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História Abre Aspas - Entre gaguejos e tropeços


Escrita por: hanabia

Notas do Autor


É… eu demorei, né?
Queria agradecer por quem esperou ansiosamente por esse capítulo. Pretendia ter postado muito antes, mas a minha vida simplesmente não deixou. Mas não desistam de mim haha As férias estão chegando e Abre Aspas vai passar a ter atualizações semanais!
Estou extremamente soft com todo o carinho que tô recebendo, vocês vêm sendo o meu combustível para escrever. Obrigada pelos comentários, tweets, kudos e tudo mais!

Daniely, meu amor, muito obrigada por aturar todos os meus surtos e me ajudar tanto!

Bem, não vou segurar vocês aqui por muito tempo.
Então…
BOA LEITURA!

Capítulo 4 - Entre gaguejos e tropeços


Fanfic / Fanfiction Abre Aspas - Entre gaguejos e tropeços

— Você tá me assustando — Emma murmurou e cerrou os olhos, julgando a forma estranha com que o ser sentado à sua frente agia. 

Jongin tinha um olhar perdido e fixo na tela do celular e suas mãos seguravam o próprio rosto, boquiaberto. Em sua mente agitada, algumas perguntas importantes mereciam respostas urgentes: o que diabos acabou de acontecer? Precisava consultar um médico? Se sim, era melhor um otorrino ou um psiquiatra?  

— Quem era? — perguntou a Byun, interessada na ligação que ele havia encerrado há segundos. — Era cobrança? Era sobre o aluguel? — Achou que essas opções faziam sentido. O que mais poderia deixar ele tão perplexo? — Kim… Jongin… — De repente, ela pareceu muito preocupada. Então, inclinou-se, apoiando os cotovelos sobre a mesa, e sussurrou seu mais novo e perigoso palpite: — Você tá devendo a algum agiota? 

O Kim saiu do transe para encará-la, pensando de onde Baekhee podia ter tirado essa suposição tão rápido. 

Oh my gosh! — ela exclamou, interpretando o silêncio do amigo como uma confirmação. — I just can’t believe you’re risking your life this way, idiot! I said I could rent you some money¹.

Emma sempre tagarelava em inglês quando ficava nervosa. 

— Baekhee… — Jongin a chamou, começando a ficar impaciente. De todas as frases que ela falava, ele, com sorte, entendia uma.   

 — Are they coming to kill you? Should we run away now? I’m so fucking pretty and young to die!² — afirmou e fez uma cara de choro. 

Era difícil saber se ela atuava muito bem ou se realmente estava entrando em estado de pânico.  

— Baekhee! — Ele alterou a voz, por fim conseguindo a atenção dela. — Por que te matariam se, supostamente, a dívida é minha? 

— Você sabe que esse tipo de gente sempre ameaça alguém importante pro devedor — Emma alegou, sua postura mudando como se ela se sentisse lisonjeada por ocupar essa posição. 

Jongin não contestou a conclusão de Baekhee porque a achou fofa. Gostava de como a Byun, alguém que conhecia há tão pouco tempo, já se dizia uma amiga super importante; gostava pois também era assim que se sentia em relação à ela.  

Porém, para não prolongar o filme de ação com agiotas e dois universitários fugitivos que Emma roteirizava, ele declarou: 

— Não era cobrança. — Ao ouvir essas palavras, a coreano-americana relaxou os ombros, depois o olhou com desconfiança. — Era alguém querendo visitar o quarto. 

— Sério? — ela gritou, fazendo com que algumas pessoas olhassem para eles. — E por que ficou aí com essa cara de quem viu uma assombração? Isso não é uma notícia boa? 

Sim, era uma notícia boa, tão boa que Jongin mal sabia como reagir. Existia alguém no mundo interessado em dividir o apartamento consigo, e tinha grandes chances de esse alguém ser Dyo.

— É, mas… — Ele quase compartilhou o motivo pelo qual ficou tão pasmo, mas ainda não era a hora certa de deixá-la saber do seu novo vício. — Não é nada — encerrou o assunto. — Ah, eu vou precisar faltar às primeiras aulas de amanhã, porque o cara marcou de visitar o quarto pela manhã. Então, anota toda a matéria, vou pegar com você depois.    

— Okay! — Emma assentiu, animada. — Espero que dê tudo certo — completou, mais séria. Mal via a hora de Jongin sossegar, das tantas preocupações que o deixavam cabisbaixo por aí sumirem.  

— Também — ele disse, tenso. 

Após a ligação, Jongin não conseguiu mais tocar em sua comida, ao contrário de Baekhee, que raspou a bandeja e se deliciou com as sobremesas. Quando terminaram de almoçar, descansaram pouquíssimos minutos e partiram para as aulas da tarde. Bem, não é novidade que o Kim não se concentrou nos monólogos dos professores; as únicas coisas que seu cérebro era capaz de raciocinar eram relacionadas à visita que receberia no dia seguinte.

E, para se preparar para o momento tão importante, Jongin rabiscou uma lista de afazeres na sua agenda: limpar o ex-quarto de Sehun, limpar a cozinha, lavar o banheiro e, por último e não menos importante, lavar os cabelos e fazer um skincare. Havia se convencido de que precisava estar em seu melhor estado possível. 

