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História Adivinhe quem virou gente - Não é a trouxa que elas vão precisar espantar


Escrita por: whysunwoonely e minyarding

Notas do Autor


Como a dona do plot (a BabyColors_ do wattpad) disse que ele foi inspirado no filme "a boneca que virou gente", eu segui isso aí mesmo.

Edit: Se você achou isso aqui do nada e tá atrás de projeto de Loona, segue a @butterfleyes e seja feliz!

Capítulo 1 - Não é a trouxa que elas vão precisar espantar


“Feitiços não são milagres e têm consequências.”

 

— Você confirmou o encontro de hoje com as meninas, né? — Hyejoo, a minha melhor amiga, perguntou.

— Confirmei — respondi. — E se a Chaewon disser que não, eu vou esfregar na cara dela os cinco áudios que mandei no grupo.

— Isso é bom. — Ela levantou-se para empilhar alguns dos livros que estavam em cima da mesa, nos braços. Fiz o mesmo e fomos até as prateleiras. — Você anda muito distraída ultimamente.

Sei bem o que ela quer dizer, mas não é como se eu tivesse culpa no cartório. Há semanas, venho esperando o momento perfeito para convidar Kim Hyunjin para um encontro. O problema é que parece que o tal “momento perfeito” nunca surge.

Hyunjin é minha crush desde… sempre? Não lembro muito bem. As únicas coisas que não consigo esquecer é que ela está sempre rodeada de amigas e no auge de sua perfeição — porque ela tem zero defeitos — e isso não me é nada favorável porque eu nunca fui corajosa.

O meu método é ficar só observando de longe e às escondidas como uma stalker psicopata, e torcendo para que alguém faça uma vidrinho de Amortentia e dê para ela ficar louquinha por mim. Eu tenho muitas esperanças quanto a isso, mas a Yerim sempre frustra eles.

— Não tenho culpa se Kim Hyunjin me enfeitiçou.

— Isso é conversa fiada. — Hyejoo revirou os olhos. — Disfarça por que a Jiwoo está vindo para cá!

Me fiz de retrato mágico.

Kim Jiwoo é muito legal, até mesmo com gente desagradável. Sério! Ela cumprimenta a bibliotecária que passa o expediente inteiro assistindo na Netflix e que, mesmo sendo seu trabalho, usa um olhar maldito para tentar desintegrar qualquer um que se aproxime com a intenção de usar os seus serviços.

Sempre vejo ela com um brilho no olhar e um ar confiante, e também nunca a vi faltar aos eventos esportivos — para animar os times e os torcedores — e nunca a vi se recusar a ajudar alguém. Mas Jiwoo não é só um poço de carisma, claro que não. Ela tem muitas outras qualidades e, dentre elas, está ser uma das melhores amigas do amor da minha vida e, também, ser a reencarnação da Rita Skeeter. Como principal entusiasta do Profeta Diário, nenhum segredo está a salvo se confiado a ela.

— Oi, meninas.

— E aí. Veio nos contar o desfecho da historinha do Mingyu? — Juro que vi os olhos de Jiwoo brilharem quando Hyejoo perguntou.

Há algumas semanas, Kim Mingyu, do terceiro ano, e mais três amigos se reuniram na sala de teatro e o rumor que correu é que eles estariam fazendo uma orgia. Jiwoo não é muito fã de boatos, principalmente um que poderia manchar o nome da escola, então, como filha da diretora e, como sempre, tendo as informações do caso em primeira mão, ela saiu contando tudo o que sabia até mesmo para animais fantásticos, e nos mínimos detalhes.

— Está mais para fanfic. A minha mãe investigou e parece que eles só estavam ensaiando uma peça. De qualquer forma, ela mandou um recado para os pais, só por precaução — ela respondeu, toda casual. — Mas, eu não vim para isso. Vim para avisar que a Jeongeun preparou uma tarde só de garotas na casa dela. Vocês querem participar?

Hyejoo pegou uma metade dos livros que estavam em minhas mãos e deu a volta em Jiwoo para guardá-los na prateleira que fica atrás dela.

A minha boca se abriu, mas nenhum som saiu dela. Jiwoo deve ter notado a minha indecisão, pois completou logo em seguida:

— Vai ser legal, prometo. Vamos conversar sobre coisas de menina, bater um papo calcinha e assar bolinhos.

