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História Agape - Tudo Me Leva Até Você


Escrita por: unabella

Notas do Autor


Oiii😁
Eu tardei, mas voltei kkk😅
Primeiro quero pedir mil desculpas pela demora. Algumas coisas aconteceram e acabou ficando um pouco difícil de escrever, mas finalmente cheguei com outro capítulo bem grande kkk
Obrigada a cada um que tem comentado sobre a história e me dado um apoio! O carinho de vocês significa demais e eu fico muito feliz de saber que estão gostando de ler Agape🥰❤️
Espero que gostem desse capítulo! Boa leitura!❤️❤️

Capítulo 6 - Tudo Me Leva Até Você


Fanfic / Fanfiction Agape - Tudo Me Leva Até Você

“Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos.” - O Pequeno Príncipe 

 

◆ ◇ ◆ ◇ ◆

 

O tempo passava e, ao longo do caminho, a conversa fluía fácil entre Sergio e Raquel. As vozes e risadas logo começaram a se misturar com as músicas que tocavam enquanto ele dirigia pelas ruas de Barcelona e Raquel o guiava em direção ao seu apartamento. Um misto de sentimentos pareciam lhe tomar conta e, ainda que seu dia tivesse sido minimamente exaustivo, nada podia se comparar à felicidade genuína que ela sentia ao repassar todos os eventos em sua mente e ver como tudo havia dado certo. 

Talvez até o fato de seu carro ter quebrado havia sido algo bom, afinal agora ela ainda podia aproveitar o fim do dia na companhia de Sergio e, é claro, do pequeno Eros que estava deitado no banco de trás.

“Acredito que hoje ele te deixará ter uma boa noite de sono… Foi um dia bem agitado para um filhote.” ela comentou ao olhar para trás momentaneamente e ver Eros quietinho no banco. 

“Eu arrisco dizer que ele apenas decidiu se comportar um pouco, mas não imagino quanto tempo isso irá durar.” Sergio admitiu com uma curta risada. “Eros tem muita energia… Eu tenho tentando acostuma-lo todos os dias com a coleira, o que significa que ficamos quase 40 minutos caminhando pela praia pela manhã ou fim da tarde, e durante o resto do dia ele mal consegue ficar parado até mesmo para comer o que, em verdade, me causa um pouco de preocupação visto que ele pode ter alguma indigestão. Eu também tenho… Bom… Utilizado alguns dos brinquedos dele para mantê-lo ocupado já que alguns móveis da minha casa parecem bem mais atrativos…” acrescentou enquanto levantava uma sobrancelha. “O que eu quero dizer, é que talvez seja apenas questão de alguns minutos para que ele esteja roendo o cinto de segurança do carro de novo.”

“Espera… Ele realmente fez isso?!” Raquel perguntou com um tom de diversão em sua voz. 

“O cinto lateral esquerdo tem pequenas marcas dos dentes dele… Foi naquele mesmo dia que viemos à clínica pela primeira vez.” ele comentou. “E foi também quando ele comeu metade do saco de ração…”

“Eu ainda não acredito que você deixou isso acontecer.” ela disse enquanto balançava a cabeça de um lado para o outro e ria. 

“Mas garanto que isso não irá se repetir, até porque agora estamos nos entendendo melhor, não é mesmo?” ele perguntou ao olhar pelo retrovisor e ver que Eros havia se virado e parecia entretido com o próprio rabo. “Viu? Ele já está ficando todo agitado de novo.” 

“Ele é só um filhote Sergio…. Provavelmente ainda vai virar sua vida de cabeça para baixo.” 

“Não posso dizer que ele já não esteja fazendo isso…” ele riu. “Toda essa ‘experiência’ tem sido nova, mas também interessante. Eu tenho vivido por tanto tempo da mesma maneira, com a mesma rotina e acreditando nas mesmas coisas. Eros certamente foi algo inesperado, mas nós estamos conseguindo estabelecer um dialogo.”

“Tenho certeza de que vocês serão grandes parceiros!” ela disse com um sorriso.

“Meu irmão falou a mesma coisa poucos minutos depois que eu descobri que havia ganhado um cachorro… Ele disse também que esse cachorro mudaria a minha vida.” comentou ao se lembrar das palavras de Andrés. 

“E você acredita nisso?”

“No começo eu não acreditava muito, mas eu estaria mentindo se dissesse que minha vida não está mudando.”