Assim que voltou para o apartamento, colocou seu plano em prática, o passo número zero sendo pegar seu headphone e dar play no episódio do What2Do que ouvia mais cedo — isso só até dar a hora do programa ao vivo ir ao ar no site da rádio universitária.  

Curtindo a voz de Dyo, imaginando ainda mais como o locutor seria pessoalmente, Jongin entrou tanto no clima da limpeza que até amarrou uma bandana na testa. 

Peach assistia seu pai passear entre os cômodos, um tanto desconfiado pelos sorrisos bobos que ele soltava de vez em quando. 

— Eu e a pessoa por trás do arroba mundinho risada gostosa do Dyo com certeza vamos ter problemas — o Kim declarou, de repente, com uma mão na cintura e outra segurando o cabo do aspirador de pó. — Peach, estão tentando conquistar o crush do papai,  acredita?

O cacto, óbvio, permaneceu imóvel. Ao lado da gigantesca televisão, ele era ainda mais pequenininho e fofo, mas seu silêncio fazia parecer que ele avaliava friamente a fala do humano. 

— Não, não é ciúme — Jongin soltou, corrigindo, na verdade, seus próprios pensamentos. — É só… deixa pra lá… — E cansou de tentar argumentar. 

Era tarde da noite quando ele terminou tudo. Aproveitou a disposição até para organizar o guarda-roupa e os armários da cozinha. 

Orgulhoso com os próprios feitos, Jongin fez a coisa mais cabível naquele momento: saiu do próprio apartamento por alguns segundos e depois voltou, olhando para o lugar como se fosse um visitante. É, parece que os episódios de “Ordem na Casa com Marie Kondo” na Netflix surtiram efeito; pouquíssimo tempo morando sozinho e já era um especialista em arrumação.

Com o lugar brilhando, o Kim partiu para a próxima parte do seu plano. Ele usou o restante das suas energias para tomar um banho com direito ao pacote completo de higiene pessoal, reproduzindo todas as mil e uma etapas que via em tutoriais de skincare, felizmente dando utilidade a todos os produtos que comprava e esquecia da existência em cima da pia do banheiro.   

Exausto, ele não custou a entrar no seu pijama mais confortável e se esparramar na cama. Cada músculo do seu corpo doía por causa daquela faxina, fazendo-o se questionar o quão sedentário era desde o início da faculdade. 

Jongin se remexeu no colchão e se aninhou no edredom limpinho. Enquanto estava ocupado, sua mente relaxou um pouco. Porém, agora desligá-la parecia impossível. Somente com muito custo e à base dos melhores momentos do What2Do — ele tinha anotado o número dos seus episódios preferidos nas notas do celular, além dos minutos das suas partes preferidas — foi que conseguiu adormecer. 

O sono lhe tomou de mansinho, à medida que ele montava todas as características de Dyo, quem tanto esperava conhecer no dia seguinte. 


 

A manhã chegou. Jongin pulou da cama contente, com um sorriso discreto estampado em seus lábios. Como não iria para a faculdade, podia muito bem ter feito hora para levantar da cama. Ainda era muito cedo para existir. Apesar disso, de tão energizado pela ansiedade, ele lavou o rosto e rumou para a cozinha para preparar algo para comer. 

Enquanto esperava o microondas e a cafeteira fazerem seus trabalhos, ele deu atenção às dezenas de notificações em seu celular. E um grito fino saiu de sua garganta quando ele abriu o Line.  

 

Do Kyungsoo 

Oi, Jongin. Tudo bem?

Fui eu que te liguei antes pra falar do quarto 

Então, tô enviando essa mensagem pra confirmar a visita

Hoje às 10 

Ah, desculpa pelo horário, esqueci de falar contigo mais cedo     2:08 am

Kim Jongin

Oi, bom dia!

Só vi sua mensagem agora

7:19 am      Tudo bem, tô te esperando, Kyungsoo

✔✔

Do Kyungsoo

Certo

Bom dia    7:20 am

 

O Kim digitou a resposta freneticamente, apagando e reescrevendo as mesmas palavras várias vezes, duvidando de cada sílaba que formava. Não sabia o que era melhor: o fato de ter sido respondido no mesmo instante ou poder admirar a foto que o tal Kyungsoo usava de perfil; a imagem não revelava muito além do canto de uma boca bonita, com um sorriso quase imperceptível, e uma mão estendida fazendo um “legal”. 

Revelava o suficiente para que o coração de Jongin acelerasse. A mera selfie cortada alimentou o completo bobão que o Kim estava se tornando. 

Tópico sensível: ele abriu o contato de Kyungsoo, deu zoom e fez uma captura de tela, apenas para caso aquela foto fosse trocada um dia. “É só por precaução, esse cara pode nem ser o Dyo”, ele repetiu mentalmente quando repensou a própria atitude. Passar um pano para si mesmo de vez em quando não fazia mal algum, não é? 

Extasiado, ele quase não seguiu a vida. Porém, a mando do ronco alto do seu estômago, focou em terminar de preparar seu café da manhã e foi comer na sala de estar, colocando todas as porções de acompanhamentos sobre a mesinha de centro e ligando a televisão. 

— Bom dia, Peach — cumprimentou o cacto, soltando um beijinho para a planta. — Canal de esportes? — Esperou um pouco e, após supor a resposta de Peach, completou: — Certo! 

