— Você é um puta idiota, Jeon Jungkook! — Jimin exclamou, extremamente fora de si.
Jungkook afundou a cabeça nas próprias mãos; estava nesse momento preparando a decoração para o seu casamento, mas não conseguia parar de pensar em alguém.
Alguém que não era sua noiva.
E ter Jimin gritando consigo não ajudava em nada.
— Você veio aqui só para me ofender? — questionou, com indignação.
Estava monitorando a decoração no momento, daquele buffet exageradamente requintado. E estava tudo muito corrido porque o casamento havia sido adiantado, e ninguém pareceu compreender exatamente o porquê.
Apenas Jungkook sabia o que o levou a fazer isso, mas não externou o motivo para ninguém, nem mesmo para o seu melhor amigo. Então, como tem feito nas últimas semanas, preferiu manter tudo para si.
— Exatamente, e que bom que você entendeu! — Jimin concordou, e Jungkook revirou os olhos.
— O que quer que eu faça, Jimin?!
— Quero que me explique o que é... isso! — o ruivo questionou muito exaltado enquanto apontava para todo o buffet; na ausência de respostas, ele continuou. — Você sabe mais do que eu que não é ela que você ama!
— Eu não quero casar com ninguém além dela, Jimin... — Jungkook sussurrou baixinho, recusando-se a encarar o outro.
Mas é claro que ele mesmo sabia que aquilo estava longe de ser sincero.
— Não? Tem certeza? Então, é com ela que você implica desde que conheceu, hm? Também é nela que você pensa todos os dias, mesmo que seja para incomodar? — ele foi deduzindo e Jungkook foi encolhendo os ombros na medida em que a verdade o atingia como um tapa. — Vamos, Jungkook! É por ela que você assiste filmes bregas de romance todo fim de semana, mesmo quando todos sabemos o quanto odeia esse gênero?
— Eu nã-
— Cala a boca, era uma pergunta retórica! — interrompeu o homem, impaciente. — Agora, olha ao seu redor! — bradou Jimin, apontando pelo extenso salão do buffet, sob o olhar confuso do moreno. — Ou você não notou que entupiu esse maldito salão com as flores favoritas de Taehyung?
Foi a vez de Jungkook ficar boquiaberto; porque, era verdade, ele realmente havia feito isso sem nem mesmo perceber. Odiava flores, o cheiro delas o irritava profundamente, mas ali estava ele, pondo a espécie favorita de Taehyung por todo o local.
— Você nem mesmo notou, não é? — deduziu, com precisão; Jimin chegou perigosamente perto de Jungkook, e o mais novo nunca pensou que pudesse um dia achar o baixinho tão assustador quanto naquele momento. — Apenas admita: você tá apaixonado pelo Taehyung desde que ele te bateu com aquele maldito caderno!
Jungkook baixou os olhos, sem encará-lo.
— Olha… É por isso que tô aqui, Jungkook. Como seu amigo, tenho que jogar umas boas verdades nessa sua cabeça oca. — ele continuou falando, baixinho dessa vez, mas não menos sério. — Mas… eu também tô aqui, principalmente, como melhor amigo do Tae. — ele foi dizendo, parecendo mais sensibilizado agora. — E devo dizer que isso machuca muito a ele, Jeon. Muito mesmo, e tenho certeza que você sabe disso. Então… não brinque com os sentimentos dele, ou eu não vou hesitar em chutar sua bunda, ok? — ele ameaçou e, antes de se virar para ir embora, acrescentou por último: — E você sabe que, no pior das hipóteses, você pode perdê-lo, e já vai ser tarde demais. — então, ele finalmente se retirou, dando fim àquela angustiante conversa.
E Jungkook ficou ali, imerso nas dolorosas verdades.
Ele pegou nas mãos uma pequena flor, observando as pétalas brancas e lembrando-se imediatamente de Taehyung.
— Eu… queria que as coisas tivessem sido diferentes. — desabafou para a pequena planta, sentindo-se um tolo.
E viu a primeira lágrima manchar a pétala bonita.
Era tarde demais…
.
.
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Kim Taehyung
Eu definitivamente odiava Jeon Jungkook em muitos aspectos.
Mas eu conseguia amar aquele idiota na mesma proporção, mesmo sabendo agora que não era recíproco.
E se, de algum jeito fosse, bem... ele jamais me diria. Porque ele é assim.
