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História Perdida em mim - Despertar


Escrita por: evaamaca

Capítulo 1 - Despertar


Com os olhos fechados, concentrada na escuridão que meus olhos fazem, tenho a sensação de estar solta no espaço, na imensidão da minha mente. Por uns segundos tudo é escuro, negro, de repente vejo formas coloridas invadirem meu corpo. Quando abro os olhos a claridade cega, mas agora não consigo abri-los. Há uma força sobre mim que os quer fechados só por mais uns segundos, sim, vou descansar mais uns segundos. Meus olhos ardem e queimam, os sinto tremerem. Agora quero abri-los, mas ainda não consigo, uma descarga de ansiedade passa por todo meu corpo, por favor alguém me ajude ! Será que estou falando ? Isso é um sonho ? Papai, mamãe, me ajude! Não consigo falar, ou será que estou falando ? Melhor gritar - Ajudem-me ! Não há resposta.

Espero um pouco, tento me acalmar, meu coração está tão acelerado que consigo ouvi-lo bater, forte e ritmado, tão alto que não consigo ouvir nada além dele. Ouço vozes confusas e estranhas, certamente não são meus pais. Um pouco de claridade começa a entrar em meus olhos, estou conseguindo abri-lo, e uma claridade forte invade minha visão, cegando-me. Pisco algumas vezes e figuras brilhantes e desconfiguradas surgem, monstros, e luzes confusas que se misturam no em volta de minha visão, como se estivesse em outra dimensão. Sons confusos novamente. Me dou conta, não estou em meu quarto.
Rostos estranhos me olham fixamente, estalos, sons metálicos, luzes fortes. Não consigo falar, algo me impede, quero muito falar. Estou desesperada, olhos para todos os lados tentando encontrar algo familiar, o que esta acontecendo ?
Um rosto feminino comprido me examina e diz palavras que não compreendo, mas me acalmam. Ela fala meu nome e mais palavras incompreensíveis,quero muito me comunicar, então tento mexer meu braço e fazer algum sinal. Consigo movimentar meus dedos das mãos de forma descoordenada. A mulher de rosto comprido e cabelos presos coloca o dedo indicador na palma da minha mão e diz palavras incompreensíveis e meu nome novamente é mencionado. Por instinto aperto seu dedo com minha mão, como naqueles vídeos de bebês recém-nascidos fazem. Escuto um som parecido com good, um sotaque que não consigo decifrar. Onde estão mamãe e papai ? Onde estou ? O que aconteceu comigo ?
Muita ação começa a ter no quarto onde estou, pessoas diferentes entram e saem, conversam entre si, anotam, nesse meio tempo já percebi que estou em um hospital, em uma cama e que não entendo nada do que falam. Um rosto masculino de barbas e cabelo branco me fixa e pergunta algo para mim, fiz sinal de não com a cabeça em resposta Eu não te entendo . Nesse momento já estou irritada, será que vocês não entendem que eu não os entendo ? 
Minha cama é arrastada pelo corredor, ao meu lado esta o rosto feminino de rosto comprido, ela tem olhos bondosos e parece estar feliz quando vira para mim e diz em um idioma incompreensível novamente, uma palavra parecida com exame.
Consigo compreender que estou num exame e que devo estar imóvel porque amarram meus pulsos e calcanhares e fazem sinais de pare com as mãos.
O que deve ter acontecido comigo, deve ter sido muito grave, concluo. Acho que quase morri, talvez cai de um avião em que estive e não me lembro e esse avião caiu em um país como Alemanha ou Holanda por exemplo. E me sinto uma idiota por não ter olhado as minhas pernas, ou tentado tocar o meu rosto para certificar se estou muito machucada. 
Quando o exame termina e sou arrastada por essas pessoas, tento imitir um som,e ouço minha voz e consigo pensar numa frase que seja fácil deles entenderem e consigo falar

- Eu sou Effy.
A mulher de rosto comprido e olhar bondoso sorri e diz em um idioma compreensível

- Eu sou Susanne, você me entende ? e respondo aliviada

- Agora sim. 
De volta ao quarto extremamente branco e de aparência higiênica, quando estou na porta do quarto onde fui transportada por essas pessoas estranhas e agora Susanne, noto uma conversa alegre e de risos contidos e apertos de mãos e tapas nas costas e um olhar voltado a mim. Parece que sou o motivo de muitos olhares que examinam, mas esse olhar era diferente. Seus olhos grandes estavam brilhantes, seu rosto não havia a curiosidade daqueles médicos ou enfermeiros, mas sim de felicidade, minha cama mal havia chegado ao destino que era no centro do quarto ao lado da mesinha que descansava um livro e um vaso de vidro de flores laranja - Tulipas, minha favorita - esse rosto de olhos grandes e aguados já estava tão  perto do meu rosto que eu conseguia sentir seu hálito quente beijar minha testa.
Meu nome é mencionado por ele,olho para as outras pessoas que nos encaram com sorrisos congelados em seus rostos, sua mão agora esta na minha mão e sua outra mão no meu rosto, percebo como seu toque é pessoal e balanço minha mão e retiro meu rosto do toque e com todas as forças junto as palavras na minha mente e exclamo