Então, passou a alternar a sua atenção entre a reprise de um jogo de basquete, a comida e o celular. Inclusive, depois que checou as horas, resolveu falar com Baekhee, somente para ter certeza que ela se lembrava da sua tarefa mais importante naquela manhã. 

 

Kim Jongin

7:40 am     Bom dia

✔✔

Emma Byun 

Bom diaaa 

Madrugou, foi?   7:45 am

Kim Jongin

Quase zzzz

7:46 am     Não esquece de copiar a matéria!!!

✔✔

Emma Byun 

Eu sei, eu sei

Que horas você vem? 

Vai ser um saco ficar sem você

Preciso fazer novos amigos    7:50 am

Kim Jongin

...o drama...

7:51 am     Eu vou depois do almoço, acho

✔✔

Emma Byun

Okay

Fighting! 

Tô enviando energias positivas ~ 

Não assuste o cara!   8:00 am

Kim Jongin

8:01 am   zzzzz

✔✔

 

“Não assuste o cara”? Como poderia assustar? Jongin se considerava alguém perfeitamente educado e sociável — pelo menos em situações que exigiam que ele fosse —, logo era improvável que algo desse errado por sua culpa. Tudo bem sentir-se nervoso com a visita a ponto de uma dor de barriga ameaçar mandá-lo agonizar no banheiro? Sim, mas… ia dar tudo certo. 

Okay, talvez nem tudo.


 

Às nove e cinquenta, Jongin terminou de arrumar os últimos fios de cabelo da sua franja rebelde; estava tão bem vestido e perfumado que parecia prestes a ir para a casa dos seus avós em um feriado importante. O cardigã vermelho realçava a cor da sua pele, a calça jeans clara lhe dava um ar mais jovial e os óculos redondos completavam o visual, moldando seu rosto afilado.   

Quando o relógio marcou as dez horas, em ponto, ele começou a andar em círculos, indo do seu quarto até próximo à porta, com os seus passos fortes quase furando o chão de madeira de tanto que repetiu o trajeto. Esperar não era lá seu forte, mas era raro ficar tão afoito.

Peach, em silêncio, divertia-se com o seu pai. O humano agia feito um personagem de séries adolescentes, seus movimentos nervosos e expressivos eram engraçados de acompanhar.

A campainha do apartamento finalmente tocou e Jongin suprimiu um grito, respirando fundo. Uniu os dedos polegar e indicador de cada mão, simulando uma meditação em tempo recorde, que não lhe serviu de nada. 

Ele demorou tanto para tentar se acalmar que a campainha soou outras vezes. 

— Já vai — por fim, soltou, com a voz fraca e aguda. 

Novamente, inspirou pelo nariz e expirou pela boca. Depois, deu uma olhada ao redor, verificando se tudo estava mesmo em ordem, e partiu para a entrada. 

— Desculpa a demora — Jongin disse mesmo antes de surgir por completo pela porta. Sequer tinha espiado o olho mágico. — Bom dia. — E o sorriso que abriu murchou quando encarou a pessoa à sua frente.

O homem era um pouco mais alto que ele, com a pele alva e os cabelos escuros bem cortados e penteados. Seu maxilar marcado, o nariz pontudo e as orelhas sobressalentes eram o que mais chamava atenção, com certeza. Porém, o que Jongin mais notou foi que aquela boca não era a mesma boca da foto que admirou com tanta dedicação. Um golpe?

Ele quase sacou o celular do bolso para comparar a pessoa com a captura de tela. 

 — Bom dia — o homem respondeu, também abrindo um sorriso contido. — Sou Chanyeol, Park Chanyeol — apresentou-se e estendeu a mão a Jongin. 

Estava explicado: aquele não era quem Jongin esperava. 

— Ah, bem… — O Kim demorou a raciocinar, mas, assim que desviou a atenção dos lábios alheios, retribuiu o aperto de mãos. — Sou Kim Jongin.

— Oi, Jongin. Me atrasei, não foi? — A pergunta veio de uma terceira pessoa. 

Jongin piscou os olhos, confuso. Só então percebeu que havia alguém agachado bem atrás do tal Chanyeol, amarrando os cadarços do tênis. 

O cara logo levantou e ficou ao lado do Park. Ele era uns bons centímetros mais baixo do que os outros dois e seus olhos bem redondos estavam escondidos pela armação grosseira e quadrada dos óculos de grau. 

Aquele sim era o dono do pedacinho de rosto estampado no chat de mensagens de Jongin.  

— Sou Kyungsoo, prazer — falou e, para o perigo extremo da saúde do Kim, sua voz soou idêntica à voz de Dyo. — Trouxe um amigo. Não tem problema, não é? 

Nesse momento, Jongin já havia se esquecido de todas as aulas de coreano que frequentou na vida. Todas as letras do alfabeto, sílabas, palavras e frases agora eram como enigmas que ele não resolveria tão fácil, não com aquele timbre melodioso ressoando em seus ouvidos.  

— Jongin? — Chanyeol o chamou. — Algum problema? 

Ao perceber que continuava estagnado diante deles com a boca aberta e o olhar vidrado em Kyungsoo, Jongin desejou que Thanos estalasse os dedos naquele instante; queria virar pó e sumir de tanta vergonha. 

