História After the storm - Tio, depois brinca comigo de filhinha e papai?

 "Se nós não tivéssemos nos conhecido, acho que eu teria compreendido que minha vida não estava completa. E teria perambulado pelo mundo à sua procura, mesmo se não soubesse o que estava buscando.“ (Uma Longa Jornada - Nicholas Sparks)

 

Amber Duarte 


-Amiga, paciência. Você se lembra da nossa conversa civilizada de hoje? Você vai conseguir enfrentar esse passado e vai enfrentar o Philippe também. Você é forte, Amber. E sabe disso. Eu agi no impulso ontem em querer matar o Coutinho, mas concordo que vocês precisam conversar. Como dois adultos.

Maggie falou assim que saímos do mercado, ainda no estacionamento. Eu com certeza estava pálida, pois não sentia o ar chegar nos meus pulmões. Heloísa não entendia o que havia acontecido e, por sorte, Philippe havia perguntado se ela era sua filha apenas para que eu ouvisse.
 
-Maggie, eu não sei. Não estou pronta para isso e a verdade de tudo, é que eu não quero que ela saiba disso.


Suspirei alto. No fundo, eu sabia que esconder a paternidade era errado.

Caralho, em 24 horas minha vida deu uma reviravolta maluca apenas com o reencontro com Coutinho.

-Maggie, foram menos de 24 horas toda essa reviravolta. Eu não estava pronta para tudo isso. Você conhece Alisson que joga com Philippe, com quem eu tive uma história. Eu estou sem ação, não sei o que fazer.



Falei me encostando no meu carro. Heloísa estava entretida com seu chocolate e o seu urso e nem dava atenção ao meu diálogo com Maggie.

- Amiga, nos duas sabemos o que você deve fazer. 

Maggie disse e ela estava certa. Deveríamos jogar limpo dessa vez, embora eu quisesse evitar o máximo de contato com meu ex.

- Você mais do que ninguém sabe que Philippe me magoou muito, muito mesmo. E não consigo olhar para ele sem sentir raiva. Parte de mim quer perdoá-lo e a outra quer mandar ele para o inferno. 

Confessei para minha amiga que suspirou triste com a situação. Eu estava bem fodida, era isso.

-Amber, eu acompanhei todo o processo. Desde que ele saiu da porta da casa de vocês e sei o quanto você sofreu conciliando casa, estudos e a criação da Helô. Eu sabia do quanto você precisava dele em cada fase e ele estava lá brilhando na Itália, sem ao menos saber que tinha uma bebê dele nascendo. E eu super concordo que, por esses motivos, você não queira contato com Philippe. Mas, sua filha cresce mais todos os dias e as perguntas sobre o pai são mais frequentes. Ela precisa dele. Você não precisa perdoá-lo, mas eles precisam saber que são pai e filha. Então, como amiga sua, porém hater oficial do Coutinho, te dou o conselho de falar tudo. Depois vocês resolvem os detalhes. Não que eu goste dele, mas porque amo vocês.

Maggie falou sincera e séria. Ela estava mais que certa e eu sentia um misto de sentimentos dentro de mim. Eu realmente teria que enfrentar todos eles e dizer tudo para Philippe, para o bem da nossa filha.


Quando Philippe perguntou se Heloísa era filha dele, apenas o fitei e saí dali o mais rápido que pude. 

A verdade é que eu não queria ir para esse churrasco de jeito nenhum, principalmente sabendo que Coutinho estaria lá. Mas, depois de tanta insistência de Becker e Maggie, decidi ir. Afinal, não dava pra parar minha vida por conta da presença do meu ex nos lugares.
 

- Mamãe, conteceu alguma coisa?

Heloísa perguntou  com a mão no queixo, sentindo o clima estranho. A olhei e vi o quanto aquela menina era importante na minha vida. Decidi não falar para ela, afinal, isso mexeria com seu psicológico de forma absurda.

- Depois a mamãe conversa com você. Além do mais, tenho que te dar um castigo por ter se soltado de mim. Sabe que eu não gosto quando me desobedece.

Falei me abaixando para a pequena que fez uma carinha de triste. Sabia que estava errada.

Fiquei imaginando como eu iria colocar na cabeça daquela mocinha de que “o tio Philippe” que ela acabou de conhecer, era o pai dela. Luz, nossa senhora das causas perdidas, luz. 

 

- Eu vou com você, tá? 

Maggie disse entrando no meu carro, no lado do passageiro.

- Você pode ir com o Becker se quiser, Maggie. 

Falei colocando Heloísa na cadeirinha e a travando logo depois. 

- Não, amiga, o carro dele está cheio de testosterona. Credo! Inclusive, teve um safado deles ontem que me segurou quando tentei dar umas bolachas no Coutinho. Não fui com a cara dele. 

Maggie se referia ao moreno que acompanhava Philippe, e apesar do clima que estava ali, não deixei de rir lembrando da cena. Ah, Maggie. 

 

Minha amiga falava algumas coisas sobre o affair dela, enquanto eu seguia o carro do mesmo para chegarmos na sua residência. Não demorou muito para que chegássemos em uma casa grande. Eu disse grande. Enorme. 

