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História A Walking to the End - Mães Sabem das Coisas


Escrita por: fercarol03

Capítulo 2 - Mães Sabem das Coisas


Draco havia visto a movimentação vindo em sua direção, mas fingiu não perceber. A mãe caminhava pelo salão com Hermione Granger enganchada em seu braço. Certamente a mulher estava levando a menina para cumprimentá-lo, mas Draco não se sentia tentado a encarar a cena. Ele preferia fingir surpresa, fingir que não havia percebido a presença da garota até aquele momento. Ele era um covarde, ele sabia, mas não ligava. O grupo de homens, todos funcionários da empresa, no entanto, não eram partidários de sua técnica.

-A filha do chefe está aí. -Falou um dos homens, bebendo um gole de sua bebida.

-Não sabia que você tinha uma irmã, Malfoy. -Falou outro lhe lançando um olhar malicioso. -Ela é bonita.

-Ela não é minha irmã. -Draco falou amargo ainda tentando não olhar na mesma direção que os demais.

-Vocês foram praticamente criados juntos.

-Não, nós não fomos. -Draco resmungou de mau-humor.

-Com o casamento de seus pais, vocês são praticamente meio-irmãos. -Falou outro parecendo despreocupado e alheio à conversa.

-Meio-irmão compartilham um dos pais. Não temos qualquer vínculo familiar. -Draco resmungou novamente parecendo cada vez mais irritado. 

Os homens pararam de falar quando as mulheres chegaram. Hermione e Draco Malfoy se encararam por um bom tempo, ambos com os olhos sérios e um sorriso forçado no rosto. Embora nenhum dos dois fosse tolo o suficiente para falar alguma coisa na frente de Narcisa, era claro que havia uma antipatia, um incômodo óbvio entre os dois.

Hermione crispou os lábios tão suavemente que quase passou despercebido para todos. Ela se sentia claramente em desvantagem, observada e estudada por todos os presentes. Todos eram colegas de Draco Malfoy, o enteado de seu pai. Os anos em que ela esteve afastada e também sua falta de interesse nos negócios da empresa haviam dado às pessoas uma certa desconfiança da menina. O pior é que ela nem sequer poderia julgá-los. Ela era uma estranha, enquanto Malfoy era o bom rapaz que trabalhava com eles todos os dias e ajudava o Sr. Granger. 

Era claro que ele se lembrava dela. O sorriso de canto lhe dizia exatamente isso. O ar divertido do homem agora já não divertia mais Hermione, mas a irritava porque, de uma maneira que ela não era capaz de explicar, ela era o motivo da graça. Ela trincou os dentes.

-Vejo que você não mudou nada. -Hermione deu um meio sorriso, tirando do homem uma sobrancelha levantada.

-Você, por outro lado, está completamente diferente. -Hermione não soube explicar porque, mas algo naquela frase soou como uma ofensa. Seu queixo tremeu levemente.

-Soube que está fazendo um ótimo trabalho na empresa.

-Seu pai tem sido um ótimo professor. -Ele ergueu levemente o copo de whisky e manejou a cabeça.

Hermione assentiu uma vez, sem saber o que dizer. Cada músculo de seu corpo estava tenso e ela não sabia explicar o motivo. É claro, havia muitas pessoas olhando a interação entre eles, mas ela jamais ficou nervosa por ser o centro das atenções. Normalmente Hermione gostava dela. Era confiante, inteligente e brilhante. Não havia sequer um motivo para que fosse insegura, entretanto havia um leve tremor em sua voz e odiou-se por isso. 

-Pretende ficar por algum tempo dessa vez? -Draco voltou a falar, o sorriso de canto novamente em seu rosto.

-Só para o fim de semana. -Segunda devo voltar ao trabalho. 

-Entendo. 

E novamente houve um silêncio incômodo entre os dois. O grupo de homens com quem Malfoy conversava antes havia perdido interesse na conversa e começaram a conversar sobre assuntos diversos. Narcisa também havia se distraído com um convidado que insistia em tirar uma foto com a noiva para postar nas redes sociais. Agora, aquela era uma conversa apenas entre os dois.

-Seu pai quer conversar conosco amanhã ao fim do evento. -Ele falou de forma mais íntima, sua voz muito mais baixa, percebendo o mesmo que a menina, que ninguém mais ligava para o que eles faziam. Hermione umedeceu os lábios.

-Ele ainda não me falou nada sobre isso. -Ela correu os olhos pelo salão uma vez em busca do pai.

-Ele vai procurá-la. Imagino que seja algo da empresa. -Draco bebeu um gole de seu whisky parecendo despreocupado.

-Bom, deve ser a história sobre seu sucessor novamente.

-Muito provável. Ele deve ter tomado uma decisão. -Ele assentiu, de repente, os olhos azuis sobre o rosto de Hermione. Havia uma sombra em seu olhar.