Pude ver Hyejoo segurar o riso lá atrás. Não julgo. Até mesmo eu achei hilário me imaginar falando sobre maquiagem e moda em uma rodinha de meninas usando saias rodadas, acessórios delicados e palavras fofas. Logo eu, com minhas calças jeans detonada, all star encardido e toneladas de referências nerds? Bizarro demais. Prefiro enfrentar um trasgo montanhês de quase quatro metros de altura a me submeter a uma série de tortura como essa.

— Eu adoraria, mas nas sextas o jantar em família é obrigatório. — tropecei nas palavras, nervosa. É tão fácil saber quando estou mentindo. Sorte a minha Jiwoo não ter notado.

— Ah, que pena! E você? — Ela se virou para Hyejoo, quando esta tornou a pegar os livros que restaram em minhas mãos.

Ao contrário de mim, Hyejoo mente com uma facilidade absurda. Lembro que, no jardim de infância, ela roubou o meu lanche e mesmo com adultos envolvidos na confusão, ela se safou fácil, fácil. Sempre foi assim. Então, sempre que eu preciso me livrar de alguma coisa, qualquer coisa, é só pedir ajuda e deixar ela fazer a magia acontecer.

Sem nem olhar para Jiwoo, a minha amiga respondeu: — Eu sou da família dela.

— Ah! Eu não sabia. — Jiwoo pareceu um pouco decepcionada, mas então deu um sorriso ladino. — Deixa ‘pra próxima então?

— Claro. — Sorri, solidária, e nos despedimos.

Quando a garota passou pela porta de entrada, Hyejoo desatou a rir.

— Você mentiu na cara dura. — ela disse, antes de devolver o livro de história ao seu lugar de origem. Seguimos para ala de cálculo.

— Você também, sua hipócrita. O que é um papo calcinha? — perguntei, curiosa.

Em matéria de assuntos “predominantemente” femininos, sempre fui um desastre. Hyejoo sempre foi a mente brilhante da nossa dupla de ouro. Poderia até fazer cosplay da Hermione, mas ela é Sonserina de corpo e alma, então, sem chances.

— Eu pensei em garotas falando sobre garotas. — Alguém colocou um caderno marrom no lugar do livro de matemática. Hyejoo retirou o intruso e fez a troca rapidamente. — Até que se prove o contrário, geral do grupo dela é hétero, então, acho que é uma conversa sexual sobre garotos.

Nos entreolhamos e fizemos uma careta. Eca!

— Que livro é esse?

Hyejoo olhou a capa e depois o virou para mim com um sorriso. Na capa, lia-se: Magias Malucas para Bruxos Doidos.

— Olha só! Não sabia que tinha esse tipo de coisa por aqui. — Ela pareceu tão empolgada, duvido que ela tenha notado o som dos trovões rasgando o céu.

— Será que vai chover?

— Espero que não. Hoje é dia de levar o Pinhão ‘para passear. — respondeu, mas sem tirar os olhos do livro. Pinhão é o cachorrinho do pai de Hyejoo e também é o mascote oficial do nosso clubinho, por pouco tempo porque como o safado não aparece há duas reuniões, ‘tá quase perdendo o posto ‘pro sapinho da Yeojin. — Vamos levar. Talvez tenha algum feitiço para espantar a trouxa do squad.

Ela está falando do Expresso Patronum. Nossa pequena associação destinada a enaltecer a saga mais maravilhosa de todos os tempos: Harry Potter. Somos apenas cinco, mas damos um banho em muitos fã-clubes com mais de mil membros por aí. Com encontros semanais, é com orgulho que eu digo que ninguém saiu do grupo desde a sua fundação há dois anos. Nós até evoluímos. Uma adesão apenas, mas o que importa é qualidade e isso temos de sobra. Sou uma presidente muito orgulhosa, sim!

Ha Sooyoung é a nossa mais nova membro e uma das poucas pessoas que Hyejoo não vai nem um pouco com a cara. Já tentei descobrir o motivo perguntando, mas com minha amiga sempre desconversa, decidi fazer suposições por conta própria.

Pensei que fosse a incompatibilidade de casas. A Hyejoo é uma sonserina legitima, toda orgulhosa e maquiavélica. Ela dá medo em todo mundo, até mesmo em Sooyoung, que era um poço de bravura, mas agora é conhecida como a grifinória que perdeu a coragem. Talvez a Son estivesse levando muito a sério essa coisa de rivalidade entre as duas casas, mas então lembrei que Yeojin também é da grifinória e elas duas ficam tão grudadas que às vezes fico com ciúmes.

