História Aceito... Espere, o quê?! - Notícia

Não há nada como férias.

Um tempo só para a gente, nada para fazer, tirando aqueles trabalhos de casa que certos professores sempre insistem em mandar que acabamos fazendo na noite anterior ao prazo de entrega, a Primavera no ar...

Não há realmente nada como ignorar tudo isso e ficar deitada na cama.

Ah... E tenho mesmo coisas para fazer mas quem se importa?

Só tenho mais alguns dias de descanso e a única coisa que quero fazer é...

-Lu! - a pequena que mora comigo entra no meu quarto gritando, lá se vai a minha paz e sossego... - Saia da cama imbecil!

-Porquê? Alguém morreu?

Ela faz uma cara de nojo e começa a cheirar o lugar.

-Parece que alguém morreu aqui, há quanto tempo não toma um banho? - fala tapando o nariz e abrindo as cortinas deixando a luz do sol, que eu não via desde que fui ao registo, entrar e se espalhar pelo quarto.

-Feche essa merda! - me escondo debaixo nos lençóis.

-Virou uma criança?! - os lençóis são puxados e um peso cai encima de mim - Há quanto tempo não come uma refeição decente? Não toma um banho? Fala com os seus amigos?

-Eu falei com o pessoal pelo celular. - aponto.

-Argh... - suspira e senta-se a meu lado - Sai comigo, vamos a algum lugar.

-Onde? - pergunto desconfiada.

-Não importa, só nós e as garotas. - junta as mãos como se fosse rezar - Por favor Lucy.

-Se tiver alguma coisa por de trás de...

-Não tem! Juro que não! - se levanta e começa a puxar pelo meu braço - Agora, banheiro! Já!

-Sim, sim.

Levanto-me, sem muita vontade, e faço cafuné na sua cabeça, pode ser bruta e teimosa mas é com as melhores intenções. E pensando bem até que não seria mau sair um pouco, esvaziar a cabeça, gastar dinheiro que deveria estar a poupar para o aluguel do apartamento.

Tomo um banho, realmente não tomava banho há algum tempo, e enrolo a toalha no corpo seguindo para o quarto.

Visto umas calças jean, uma camisola simples e calço os All Star pretos que sempre uso.

-Más notícias e boas notícias. - anuncia a azulada entrando no quarto.

-As ruins primeiro. - peço.

-A ruiva não pode ir... Mas! - levanta o dedo, coisa boa não virá - Mas a peituda pode.

Graças a Deus estava errada.

-Tudo bem, vamos.

E assim saímos de casa e começamos a andar pelas ruas.

-Onde ela vai nos encontrar?

-Acho que... - a pequena é interrompida por uma azulada maior.

-Garotas! A Juvia está atrasada? - a azulada de curvas generosas que dá pelo nome de Juvia chega ofegante a nosso lado.

-Chegou na hora. - falo - Mas que surpresa você vir, normalmente não larga o saco do Gray.

-É pois... - o seu sorriso vai embora e a sua expressão fica triste, acho que falei algo que não devia - O Gray brigou com a Juvia.

-Brigaram? Porque razão? - a menor perguntou.

Eles não são um casal, pelo menos ainda. Juvia é apaixonada pelo Gray desde que andávamos no secundário e sempre foram próximos, respeitando os sentimentos um do outro. Mas ultimamente, desde que Juvia entrou na faculdade e Gray começou a trabalhar, brigas tornaram-se mais frequentes entre eles. Não faço ideia o porquê.

-É complicado. - Juvia responde com um sorriso triste nos lábios, essa é a resposta que sempre dá quando lhe perguntamos, nenhum fala nada a respeito porém, daqui a um ou dois dias, vai voltar tudo ao normal.

-Ah... Que tal irmos naquela lanchonete nova? - sugiro para aliviar o clima.

-Claro! - falaram as duas em coro.

Assenti sorrindo e mudamos o trajeto, fomos em direção ao centro, onde se encontram maior partes das lanchonetes e cafés da cidade.

As ruas estão cheias de gente, para além de já ser Primavera e o tempo estar agradável, grande parte dos estudantes estão de férias, logo aproveitam para saírem.

Esta não é a minha estação do ano preferida, a minha é o Inverno, gosto de estar em casa, assistindo algo na TV quanto chove lá fora, mas não deixa de ser agradável o cheiro a flores e o sol que a Primavera traz.

Finalmente chegamos à lanchonete, é um lugar não muito cheio, as paredes azul claro dão um ar pacífico ao sítio, sentamos numa mesa perto da janela.

-Quero um crepe de chocolate com chantilly e morangos, banana e mirtilos, por favor. - Levy pede à garçonete - Vocês?

-Eu... - não faço ideia, olhando para o menu tudo me parece bom, acho que vou confiar no gosto da minha pequena - O mesmo que ela por favor.

-São três desses então. - Juvia agora já parece mais relaxada.

-Sim, para já. - a garota sorri e vai embora quase aos saltos, é mesmo jeito dela ou pagam-lhe para isso?

-Então vamos ao que interessa... - Levy começa, sorri de lado - A Lu está casada.

A outra azulada, que estava bebendo água, até engasgou e depois me olhou incrédula.

Não é como se eu estivesse à espera que a Levy mantivesse a boca calada mas pensei que demorasse mais tempo.