-Não sei que decisão há de se tomar. Há apenas uma escolha, não é? -Hermione desviou o olhar procurando qualquer coisa entre a multidão. Ela era incapaz de encará-lo naquele instante. O rapaz encarou seu perfil.

-Você sabe que isso não importa para ele.

-Ele terá que encarar a verdade. O único sucessor de dentro da família que ele terá é você.

-Ele não pensa assim. -Draco falou simplesmente. Havia um ar cansado em sua expressão, como se ele tivesse tido aquela mesma conversa outras mil vezes antes. Hermione suspirou.

-Não adianta discutir o assunto entre nós. É ele quem precisa ouvir.

-Concordo.

-Bom, então…

Hermione estava pronta para dar uma desculpa para se afastar. Estava cansada daquela conversa também e o incômodo ainda não havia ido embora. Ela iria dizer que havia encontrado uma conhecida ou que precisava comprimentar alguém e então iria partir em direção ao banheiro ou para a mesa de bebidas. Porém uma voz no microfone chamou sua atenção. 

A cerimonialista convocava a todos para o salão ao lado onde o jantar seria servido. Hermione praguejou em voz baixa. Narcisa se agitou chamando a todos com um aceno de mão. No instante seguinte ela ficava na ponta dos pés para tentar localizar o noivo em meio aos convidados.

-Anthony querido! -Ela falou acenando e, ao encontrá-lo, enganchou seu braço ao dele. -Se esse é nosso jantar de ensaio, nós teremos que fazer melhor amanhã. Já estamos atrasados.

-Querida, é nosso casamento. Nós devemos fazer o que nos faz feliz. -O homem mais velho deu um sorriso. Hermione suspirou. Malfoy deu um sorriso de canto e fez um sinal com a mão de forma educada para que Hermione passasse à sua frente.

-Você sabe que nós estamos na mesma mesa, não é? -Ele sussurrou de forma provocativa em sua nuca.

-O que você falou? -Hermione se virou fingindo que não havia entendido, embora desconfiasse que sua expressão surpresa denunciasse o contrário. Malfoy soltou um riso fraco sacudindo a cabeça.

-Eu não falei nada. -Ele sorriu de forma inocente. Hermione crispou os olhos.

-Devo ter me enganado então.

(...)

O jantar de ensaio terminou cedo. Essa era a função de um jantar de ensaio, afinal: um último momento íntimo entre os convidados mais próximos e o casal de noivos antes da cerimônia definitiva. Quando estava prestes a ir embora (levantando-se de forma discreta da mesa onde, é claro, estava sentada ao lado de Draco), o pai a avistou e a chamou com um aceno. Ela foi até ele.

-Querida, amanhã, após o casamento, preciso falar com você e Draco por um instante. -Ele falou calmamente. Hermione assentiu um tanto contrariada.

-O casamento não vai durar a noite toda? -Ela sorriu provocativa. 

-Por Deus, não temos mais idade para isso há muito tempo. -O pai riu divertido. -Embora eu ache que vocês, jovens, deveriam aproveitar a boa comida e bebida.

-Não terá graça sem o casal de noivos. -Ela sorriu de forma amável. A verdade é que provavelmente o pai, a madrasta e Draco Malfoy eram as únicas pessoas que conhecia no evento. Além, é claro, de um monte de amigos do pai que havia a visto ainda jovem e tinham várias histórias para contar sobre ela. Hermione reprimiu um gemido de desgosto.

-Muito bem. -O pai riu sorriu de forma orgulhosa. -De qualquer forma, nós nos falaremos amanhã.

-Não quer conversar hoje? O evento de hoje parece muito mais tranquilo que o de amanhã.

-Eu prefiro esperar até o fim do casamento. Acho que você entende o motivo. -Ele meneou a cabeça e Hermione assentiu de forma dura.

-É claro, pai.

(...)

No dia seguinte, no primeiro horário, Hermione estava no portão da casa de sua mãe batendo palmas e lutando contra os galhos de uma planta trepadeira que havia crescido pelo muro da casa. Um de seus galhos escapou da parede de concreto e cresceu em direção ao portão, insistindo em cutucar o rosto da menina. 

A mãe, uma mulher morena de cabelos cheios e revoltos, colocou a cabeça para o lado de fora da janela com uma expressão confusa. Hermione ergueu uma mão acenando.

-Hermione! -A mulher gritou voltando para o lado de dentro. Um segundo depois ela saia pela porta da frente e corria pela calçada para abrir o portão. -Estava esperando sua visita ontem.

-Eu cheguei em cima da hora do jantar, mãe, e tive que trabalhar um pouco antes do evento. -Hermione explicou dando um abraço na mulher que quase a esmagou com o afeto.

-Você sempre correndo. -A mulher tocou o rosto da filha com suavidade. -Entre, esse sol da manhã irá queimar seu rosto.