Como a minha primeira teoria foi por água abaixo, tentei ver além da “casca” fofa e gentil da Sooyoung. Tentei ver como a Hyejoo via. Era o mais justo a se fazer e, como uma real lufana, senti que era meio que uma obrigação. Entretanto, Ha Sooyoung não tem uma outra face, nem plano maligno para governar o mundo ou horcruxes espalhadas por aí. Sooyoung é desse jeitinho mesmo; um amor de pessoa que tem o sorriso metálico mais lindo do mundo.

O que me restou foi o mais clichê dos motivos: amor encubado. Hyejoo sempre nega e ameaça me encher de porrada quando eu brinco com isso. Viu só? Ela é muito orgulhosa para admitir e é isso que reforça meu argumento cada vez mais. Certeza que é muito amor envolvido.

— Pare de implicar com a Sooyoung.

— ‘Tá bom, protetora dos animais — disse Hyejoo, sem ligar muito para mim; ela estava mais interessada em folhear o livro que tinha em mãos. — Sementes de cardamomo, canela em pau, manjericão, vodka. Uau! Vamos tentar.

— Olha, eu sou crente fiel da congregação da irmã J.K., mas não acredito que isso vai funcionar, não.

— E daí? É só uma brincadeirinha para descontrair. Você mesma disse que precisamos de alguma diversão — apontou. — Eu vou apertar o pescoço da Chaewon se ela continuar dizendo que os filmes são melhores que os livros. Vou dar na cara dela se você não pegar esta merda.

— Primeiro, tem bebida alcoólica nisso. Ele nem tinha que ‘tá aqui, gata. E, segundo, porque sou eu quem tem que pegar?

— A minha multa só acaba mês que vem. — Ela fez beicinho e juntou as mãos, como em oração. — Pega, por favorzinho. Juro que não vou fazer vocês beberem.

— Ok, ok. — me rendi. Tenho certeza de que Hyejoo vai me fazer ganhar multa de um mês também, quem sabe até mais porque ela nunca lembra o dia certo da devolução, mas ela tem razão. Nós precisamos. — É você quem vai preparar tudo, viu? Não vou fazer nada, só quero sombra e água fresca.

— Pode deixar, vossa majestade bovina.

Hyejoo deu alguns pulinhos animada, quando colocou o livro no balcão. Isso chamou a atenção da bibliotecária. É a primeira vez que eu, e tenho certeza que qualquer outro aluno, vê ela deixar o celular de lado com um lindo sorriso. Preocupante, mas quem se importa? Este é o maior feito em toda a história dessa escola.

[…]

Hyejoo e eu ficamos quase uma hora esperando todas as membros chegarem e isso deixou minha amiga mais impaciente do que ela sempre foi. Foi dureza convencer ela a não ir de porta em porta para trazer todas pelas orelhas, mesmo sabendo que nada a impediria se ninguém aparecesse, mas eu consegui.

Ficamos jogadas no chão, admirando o Mapa do Maroto que chegou semana passada, mesmo que eu tenha comprado no ano passado pela internet. Tenho uma infinidade de coisas de Harry Potter para entreter Hyejoo — miniaturas, varinhas, posters, réplicas de poções, livros, placa de procurado nº 1 com a foto do Harry, etc. — , mas ela já viu tudo então, faço ela me mostrar algumas das coisas que estão dentro das três sacolas que ela trouxe até as meninas chegarem.

— Até que fim as madames resolveram aparecer. — Hyejoo se pôs de pé, num pulo, com os braços cruzados e uma carranca.

— Desculpe, Hyejoonie. — Yeojin de um abraço em minha amiga e ela ficou calma rapidinho. — Nos encontramos com Jiwoo no meio do caminho e ela quase não nos deixou vir.

— Ah!  Sooyoung e eu vamos precisar sair um pouco mais cedo. — disse Park Chaewon, a nossa corvina, pegando o Mapa do Maroto que eu tinha deixado no chão.

— Vocês estão namorando? — Hyejoo quis saber.

— Não, só temos um outro compromisso juntas.

— Ela quis dizer compromisso de trabalho, não um relacionamento. — explicou Sooyoung, corando. — Você entendeu.

Tenho certeza de Hyejoo ficou aliviada, mas não deixou transparecer se limitando apenas a um dar de ombros e focando no livro de magia que encontramos mais cedo. Um trovão rasgou o céu, mais uma vez, me deixando com uma pulga atrás da orelha.