N-não… — gaguejou ao tentar formular algo para dizer. Ele cerrou os punhos, deu um sorriso quadrado e nervoso, com os cantos da boca tremendo, e continuou: — Quer dizer, sim… está tudo bem — mentiu, porque sua sanidade já arrumava as malas para sair de férias. 

— Certo… — o Park murmurou, com um olhar suspeito. 

— Entrem — o dono do apartamento finalmente anunciou. 

Quando Jongin abriu espaço para Chanyeol e Kyungsoo passarem, mordiscou a parte interna das bochechas, esperando que a dorzinha recuperasse seu autocontrole. 

E, sendo boa ou ruim, pelo menos aquela visita deu uma certeza a Jongin: não estava enlouquecendo. Pessoalmente, a voz de Do Kyungsoo era ainda mais idêntica à do protagonista das suas mais recentes fantasias amorosas, o seu locutor favorito. 

Se isso fosse uma coincidência, seria uma crueldade dos roteiristas da sua vida. E ele preferia acreditar que o bem sempre vence. 

— Vocês querem algo pra beber? Água, suco… — o Kim ofereceu. 

Já estavam dentro do imóvel, os três parados próximos ao balcão de mármore que dividia a sala de estar e a cozinha. 

— Não, obrigado — o Do negou educadamente. 

— Certo — Jongin assentiu. Em seguida, reproduziu as frases que havia ensaiado antes: — Bem, como eu falei no anúncio, o apartamento tem dois quartos, um banheiro, a sala de estar — ele abriu os braços, como se apresentasse o espaço —, uma cozinha-barra-lavanderia e uma mini varanda. Estou alugando um dos quartos, o outro é meu, mas é claro que vamos dividir todas as outras áreas. 

Passada a estranheza do contato inicial, Jongin parou de gaguejar feito um aluno do ensino médio que não estudou para apresentar um trabalho. Mas seria um exagero dizer que ficou totalmente tranquilo. 

— Posso ir ver o quarto primeiro? — Kyungsoo perguntou.

Jongin balançou a cabeça positivamente e gesticulou para que os dois o seguissem. E, ignorando o fato dele ter tropeçado no batente da porta e quase caído de cara no chão, tudo ocorria bem. Houve uma coisa boa até em seu mico: Kyungsoo foi quem o salvou de um desastre maior, segurando seu antebraço com força. 

— Cuidado aí — o Do murmurou entre um riso gentil. 

De imediato, as bochechas de Jongin coraram. Aproveitou o toque seguro até a força nas suas pernas voltar e ele se reerguer firmemente. 

— É bem grande — Chanyeol comentou, quebrando a proximidade entre os outros dois, mais interessado do que o possível futuro morador. 

— Sim — o Do concordou, dando uma volta rápida. 

Não tinha muito o que dizer sobre as quatro paredes brancas e o piso de madeira bem encerado, afinal. Ele caminhou até a janela do quarto, brechando a vista residencial pela cortina de persianas. E gostou bastante do que viu; o bairro e o condomínio pareciam tranquilos. Com certeza, viver ali seria bem mais confortável do que se amontoar em um cubículo nos dormitórios.     

— Eu vi no anúncio que você passa o dia fora. — Quando retornaram para a sala, depois de Jongin mostrar todo o imóvel sem muita cena, Chanyeol puxou conversa. Ele observava a decoração do apartamento, seu olhar parado por longos segundos sobre o cacto ao lado da televisão. — É isso mesmo? 

Kyungsoo limpou a garganta, tentando repreender seu amigo por perguntar isso tão indiscretamente. 

Jongin ficou se perguntando qual era a relação deles. Chanyeol agia como um guarda-costas ou alguém muito preocupado — e ciumento. Sua postura protetora ao redor de Do era perceptível feito preto no branco, sequer precisava de muito tempo os assistindo para notar. 

— Ah, é sim… — O Kim não se incomodou em responder. — Tenho aula pela manhã e pela tarde, passo o dia inteiro no campus, só volto pra cá de noite. 

— Entendi. — O Park franziu o queixo. — E qual é o seu curso?  

— Arquitetura.

Assim que disse, Jongin lançou um olhar inquieto para Kyungsoo. Era hora de confirmar todas as suas teorias. Nem escondeu que precisava saber de algo. 

Kyungsoo, reconhecendo a expressão do dono do apartamento, arqueou levemente as sobrancelhas e lhe deu um sorriso fino, dando um consentimento silencioso para ele perguntar o que bem entendesse. 

— E qual o curso de vocês? 

Xeque.

— Jornalismo — Kyungsoo e Chanyeol falaram em uníssono. 

Mate.

Jongin mordeu o lábio inferior, com milhões de expectativas enraizadas em seu peito. A cada instante que passava com o Do, a verdade se afunilava. Ele era o Dyo, tinha que ser!  

À essa altura, Kyungsoo vigiava todos os jeitos e trejeitos do Kim sem disfarçar e achou sua reação muito estranha. Havia algo de errado com o curso de Jornalismo, por acaso?

— O que achou, Soo? — Chanyeol surgiu com o questionamento, encurralando o próprio amigo na parede. — Gostou daqui?