Logo demos entrada e ao estacionar, não pude deixar de ver o charme de Philippe ao sair do carro. De óculos escuros, bermuda que marcava bem seu par de pernas bem treinadas, boné... merda, como ele tava gato.

Sacudi meus pensamentos da cabeça e saí do meu carro.
 

- Bem vindas à minha humilde residência. 

Alisson Becker disse abrindo um sorriso assim que veio ao nosso encontro. 

- Caralho, da onde que isso é humilde? 

Maggie falou sem pensar, olhando em volta. 

 

- Tio gandão... Você namora com minha tia?
 
Heloísa pegou os dois de surpresa ao chegarmos na área de lazer. Os dois riram acanhados com a pergunta da minha filha. 

- Heloísa, hoje você está impossível. 

Falei para minha filha que deu um sorriso sapeca. 

Olhei de canto de olho para Coutinho. Ele fitava aquela cena aparentemente chateado. Conhecia ele o suficiente para saber que estava puto com aquela situação. Alisson percebeu os olhares e pigarreou para Maggie que sentiu o clima pesado ali.


-Ehh, vamos conhecer a casa, Maggie e Heloísa? Tem um espaço só para crianças e tenho certeza que ela vai amar.

Becker falou como desculpa para saírem dali. Heloísa me olhou pedindo permissão e eu consegui. Eles saíram e sem saber como, meus pés me levaram até Philippe.

 

Aquela seria a hora que eu não esperava. 

 

Narrador

(Nota autora: se quiserem, coloquem essa música: Jason Walker - Down)

Amber andou calmamente até Philippe que estava sentado com os cotovelos apoiados nos joelhos e as mãos na boca, olhando para o nada.

Amber, assim como Philippe, sentia um turbilhão de sentimentos dentro dela e cada passo podia sentir seu corpo efervescendo mais um pouco. Tomou coragem e sentou-se ao lado do jogador. Aquele choque elétrico perpassava cada célula do seu corpo. Olhou para Philippe e lembrou de alguns momentos que teve ao lado daquele homem.

-Sim.


Amber pronunciou a palavra delicadamente e com calma, mas a verdade é que por dentro ela não sabia decifrar o que sentia. Ela estava longe de estar calma.

 

- Sim?  

Philippe gaguejou deixando algumas lágrimas caírem do seu rosto. Uma raiva passou pelo seu corpo. Ela não poderia ter omitido isso dele.

-Naquela mesma noite que você me deixou, eu fui para a faculdade. Senti tonturas, enjôos. Pensava que era por conta da aula de anatomia ou por conta das nossas discussões que estavam mais frequentes. Aquela noite foi horrível. Chamei Maggie quando vi que não estava lá e, desde então, os enjoos pioraram, as tonturas. Eu não me alimentava direito, achava que era alguma desnutrição. Não me atentei que minha menstruação estava atrasada. Somente 15 dias depois que cheguei a desmaiar na faculdade mesmo e fui levada para a emergência. Descobri que estava grávida, mas eu quase sofri um aborto devido ao estado em que eu me encontrava.

Ela falou se recordando daquele momento horrível da sua vida. Embora Heloísa fosse a melhor parte da sua história, a dor que ela sentiu foi estrondosa.

Philippe escutava incrédulo, deixando as lágrimas correrem pelos seus olhos castanhos. Sentia raiva de Amber, mas sentia ódio de si mesmo.

-E você nunca pensou em me contar, Amber?

Philippe falou com a voz embargada de decepção.

 -Você acha que eu não queria que minha filha tivesse um pai? Que ela fosse criada pela mãe e a melhor amiga? Todos os dias eu vejo o quanto um pai faz falta na vida da minha filha. Ela sempre me pergunta, me indaga sobre isso e eu sempre dou um jeito de driblar, o que é muito difícil. Mas, Philippe, você quem escolheu esse caminho. Depois de tanto tempo te ligando, eu deixei você seguir o seu caminho.

Coutinho se negava a acreditar que tudo aquilo estava acontecendo.

 

Philippe Coutinho negou com a cabeça indignado com aquilo que estava acontecendo. 

Nas últimas 24 horas, ele encontrou a mulher que sempre foi o amor da vida dele e descobriu que tinha uma filha. 

- Eu não posso acreditar que você me escondeu dela. Poderia ao menos ter dito que ela tem um pai!

Philippe disse olhando no fundo dos olhos castanhos claros de Amber. 

- Eu não tive escolha, Philippe! 

Amber se defendeu fazendo o jogador rir ironicamente. 

- Não teve escolha? Poderia ter dito aos meus pais, que são loucos para serem avós. Ou poderia ter dito para mim, Amber. Merda! 

Philippe deixou mais lágrimas caírem. Estava muito decepcionado.

-Como, Philippe? Você me deixou aqui sozinha e foi embora. Ao menos me deu "tchau".

A ortopedista disse com os olhos marejados para o jogador que estava na sua frente. Precisava ser forte como sempre foi e não podia deixar mais uma lágrima cair. Pelo menos, não agora.