“Para melhor?” ela perguntou ao encará-lo.

Sergio manteve os olhos na rua enquanto dirigia, mas sua mente divagou para longe durante alguns rápidos segundos e ele se permitiu sorrir ao constatar que não havia muito o que pensar para responder àquela pergunta. 

“Sim…. Para melhor.” confirmou ao virar sua cabeça brevemente para olhá-la e, quase que imediatamente, ele sentiu um frio na barriga ao constatar que Raquel o observava com um sorriso no rosto. 

 

◆ ◇ ◆ ◇ ◆

 

Logo os segundos foram se transformando em minutos e, antes mesmo que tivessem alguma chance de prolongar o trajeto, Sergio já estava estacionando o carro em frente ao apartamento de Raquel.

Ela rapidamente colocou uma mecha de seu cabelo atrás da orelha, desejando ter um lápis em mãos para que pudesse prende-lo em um coque. Se não fosse pela música que tocava e o barulho de suas próprias mentes, o ambiente dentro do carro teria ficado em absoluto silêncio.

Era isso… O dia havia acabado, e eles só podiam desejar controlar o tempo para fazer com que tivessem algumas horas a mais do que as simples vinte e quatro horas que não pareciam serem suficientes. Só um pouco mais na presença um do outro… Um pouco mais daquela troca de olhares que já parecia tão familiar e dos risos tão naturais.

“É aqui?” Sergio perguntou, tirando Raquel de seus pensamentos.

“Sim! Obrigada Sergio!” ela respondeu assentindo e alcançando por sua bolsa antes de encará-lo com um sorriso “O dia foi ótimo!” acrescentou.

Ele rapidamente assentiu e tocou o óculos em seu rosto ao se permitir que seus olhos recaíssem sobre ela e, mesmo que a iluminação proveniente da rua não fosse das melhores naquele momento, Sergio ainda podia traçar cada linha do rosto de Raquel e, para cada vez que a via, ele tinha a certeza de que ela era ainda mais encantadora. Tão bela, tão diferente e tão única… Tão ela. 

“Certamente! Foi muito bom poder ajudá-la! E vê-la!” ele disse ao sorrir de volta para ela.

Por um momento, Sergio percebeu que eles pareciam estar um pouco mais próximos do que o normal. Inconscientemente ele engoliu em seco e, se estivesse vestindo um terno e gravata, ele já teria levado suas mãos para afrouxar o nó. Em apenas uma fração de segundo Sergio pode sentir seu coração começar a bater mais rápido contra seu peito e o cheiro do perfume de Raquel cada vez mais forte e inebriante.

“Você aceita subir? Tomar uma água ou um café?” ela perguntou, sentindo a ansiedade preenche-la por dentro e mentalmente se repreendendo afinal, quem oferece café uma hora dessas? “Sei que você está com o Eros, mas realmente isso não é incomodo algum…” acrescentou.

Ela poderia simplesmente ter se despedido e saído do carro, mas Raquel queria que aquele dia durasse mais. Tinha que durar mais, afinal ela sequer sabia quando o veria novamente ou mesmo se o veria novamente. Bom… Eles tinham os números um do outro e é claro que sempre poderiam ligar para marcar algo, mas naquele momento, ela não queria pensar no amanhã ou no que poderia acontecer quando acordasse, ou mesmo quais as responsabilidades que ela teria no dia seguinte. Ela queria o momento presente que estava vivendo com Sergio e apenas aquilo.

“É. Digo, eu-eu adoraria!” ele respondeu e a viu sorrir largamente antes de Sergio desligar o motor do carro.

Ele rapidamente saiu do veículo e caminhou até a porta de Raquel, abrindo-a para ela, antes de pegar Eros que estava no banco de trás. 

Raquel respirou fundo tentando controlar a ansiedade que parecia se acumular dentro de seu corpo. Por vezes ela levantava o olhar e sorria para Sergio conforme eles adentravam o prédio e logo entravam no elevador, mas antes que a porta se fechasse e eles ficassem sozinhos com Eros, uma senhora de 71 anos entrou no elevador também e Raquel imediatamente a reconheceu como sua vizinha do apartamento ao lado, a qual havia se mudado a poucos meses atrás e Raquel havia lhe ajudado com alguns móveis e até compras. 

