História Adotado - y.k - 03

Um som estridente se fez ouvir e eu senti meu sonho explodir em um milhão de micro partículas, me fazendo voltar para a realidade. Em seguida um miado e, novamente, o som estridente.

— Hyuuuung, porque esse barulho é tão chato? Faz ele parar! – a voz manhosa de Yoongi reclamava, enquanto o mesmo se encolhia no meio dos lençóis da cama.

Eu nem lembrava que ele estava ali. Na verdade, eu só comecei a raciocinar de verdade alguns instantes depois de o rabo de Yoongi roçar em minha cintura descoberta, fazendo eu me sentar rápido, me lembrando de tudo o que havia acontecido.

Desci da cama, invejando Yoongi por poder dormir novamente e andei em direção a porta, a abrindo e dando de cara com meu casal favorito do mundo.

— O que os dois fazem em Seoul? Não deveriam estar aproveitando a lua de mel? – questionei, dando passagem para os dois garotos entrarem.

— Deveríamos – Namjoon respondeu, coçando os cabelos. – Mas Jin sentiu que precisava te ver, ou algo assim. Você sabe como ele é todo estranho.

— Ter uma forte relação espiritual com a Fada não é ser estranho, Namjoon! Eu senti que havia algo de diferente com Jungkook, precisava checar se meu menino estava bem! – Jin rebateu, fazendo uma careta.

— E as novidades? – perguntei, fingindo animação. Eu odiava companhia e tudo o mais, mas, já que os mais velhos haviam viajado por horas apenas para me ver, eu é que não ia expulsá-los, não é?

Os dois abriram a boca para responder, mas sua atenção fora desviada para o garoto magricela e baixinho que estava parado a porta do meu quarto, vestindo meus moletons e com o cabelo todo desgrenhado, além de uma linda carinha de sono. Isso, é claro, se ignorassemos os fundos hematomas em sua pela clara.

— Hyung, que barulho todo é esse? Eu queria dormir! 

Sabe a expressão "de queixo caído", então, era mais ou menos assim que meus amigos estavam naquele momento. A boca de Namjoon se abria e fechava, sem emitir som algum, enquanto Jin apenas encarava o híbrido, com os olhos esbugalhados.

Yoongi, ao perceber que não estávamos sozinhos, se escondeu atras da parede, de modo que apenas suas mãos branquinhas e seus olhos ficavam visíveis, junto de seu cabelo escuro e suas orelhas felpudas, que, naquele momento, estavam abaixadas.

— Hyung, quem são eles? – ele perguntou, baixinho, claramente assustado.

Suspirei alto e fiz um sinal para meus amigos, logo andando até o hibrido e o puxando para um abraço, tentando o acalmar.

— Bom dia, Yoongi – saudei, enquanto acariciava os, agora, macios cabelos do garoto. – Dormiu bem?

— Quem são eles? – repetiu, inseguro.

— São meus amigos. Eles não vão te fazer mal... Vem, vamos conhece-los!

Ele soltou um som estranho, parecido com um grunhido de negação, mas segurou minha mão e me acompanhou em direção a sala, onde Jin e Namjoon se encontravam, sentados no sofá, parecendo nervosos. E eu sabia o motivo. Eu nunca trazia ninguém pra casa, a não ser meus cinco únicos amigos. Se eu queria tranzar, saía e ia para um hotel. Com certeza estavam tentando entender o porque eu havia trago o hibrido para cá.

— Gatinho, esses são Namjoon e Jin, eles são casados – falei, abraçando Yoongi de leve. – Gente, esse é o Yoongi, eu encontrei ele ontem, abandonado... Huh, sejam legais com ele.

— Ta achando que a gente é o Jimin, pra sentir ciúme de todo mundo com quem você sai? – Jin falou, fazendo uma falsa cara de ofendido.

Revirei os olhos. Com certeza Jimin seria o único que não ia gostar nem um pouco de Yoongi, devido ao nosso término nem um pouco recente.

— Na verdade, eu não estou saindo com ele. Estou apenas cuidando, até encontrar alguém de confiança que possa adotá-lo.