 
-Eu não conseguiria me despedir de você, Amber. Eu não tinha capacidade de fazer aquilo. Eu te amava. E apesar de tudo, ainda amo. Seria um inferno para mim.

-Amava? E me deixou aqui sem saber o que fazer? Triste, sozinha e ainda por cima... grávida?

Ela disse se lembrando da dor que ainda a consumia. 

Philippe embora estivesse desapontado, sabia das razões de Amber. E agora, ele só pensava em como iria conquistar a pequena Heloísa.

Olhou para Amber suspirando e se aproximou da ex, que não hesitou o toque do jogador em seu rosto, com sua mão. 

-Amber, coloque isso em sua cabeça de uma vez por todas. Eu amo você e nunca pense que eu deixei de amá-la por um segundo durante esses 5 anos. Você estava em cada lugar que eu via. Eu não espero que você me perdoe pela grande merda que eu fiz -por mais que eu queira muito. Estou nos meus 26 anos, mas tudo que quero agora é conhecer a filha linda que eu tenho. Mas, saiba de uma coisa, eu não vou desistir de você. Todo aquele amor ainda percorre em mim. Vou provar para você e para minha filha, que eu sou uma outra pessoa. Que eu mudei. Dessa vez, você não vai escapar de mim e nem eu de você. Quero ser o seu primeiro e último amor.



 

Philippe falou para Amber que deixava as lágrimas caírem, engolindo em seco. O jogador acariciou suas bochechas delicadamente e enxugou aquelas lágrimas. O contato de seu dedo com o rosto de Amber, fez seu corpo queimar e tudo o que ele mais queria agora, era juntar os lábios dele com os dela, mas se conteve e a única coisa que fez foi dar um beijo no topo da cabeça da ortopedista. 

 

- Mamãe? Tio Philippe? 

Heloísa apareceu com seu urso de pelúcia nas mãos e com uma interrogação na testa. Mal sabia a mocinha, que aquele moço que estava ali na frente dela, era o pai que tanto desejava. 

 

Narrador off 

 

Philippe Coutinho 

 
Depois da longa conversa com Amber, fui ao banheiro, lavei meu rosto e respirei fundo. Me enxuguei rapidamente e me dirigi para a outra área de lazer, onde acontecia o churrasco.


Marcelo e Neymar estavam altos pela bebida (como sempre), Willian jogava bola com Firmino, e Amber conversava animadamente com Maggie e Becker. Sentei em uma cadeira de praia e confesso que estava um sol muito gostoso. Tirei minha camisa e coloquei meus óculos escuros. 

- Delíciaaaaa! 

Neymar gritou com uma voz gay, enquanto Marcelo ria escandalosamente.

- Gato, você certamente deve ser Barça porque Real não é! 

Marcelo falou arrancando gargalhadas de todo mundo, inclusive minhas.

-Onde vocês encontram essas cantadas, hein, alcoólatras?


Falei para Neymar, Marcelo e Becker que ria com Maggie e Amber. 

- Precisam é de namorada, isso sim.

Becker falou e eu ri, me deitando e sentindo meu corpo arder pelo sol. Caralho, que sensação boa.

Observei a pequena Heloísa andar pela borda da piscina chegando, surpreendentemente, até mim. 

- Olá, mocinha! 

Falei animado para ela que sorria. A vontade era chamar de "filha", mas decidi não forçar a barra. Chegaria aos poucos até dizer que eu era seu pai. Só assim não causaria tanto impacto nela. 

- Oi, tio Philippe! 

Ela falou olhando para o ursinho que estavam nas suas pequenas mãozinhas. 

- Já sabe qual vai ser o nome dele? 

Perguntei olhando para ela. Caramba, aquela menina parecia muito comigo. 

- Acho que vai ser... Cheddar! 

Gargalhei com a idéia de nome e a sua criatividade espontânea.

- Por quê "Cheddar"? 

Perguntei e ela fez uma careta. 

- Na minha casa, tem o Bacon, a Florentina e agora o Cheddar. 

Ela falou atenciosamente para mim. 

- É um ótimo nome! 

Falei pegando nos cabelos dela que estavam sendo bagunçados pelo vento. De início, ela achou estranho, mas não disse nada. Pelo visto, ela gostava de ser mimada.

- MAMÃE! 

Heloísa gritou. Me senti coagido. Porra, será que fiz alguma coisa?
Amber hesitou em ir até lá, mas foi calmamente.

- Diga, filha! 

Amber falou a olhando, me ignorando.

- Deixa o tio Philippe ir lá nossa casa? Conhecer o Bacon e a Florentina? 

Ela me pegou de surpresa. Olhei para Amber sussurrando um “ não fui eu”. Minha ex estava tão sem reação quanto eu. 

- Ah, mas tem que ver se ele pode e se ele não trabalha no di... 

 

Amber ia inventando desculpas, mas Heloísa a interrompeu. 

- Você vai, tio? 

Ela perguntou me olhando animada. Sorri consentindo. Percebi Amber puxar ar de seus pulmões e ri.

- Ahn...Heloísa, vem, vamos almoçar! 

Amber a chamou se retirando.

- Tio, depois brinca comigo de filhinha e papai?