“Senhora Inês, como vai?” Raquel perguntou educadamente ao sorrir para ela.

“Raquel querida, é muito bom vê-la novamente! Ah estou bem, com exceção das velhas dores nas costas, mas nada que possa me derrubar!” ela riu e logo a porta do elevador se fechou. “E você? Como está? Já fazem algumas semanas desde a última vez em que lhe vi! Você estava com aquela mulher… Como ela se chama mesmo? A do cabelo ruivo?”

“Alícia… Sim, ela mora neste apartamento também, se recorda?”

“Mas é claro querida! Como eu poderia me esquecer? Vocês me ajudaram tanto desde que cheguei aqui!” a senhora comentou antes de se virar e sorrir para Sergio, o qual carregava Eros em seus braços. “Essa mulher aqui tem um coração de ouro sabia?” questionou, fazendo com que Raquel imediatamente corasse e colocasse uma mecha de seu cabelo atrás da orelha. 

“Eu tenho certeza que sim!” Sergio respondeu, tocando rapidamente seu óculos com a mão livre antes de virar sua cabeça para encarar Raquel.

“E este aqui querida… Quem é?” a senhora perguntou, fazendo com que Sergio repentinamente desviasse sua atenção de Raquel para a mulher de mais idade, antes de seus olhos recaírem sobre Raquel novamente e ela o encarasse de volta.

“E-Ele… Perdão…” riu. “Este é o Sergio! Sergio Marquina! Ele me deu uma carona até aqui… Meu carro quebrou pela manhã.” ela explicou enquanto seus dedos brincavam uns com os outros.

“Não me lembro de tê-lo visto aqui antes…” a senhora comentou.

“Ele não esteve aqui antes.” Raquel falou com um sorriso.

“Ah sim… Então vocês estão se conhecendo ainda?”

Naquele momento Raquel pode jurar que seu rosto havia ficado tão vermelho quanto um morango e Sergio não estava tão diferente dela, afinal ele parecia até ter engolido em seco logo antes de tocar em seu óculos. Eles rapidamente trocaram olhares como que buscando no outro a melhor resposta.

“Nós —“ Sergio começou.

“Eu… Digo… Nós —“ Raquel falou ao mesmo tempo. 

“Está tudo bem… Eu já tive a idade de vocês! Além do mais, eu nunca vi você trazer ninguém para cá e nessa altura da vida tem mais é que aproveitar mesmo!”

Ótimo…. Raquel tinha certeza de que agora Sergio devia estar não apenas constrangido, mas também provavelmente acreditando que ela tinha uma teia de aranha entre as pernas. 

“Se quiserem, eu posso cuidar um pouco dessa coisinha peluda aqui por algumas horas.” a senhora se ofereceu ao acariciar a cabeça de Eros.

Sergio engoliu em seco e seus olhos alternavam entre a parede do elevador, a senhora à sua frente e Raquel ao seu lado. De repente, o espaço parecia pequeno demais e muito abafado e, para piorar, Raquel parecia tão desconfortável quanto ele naquele momento. Não um com relação ao outro, mas com toda a mensagem subliminar que tinha aquela conversa, em especial porque tudo que ele tem procurado evitar era que Raquel se sentisse desconfortável perto de si. Ele rapidamente tocou o óculos pelo que parecia ser a milionésima vez naquele dia e ele não tinha certeza de suas mãos estavam começando a suar por conta da situação na qual se encontrava ou se era porque ainda segurava Eros em seus braços. Ele abriu a boca e ameaçou gaguejar algumas palavras, mas antes mesmo que pudesse dizer algo a voz de Raquel preencheu o ambiente novamente. 

“Não será necessário Senhora Inês, mas obrigada por se oferecer.” ela falou de maneira educada e, logo após, a porta do elevador finalmente abriu no andar deles.

“Bom… Se mudarem de ideia, é só apertar minha campainha, sim? Talvez umas duas ou três vezes porque vocês sabem… Estou ficando velha e minha audição já não é das melhores.” ela disse e Raquel pode jurar que a vira piscar em sua direção antes de virar a esquerda no corredor e seguir até sua porta, desejando um rápido ‘boa noite’ antes de desaparecer.

“Isso foi…” Raquel murmurou.

“Sim.” Sergio assentiu enquanto ambos encaravam a porta do apartamento da Senhora Inês.

