair ?

- Me sinto sim, mas para onde vamos?

- Isso é uma surpresa. Você topa ?

- Sim, é claro. Ainda não conheço direito a cidade.

- Eu já volto. Vou  pegar as chaves do carro de Slash e já volto, digamos que é um carro novo.

- Vai lá. Mas acha que estou bem assim ?

- Você está magnifica!

E realmente estava. Mas estaria melhor ainda quando estivesse gemendo na minha cama. O dia mal estava começando para nós, minha querida Flory!

P.O.V Steven

A aflição me corroía por dentro. Aquele detetive era cheio de perguntas mas não conseguia me dar uma resposta sequer. Adriana estava sei lá onde e ele lá, apenas tomando seu café e fazendo anotações. Mas se ele não era capaz de descobrir, eu era.

Depois de dar um extraordinário soco na cara daquele ruivo, vou até a lanchonete onde ela trabalhava e procuro por Cassandra, aquela oferecida poderia me ajudar em algo.

Chego lá e vou diretamente em sua direção.

-Cass, você sabe alguma notícia da Adriana ?

- Oi também, Stee.

- Você sabe de algo novo ?

- Não, veio um homem aqui hoje cedo e fez as mesmas perguntas.

- Tá, mas não soube de nada mesmo ?

- Não, essa daí sumiu pra nunca mais voltar.

- Mais que droga!

-Esquece essa dai, Steezinho. Nós ainda poderíamos nos divertir como antes.

Não lhe dou atenção e saio de lá apressado. Havia rolado uma coisa entre eu e Cassandra antes, mas só foi algo passageiro antes de conhecer Adriana. Onde você estará minha Adri? Como pude ser um total idiota e ter te tratado daquele jeito?

Estava com a cabeça quente depois de toda aquela discussão e tinha sido precipitado com tudo . Se não fosse por minha causa você ainda estaria aqui do meu lado, sã e salva. Se tivéssemos ignorado tudo o que Axl fez e causou, estaríamos bem agora.

Mas agora não era hora para lamentações, o que foi já foi e o presente estava passando. Vou até o China Girl para ver se conseguia uma informação extra. Sei que ia ser inútil, mas não custava nada tentar.Não aguentaria fica lá parado, sem saber nada dela, não como aquele estúpido daquele detetive que só sabia ficar sentado naquela cadeira e nos encher o saco.

Vou até lá e vejo que ainda estava fechado, pela hora também. Me encosto na porta e a forço um pouco, esse era um segredinho que só eu sabia. Entro lá e estava tudo escuro ainda, com um segurança mal encarado no fundo que me disse com sua voz grossa e sem rodeios.

- Estamos fechados.

- Jason, sou eu, eu preciso da sua ajuda.

Ele vem sem pressa até mim com a cara mais fechada ainda, me pega pela gola do colarinho da camisa, me levantando do chão com as duas mãos, havia me esquecido como aquele cara era forte, e me diz brutal:

- É muita ousadia sua voltar aqui depois do que ainda deve pro chefe.

Eu havia me metido com umas dívidas de jogo, secretamente a boate de strip também era um cassino ilegal que só funcionava a noite.

- Eu sei, eu sei e já estou arranjando grana pra isso.

- Então o que veio fazer aqui? - ele me encara ainda mais. Se não estivesse preocupado com Adriana, poderia jurar que vi uma leve fumaça saindo de seu nariz, como se fosse um touro ou algo do tipo.

- É sobre Adriana, ela está em perigo. - vejo que sua feição se relaxa um pouco quando digo seu nome. Jason secretamente sempre a amou mas nunca lhe disse nada e as coisas só pioraram quando eu a conheci e a ajudei a sair de lá. - Por favor, Jason, é por Adri! - digo e ele me solta .

- Vem comigo.

O acompanho até o balcão de madeira onde ele nos serve duas tequilas puras. Resolver tudo com tequila ao lado,esse era seu lema.

- O que aconteceu com ela ?

- Isso é o que eu também quero descobrir. Ela sumiu, está desaparecida há um mês e sinto que corre grande perigo.

- E a policia, não está fazendo nada ?

- Só com o rabo colado na cadeira.

-Imaginei. Inúteis.

-Pois é. Estou tentando descobrir algo. Ela por acaso passou por aqui por esses tempos, antes de sumir?

-Não a vejo desde o dia em que você a levou daqui. - ele me lança um olhar de raiva.

- Estou preocupado, você sabe que ela não é de fazer isso, sumir do nada.

- Eu sei, conheço seu jeito.

- Queria ver nos locais onde ela trabalha, mas também não sabem de nada.

- O safado do Jonathan não sabe de nada do que acontece naquela jossa. Como ela consegue fica lá ?

- Eu também não sei, mas prometo que depois que a encontrarmos, vou tirá-la de lá e a colocar em um lugar melhor.