Desde o bendito dia em que o conheci.
Havia algo diferente nele que sempre me chamou atenção... atenção até demais, e era exatamente por essa razão que eu o odiei de início; ele me causava sensações estranhas e isso me incomodava. Porque qualquer coisa sem explicação me irritava profundamente e, consequentemente, Jungkook me irritava.
Então eu o conheci melhor e, céus, se antes eu não tinha motivos plausíveis para gostar dele, posteriormente eu com certeza tinha.
Porque Jeon Jungkook escondia um tremendo babaca por trás daquele sorrisinho tímido que atraía tantas garotas. E eu o odiei por muito tempo, mesmo que o maldito tivesse feito parte do nosso ciclo de amizades.
Mas tudo mudou quando os meninos resolveram nos castigar e eu nunca soube se isso havia sido uma coisa boa. Às vezes, honestamente, penso que gostaria de continuar implicando com ele — porque, mesmo irritante, ainda era divertido —, as coisas estavam boas como eram.
Porque odiá-lo era bem mais fácil do que amá-lo.
E, se duvidar, eu ainda tinha capacidade de fazer os dois.
Desde o dia em que decidimos fazer um trato para nos darmos bem, eu olhava para ele com outros olhos.
Quando me permiti conhecê-lo, finalmente pude perceber que ele havia mudado consideravelmente. Porque Jungkook era um babaca e reconhecia isso, apresentando sinais de desejo por mudança. Mesmo que um “desculpe” muitas vezes fosse acompanhado por uma ofensa, ou que um “obrigado” saísse arrastado de seus lábios, ainda era uma mudança verídica. Jungkook desejava se tornar uma pessoa melhor.
Eu nunca soube qual era sua súbita motivação para tal, mas eu admirava isso.
Por esse motivo, eu comecei a idealizá-lo de forma atípica.
Principalmente quando eu descobri o seu maior segredo: sua sexualidade.
Realmente, não devia ser fácil ser uma identidade pública e manter um segredo como esse, levando em conta a mídia impiedosa. Eu nunca entendi muito bem o porquê, mas ser homossexual para ele parecia algo vergonhoso, desgostoso e repugnante.
Mas então, consequentemente, era isso que passei a significar para ele: um segredinho vergonhoso, desgostoso e repugnante.
Porque de dia, ele era o filho do empresário famoso, perfeito aos olhos da mídia, da escola, e dos amigos; mas, de noite, ele era aquele gay enrustido, e eu, sua maior vergonha.
Eu não via problema nisso, ou melhor, não até que meu coração passasse acelerar mais que o normal por conta dele.
E, por um momento, eu achei que fosse recíproco.
Até aquele casamento inusitado.
Eu o conhecia muito bem, isso é um fato, pois nós nos conectamos de uma maneira inexplicável, apesar de sermos tão diferentes; mas se teve algo que ninguém entendeu, foi porque diabos Jungkook resolveu se casar.
E ele não me explicou nada, nem mesmo quando o questionei: porque sempre foi assim, Jungkook nunca me deu explicações, nem mesmo do nosso relacionamento indecifrável — se é que posso chamar isso de relacionamento.
E foi assim que fui rebaixado para amante.
Eu fui idiota ao ter me permitido chegar a esse nível, mas eu o fiz, porque Jungkook não amava Soobin, então eu não estava pecando... estava?
De qualquer forma, isso me desgastava porque eu finalmente percebi que aqueles enjoos que jurava ser dor de barriga eram, na verdade, as malditas borboletas de estômago tão citadas em livros de romance.
E, de fato, eu sempre fui um garoto romântico, criado pela Disney e por filmes utópicos de amor verdadeiro; mesmo que a sociedade não tivesse bons olhos para esse tipo homoafetivo, eu ainda acreditava na chegada do meu príncipe encantado em um cavalo branco.
Então, eu fui ingênuo o suficiente para achar que se eu declarasse meu amor por ele, ele desistiria daquela ideia maluca e me assumiria como seu amor. Até divaguei em algumas fantasia em que Jungkook aparecia no maldito cavalo branco, num campo de flores vermelhas, ao pôr do sol. E, nossa, como ele ficava bem naquele traje de príncipe, em minha imaginação.
Mas eu apenas fui estúpido.