Raquel então se virou e caminhou até sua porta, rapidamente tirando a chave de sua bolsa enquanto evitava olhar para Sergio, ainda que por apenas alguns segundos. Não… Tudo aquilo havia sido constrangedor demais e a verdade é que ela não fazia ideia do que dizer para ele. 

“Perdão por isso Sergio…” comentou enquanto caminhava para dentro do apartamento e deixava que ele a seguisse. “Ela é… Bem… Você viu…” riu enquanto segurava as próprias mãos.

“Imagina! Não tem problema algum!” ele disse enquanto procurava conforta-lhe com um sorriso. “Além do mais, acredito que já estou meio acostumado com meu irmão que costuma ser… Bom… Eu diria expressivo sobre tudo o que ele pensa.” 

Raquel assentiu e deixou que um riso lhe escapasse antes de apontar para Eros.

“Você pode deixá-lo no chão… se quiser. Eu devo ter algum comedouro em algum lugar e ele pode usar para tomar água.” ela falou enquanto caminhava até a despensa. “Por vezes tenho algum hóspede aqui, então é sempre útil —“ começou, mas parou ao olhar para Sergio e ver que ele parecia confuso com a palavra que ela utilizara, afinal, a Senhora Inês havia sido bem clara ao dizer que Raquel não costumava aparecer com companhia ali. “Digo… O gato de Alícia às vezes fica aqui e tenho uma ou outra conhecida que costumam deixar os animais delas comigo quando vão viajar.” 

“Claro!” ele riu enquanto colocava Eros no chão, o qual imediatamente começou a percorrer o novo ambiente. “É um belo apartamento e me parece bem aconchegante.” 

“Obrigada! Certamente é um bom lugar para se chegar no final do dia após horas trabalhando.” ela comentou, fazendo com que ambos risse.

Logo Raquel encheu um comedouro de água para Eros e então finalmente se virou para Sergio.

“Bom eu… O que posso pegar para você? Uma água? Devo ter também algumas cervejas e um vinho…. Honestamente, acho que preciso ir no mercado com urgência!” falou enquanto caminhava pela cozinha com Sergio logo atrás dela. “Essa semana tem sido corrida e tenho tido tantas coisas para fazer na clínica, sem contar toda a preparação para o evento de hoje e —“

“Raquel está tudo bem! Não passa nada.” ele disse com um sorriso quando ela se virou para encará-lo. “Uma água está ótimo! Não quero incomodar…”

“Imagine! Não é incomodo algum!” ela falou rapidamente.

Raquel então se virou para abrir um dos armários e alcançar por um copo e então caminhou até o filtro.

“Faz tempo que àquela senhora é sua vizinha?” Sergio perguntou.

“Na verdade não. Acredito que a quase 4 meses apenas. O marido dela faleceu alguns meses atrás e ela resolveu se mudar para um local menor.” respondeu antes de pressionar os lábios, o qual não passou despercebido por Sergio.

“Você parece pensativa…” comentou intrigado.

“Bom eu… Eu estava lembrando das coisas que ela falou.” admitiu ao se virar para ele e entregar o copo.

“Você não precisa se preocupar com aquilo Raquel. Está tudo bem! De verdade!”

“Na verdade, eu estava pensando em quando ela falou que eu não trazia ninguém aqui. Exceto por Alícia, é claro.” ela esclareceu.

Sergio deixou que seu olhar caísse um pouco enquanto as engrenagens de sua cabeça funcionavam e então ele tornou a olhar para Raquel.

“Vocês…. Você e Alícia… Vocês estão…?” ele questionou um pouco hesitante.

Raquel levantou as sobrancelhas e, quando finalmente entendeu onde ele queria chegar, ela não pode evitar que uma risada lhe escapasse por entre os lábios.

“Espera… Você acha que eu e Alícia temos algo?” perguntou rindo. “Não, não… Alícia é minha melhor amiga desde e infância e bom… Ela também me ajudou a encontrar este lugar pouco depois que me divorciei de meu ex-marido. Alícia mora três andares abaixo de mim.”

“Sim, claro! Perdão pela suposição.” ele comentou enquanto tocava em seu óculos com a mão livre, mas logo outra pergunta se formou em sua mente. “Estar aqui me faz especial então?” ele questionou, deixando o copo de lado na pia e dando um passo mais próximo à ela. 