-L-Lucy você...! Como que isso aconteceu?! E nem convidou a gente?! - é com isso que está preocupada?

-Não enche o saco que nem eu lembro de como aconteceu, tá bom?

-Como assim não lembra?

-Aqui a nossa garota estava com uns copos a mais, conheceu o cara e antes que eu percebesse já estava arrastando o coitado para o registo. - Levy contou rindo.

-Nossa... - a maior tentou segurar o riso mas acabou por falhar, que bom que a minha vida ainda dá para fazer alguém rir - E como é o cara? É gato?

-É, sim, não haja dúvida. - afirmo - Ele até...

-Olha ele ali! - a baixinha fala.

Em pânico olho para o lado de fora da janela e realmente lá estava aquela cabeleira rosa junto do moreno que Levy enrolou.

Não ligando muito para a minha figura de atrasada vou para baixo da mesa.

-Qual? O alto e moreno? - Juvia perguntou.

-Não, esse é o cara da Levy. O outro, o da cabeça de algodão doce é o cara da balada. - digo seca.

-Meu cara o teu cu loira, dormimos 1 vez. Okay talvez 3 ou 4 vezes mas não é meu não. - fala agora mais baixo - O rosinha é o Natsu, o marido da Lu.

-Oh Lucy... Até que se deu bem. - não posso estar ouvindo bem, Juvia, a nossa Juvia, falando bem de algum homem que não é o Gray? Deus vai cair do seu amanhã, de certeza.

-Eles já foram embora? - não é que eu esteja me importanto com os olhares curiosos e surpresos dos outros clientes mas isto aqui não é propriamente confortável.

-Não, vão entrar aqui. - anuncia Levy.

-Está brincando comigo, neh?

-Claro que estou idiota. Saia de debaixo da mesa cachorra.

Ainda desconfiada levanto-me e sento-me na cadeira, olho lá para fora e nada de rosinha, dessa vez passei.

-Pelo jeito não se dão bem. - concluiu Juvia.

-Não conheço o cara, ele se aproveitou de mim e casou comigo, e ainda se recusa a assinar o divórcio! - apesar de não podermos de qualquer jeito...

-Que tal lhe dar uma chance? Ele parece ser legal.

-Nem pensar, para que iria fazer isso? Não preciso dele na minha vida, quantos menos problemas melhor.

Quanto menos problemas e quanto menos homens.

-Que salgada... Um pouco de amor nunca fez mal a ninguém. - Levy suspirou.

-A mim fez.

Olho para baixo, para a mesa, mas mesmo assim sei o jeito que elas estão olhando para mim. Elas sabem bem, elas e todos os nossos amigos, na verdade qualquer pessoa da nossa escola secundária ficou sabendo, da minha desgraça, ou melhor, da nossa desgraça.

-Aqui estão! Desculpem a demora! - a senhora saltinhos coloca o pedido de cada uma à nossa frente e lá segue ela de volta ao balcão.

-Que bom! - ambas exclamam ao provarem os crepes.

Enquanto ela conversam eu vou comendo o meu em silêncio. Não me apetece falar e mesmo se me apetecesse não tenho nada para dizer, passei estes dias no quarto, saindo só à noite para ir buscar comida, mandei mensagem aos mais próximos dizendo que estava viva, não faço ideia do que se passou e também não quero saber, só penso em voltar à Universidade e estudar, nada mais.

Ao olhar lá para fora reparo que uma certa pessoa voltou, Natsu.

Está andando lado a lado com o primo, não sinto necessidade de me esconder, estão muito longe para me poderem ver, visto assim até que não parece um idiota.

Reparando bem... Ele até que é... Não, não, não, não e não! No que raios estou pensando!?

Pouco me importa se ele é bonito, que a sua pele morena parece chamar por mim, aquele cabelo rosa que dá vontade de... Argh não! Chega!

Não me posso interessar, não irei permitir, se tal coisa acontecer... Entrego-me às freiras! Isso mesmo! Nem morta eu me irei interessar por outro homem!

Mas vê-lo assim, sorrindo descontraidamente enquanto fala de algo com Gajeel faz com que ele pareça realmente legal.

Talvez se eu apenas lhe falar, por mera educação, talvez estes 6 meses passem mais facilmente.

Não irei me interessar, será tudo para o meu bem, tudo para que tudo isto acabe do jeito mais tranquilo e rápido possível.

***

Flashback

Por causa do barulho e do desconforto do lugar acabamos vindo cá para fora. Porque vim junto dele? Não faço ideia mas ele me fez rir e, honestamente, gostei de rir.

-Somos jovens, temos uma vida pela frente mas também já temos uma vida para trás.

-Vai começar a refletir sobre a vida? - rio um pouco e encosto-me na parede de tijolo velho.

-Vai me dizer que não é verdade? - leva as mãos ao ar - É disso que a vida se trata, devemos viver a nossa vida até ao dia da nossa morte, controlar o que podemos e...

-Voar livremente. - completo sorrindo - Acertei?

-Na mosca. - apontou para mim rindo - Sabe, isso vai parecer louco mas eu gosto de você.

-Qual é, nem me conhece.

-E preciso conhecer? - sorri de lado e aproxima-se de mim - Eu quero te conhecer, não quero que você fuja de mim, Luce...