Lembro-me perfeitamente daquele dia, cada detalhe:
Minhas bochechas estavam ruborizadas devido ao álcool e ainda mais com o contato brusco contra meus lábios que fora desferido a seguir. Bastou os meninos saírem do apartamento de Jungkook, dando fim a sua despedida de solteiro, para que eu e ele nos víssemos naquele beijo que era bem mais vicioso do que a nicotina, cujo cheiro dominava o ambiente.
Porque era isso que eu era para Jungkook: um vício, mas que ele fazia bem mais questão de esconder do que aqueles cigarros.
Eu suspirei pesadamente naquele momento, tentando recuperar qualquer resquício de coragem do ar rarefeito, apenas para pôr para fora o que eu queria há tanto tempo.
A minha mente insistia em me falar que, se eu o fizesse, jamais seria um segredo, e que nossa história finalmente começaria.
Eu nunca deveria ter escutado essa voz.
— Jungkook... — a minha voz saiu num sussurro, quase suplicante, e eu vi o moreno olhar para mim na expectativa, e cheio de desejo; estávamos ambos sendo movidos pelo álcool, e eu me aproveitaria disso para finalmente admitir. — Por favor, desiste desse casamento maluco, fica comigo… — eu falei, forçando minha voz a sair, sentindo um bolo imaginário na garganta. — Porque eu… eu te amo! — a voz saiu dos meus lábios, impulsiva e naturalmente, como se fosse muito comum falar aquilo, e eu sorri porque parecia que um peso gigantesco havia sido tirado de minhas costas.
Eu o olhei, imerso em expectativas, porque esperava que ele fosse retribuir; seja um "eu também", um beijo apaixonado, ou até mesmo um sorriso singelo.
Qualquer coisa que significasse que aquele sentimento era recíproco.
Mas qualquer coisa teria sido melhor do que aquilo.
— Eu tenho uma noiva, Taehyung, e o casamento será amanhã. — ele afrouxou o aperto em minha cintura, afastando-se alguns passos de mim, e eu senti as forças de minhas pernas se esvaíram; sem seu aperto, parecia que eu estava prestes a cair em qualquer momento. — Só porque… “isso” acontece, não significa que eu não ame minha noiva. E você não pode mudar isso, pare de achar que tudo está sob seu controle.
Foi assim que ele me deixou sozinho, na entrada do seu apartamento, imerso nas minhas dúvidas e frustrações. O cômodo parecia mais pequeno que o normal, sufocando-me, enquanto o chão parecia se esvair abaixo de mim.
Por muito tempo, eu fiquei daquele modo, encostado na parede, mas sem apoio; depois de um longo momento, eu suspirei com muito pesar, mas o ar ainda parecia rarefeito; quanto mais eu respirava, mais asfixiado eu me sentia. Precisava sair de lá.
Precisava deixar todos os meus sentimentos naquele cômodo, ou eles me sufocariam.
Com muita dificuldade, eu me ergui, movendo-me até a geladeira com muita relutância; eu parecia mais pesado que o normal.
Procurei por uma caneta, sentindo uma ideia me invadir de repente. Jungkook sempre soube que eu adorava itens de papelaria, então ele havia separado um espaço apenas meu para que eu efetuasse minhas criações malucas; claro, na época, eu achei isso super fofo, mas agora só vejo o quão ridículo da minha parte fora pensar isso.
E eu só percebi o quanto estava chorando quando, ao tentar riscar o calendário na porta de sua geladeira; minha vista estavam embaçada por conta das lágrimas, e o risco estava torto e feio.
Mas ia servir.
"27 de julho", circulado por uma tinta azul gritante, recheada de glitter.
Era meu aviso, para eu mesmo: pois, a partir daquele dia, as coisas mudariam. Era o casamento do meu amigo, afinal.
Sempre que eu olhasse para aquela data, eu me lembraria do quão estúpido havia sido.
— Jungkook? Abre já essa porcaria! — eu exclamei, furioso, no dia seguinte.
Eu ainda era o padrinho de seu casamento, então precisaria cumprir meu dever. Ainda assim, admito que, durante a noite — que eu sequer dormi, inclusive — minha melancolia se transformara em fúria.
Eu sentia uma raiva insana de Jungkook.
Só não superava a raiva que eu sentia de mim mesmo.
— Eu sei que você tá aqui, então abre logo ou eu vou arrombar essa porcaria, e você também!