Inconscientemente Raquel umedeceu os lábios e deu um passo em direção à ele, de modo que em poucos segundos seus corpos estavam extremamente próximos, com apenas alguns centímetros os separando. Ela se permitiu deixar que seus olhos caíssem para os lábios dele por um momento. Seria muito cedo? Talvez. Arriscado? Talvez, já que ele poderia muito bem não retribuir e tudo então não ter passado apenas de mera educação, mas ela queria. 

Naquele momento Raquel não tinha ideia de quanto tempo fazia desde que havia beijado um homem… Ela não conseguia se lembrar da última vez que estivera com Suarez. Não que houvessem lhe faltado oportunidades, mas ela simplesmente não tinha interesse… Não havia vontade de estar com alguém… Não havia desejo mas, neste momento, ela tinha certeza de que tudo o que ela desejava eram os lábios de Sergio contra os seus. Ela queria sentir mais do perfume dele e poder tocar a pele dele outra vez. Queria saber quantas outras pintas desenhavam o corpo dele além do que ela podia ver pelo pescoço. Queria o sentir contra si e isso ficou mais do que claro quando aquele velho sentimento de ansiedade se instalou em seu corpo, ao mesmo tempo em que ela podia sentir um calor familiar entre as pernas.

“Eu gosto de pensar que sim…” ela murmurou ao levantar seu olhar para encontrar o dele e, nesse momento, Raquel pode jurar que os olhos dele estavam mais escuros do que o normal. “E você?”

“Eu?” ele questionou em um sussurro enquanto a encarava.

“Gosta que o fato de eu ter te convidado para subir faça de você especial?” ela esclarece no mesmo tom de voz.

Raquel já conseguia sentir a respiração dele contra a sua pele, como se o evidente movimento do subir e descer de seu peito não fosse o suficiente para dar uma amostra da tensão sexual que havia se instalado ao redor deles. Sem perceber, ela umedeceu os lábios novamente e aproximou seu rosto ainda mais do de Sergio, de modo que seus lábios estavam a apenas poucos centímetros de distância. Foram longos os segundos nos quais ela manteve seu olhar conectado ao dele mas, quando Sergio umedeceu os próprios lábios, Raquel permitiu que seu olhar caísse para a boca dele. 

Ela aguardava uma resposta.

Ela queria uma.

E foi então que ela sentiu uma das mãos de Sergio em sua cintura e a reposta que ela tanto aguardava chegou. Os lábios dele finalmente tocaram os dela e Raquel teve uma primeira amostra do que era o verdadeiro contato carnal entre eles. Ela imediatamente retribuiu o beijo enquanto levava suas mãos até os cabelos dele e, quase que ao mesmo tempo, pode sentir a outra mão de Sergio enlaçando sua cintura e a puxando para ainda mais perto, de modo que seu peito estivesse pressionado contra ele. O encaixe dos lábios era perfeito e, se não fosse pelo calor entre suas pernas cada vez maior, Raquel poderia jurar que era real o clichê de que aquela boca estava destinada à encontrar a sua. 

De início, o beijo era delicado e tímido, como se ele estivesse tentando descobrir se ela estava confortável com a situação, mas ‘para o inferno’ com isso. Tudo o que Raquel mais queria naquele momento era ele. Não importava como ou onde, mas ela certamente queira mais e, para lhe mostrar isso, ela tomou a iniciativa e lhe pediu passagem com a língua em uma tentativa de aprofundar o beijo. Como que em uma resposta, ela sentiu Sergio afundar os dedos em seu corpo, e a mera sensação de tê-lo ali, segurando-a com tanta volúpia, foi suficiente para que um curto mas audível gemido lhe escapasse por entre os lábios e direto contra a boca dele, que logo abafou o som ao se permitir intensificar o beijo.

Sim… Ele a queria tanto quanto ela o queria.

Tudo isso ficou ainda mais evidente para ela quando eles precisaram quebrar o contato entre seus lábios para buscar por um pouco de ar. Seus pulmões queimavam e a respiração de ambos era tão intensa quanto o fogo que parecia crescer dentro de seus corpos. Uma chama que há tanto estava apagada e agora voltava a se reascender. 