Soo. Jongin anotou o apelido em sua mente. E, bem, as perguntas que o Park fez eram comuns, mas o tom neutro e a forma direta de como dizia as coisas não deixavam o Kim saber se ele estava do seu lado ou não. 

— É… — Kyungsoo coçou a nuca, meio sem graça com o que diria em seguida. Mais uma vez, sua atenção pairou em Jongin, e foi impossível não perceber que ele ansiava pela resposta. — Eu gostei bastante, mas acho que preciso visitar outros lugares antes de decidir. 

Chanyeol arqueou as sobrancelhas, avaliando seu amigo. Sabia que ele não tinha outras opções, então deveria ter algo errado. Porém, resolveu continuar aquela conversa depois.

— Você entende, não é? — o Do questionou, voltando-se para o dono do apartamento. 

O Kim, apesar de decepcionado, forçou-se a abrir um sorriso e exclamou:  

— S-sim, claro!  

— Falo com você depois — Kyungsoo declarou. — Assim que eu decidir, te ligo ou mando mensagem, pode ser?   

— Tudo bem — Jongin não protestou. Também sabia que era comum as pessoas pesquisarem antes de fechar um negócio, e escolher uma moradia era algo sério. Só esperava que seu endereço acabasse sendo a melhor opção. — Se tiver alguma dúvida sobre o aluguel ou sobre o apartamento, é só me perguntar. Okay?

— Okay — o Do assentiu. — Obrigado pelo seu tempo, nós vamos indo agora. — E apontou com o polegar para o hall de entrada. 

— Eu que agradeço. — O Kim sorriu simpático e foi com os dois até a porta. — Espero ver vocês logo! — arriscou-se a dizer. 

— Até mais, Jongin — Chanyeol falou e se despediu com uma simples reverência com a cabeça.

— Até. — Kyungsoo, com os lábios em uma linha fina, repetiu os gestos do seu amigo. 

Jongin os retribuiu com uma reverência mais longa e observou-os sumir no final do corredor. 


 

Kim Jongin sentou no sofá, agarrou suas pernas longas e enfiou a cabeça entre os braços. A vergonha o consumia tanto que ele suava dentro do tecido grosso do cardigã. Naquele momento, levado pela vontade de sumir antes que todas as cenas de minutos atrás voltassem para atormentá-lo, ele resolveu ir logo para o campus. Não aguentava olhar para sua sala e lembrar da figura de Kyungsoo parada à sua frente. Era demais.

Pela primeira vez em dias, Jongin andou até a faculdade ouvindo música ao invés da voz de Dyo. Precisava se recuperar do baque que foi, possivelmente e por puro acidente, descobrir a identidade dele.  

Já em seu destino, seguiu seu instinto mais natural: sacou o celular do bolso para tentar localizar Baekhee. Como se conheceram no primeiro dia de aula, tinha uma sensação estranha quando estava sozinho passando entre os outros estudantes, e cada corredor parecia até maior sem a Byun matraqueando ao seu lado. 

 

Kim Jongin

11:55 am     Ainda tá na aula?

✔✔

Emma Byun 

Não, já acabou

Tô indo pro refeitório

Já chegou?       11:56 am

Kim Jongin

Sim

11:56 am     Te encontro lá, então

✔✔

Emma Byun 

Okay!!!

Ainda bem que você veio logo

Odeio comer sozinha     11:57 am

Kim Jongin

11:57 am   Guarda um lugar na fila pra mim

✔✔

Emma Byun

sONHOU

se tentar furar a fila 

vou fingir que nem te conheço    11:57 am

Kim Jongin

11:57 am    zzzz

✔✔

 

— Como foi? — Baekhee mal colocou a bandeja sobre a mesa do refeitório antes de perguntar. 

— Primeiramente, boa tarde, né? — Jongin a repreendeu, brincando. — É… hmm… foi bom — ele afirmou, soando um pouco incerto. 

— O cara gostou do quarto? — Ela apoiou os cotovelos na mesa e o rosto nas mãos, curiosa para saber mais detalhes. — Ele vai alugar? 

Jongin não era o tipo de pessoa que soltava informações por livre e espontânea vontade, quase como se não fosse capaz manter uma conversa ou tivesse preguiça demais para isso. Não importava se o assunto era sério ou uma besteirinha, ele precisava ser interrogado para liberar os pormenores, e ela sabia disso.

— Ele gostou — o Kim usou uma colherada do ensopado como desculpa para pausar a fala —, mas disse que precisa visitar outros lugares, pensar melhor.

— E aí? 

— Eu não sei. Ele falou que me avisa quando se decidir.    

— Entendi. Tomara que dê certo… e rápido — Emma fez beicinho. Queria que as notícias fossem melhores. — Mas você não assustou ele, não é?

Considerando os gaguejos e tropeços, Jongin responderia que sim, talvez tivesse assustado Kyungsoo. Mas nunca assumiria isso em voz alta, até porque Baekhee faria questão de zoar com sua cara por toda a eternidade. 

— Claro que não — concluiu, enfiando um bocado de arroz na boca. — E como foram as aulas?

— A mesma coisa de sempre — Emma respondeu prontamente. — A diferença é que agora a gente tem mais umas cinquenta páginas de conteúdo pra estudar. 

