História Acordos - Noite de núpcias.

Hinata não havia se divertido em sua festa de casamento, mas não queria que ela tivesse acabado.

Por tradição, o casamento só era consumado depois que os noivos tivessem sua primeira noite de amor, juntos. Ela não queria isso.

Hinata desejava, com todas as suas forças, que algo acontecesse naquela noite e impedisse que Naruto a tocasse.

Ela não queria. Ela não poderia. Ele descobriria.

Quando eles atravessaram as portas do salão de braços dados e sorrisos no rosto, sorrisos não tão verdadeiros quanto pareciam, o povo lhes aplaudia, vendo-os caminhar em direção a seus novos aposentos.

Quando entraram no quarto, a luz de algumas velas fazia toda a escassa iluminação do lugar, levando em consideração a temperatura absurdamente quente daquela noite era vantajosa a pouca presença de fogo, mas ainda mais preocupante para a Hyuuga.

Ela ouviu quando a porta foi fechada com um baque silencioso, ouviu os passos de Naruto ao se aproximar por suas costas.

Sentiu quando as mãos dele tocaram seus ombros expostos e seus lábios se encontraram com seu pescoço.

-Finalmente você é minha, Alteza.

A voz era rouca, embebida no desejo que ele reprimiu por tanto tempo.

Hinata não se moveu. Mantendo-se em silêncio absoluto.

Não disse uma única palavra, nem quando o vestido desceu escorregando por todo o seu corpo, guiado pelas mãos firmes e ágeis do loiro.

Quando o Uzumaki, então, parou de frente a ela, os olhos a devorando por completo, notou que ela já não mantinha mais a cabeça erguida, mas ele queria se encontrar com aqueles olhos.

Segurou-a pelo queixo e ergueu sua cabeça, quando ela o encarou, finalmente, num gesto imediato ele a soltou.

-Vista uma roupa. -Disse simplesmente. A névoa de desejo em seus orbes azuis se dissipava, embora continuasse lá.

-Não me deseja? -Sua voz saíra baixa.

-Mais do que já desejei qualquer outra mulher.

-Então porque…

-Porque você está chorando. -Ele respondeu sem esperar que ela concluísse, a voz dura. -Eu disse que não te desrespeitaria e que faria o que você quisesse, se você não quer que continuemos então não vamos continuar.

“Não vou te forçar a fazer isso, não sou nenhum estuprador. Agora vista suas roupas.”

-Eu…

-Porra, Hinata! Apenas vista a merda da sua roupa! -Ele suspirou, virando-se de costas em seguida. -Eu quero muito te jogar naquela cama e foder com você, então se não quer que isso aconteça não abuse da minha boa vontade me provocando. Por favor, vista alguma coisa.

-Sim, senhor.

Rapidamente ela secou as lágrimas e pegou um roupão que estava separado ao lado da cama e vestiu.

-Estou pronta.

Naruto então se virou, era perceptível que estava decepcionado com seu casamento, mas não falou nada, apenas tirou as roupas que usava, deixando claro que ainda estava excitado, e colocou seu próprio roupão.

-Desculpe-me… -Ela começou vendo-o pegar alguns travesseiros da cama.

-Não se desculpe por não querer transar com um cara com o qual foi praticamente forçada a se casar. Eu entendo.

Dirigiu-se até uma espécie de divã, afastado da cama, e ajeitou os travesseiros, deitando em seguida.

-Não precisa fazer isso.

-Não vai me ajudar, fisicamente falando, dormir do seu lado.

-Ah… Entendi.

-Tenha uma boa noite, Alteza. -Disse e se virou de costas para ela.

-Naruto? Obrigada por me entender…

Ele não lhe respondeu, como fazia o tempo inteiro, mas desta vez Hinata não ficou com raiva. Estava agradecida e aliviada.

A manhã veio rápido, com um céu límpido e sol brilhante. A temperatura já havia se amenizado e o dia prometia ser maravilhoso.

Quando acordou, Hinata notou que Naruto ainda dormia numa posição meio desajeitada. Levantou-se e providenciou para que o café da manhã fosse trazido até o quarto. A bandeja com pães, bolo, suco e maçãs chegou alguns minutos após seu pedido.

Hinata deixou tudo sobre a mesinha que tinha na varanda do quarto e foi até o loiro.

-Naruto? -Chamou e o chacoalhou levemente.

-Hum? -Ele murmurou sem sequer abrir os olhos.

-O café da manhã está pronto.

-Hunhum… -Murmurou mais uma vez e virou-se para o outro lado.

Hinata respirou fundo.

-Naruto. -Chamou de novo.

-Não estou com fome. -Sua voz saíra mais alta, mas ainda sonolenta e irritada.

A morena bufou e o puxou pelo ombro, fazendo-o virar-se para ela e abrir os olhos com expressão de tédio no rosto.

-Vai ficar com raiva de mim pelo resto da vida porque eu não quis foder com você? -Ela também já estava irritada.

Naruto se sentou a encarando.

-Não estou com raiva de você por isso, Hinata. -Disse simplesmente.

-É pelo quê então?

Ele esfregou as mãos pelo cabelo, num claro sinal de que não estava disposto a conversar.