- Quem é você e onde está minha família ?
Mas o que eles escutam é algo sem ordem e uma fala embolada. Não reconheço minha voz e não consigo formar frases que faça sentido. Noto uma preocupação em seus rostos e o homem com olhos grandes e aguados vira-se aos homens de roupa branca e barba e cabelos brancos, ele gesticula e tem uma fala rápida e vejo ser interrompido várias vezes com suas perguntas. Ele retorna seu olhar para mim com sobrancelhas cerradas e a boca entreaberta, visivelmente decepcionado, eu estou totalmente perdida e com medo e não consigo controlar todas essas emoções que querem fugir do meu peito e começo a chorar. Chorar como se fosse uma criança perdida de seus pais. Não consigo descrever tudo o que se passa na minha cabeça, e não os entendo e os reconheço. O homem de olhos grandes e agora decepcionado, diz para mim no idioma compreensível.

- Ele estão vindo. Já os avisei. 

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Tento levantar a cabeça, ela parece uma bola de basquete de pesada, sinto uma pressão que vem de dentro pra fora e ainda estou com uma descarga de ansiedade, percebo como minha respiração esta rápida e minha visão embaçada, respiro fundo várias vezes. Estou com medo e quero ir pra casa, quero muito ir para casa e comer sopa de batata com ervilhas. Susanne senta ao meu lado na minha cama, tento falar novamente, mas não sei porque não consigo juntar as palavras para que façam sentido em minha mente para ela. Percebendo minha frustração e minha dificuldade em entender esse idioma esquisito, ela segura a minha mão que está gelada, só percebo o quanto está gelada pelo toque quente de sua mão contra a minha. 