Dessa vez, eu dei um chute na porta; e foi bom, então eu desferi outro. Meu pé começou a doer, mas nenhuma dor se comparava àquela que ele me fez sentir ontem, então minha vontade era de realmente arrombar aquela maldita porta e, de brinde, aquele rosto bonito!
Mas, para meu desagrado, o momento que eu cogitei foi o mesmo em que ele abriu a porta. Minha vontade evaporou instantaneamente; ele me olhava curioso, de um jeito que nunca fez antes, e eu achei que seria um pecado socar aquele rosto bonito confuso, mesmo todo descabelado.
Mas me repreendi mentalmente. Eu não queria que meus pensamentos me sabotassem novamente.
E, céus, ele estava todo descabelado, e faltava minutos para o casamento!
Só que, o mais estranho, foi ver ele ter me obedecido sem contestar: porque, geralmente, ele sempre seguia o que eu mandava, mas fazia às lamúrias e resmungos.
Então, quando estávamos no carro, eu me peguei pensativo em relação a isso. O que havia acontecido com ele? Por que estava tão calado? Por que diabos não proferiu uma palavra sequer ou, no mínimo, revirou os olhos?
Eu achei que seu silêncio faria eu me sentir melhor, mas a verdade é que ele me corroeu por dentro. Não, eu não queria fugir do assunto. Eu queria conversar, mas a vontade não parecia recíproca, e foi exatamente por isso que joguei tudo para o ar, e resolvi questioná-lo.
Mais uma vez, péssima decisão. Isso apenas fez com que minha cólera aumentasse.
Ainda assim, usei todas as minhas forças em esboçar um sorriso para ele — afinal, ainda era o casamento do meu amigo, eu insistia em me lembrar —, mesmo que, no fundo, a tristeza me corroesse. Eu soube que poderia chorar a qualquer momento em sua frente mas, por sorte, nós chegamos no local antes que eu pudesse desabar.
Mas eu realmente achei que não fosse conseguir me conter quando ele me falou que havia perdido a memória. No entanto, seriam lágrimas de desespero, tristeza e angústia, uma mistura quase mortal.
Eu não sabia o que sentir. Era uma situação… surreal! Mas que, por mais mirabolante, de alguma forma, ainda explicava alguns de seu comportamentos estranhos.
Porém, parecia que o peso em minhas costas havia triplicado quando ele me pediu ajuda. Eu entrei em pânico na mesma hora, pois não é o tipo de coisa que se vê no dia a dia, ou facilmente resolvida com uma pesquisada no Google.
E, o pior, foi lutar contra minha enorme vontade de pedi-lo, mais uma vez, para acabar com aquele casamento. No fundo, eu queria insistir que aquilo era uma loucura e a oportunidade perfeita parecia ser naquele momento.
No entanto, ao invés disso, eu dei um longo suspiro, e pedi para que ele continuasse com a ideia maluca. E aquilo doeu.
Eu fui direto para o meu lugar, morrendo de ansiedade por dentro, e me controlando ao máximo para não contar para Jimin sobre o ocorrido. Mas eu tive que respirar fundo e prosseguir para que nada saísse errado em seu grande dia, como era, literalmente, minha função.
Entretanto, tudo parou no momento em que ele proferiu aquelas palavras.
Ele, que sempre quis que eu fosse um segredinho repugnante escondido a sete chaves no fundo de sua alma, estava, naquele momento, admitindo na frente de centenas de pessoas influentes, de amigos, do pai, e da mídia:
— Aceito você, Taehyung.
Eu não soube o que sentir naquele momento.
De um lado, eu queria acreditar que suas palavras foram verídicas. Que, no fundo, Jungkook realmente se via comigo, naquele altar. Meu coração se aquecia com esse pensamento.
De outro, eu me forçava a não me sabotar. Poderia ter sido algum engano, afinal. Tinha que ser um engano. Meu coração se despedaçava com este raciocínio.
Ainda assim, eu preferi escutar este último, pois precisava poupar a mim mesmo de mais decepções.
Então, eu fiz de tudo para manter a linha da amizade, e não foi tão difícil, já que minha mente fazia sempre questão de me lembrar da data “27 de julho”.
Mas isso foi se tornando cada vez mais complicado a medida em que eu tive que ajudar Jungkook com toda essa confusão.
— E logo você vai fazer isso? — questionou Namjoon um dia desses, parecendo incrédulo, e eu assenti positivamente.