Jongin murchou os ombros. Só podia ser uma piada. O primeiro semestre só podia ser um jogo entre os calouros: ganha quem trancar o curso por último. 

— Eu nem queria ter uma vida mesmo — alegou e a Byun riu fraco.

Os amigos continuaram a refeição em silêncio, cada um dedilhando o próprio celular. Quando estavam perto de terminar, um grito de Emma fez Jongin engasgar.

Oh Gosh! Finally! — Ela batia palminhas frenéticas e seu sorriso enorme fazia parecer que tinha acabado de ganhar na loteria. 

O Kim deu soquinhos no próprio peito e um gole no suco para desentalar.  

— Porra, o que foi? — ele tossiu ao indagar. 

— O Minseok postou foto! 

Ao ouvir isso, Jongin contou até três, respirando profundamente. Ele fechou os olhos com tanta encenação que Emma riu mais ainda. 

— Quem é Minseok? — perguntou quando se acalmou. 

— O barista!!! — ela exclamou, eufórica, mostrando o celular para ele. — Eu não acredito que ele postou uma selfie, sério! 

Ah, claro. Minseok era o cara do gato, da bicicleta e das costas musculosas. Que, instantes atrás, também havia se tornado o cara dos olhos felinos. 

— Nós combinamos, não é? — Ela segurou o telefone ao lado da própria face. — Será que eu uso essa foto de papel de parede? — A pergunta soou genuína. 

E, antes de soltar as frases que vieram à sua mente, Jongin repensou suas próprias atitudes. Seria hipócrita se julgasse a garota, porque ele considerou fortemente fazer o mesmo com a foto de perfil de Kyungsoo — e, veja bem, pelo menos Minseok era alguém com quem Baekhee conversava e flertava, enquanto isso todos os seus surtos com o Do eram apenas frutos da sua imaginação. 

— Vocês combinam mesmo — o Kim declarou.

Emma fez uma feição chorosa e contente, como se aquilo fosse tudo que ela precisava ouvir. 

— Ei, me faz um favor — Jongin pediu. E toda aquela situação e os seus pensamentos em Kyungsoo o motivaram a continuar: — Preciso achar o Instagram de uma pessoa. 

— É claro. — Emma se sentiu lisonjeada por seus dons serem solicitados e logo arrumou sua postura. — Quem? 

— Do Kyungsoo — disse —, o cara que visitou o quarto. 

A missão não durou nem cinco segundos. 

— É esse? — Ela mostrou o quinto perfil que apareceu nos resultados e os olhos de Jongin cresceram. — Arroba Dyo Kyung, tudo junto, underline Soo. Vou compartilhar contigo, pra ficar mais fácil. 

E ali estava. O que encontrou sob o perfil do @dyokyung_soo deixou tudo mais transparente que água potável. Do Kyungsoo era Dyo. Dyo era Do Kyungsoo. Não era segredo para ninguém: até a descrição em sua bio deixava isso evidente. 

Haviam fotos dele: isso foi tudo que Jongin concluiu em uma primeira olhada. Porque tinha medo de, caso resolvesse admirar melhor cada uma das imagens, escorresse saliva pelos cantos da sua boca. A única que não resistiu e clicou rápido foi uma foto de Kyungsoo usando uns fones enorme e próximo a um microfone profissional, com certeza durante as gravações do What2Do. 

Ver aquela foto fez Jongin automaticamente ouvir a voz alheia murmurando ao pé do seu ouvido. “Abre aspas…” E suas risadas gostosas… “Fecha aspas…” E as opiniões que ele tanto gostava de saber.     

Jongin poderia ter divagado por horas sobre Dyo. Seu dia podia ter encerrado ali, com ele deslizando o indicador no perfil alheio como se dependesse disso para viver. Porém, Baekhee fez um comentário que o despertou do transe apaixonado. 

— Nossa, ele é amigo do Chanyeol. — Ela também fuçava o Instagram de Kyungsoo e, é claro, não demorou a achar uma série de fotos dele com o Park. 

— Você conhece o Chanyeol? — perguntou, com o cenho franzido e a cabeça entortada para um lado. — Ele foi visitar o quarto com o Kyungsoo. 

— Ah, sério? Bem, todo mundo conhece Park Chanyeol. — Emma deu de ombros. — Ele é só o cara mais famosinho do campus. 

— Sério? — Jongin estranhou. — Por quê? 

— Ele é um digital influencer riquinho. A família dele é conhecida também, já vi a mãe dele dando uma entrevista na televisão e o pai é dono de uma rede de shoppings.  

Uau — o Kim murmurou, surpreso. 

Antes, Chanyeol parecia alguém… normal? Parênteses: depois que pensou isso, Jongin gastou segundos militando contra os próprios pensamentos.  

— É, uau mesmo… — Emma concluiu melodiosa. 

— E como sabe de tudo isso?

— Acompanho todas as páginas de fofocas da faculdade, meu bem — afirmou, orgulhosa. — Eu tenho que fazer alguma coisa enquanto você aprende Geometria Descritiva, não é? 

    Jongin riu soprado. 

    A menção à maldita disciplina o fez chamar Baekhee para estudar enquanto o período da tarde não começava. Antes de irem para a biblioteca, ele salvou os perfis de Kyungsoo e Chanyeol nas notas do celular para poder olhá-los melhor quando chegasse em casa — não os seguiu porque teve vergonha disso parecer estranho. 
 