- Você está bem ? - fala calmamente dando pausas em cada palavra, noto seu sotaque.  Aceno que sim com a cabeça e arrisco dizer - Sim ! - Consegui penso! Mas não estou bem, não estou nada bem, não sei qual é a minha intenção de sempre responder a esta pergunta com sim, mesmo quando estou mal. 
- Você entende que está em um hospital ? 
- Sim - Respondo rapidamente, mas me frusto porque quero perguntar mais coisas.
- Consegue dizer esta frase : Não chore pelo leite derramado ?
Repito a frase. Entendo que é um teste.
- Mostre seus dentes, ou sorri.
Enquanto sorrio, ela escreve algo em sua pasta, estico o pescoço para ver o que ela escreve.
- Feche os olhos e levante os braços.
Fecho os olhos e com muito esforço consigo levanta-los até quarenta e cinco graus, estão fracos, ou eu estou fraca.
Já começo a imaginar que talvez eu não tenha caído de um avião. Consigo mover meus braços, mesmo que fracos, mas em movimentos bruscos, se ela pedir para fazer um desenho, estou ferrada, penso. 
Talvez eu tenha batido a cabeça, é uma possibilidade.
Ela levanta da minha cama e faz mais anotações. Ouço um tinlitar vindo de seus bolsos e ela tira um objeto brilhante e estica na minha direção.
- Qual é o nome desse objeto ?
Eu sei o que é, eu já o vi tantas vezes, ficava na mesinha no hall de entrada de casa, quando chegava do colégio em casa eu o depositava na mesa, ou mamãe ficaria muito irritada comigo. Mas qual é o nome disso mesmo ?
- Sei o que é - Respondo, consegui falar. - Mas não sei o nome. 
- Para que serve então ?-  Ela levanta as sobrancelhas e torce a boca. Aposto que ela pensa que a resposta esta na ponta da minha língua, mas não esta, eu esqueci o nome disso e para o que serve, mas sei o que é, isso faz sentido ? Será que estou louca ?
Junto cada palavra e consigo formar uma frase de uma criança de dois anos falaria.
- Eu sei e não sei, não sei "falar" - mas na verdade eu quis dizer "explicar".
A porta branca que esta na minha frente se abre e minha mãe entra. Todo meu medo e frustração se resumiram em lágrimas e o som do meu choro em uma anomatopéia seria - Argn huuuum hum hum, e sei que estou sendo muito analítica comigo mesma, mas é uma forma de saber se esse alguém ainda é meu alguém, eu. Minha mãe se apressa e me abraça calorosamente ela também chora, contidamente, seu cabelo esta diferente, um pouco mais comprido do que me lembrava, com mechas grisalhas, meu pai esta logo atras dela e nos abraça, meu pai também emite um som esquisito como eu, e lembro como sou parecida com ele. Olha-los ali, era como estar em casa, nunca fiquei tão feliz em ver os meus pais como agora.
Entre braços e abraços apertados, vejo a silhueta do homem com os olhos grandes, sei que é ele, pelas roupas que ele usa, calça vinho com camisa de botões jeans e ainda que eu esteja confusa consigo formar na minha mente que essa combinação esta ao contrário.Suas mãos estão no bolso da calça, e ele balança o corpo pra frente e pra trás, em hesitação,suponho que ele queira sair ou ficar no quarto.
- Graças a Deus.
- Você me parece ótima.
- Vou trazer uma escova de cabelos, você quer ?
- Precisa ver a final do "Got talent" e "Dançando com as estrelas"
São tantas perguntas exasperadas em seguida e sem ordem nenhuma que não me dou o trabalho de responde-las. 
Meu pai vira-se e faz sinal de venha com a mão para o homem de olhos grandes e brilhosos que está na porta do quarto, ele me olha hesitando em vir, talvez pela minha reação quando ele tocou o meu rosto, ele coça o canto do nariz, talvez algum tique nervoso e noto como esta desconfortável, não querendo me olhar.
- Quem é você ? - Pergunto o inevitável. As expressões das pessoas no quarto foi de surpresa, Susanne que estava no canto perto da janela, ainda segurando suas anotações, abre os olhos, meu pai ri pensando ser alguma brincadeira, minha mãe sabe a seriedade que talvez possa ser e entreolha entre Susanne e o homem de olhos brilhosos que agora espreme seus lábios e coça novamente o canto do nariz.
Sua voz está embargada quando diz com o mesmo sotaque de Susanne - Você não me reconheçe ? - 
- Eu deveria ? - Olho para meus paisvisivelmente preocupados e para ele. Susanne toma o espaço do silêncio que pairou o ambiente.
- Qual a última coisa que consegue lembrar?
Lembro do cheiro de bebida, e tenho flashes de sons e imagens de um barzinho escuro e pequeno, bebendo cerveja com os meus amigos, comemorando a chegada do verão e o término das provas que foram intensas. Lembro da Mel, Amy, Alex, Matthias. Lembro que bebi muito. Talvez seja melhor não dizer isso.
- Estava num pub com amigos.
- Onde ? Meu pai pergunta.
Susanne anota.
- Perto da Universidade.
- Quando ? - Meu pai novamente pergunta.
- Ontem? - Essa resposta foi um chute. Eu não sei quando, mas parece que foi ontem que isso aconteceu e sei que não foi ontem pelo ar preocupante que esta palpável no quarto. - O que aconteceu comigo ? Digo em voz alta e quase explodindo em lágrimas de novo. Susanne deve ter anotado que estou louca, e vem para frente da minha cama nos meus pés ao lado do homem dos olhos grandes que esta com os braços cruzados, e toma novamente o espaço do silêncio.Minha mãe continua segurando a minha mão, antes de ter afofado os travesseiros nas minhas costas, mães sempre sabem nos deixar com a coluna reta.
- Você sofreu um acidente vascular hemorrágico cerebral e esteve inconsciente por quase duas semanas.
Meu Deus, pensei. Isso deve ser mais grave do que bater a cabeça, mas não tanto quanto cair de um avião.
- Perdeu a memória também ? - O homem de olhos grandes azuis pergunta a Susanne com aquele sotaque de escalador de montanha. Acho que meu humor deve estar intacto porque apesar da gravidade da conversa a seguir, eu tenho que me conter para não rir da forma como aqueles dois falam.
- Possivelmente momentâneo, fizemos exames assim que ela despertou.
- Chaves ! - Falo alto interrompendo a conversa, que alívio !
- Sim, Effy, são chaves.-Ela concorda comigo. Sorrio e balanço a cabeça, para meu pai. - Effy, você sabe em que ano estamos e onde você vive ?
- Dois mil e dez ? - Chuto de novo. - É o ano da Copa do Mundo de Futebol ?
O homem de olhos grandes azuis diz algo naquele idioma de montanhês e sai do quarto.
Minha mãe passa a mão nos meus cabelos - Você não sabe quem é ele ? - balanço negativamente com a cabeça. 
 - Vou atrás dele - Meu pai diz, dando uma corridinha até a porta.
- Filha, ele é seu marido. Carl. 
Claro que ele é Carl. Carl é bem nome de montanhês, devo estar na Alemanha, Holanda, Austria. Sei que deveria estar em choque em saber que sou casada, mas meu humor está a todo vapor na minha mente, claro que não consigo me expressar dessa forma. E é muito surreal acordar e saber que estou casada com um Carl. E Alex ? Casamento ? Eu casada ? Casei na igreja ? Não me reconheço, essa não sou eu. Eu não acredito em casamento. 
- Quero ir pra casa.
Nota muito importante dos meus diálogos é que eu penso em falar nessa sequência e nesse nível intelectual, mas a realidade é que troco algumas palavras, ou simplesmente não sei qual palavra é e falo o que achar melhor esperando que eles entendam. Por isso são frases curtas e diretas. Não sou fria e não estou me importando pelo tal "marido". Só quem ficou num hospital entende o desespero de querer ir para casa.
- Londres ou aqui ? Minha mãe pergunta. 
- Aqui onde ?
- Estocolmo querida. Você vive agora aqui. Tem um apartamento.
Respiro fundo e fecho os olhos. Preferiria estar louca.
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