A casa da mãe agora era muito diferente do que ela se lembrava de seu lar durante a infância e  adolescência. Antes a casa era milimetricamente arrumada, havia quadros de gosto duvidosos pendurados nas paredes. O chão era branco e a casa cheirava constantemente a alvejante. Parecia quase um imenso cubículo livre de qualquer personalidade. Agora, no entanto, havia plantas penduradas nas paredes. Mandalas feitas de linha que ela havia aprendido a fazer durante um curso que fizera durante as férias. A casa cheirava a flores, café recém passado e, por incrível que pareça, livros. Havia uma imensa prateleira cheia de livros que Hermione não tinha visto até então. Ela se impressionou ao perceber que a maioria tinha uma linha entre a capa e a contracapa, como se alguém tivesse a usado para marcar as páginas.

A casa ainda era clinicamente limpa, assim como se lembrava, no entanto havia tanto da mãe em cada canto que Hermione quase não reconheceu o lugar onde morou durante grande parte de sua vida.

-Você parece surpresa. -A mãe falou sorrindo para a filha.

-Eu não tinha visto ainda essa estante de livros.

-Ah, eu tive um tempo livre quando operei no ano passado. Aí senti que precisava de mais coisas para fazer. Ler me pareceu uma boa ideia. -A mulher deu de ombros, puxando uma cadeira para a filha se sentar e caminhando até a pia da cozinha. -Aceita um café?

-Claro, mãe. -Hermione olhou em volta e sorriu. -A casa está linda.

-Fico feliz que tenha gostado. Não achou que tem muitas flores?

-Se você gosta, está perfeito. -Hermione sorriu de forma amável, aceitando a xícara de café que a mãe lhe passou. A mulher foi até a geladeira e tirou uma caixa de leite e entregou à filha.

-Sei como você gosta.

-Obrigada.

-Então, me conte… O que está incomodando você? -A mulher perguntou sentando-se à sua frente. -Não me diga que é o casamento.

-Não, claro que não. -Hermione franziu a testa embora estivesse realmente um pouco incomodada com o casamento. -Papai pediu para conversar comigo e com Draco Malfoy após a cerimônia.

-Depois da cerimônia? Seu pai estará em condições para fazer qualquer coisa depois de se casar?

-Foi o que eu pensei, mas ele falou que não tem mais idade para essas coisas. -Hermione sorriu de canto e revirou os olhos. -Acho que ele vai anunciar que escolheu Malfoy como seu sucessor.

-Foi isso que a incomodou? Ele escolher Draco e não você? -A mulher levou a xícara aos lábios. -Mas não era isso que você queria, querida? Achei que você quisesse exercer sua profissão.

-E é, e eu quero. -Hermione franziu a testa, se arrependendo de ter começado a falar pra começar. -Eu não sei porque isso me incomodou tanto.

-Isso é interessante. -A mulher ergueu as sobrancelhas e pousou sua xícara no pires. Hermione gemeu. A mãe costumava ser psicóloga antes de se casar. Durante toda a vida de Hermione a mulher havia usado todo tipo de vertentes que conhecia na menina. Agora, por exemplo, Hermione sentia que estava prestes a começar uma consulta. -O que te incomoda mais: Seu pai não a escolher ou ele escolher Malfoy?

-Que nós tenhamos essa conversa, eu acho. -Hermione franziu a testa e bebericou seu café com leite. 

-Você tem ciúmes de Draco?

-Ciúmes? Do Malfoy?

-Sim, ele se tornou muito próximo de Anthony pelo que eu soube. -A mulher olhou atentamente para a filha. Hermione sacudiu a cabeça.

-Não tenho ciúmes deles, mãe. -A jovem bufou. -É só que… eu sinto como se fosse uma porta se fechando. 

-Se não fosse uma porta pela qual você gostaria de entrar, não faz sentido ficar chateada, certo? -A mulher ergueu uma sobrancelha, atenta. -Tenho certeza que, se você conversar com seu pai, ele ficará feliz em ter você trabalhando na empresa. Você sabe que ele sempre quis isso.

-Eu não quero isso. Eu quero seguir na minha profissão. Eu quero ser advogada, eu quero ter meus clientes, eu quero ajudar a fazer justiça de alguma forma. -Hermione suspirou. Tudo em sua frase era um clichê absurdo e fruto de um sonho ingênuo que ela costumava ter. A realidade era bem diferente dos seus sonhos de infância.

-Hermione, querida, não há nenhum problema em desistir de um sonho, você sabe. -A mãe sorriu pegando a mão da filha.

-Eu sei. -Hermione suspirou sacudindo a cabeça. -Mas ainda acho que só estou chateada porque alguma coisa dentro de mim dói em saber que outra pessoa pegará o lugar que era para ser meu.

-Entendo. A possibilidade de assumir a empresa era uma crença básica, faz parte da construção de seu ser. Mesmo que você não quisesse, essa possibilidade sempre existiu. É um caminho que está deixando de existir. -A mulher novamente olhou para a filha, percebendo que uma faísca acendeu em seu olhar.

-Exato. É exatamente esse o problema.

-Entendo.

 


Notas Finais


E vamos lá, meu povo!
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