Raquel deslizou as mãos por entre os ombros de Sergio, permitindo que seus dedos captassem a sensação que era desenhar as linhas do corpo dele, passando pelos pelos braços nos quais ela podia traçar os músculos até subir novamente e parar no tórax dele. Seu peito subia e descia intensamente e ela podia sentir o coração de Sergio batendo em uma velocidade descompassada, assim como ela tinha certeza de que estava o seu. 

Seu olhar então caiu dos olhos dele para o corpo enquanto ela descia as mãos até o final da camisa que ele vestia, e não lhe passou despercebido o volume que rapidamente havia se formado na calça de Sergio. Raquel mordeu os próprios lábios tentando conter um sorriso de satisfação e então começou a subir a camisa dele, imediatamente sentindo a pele dele em contato com seus dedos. Uma amostra do calor dele que ela tanto ansiava ter para si. 

“Raquel… Você tem certeza?” ele questiona em um sussurro, fazendo com que ela parasse suas mãos no meio do caminho e levantasse seu olhar até o dele. 

“Você não quer?” ela perguntou em um tom confuso. 

Era óbvio que as respostas do corpo dele não podiam ser controladas e talvez ela estivesse passando um pouco do limite ou tudo isso estivesse sendo rápido demais.

Mas não demorou nem 2 segundos para que Raquel sentisse uma das mãos de Sergio lhe segurar o rosto com delicadeza. O polegar dele percorreu a extensão de sua bochecha e ele aproximou seu rosto do dela até que estivessem bem próximos. O olhar dele era tão intenso que Raquel podia jurar que ele estava prestes a despir sua alma. 

“Eu quero.” ele sussurrou. “Quero muito… Desde o primeiro dia.” admitiu enquanto sua mão livre percorria a extensão das costas dela, até parar pouco acima de sua bunda. 

Raquel então aproxima seus lábios do ouvido de Sergio.

“Então acho que estamos perdendo tempo conversando, não?” ela pergunta antes de se afastar o suficiente para elevar suas mãos e rapidamente tirar a camisa de Sergio do corpo dele, jogando-a em algum canto da cozinha e, como na atração de um imã, ela tornou a colocar as mãos no corpo dele, agora sem a camisa que separasse o calor de seus corpos. 

“Me parece justo acrescentar que, neste momento, eu acho que você está com roupas demais…” ele responde e, antes mesmo que Raquel pudesse dizer algo mais, seus lábios já estavam pressionados um contra o outro.

Raquel pode sentir a maior liberdade das mãos de Sergio explorando seu corpo. Ela queria que ele a tocasse em tantos lugares e de tantas maneiras diferentes que a mera expectativa por isso já era alucinante. Ela se sentia desejada e a maneira como sua calcinha já estava molhada não era suficiente para demonstrar o quanto ela queria tê-lo por completo. Cada movimento da mão dele tão pressionada contra sua pele… Cada desenho que os dedos dele traçavam a fim de conhecer o corpo dela com tanta veemência. 

Droga, por que ele tinha que ser tão respeitoso?!

Raquel retirou suas mãos de Sergio para alcançar a própria blusa e retira-la do corpo de maneira impaciente, revelando um sutiã preto que aguçava ainda mais a curiosidade e o desejo de Sergio, de tal modo que a calça que ele vestia já parecia lhe ser extremamente desconfortável. 

Seus lábios então se reencontraram de maneira lasciva e, antes mesmo que Raquel pudesse reagir, Sergio a tomou em seus braços, pouco abaixo de sua bunda, e a levantou, fazendo com que ela apertasse os braços em volta do pescoço dele. Seus dedos pressionando a pele de Sergio com tamanha intensidade que ela tinha certeza de que algumas marcas vermelhas já se formavam por onde suas mãos percorriam. 

Ele caminhou com ela até coloca-la sentada no balcão da cozinha, e Raquel imediatamente enlaçou a cintura dele em suas pernas conforme sentia os lábios de Sergio começarem a explorar a região de seu pescoço. Ela tombou a cabeça levemente para trás de modo que ele tivesse mais espaço e, assim que ele usou os lábios para colocar uma pressão maior onde ele sentia a veia de Raquel pulsar, ela segurou o cabelo dele com mais força e gemeu  sem qualquer impedimento ou pudor. As mãos de Sergio lhe apertavam as coxas enquanto ele se inebriava no cheiro dela e Raquel procurava aproximar seu quadril o máximo possível dele. 