— Que coisa mais esquisita. — resmunguei.

— O quê? — Hyejoo se virou para mim.

— Eu ouvi trovões nas duas vezes em que você abriu o livro.

— Será que a ira de Zeus está caindo sobre nós? — perguntou Sooyoung, mas ninguém respondeu. Esse negócio de deuses não é bem a nossa praia. — Que Poseidon nos proteja!

— Que Poseidon o quê, Sooyoung? Aqui só chamamos o nome da deusa do mundo da lua, a Luna. — disse Hyejoo. Sooyoung a encarou confusa e a morena estalou a língua. — Eu disse que essa menina era poser, mas ninguém quis me escutar.

— É só uma coincidência. — disse Chaewon, se espremendo para caber ao lado de Yeojin na minha cama de solteiro. — A moça do tempo avisou que iria chover de noite.

— Então, vamos fazer isso logo, pessoal. — Hyejoo bateu no livro, chamando atenção para si. — Mas, falta escolher o que traremos para a vida.

Nos entreolhamos, pensativas e eu corri até a porta depois de ouvir algumas batidinhas.

Era a minha mãe e ela não estava com uma cara muito boa. Com as sobrancelhas enrugadas e os olhos curiosos, a vi tentar espiar cada centímetro do meu quarto por cima de mim.

— Quanta gente é essa aí dentro?

— É o meu clube, mãe. — respondi. — A senhora esqueceu que a reunião seria aqui hoje?

— Ah, é mesmo. — Ela fez uma careta. A associação de apreciação a Harry Potter não agrada a todos, infelizmente. — Vê lá o que vocês vão fazer, viu? Não quero ver esses negócios de bruxaria por aqui, não. Se eu tropeçar em um prato de barro com galinha morta, vou colocar todo mundo ‘pra fora. Entendido?

— Entendido. — Tentei não revirar os olhos. Nunca fizemos algo do tipo, mas minha mãe sempre insiste em avisar. — A Heeyeon ‘tá aqui?

— Não. Foi brincar na casa da vizinha e não voltou até agora. — Minha mãe se virou para descer as escadas, mas continuou resmungando: — Tomara que ela chegue tarde que o cipó vai cantar.

Esperei até ela sumir por completo no único lance de escadas para avisar as meninas que voltaria logo. Passei os olhos pelo corredor, só para ter certeza de que estava sozinha, e invadi o quarto em frente ao meu. Era o covil da Heeyeon, a minha irmãzinha de quinze anos.

Se meu quarto era um quase um Beco Diagonal da vida, o de Heeyeon parecia uma mistura da Loja de Lixo com a Ilha das Bonecas. O lugar é dominado por aquelas coisas plastificadas. Não é como se as pessoas fossem tropeçar nelas — porque Heeyeon poderia ser bagunceira em todos os cômodos da casa, mas sempre foi organizadinha com suas próprias coisas — é só que haviam muitas prateleiras, todas elas repletas de Barbie’s embaladas.

Corri meus olhos pelas loiras feitas de plástico, esbanjando seus sorrisos congelados, a procura de uma em especial. Eu queria a Skipper, também conhecida como Barbie Júnior. Sempre dei hate na boneca pela perfeição impossível que ela sempre tentou impor a milhões de garotas do mundo, porém nunca negaria a minha quedinha pelo jeito arrogante da irmã dela.

E como não se apaixonar? Skipper se parece bastante com Hyunjin, em questão de personalidade, e também é a boneca mais próxima de representação nerd feminina no meio de tanto plástico metido a Miss Universo.

Para minha infelicidade, não a encontrei.

Tentei escolher uma menos pior, mas todas elas seguiam o padrãozinho irritante da Barbie: magreza excessiva, cabelos loiros brilhantes, pele de porcelana, sorriso psicopata, mas tinha uma no cantinho da prateleira mais alta cujos olhos era de anime.

Usei um puff para chegar até ela e a primeira coisa que notei foi o que estava escrito na embalagem: “Vivi, a sua amiga especial”. Isso me pareceu uma perfeita descrição de alguém com vento e espuma no lugar do cérebro, mas que outra opção eu tinha?

Ouvi os gritos de Heeyeon avisando que já havia chegado e, no desespero, peguei a tal Vivi e corri antes que a minha irmãzinha me pegasse no pulo.

— Até que enfim você voltou. — disse Yeojin, parecendo indignada. Esse é o tipo de pessoa que Hyejoo ensina ela a ser.