 

Sinceramente, Kyungsoo não havia pensado muito no dono do apartamento, até porque qualquer especulação que fizesse sobre ele seria infundada. Tudo que sabia era o seu nome e o fato dele usar a foto de um cacto no perfil do aplicativo de mensagens, afinal.

Exceto as breves suposições que fez com Chanyeol — quase todas sobre possivelmente o tal Kim Jongin ser um riquinho mimado —, ele tinha resolvido deixar para tirar melhores conclusões no dia da visita. 

Como Kyungsoo dormiu na casa de Chanyeol, foi natural que, no dia seguinte, o Park se convidasse para visitar o quarto também. E o Do não se incomodou nenhum pouco com isso, achava até melhor não ficar sozinho em situações como essa. 

Chegaram lá com uns dez minutos de atraso e precisaram tocar a campainha algumas vezes. 

— Seu cadarço tá desamarrado. 

Quando Chanyeol comentou, Kyungsoo se abaixou para enlaçar os cadarços teimosos do seu tênis. E, ao levantar, deparou-se com Jongin bem à sua frente.  

Surpreendeu-se quando seus olhares se cruzaram. Antes de formar qualquer outra opinião, a mente de Kyungsoo abrilhantou uma verdade: Jongin era um cara bonito, bem mais bonito do que os caras que ele geralmente achava bonito. Seu rosto chamava atenção e, mesmo em segundos o contemplando, era possível perceber que cada simples detalhe da sua aparência havia sido pensado cuidadosamente. 

O resultado? Ali, parado e apoiado na soleira da porta, com um cardigã vermelho e um ar refrescante de “tomei banho”, Jongin parecia engomadinho feito um mocinho de dorama. 

Se Kyungsoo julgasse o dono do apartamento apenas pela impressão inicial, talvez achasse que ele era exatamente como imaginou. Mas não. Ao longo da visita, agraciado pelo jeito desengonçado com que Jongin agia, terminou pensando apenas no quanto ele era… fofo. E também perdeu alguns neurônios refletindo sobre uma coisa: tinha feito algo para deixá-lo tão nervoso?

Esperava muito que não.  

— E aí, quando você vai se mudar? — Chanyeol perguntou, surgindo ao seu lado feito uma assombração. Seus devaneios com Jongin foram embora no mesmo instante. 

Mais uma vez, eles estavam sozinhos na sala da rádio. Era costume do Park, como o coordenador, e de Kyungsoo, como o locutor mais atarefado, usarem cada segundinho livre dos seus horários em prol daquele projeto. Por isso, assim que voltaram da visita, depois de passarem em um restaurante no caminho para o campus, foram direto para o departamento de Jornalismo e começaram a trabalhar.   

— Eu não decidi ainda, o aluguel é realmente caro — Kyungsoo não mentiu. 

Ele tinha adorado o quarto, o apartamento em geral e seu possível companheiro de moradia. Contudo, mesmo que considerasse as suas economias e o dinheiro que ganhava como bolsista de extensão da rádio universitária, arcar com o valor daquele aluguel seria como uma facada em sua conta bancária, teria que se planejar muito bem para viver com o que restaria. Ou, quem sabe, arranjar uma renda extra.   

— Fala sério — Chanyeol disse, impaciente, e o Do se preparou para o discurso que certamente viria a seguir, pausando as anotações que fazia sobre o episódio do What2Do e buscando o olhar do amigo. — Tudo bem, se a gente tivesse encontrado outros lugares, eu não ia dizer nada sobre você querer economizar e ficar com o mais barato, mas essa é a única opção até agora. E é uma opção muito boa! 

O Park não queria soar inconsequente, até porque sabia que Kyungsoo era muito organizado em todos os aspectos de sua vida, mas achou que ele precisava de um empurrãozinho para tomar logo uma decisão. 

— Vamos lá… O semestre tá avançando, vão vir as provas, os trabalhos, e ainda tem a rádio… vai tudo piorar. Você sabe disso! Sabe que tem que se mudar o mais rápido possível. 

— Eu sei — Kyungsoo  murmurou, sem paciência para discutir —, mas…

— Mas nada, Soo. — Chanyeol ficava cada vez mais sério. — Você vai acabar adoecendo se continuar desse jeito, sem dormir direito, com uma rotina horrível. Morar perto do campus é uma necessidade, ainda mais para você que, literalmente, vive pela faculdade — declarou e riu sem humor. Sabia que era assim também. — E não é como se você precisasse morar lá pra sempre, sabe? Pode ser algo temporário! No começo do próximo semestre, com certeza os dormitórios vão vagar e, então, você pode se mudar.

Quando Chanyeol encerrou o monólogo, Kyungsoo deixou que o silêncio perdurasse, fazendo a conversa se encerrar ali. Ficou parado, olhando para o nada, considerando todas as coisas que o seu amigo fez questão de lembrá-lo. A decisão que deveria tomar parecia óbvia depois de tudo que ouviu. Os argumentos eram válidos e coerentes, não fazia mais sentido se esforçar tanto para achar a solução dos seus problemas quando ela estava logo ali, a uma mensagem para o cara com a foto de cacto de distância. 