“Tão impaciente…” ele murmurou pouco abaixo do ouvido dela antes de chupar sua pele outra vez. “Mas uma obra de arte deve ser apreciada da maneira correta e eu pretendo fazer isso com toda a dedicação, atenção e paixão que você merece.” 

Logo após Raquel sentiu as mãos dele passarem pelas costas dela até que ele abrisse seu sutiã. Sergio se afastou um pouco enquanto o retirava, permitindo deleitar-se com a visão de Raquel seminua logo diante de si.

“Além do mais, eu não estou com pressa e pretendo aproveitar cada segundo disso.” ele sussurra ao levar seus lábios até o colo do peito de Raquel e deixar um beijo sobre cada pinta que ela possuía. 

Uma de suas mãos logo repousou sobre a coxa dela, ainda coberta pela calça, enquanto a outra permanecia nas costas de Raquel. Seus dedos desenhando linhas imaginárias pela pele dela, até que ele subiu a mão até a nunca e emaranhou seus dedos entre os cabelos loiros. 

A maneira como ele a olhava parecia ser tão especial. Raquel se sentia livre de qualquer amarra que seu passado pudesse ter criado. Ela se sentia tão única e rara quanto uma pedra Alexandrita, a qual o valor pode chegar até 70.000 dólares. 

Naquele momento, com toda a atenção de Sergio voltada para si, Raquel não conseguia mensurar quanto ela lhe valia. Com o toque dele descobrindo cada parte de seu corpo e seus olhos tão atentos aos detalhes que a moldavam como a mulher que era, ela se sentia valiosa, especial e desejada. Todos os números imagináveis não seriam capazes de definir quanto Raquel Murillo valia naquele momento, pois a beleza que Sergio enxergava diante de si, tanto de corpo como de alma, era imensurável. 

Ela então teve seus lábios tomados por Sergio mais uma vez enquanto ele levava uma de suas mãos até um dos seios de Raquel, massageando-o e passando o polegar pelo mamilo, sentindo o mesmo enrijecido. Naquele momento, ele podia sentir sua calça ainda mais apertada e seu membro pulsando de maneira quase dolorida, mas ele se dedicaria quanto tempo fosse necessário à Raquel. Ela era sua prioridade e, mesmo não sabendo o que aconteceria depois ou como seria o dia seguinte, ela continuaria sendo prioridade. 

Raquel colocou uma mão na cabeça dele, correndo seus dedos por entre os fios escuros de Sergio enquanto ele percorria com os lábios o caminho pelo pescoço dela novamente, finalmente chegando em um dos lugares que ela tanto o desejava. A barba dele roçava contra sua pele e ela tinha certeza de que ele podia sentir como ela se arrepiava inteira em determinados pontos, mas foi quando ele finalmente passou a língua pelo mamilo dela que Raquel deixou que outro gemido lhe escapasse por entre os lábios. As mãos dele rapidamente caíram até a calça dela, a qual ele rapidamente abriu e desceu o zíper, antes de voltar a dar a devida atenção aos seios dela. 

“Quero que me diga se você se sentir desconfortável com algo, sim?” ele pergunta, parando tudo o que estava fazendo por um momento apenas para encara-la. Raquel já tinha as bochechas levemente rosadas e os lábios inchados.

“Só… Continua…. Por favor.” ela pede enquanto usa as pernas para o pressionar mais contra si. 

Sergio assentiu de maneira satisfeita antes de levar as mãos até a barra da calça de Raquel. Ela imediatamente sustenta parte do próprio peso na bancada enquanto ele desliza, em uma mesma oportunidade, ambas a calça e a calcinha dela, jogando-as em algum canto do ambiente.

“Nós poderíamos nos livrar disso também.” ela sugere ao colocar as mãos na calça dele quando ele se aproxima. 

“Antes eu quero te dar o prazer que você merece!” ele comenta, rapidamente tomando as mãos dela nas suas e beijando cada uma delas.

Raquel logo sentiu a boca dele em seu outro seio, enquanto a mão massageava o peito livre e ela o incentivava a continuar. Por mais impaciente que estivesse e por mais que o quisesse, ela não poderia reclamar com o tanto de atenção e cuidado que Sergio estava tendo com ela. 