— Mas eu quero ficar com você – Yoongi fez bico, olhando pra mim, com os olhos molhados.

— Sinto muito, Yoongi, mas eu não posso ficar com você. Eu tenho trabalho, uma vida. Não daria certo, você ficaria sozinho o dia todo, eu ia chegar cansado e não ia te dar atenção. Eu simplesmente não posso!

O menino se soltou do abraço e se afastou de mim, chorando.

— Por que você salvou Yoongi se vai abandonar ele também? – gritou e saiu correndo em direção ao meu quarto.

— Você deveria ir falar com ele – Jin alertou, coçando o pescoço. – Eu vou fazer algo pra vocês comerem... Boa sorte com ele.

Passei as mãos por meu cabelo, visivelmente assustado. Eu não era bom lidando com os sentimentos alheios e sabia, por experiência própria, que ia acabar magoando ainda mais o hibrido. Suspirei e andei até meu quarto, batendo de leve na porta antes de entrar. O garoto estava sentado na janela, olhando para as ruas lá em baixo.

— Vai embora – ele sussurrou, e eu pude notar que ele chorava.

— Yoongi... Desce daí, por favor. Se jogar do oitavo andar de um prédio não vai ajudar em nada.

— Me jogar? É isso que você acha que eu vou fazer? Me matar? – a voz dele não parecia nem um pouco com a que eu ouvira mais cedo. Ele parecia estar me odiando. Se virou e pulou para dentro do quarto, pousando no chão sem fazer o menor barulho.

— Yoongi, eu não queria...

— Não queria o que? Me salvar pra depois me jogar na rua de novo? Você ao menos tem noção de como é difícil? Voce tem noção de como dói, ficar passando de mão em mão, como se fosse um mero brinquedo, que quando te enjoa você joga fora? Você tem noção de como é não ter uma familia? Você sabe como é ver as pessoas que deveriam te amar dizer que você é um peso? Que você deveria estar morto? Voce já foi espancado, Jung-kook? Você já passou fome? Já foi forçado a fazer o que você não queria? – ele estava gritando, e eu só sabia ficar parado, olhando pra ele, completamente assustado com a transformação repentina do garoto. – Você nunca passou por nada disso, e nunca vai passar, porque, alem de alfa, você não é um hibrido. Você tem uma casa, uma familia, amigos, um emprego. Voce não precisa se fazer de inocente pra conquistar alguem, você não precisa depender de outras pessoas pra permanecer vivo! Voce nem ao menos sabe metade das coisas que os híbridos por aí passam! Se você acha que isso que eu vivi é ruim, não queira saber o que pode acontecer se eu voltar pras ruas! Eu posso ser estuprado, vendido, usado para experimentos, eu posso ser pego como empregado, posso ser roubado e colocado pra trabalhar como puta! Qualquer coisa pode acontecer comigo e ninguém nunca vai saber, porque eu sou só um hibrido insignificante que todo mundo joga fora! – ele respirou fundo e secou o rosto. – É, talvez você tenha razão e eu devesse mesmo me jogar da janela. Até porque ninguém ia sentir minha falta, ninguém ia chorar, ou sequer se importar – Seu rosto se contorceu e ele tirou a blusa que eu havia vestido nele. – Mas pode ficar tranquilo, Jung-kook, eu não vou mais tomar seu tempo não! – tirou a calça e jogou pra mim. – Eu vou embora, antes que você faça como todos os outros e decida me bater, me deixar sem comer, ou sei lá, me estupre!

Começou a andar em direção ao meu banheiro, onde sua camiseta suja e rasgada estava.

Eu corri atras dele e o puxei pelo braço para um abraço, sentindo as lagrimas começarem a escorrer por meu rosto.

— Eu vou ficar com você. Eu... Vou dar um jeito de ficar com você. Não vai embora... Por favor... – falei, em meio aos meus soluços, sentindo o garoto se agarrar ao meu corpo, chorando desesperado.

— Promete não abandonar Yoongi? – sussurrou o menor, olhando pra mim.

— Prometo! De dedinho! – juntei nossos dedos mindinhos e o garoto sorriu, satisfeito.