Ainda assim, resolveu pensar mais um pouco. Só mais um pouco. Naquela noite, antes de começar o programa, bateria o pé no chão e deixaria o dono do apartamento saber sua decisão final. 

 


 

Jongin estava deitado no sofá, de barriga para cima, com um balde de frango frito apoiado sobre o estômago e com o celular — melecado de molho picante — em mãos. Enquanto comia, entretia-se passando as fotos de Kyungsoo pela vigésima sétima vez. Se duvidasse, ele já tinha até decorado a linha do tempo da vida alheia.

As informações mais relevantes que Jongin colheu durante a sua pesquisa de cunho meramente científico foram: Kyungsoo tinha vinte e cinco anos, sendo quatro anos mais velho que ele, então precisava lembrar de tratá-lo como tal; era muito amigo de Chanyeol, havia fotos bem antigas deles dois junto, o que deixou uma ruguinha mal humorada fixa na testa do Kim, e, pelas datas, tinha acabado de voltar do serviço militar.     

Inclusive — insira aqui um alerta de segredo secretíssimo —, Jongin quase morreu entalado com uma asa de frango quando viu uma foto de Kyungsoo fardado pela primeira vez. 

Quem poderia julgá-lo? O cara era lindo… ainda mais fardado, com a boina pendendo lateralmente no topo da cabeça e sorrindo… 

Jongin sentou no sofá quando se deu conta da natureza dos pensamentos que estava tendo. Até aquele exato momento, não tinha parado para pensar que a sua paixonite, esse tempo todo, era um cara. Acredite se quiser, ele realmente não tinha se dado conta disso, de que fantasiava romanticamente com Dyo, um homem, desde a primeira vez que ouviu sua voz.

Engoliu seco. O frango frito já fazia uma roda punk em seu estômago. 

Jongin nunca pensou que se questionaria assim. Pensar sobre si mesmo era algo que, com o tempo, aprendeu a evitar. Tinha medo de se escavar desse jeito, medo de encontrar algo que não reconhecia. Buscar afoito por um rótulo que o descrevesse fez um desespero crescer em seu peito. Por milésimos de segundos, Jongin não soube quem era, nem quem deveria ser. Mas achou que “deveria” não podia ser usado nessas circunstâncias, porque dava a entender que devia algo a alguém. E isso era injusto; aquilo era só sobre ele, o seu único compromisso era com o que lhe faria verdadeiramente bem. 

Pensou em tanta coisa enquanto tentava se rotular que suas mãos congelaram. Foi inevitável que a imagem dos seus pais estampasse sua mente. Não sabia como conclusões bobas sobre como um cara era bonito o trouxe tantas reflexões. Aquilo era loucura, ele não precisava surtar. Não mesmo. Mas não conseguiu se controlar. 

Rápido, Jongin lambeu os dedos sujos de molho e apertou o celular entre as mãos, escrevendo para a pessoa que mais o conhecia no mundo inteiro: Oh Sehun. 

“Me liga. Preciso falar com você.” Foi tudo que digitou. Ao calcular o fuso horário e perceber que era cedinho da manhã em Dublin, perdeu as esperanças que Sehun fosse visualizar logo. E, quando estava considerando fortemente ele mesmo telefonar para o melhor amigo — sem dó nenhuma de acordá-lo —, recebeu uma ligação.

Mas não era Oh Sehun.     

— Jongin? — Ao invés de piorar seu estado, aquela voz o acalmou.  

— Oi — respondeu, a voz soando baixa e contida. 

— É… tá tudo bem? 

O Kim estranhou a pergunta, mas fez o seu melhor ao dizer:

— Sim, e com você? Ligou pra falar do quarto?

— Uhum — confirmou. — Eu já me decidi. 

— Sério? Tão rápido? — Jongin pensou alto e se arrependeu. Por que interagir com Kyungsoo o deixava estabanado? — Quer dizer… e, então…?

—  Eu vou ficar com o quarto — afirmou, com todas as palavras ditas firmemente. 

O vocabulário de Jongin sumiu e quase não voltou. Seu cérebro mal tinha processado a crise existencial que enfrentava segundos atrás e agora a notícia que tanto esperou veio fazer parte desse emaranhado de sentimentos. 

Apesar de tudo, ele sorriu para si mesmo. E um tipo diferente de felicidade — uma com um quê de desespero — o invadiu quando exprimiu: 

 — Isso é bom, isso é muito bom!

Mal via a hora de ter Kyungsoo tão pertinho.


Notas Finais


1 - Fala da Emma: “Ah, meu deus! Eu não acredito que você tá arriscando a vida desse jeito, seu idiota! Eu falei que podia te emprestar dinheiro!”
2 - A outra fala da Emma: “Estão vindo matar você? Nós deveríamos fugir agora? Eu sou tão bonita e jovem pra morrer!”

Queria agradecer novamente por todo o carinho. Não vou prometer uma data pro próximo capítulo, porque fico cismada quando não consigo cumprir. Mas vai ser logo!

Só mais uma coisinha: tá rolando uma interaçãozinha tá no twitter (@h_anabia), porque o Peach andou aprontando… Se der, passem por lá :) E não esqueçam de usar a tag #LendoAbreAspas /implora


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