Ele concorda com a cabeça.

- E sobre aquela noite, Jason... eu realmente sinto muito, apenas queria que ela ficasse num lugar melhor, mais segura.

- Não te culpo, eu faria a mesma coisa.

Finalmente consigo ver o perdão em seus olhos. Apesar de a amar muito e a querer sempre perto de si, ele entendia meus motivos.

- Mas o que aconteceu no dia em que ela sumiu ?

- Eu e ela brigamos ...

- Você por acaso encostou um dedo nela ? - ele bate as duas mãos no balcão, o que faz com que alguns copos balancem com tamanha força. Caralho, como aquele cara conseguia até sacudir madeira pura ?

- Não, não eu não seria capaz.

- É bom mesmo, pois eu seria capaz de matar alguém que sequer pensassem em encostar nela.

- Eu também. Jason, você tem o telefone dos tios dela, aqueles do Canadá, ela não me falava muito deles.

-Tenho sim, mas já ão bem velhos, acho que não vão poder ajudar muito.

- Já serve.

- Quer anotar ?

Porra, ele sabia o número de cabeça?

- Cara eu to sem caneta aqui, será que você podia ... ?

Ele me entende, se abaixa e pega uma velha esferográfica preta, rasga uma velha caixa de cerveja que estava no lixo e anota o número no papelão.

Eu o pego, agradeço e já estou pronto para sair, quando ouço ele me chamar e dizer:

- Stee, quando encontrá-la, cuide bem dela e a leve pra longe desse inferno todo.

- Pode deixar, eu cuidarei bem dela.

Digo isso e saio dali pensando no que mais fazer. Vou até um orelhão enferrujado na esquina com o número em mãos, não pretendia preocupá-los com isso, apenas saber se conseguiria mais uma pista.

Bato as mãos nos bolsos e vejo que não tenho moedas. Dou uma bancada no telefone e algumas moedas retornem dele. Pego uma delas, coloco na catraca e disco o número. Dou poucos toques até que escuto uma voz de uma senhora me dizer:

- Alô...?

P.O.V Adriana.

Que perdição eu estava passando. Aqueles malditos porcos me cheirando e até mesmo me arrancando mordidas pequenas na barriga e nos braços. Não mais forças nem mais voz para gritar. Em um flash de consciência me lembro de minha tia Mary e do tio Phill. Como eles estariam agora ?

Sentia falta dele e das tortas de maçã que ele preparava todo o fim de tarde enquanto eu corria atrás de uma macieira que gentilmente nos fornecia os materiais para a suculenta recompensa ao fim do dia.

Como queria poder ouvir a voz da tia Mary me chamando de novo.

- Adriana, venha logo antes que esfrie!

Ah tia, como eu amava correr até a mesa e comer tudo com um copo de leite! Correr, será que um dia eu voltaria a fazer isso ? Ou até mesmo andar ? Eu havia lido uma vez, quando esperava no consultório do dentista de Stee que quando se corta um tendão, as consequências eram inevitáveis.

Bem, a essa altura do campeonato, nada mais de ruim poderia me acontecer. Escuto alguém se aproximando, certamente seria ele para me tirar daquela nova sessão de tortura. Estava certa, ele vai até mim em silêncio, pega meu queixo entre os dedos e me diz:

- Você está horrível! Completamente imunda e horrorosa! E olha só essas mordidas, hein. Se eu fosse você tomaria cuidado, esse tipo de coisa costuma infeccionar muito.

- Eu já lhe disse e me cansei de repetir; vai se ferrar, seu sádico! - falo com desdém.

- Olha só, minha bonequinha, agora bonequinha de pano, se é que me entende.

Ele ri consigo mesmo e me desamarra, levando ao cativeiro original. Ao chegar lá, me joga bruscamente no chão, posso sentir uma costela se quebrando. 

- Você é uma garota muito sagaz e não duvido de nada que vá tentar fugir  de novo. Na dúvida . - ele fala e tira um alicate enferrujado do bolso, o enfiando com tudo na sola dos meus pés.

-AHHHHHHHH!!- bato as mãos no chão de tamanha dor.

- Por que, John ? Por que tudo isso ?

- Ora, por que é divertido e eu já estava entediado. Você caiu na minha armadilha, Adri. Me subestimou muito e não se faz isso com ninguém! Que coisa mais feia!

Com minhas últimas forças e lágrimas nos olhos, jogo minha cabeça no chão.  Já não queria mais entender os motivos que levavam John a fazer tamanha crueldade, eu já não me importava com mais nada. Havia lhe dito minha última tentativa; na verdade acho que havia dito minhas últimas palavras.

Penso isso e me deixo estar no chão, apenas sangrando naquele chão frio e no porão onde o sol jamBais chegava e o frio era constante.