— Claro que seria ele. — Yoongi reforçou, em tom de quem diz o óbvio.
— Porque eu o conheço muito bem, a médica achou que seria a melhor opção. Mas o pior de tudo foi ela ter dito isso do lado da Soobin, e do Jungkook. — eu comentei, sentindo um calafrio só de me lembrar. — Céus, foi tão angustiante! — desabafei.
Nesse momento, Jin, Hoseok e Jimin adentraram o ambiente, com uma aura estranha. Então, todos nós já imaginamos o que estava por vir.
— O quê? — Yoongi falou com impaciência, já se preparando para qualquer surto dos três.
— “O quê”, Yoongi? Nosso amigo acaba de perder a memória, e você nos pergunta, “o quê”? — Hoseok exclamou, com muita indignação.
— Ainda estamos no estágio de negação por nosso amigo. — Jin lamentou, sentando-se perto de nós, balançando a cabeça.
— Mas quem tá nesse estágio não aceita que está em negaçã-
— Ele era um menino tão bom, apesar de tudo! — bradou Jimin, e os outros dois concordaram, aparentemente decidindo ignorar o comentário do Namjoon. — E pensar que, nas minhas últimas palavras, eu gritei pra ele…
— O quê? — questionei, confuso, mas Jimin decidiu me ignorar também.
— Credo, ele não morreu... — Yoongi comentou, franzindo o cenho.
— Ainda assim… ele tá diferente. — eu desabafei, sincero, atraindo a atenção dos meus amigos. — Mas ainda é… bem, o Jungkook. — dei de ombros.
Nós todos imergimos em um silêncio pensativo, e era indubitável em que pensávamos.
Há um conceito da filosofia que diz que o ser humano é um ser bom, mas que a sociedade o corrompe, ao longo de sua vivência. Eu nunca entendi muito bem, honestamente, e tinha inúmeras críticas e questionamentos sobre isso.
Mas, com Jungkook, eu pude compreender melhor.
Era como se ele tivesse dado um botão de reiniciar na própria vida. E isso não necessariamente significava que ele era uma pessoa ruim antes, apenas que a sociedade, e o contexto do qual fora inserido, o levou a fazer algumas escolhas inusitadas. Com essa nova chance, ele não perdeu sua essência, mas pareceu ter uma nova perspectiva sobre as coisas.
Isso foi mais fácil de enxergar porque, mesmo sem a memória, ainda era o Jungkook conhecia ali, no final.
Ainda era Jungkook na sorveteria, e na roda gigante.
Ainda era Jungkook quando sorria de forma atípica, com aqueles olhos amendoados e eyesmile perfeito, ou quando ficava tímido com minhas perguntas nada discretas, ou até mesmo quando me repreendia por ser impulsivo demais em alguns momentos.
E ainda era Jungkook alí quando me beijou.
Mesmo sendo em plena luz do dia, eu sentia o mesmo gosto, a mesma paixão. Meu coração se aqueceu da mesma maneira.
A diferença é que, daquela vez, uma barreira parecia ter sido desfeita entre nós. E eu só pude perceber que ela já existia antes, quando deixou de existir, se é que fazia sentido
Ainda assim, algo em meu interior ainda insistia em dizer que aquilo era errado. Jungkook era noivo, e não amava a mim.
Eu não podia mudar isso.
Eu precisava parar de pensar que tudo estava sob meu controle.
Então, foi a minha vez de fugir. Eu simplesmente não consegui prender o que eu sentia há tanto tempo e não quis que ele me visse desabar desta forma.
Por isso, quando cheguei em casa, tudo o que fiz foi me jogar no sofá e chorar tudo aquilo que não chorei há dias. E eu não sei exatamente por quanto tempo mas, em minha cabeça, pareciam horas.
E, o melhor de tudo é que eu estava seguro. Afinal, ele não me encontraria ali em hipótese nenhuma. Estava contando com o fato de ele não lembrar de onde moro, para poder me esconder dele o máximo possível.
Mas, para variar, eu estava errado.
Quanda a campainha tocou, eu praticamente me arrastei até a porta, esperando que fosse qualquer pessoa, apenas para mandá-la embora.
Qualquer pessoa, menos Jungkook. E ele tinha uma aura pesada e segurava firmemente o violão que lhe pertencia em mãos.
Mas, sem dúvidas, o mais inesperado foi a marca arroxeada em seu olho, que revelava que ele foi violentado.
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