-Eu sei que não queria se casar comigo, mas ambos sabíamos o que teríamos que fazer, não estou com raiva por não ter feito, estou com raiva por não ter me dito o quão repulsivo sou para você.

-Você não é… -Começou a se defender mas foi interrompida.

-Não se esforce para mentir, eu vi nos seus olhos ontem o quanto você estava achando nojento ter de se deitar comigo, o quanto aquilo parecia ser a coisa mais errada que você poderia fazer em toda a sua vida. Você não seria a primeira mulher a me rejeitar, Hinata. -ele deu um sorriso amargo. -Acredite, isso não é pelo meu ego. Isso é sobre eu ter achado que tinha conseguido fazer com que você tivesse visto algo de bom em mim que diminuísse seu ódio inicial e descobrir que não cheguei nem perto disso.

Naruto não se surpreendeu quando não ouviu nenhuma resposta, embora tivesse ficado decepcionado.

Hinata não teve mais coragem para encará-lo, embora quisesse lhe dizer que o ele vira em seus olhos na noite anterior não era nojo, era medo. Medo de seu passado e seus segredos. Mas não lhe disse. Não poderia dizer.

O loiro se levantou e trocou de roupas.

-Aonde você vai? -Ela perguntou com uma voz bem menos autoritária que o normal.

-Caçar. -A voz dele, em contrapartida, saiu firme e livre de preocupações, assim como ele saiu após lhe responder.

Tenten andava tranquila pelos corredores quando viu Naruto caminhando em sua direção, ele estava sem armadura mas a espada estava na bainha, o que a fez concluir que algo havia dado errado.

-Majestade. -Disse e fez uma reverência assim que ele parou à sua frente.

-Já disse que não precisa de tanto, Tenten. -Sua voz era suave, mas o sorriso em seu rosto, ela percebeu, não era tão sincero quanto os que ele costumava dirigir aos membros do palácio com frequência.

-Algum problema, meu senhor?

O loiro suspirou.

-Você é amiga de Hinata há muito tempo?

-Há alguns anos.

-Quantos?

-Desde que éramos crianças.

-Tenten, há algo sobre minha esposa que eu não saiba mas que deveria saber? -A intensidade do olhar que ele lhe lançava a fez perder a voz por alguns instantes.

-Meu senhor… Eu acredito que deva fazer essa pergunta à ela.

-E você acha que ela me responderia?

-Não sou capaz de lhe dizer isso.

-É claro que é. Conhece-a melhor do que eu jamais conhecerei. Ela me responderia, Tenten? -Perguntou mais uma vez, ainda mais firme.

-Temo que não, meu lorde.

-E você também não me diria, não é? -Ele arqueou as sobrancelhas.

Em silêncio, Tenten negou com um movimento suave de cabeça.

-Perdoe-me, mas não posso fazer isso.

-Não se preocupe, não vou lhe condenar por ser fiel à sua senhora. Isso é tudo, com sua licença. -Ele se curvou brevemente em uma despedida e voltou a andar.

-Senhor? -Tenten o chamou, fazendo-o se virar alguns passos á sua frente.

-Pois não?

-Obrigada por entender. Devo manter essa conversa em sigilo?

O loiro esboçou um leve sorriso.

-Agradeceria se fizesse isso por mim.

Ela apenas assentiu e ambos tornaram a seguir seus caminhos.

-Pelo seu humor, suponho que a noite não tenha sido tão boa quanto o esperado. -Sasuke, ao seu lado, armava-se em conjunto com o loiro.

-Ela não quis.

O moreno apenas assentiu.

-Quem mataremos dessa vez? Hinata ainda possui muitos inimigos.

-Não mataremos ninguém.

-Como? Achei que íamos caçar.

-Eu vou. Você não.

-Está me dizendo que não vai me levar com você? Desde quando você vai sozinho?

-Eu não vou, tenho muitos outros soldados a disposição, além de você.

-Você me entendeu. Sempre lutamos juntos.

-Dessa vez será diferente.

-Por quê?

-Tenho um outro trabalho para você.

-Não vai me deixar de guarda aqui, vai? Por favor, Naruto, eu preciso enfiar uma espada em alguém, estou em abstinência.

-Não é isso. -A voz do loiro era firme.

Os músculos de Sasuke relaxaram ao perceber que o amigo lhe confiava uma missão importante para ele.

-O que eu tenho que fazer?

-Hinata está escondendo alguma coisa de mim, descubra o que é.

-Por que você não faz isso?

-Se eu começar a investigá-la ela vai descobrir e se proteger mais rápido, qualquer um sabe quem eu sou e lhe diria que ando fazendo perguntas. Ela vai se sentir mais segura se eu não estiver aqui, pessoas que se sentem seguras abaixam a guarda, aproveite e investigue-a. Quero saber tudo sobre ela.

-Entendi. Farei o que deseja, mas ainda acho que deve levar alguém de confiança para lhe ajudar, alguém experiente.

-Eu vou levar.

-Quem?

-Hyuuga Neji. É hora de fazer amizade com a família de minha noiva.

O loiro sorriu e fitou a faca que girava em sua mão antes de guardá-la.

-Boa sorte, meu rei. -Sasuke lhe disse.

-Boa sorte, meu amigo.