— Desculpe, eu estava escolhendo.

— Era só pegar qualquer uma, Heejin.

— Ah, não. Se for ‘pra trazer uma boneca a vida, que seja uma interessante e que não seja feita de cor-de-rosa, glitter e perfeição inalcançável.

— Foi isso aqui que você estava procurando? — desdenhou Hyejoo.

Olhei para o que tinha em mãos e torci a boca, desgostosa, antes de entregá-la para Chaewon.

— Não.

— Esse modelo é oficial da Mattel? — a Park perguntou, com os olhos brilhando de curiosidade

— Não, é só mais uma versão da Barbie feita por uma empresa chinesa totalmente independente.

— Nem sabia que existia. — Yeojin ajeitou seus óculos, se juntando a Chaewon na análise da nossa cobaia.

— Nem eu. A Heeyeon foi quem descobriu. — disse. — Ela é louca por essas coisas. Acho que passa o dia inteirinho procurando por essas pragas na internet. Barbie is the new pornô para ela.

— Ela é de mil novecentos e bolinhas? — Chaewon passou os dedos no vestido e aproximou mais ao rosto, como se estivesse analisando cada detalhe da peça. — Porque essas roupas parecem ser do tempo da minha vó.

— Sei lá. — dei de ombros. Pouco me importa se a boneca é atual ou antiga. Ela estava aqui por um único propósito. — Vamos começar logo. Daqui a pouco a minha mãe vai começar as rondas dela.

Todas as garotas gemeram em frustração, vi até algumas cabeças serem jogadas para trás e revirar de olhos bem intensos. Não julgo.

Depois da confusão toda com Mingyu, comecei a sentir na pele o verdadeiro significado de invasão de privacidade. Minha mãe passou a dar uma olhadinha em nossas reuniões só para ter certeza de que estamos na linha.

— É melhor fazer direito porque só funciona uma vez. — disse Hyejoo. — Primeiro, temos que desenhar um pentagrama no chão.

— Cancela. Minha mãe vai me matar se ver isso, ou pior, ela nunca mais vai deixar vocês virem para cá.

— Eu já sabia. Então, preparei isso. — De dentro da mochila, Hyejoo tirou um lençol branco, com uma enorme estrela em vermelho desenhada nele, e forrou o chão. — Agora, coloquem os objetos dela nas pontas. Podemos tirar uma mecha do cabelo dela, Heejin?

— Vai fundo, mas faz um corte discreto porque a Heeyeon vai me matar se descobrir.

— É ‘pra colocar quais objetos? — perguntou Yeojin.

— Os acessórios dela servem. — respondeu Hyejoo. — Na minha mochila tem velas. Cada uma fica com uma e se senta em uma das pontas.

Depois que Sooyoung e Chaewon deram os últimos retoques no nosso “altar” amador, acendemos as velas e cada uma escolheu um lugar para se sentar. Claro que não teve nada de civilizado nisso. Hyejoo expulsou Chaewon do lugar onde estava porque não queria sentar ao lado de Sooyoung. A grifinória nem pareceu notar. Ela até deu um sorriso lindo antes de quebrar o silêncio que se instalou entre nós.

— E agora?

Hyejoo a encarou por alguns instantes como se estivesse se controlando para não lançar-lhe o livro, respirou fundo e voltou a ler.

— Todas fechem os olhos e repitam depois de mim. — Ela leu alguma coisa para si mesma antes de deixar o livro de lado. Quando fechei os meus olhos, Hyejoo continuou: — Zomba, tarka, ishtu, nebarim.

— Zomba, tarka, ishtu, nebarim. — repetimos, devagarinho, tentando pronunciar as palavras corretamente. Depois de seis vezes, pegamos o ritmo. Entramos em uma sincronia perfeita e parecia até que éramos uma só voz falando. Dava até ‘pra harmonizar se alguém ali soubesse cantar.

— Por quanto tempo temos que ficar falando isso? — Chaewon perguntou.

—  Até que a transformação se completar. — Hyejoo respondeu como se tivesse fumado Pó de Flu.

— E quando é isso? — Foi a vez de Sooyoung.

Abri meus olhos e percebi que Yeojin pensou no mesmo que eu. Nós duas observamos, segurando o riso o quanto conseguimos, quando Hyejoo respirou fundo, pela centésima vez nesta tarde, e quase apagou a vela que tinha em mãos, antes de responder impaciente:

— Não sei, porra!

— Zomba, tarka, ishtu, nebarim. — Chaewon puxou o coro, como se quisesse trazer o foco novamente.

Repetimos as palavras até eu ficar com medo da minha mãe aparecer. A voz de Hyejoo começou a aumentar gradativamente. Ela estava começando a ficar impaciente, mas o que ela esperava de um ritual falso? Que a boneca se levantasse e saísse por aí performando Tarantallegra? Isso equivale a pedir a uma potterhead para amar a Umbridge.

Estava quase decidida a levantar e incentivar as meninas a fazer uma outra coisa quando um vento forte passou pela janela fazendo os pelos dos meus braços arrepiarem. Abri meus olhos, desconfiada. A chama de algumas das velas se apagarem. Será que foi só mais uma coincidência?

— Alguém ‘tá sentindo alguma coisa diferente? — perguntei.

— Tipo o quê? — perguntou Chaewon.

— Arrepios.

— Não. — deu de ombros, subindo um pouco as mangas do moletom que estava usando para dar rápida olhada no relógio de pulso. — Já ‘tá na minha hora, galerinha. Você vem, Sooyoung?

— Tudo bem se eu for? — A Ha perguntou.

— Tudo. — respondi quando Hyejoo a ignorou e começou a guardar as coisas que havia trago. — Até amanhã.

Ajudei Hyejoo e Yeojin a organizarem meu quarto e depois elas foram embora. Fui dar uma olhadinha na minha mãe e a encontrei assistindo novela. Heeyeon se trancou no quarto desde que chegou e não saiu até agora. Menos mal. Ela ainda não se deu conta de que uma das filhas dela havia sumido. Amanhã a colocarei no lugar e minha irmã nunca vai notar que ela foi tirada do lugar.

Me empanturrei de pipoca enquanto assisti O Cálice de Fogo, pela milionésima vez. Eu releria o livro, mas a preguiça foi tanta que o meu auge foi conseguir mover a mão até a boca para comer porque, por Merlin! Só caí no sono depois de chorar litros.

Quando acordei, encontrei uma estranha em frente ao meu espelho. De início, pensei que era uma das amiguinhas da Heeyeon. Não gostei nadinha, mas também não poderia reclamar. Ela devia ter dado falta da boneca e deu passe livre para as comparsas dela me pentelhar. Nada que já não tenha acontecido antes.

— ‘Tá fazendo o quê aqui, pirralha? — perguntei e quase caí de cara no chão quando a intrusa se virou para me encarar.

Observei a garota dos pés a cabeça, sentindo um incômodo na barriga. O cabelo loiro perfeitamente penteado, o sorriso artificial, o vestido de bolinhas. Tudo em tamanho real. Era ela…

— Eu sou a Vivi. — disse, me lançando um sorriso de orelha a orelha. — E eu sou a sua amiga especial.

Cocei meus olhos, tentando não acreditar no que estava vendo. Podia ser uma brincadeira da Heeyeon, mais uma de suas ideia mirabolantes para me punir por ter invadido seu quarto, mas eu sabia que não era. Tenho certeza de que a minha irmã não faz ideia do que eu e as minhas amigas fizemos na noite passada. Ela, provavelmente, ainda nem deve ter se dado conta de que uma de suas bonecas está faltando.

Fechei meus olhos. Crente de que aquilo não passava de um sonho, com muita disposição para voltar a dormir… ou acordar? Não sei. Queria mesmo era abrir os olhos e encontrar somente a luz do sol iluminando o meu quarto porque eu esqueci de fechar as persianas mais uma vez. Mas é claro que não foi o que aconteceu.

Me entendo por bruxa desde que li A Pedra Filosofal em dois mil e oito, mas sou trouxa desde muito antes. É claro que meus problemas nunca desapareceriam assim, do nada. Nem mesmo se eu lançasse um Evanesco neles. Uma pena!

Abri meus olhos, devagarinho, e encontrei a suposta ex-boneca sorrindo para mim como se fosse uma alienada.

— ‘Tá amarrado em nome de Hermione, Helga Hufflepuff e Minerva.

 

 


Notas Finais


betagem maravilhosa feita por @httpswyng — obrigada, de verdade. como já disse antes: você me quebrou um galhão <3 e a capenha foi feita por @Ellkie — a perfeição, meu pai <3

tô muito feliz por ter tirado isso do rascunho, mas também tô chorando porque acho que nunca vou conseguir finalizar ela como short ou long.


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