Logo os beijos dele voltaram para o vale de seus seios e ela o sentiu descendo por sua barriga, até que finalmente a barba dele passou a roçar em sua coxa. Automaticamente ela abriu um pouco mais as pernas e sua respiração pesou em expectativa. Sergio distribuiu beijos por uma coxa, antes de dar a mesma atenção à outra e, quando Raquel menos esperava, ela sentiu os lábios dele tocando sua intimidade e sua primeira reação foi gemer o nome dele.

“Raquel, não queremos que a Senhora Inês escute…” ele murmura com um sorriso sacana ao encara-la. 

“Menos mal que ela é meio surda então.” Raquel comentou ao colocar uma mão atrás da cabeça de Sergio e incentivá-lo a continuar. 

Sergio distribuiu alguns beijos ao longo da virilha de Raquel, antes que ela sentisse a língua quente dele a explorando, percorrendo cada centímetro dela e buscando todos os pontos possíveis de prazer. Ele estava determinando a conhecê-la por completo e saber de tudo o que ela gostava e a satisfazia e por Deus… Ela estava tão molhada e tão entregue que isso já era o suficiente para leva-lo à loucura. 

“Ah Sergio…” ela gemeu enquanto empurrava o quadril contra a boca dele. “Aparentemente sua língua tem outras habilidades além das palavras.”

“Bom… Espero estar fazendo bom uso dessas habilidades.” ele falou ao olhar para ela.

“Tenho uma ideia de outra coisa que iria muito bem aí…” Raquel disse antes de morder o lábio inferior, fazendo com que ele sorrisse em satisfação.

“Prometo que logo chegaremos nisso…” ele responde antes de tomar a intimidade de Raquel em sua boca novamente.

A língua de Sergio se movia em diferentes direções e Raquel não podia evitar jogar a cabeça para trás e fechar os olhos enquanto se concentrava no prazer que ele lhe proporcionava. Ela tentava manter a respiração o mais controlada possível como forma de fazer com que toda aquela sensação durasse mais e ela não gozasse tão rápido, mas quando Sergio deslizou um dedo para dentro dela Raquel sentiu todos os seus músculos contraírem de imediato e ela pressionou os lábios enquanto ele começava a movimentar o dedo, logo acrescentando um segundo, o que fez com que ela gemesse ainda mais alto. A cada segundo ele conhecia mais do corpo dela e entendia como ela reagia a cada estímulo que ele lhe proporcionava e Raquel tinha certeza de que estava próximo de entrar em combustão. 

Uma fina camada de suor começava a se formar em sua testa e ela não conseguia organizar os próprios pensamentos enquanto Sergio movia seus dedos e ainda a estimulava com a língua. Tudo queimava dentro dela… Seus músculos se contraíam cada vez mais e Raquel era uma bomba-relógio prestes a explodir.

“Sergio… Sergio eu vou —“

E então ela abriu os olhos e sentou em um sobressalto com o barulho de seu telefone tocando. Por um momento tudo era uma confusão em sua mente e, quando seus olhos finalmente se ajustaram a claridade do ambiente, Raquel percebeu que estava em seu quarto. Ela olhou para o lado, mas a cama estava vazia. Em realidade, não haviam quaisquer vestígios de que outra pessoa pudesse ter estado ali com ela. 

Raquel então levou uma das mãos até a testa, limpando a fina camada de suor em seu rosto, antes de deixar que um bufo lhe escapasse por entre os lábios.

Era um sonho…

Ela havia acabado de ter um sonho erótico com Sergio Marquina e, para piorar, ela foi interrompida por uma ligação antes mesmo que pudesse gozar. 

Ótimo… tesão acumulado com um misto de frustração era tudo o que ela precisava para começar o dia. 

“Droga…” murmurou antes de se virar e alcançar por seu telefone na mesinha de cabeceira. “Alô?”

“Raquel finalmente! Achei que fosse ter que ir até sua casa e estava com medo de encontrar um corpo morto… Te liguei duas vezes já…”  a voz de Silene se fez presente do outro lado da linha.

“Eu… Bom, é nosso dia de folga hoje e eu acho que estava exausta após o dia de ontem.” ela responde ao correr uma de suas mãos pelos cabelos. 

“Tive que ligar para as meninas até para ver se elas sabiam de você. Por sinal… Mônica mencionou que ontem você saiu acompanhada…” disse em um tom sugestivo. “É por isso que está tão exausta ao ponto de perder duas ligações seguidas?”

Raquel rolou os olhos e mordeu o lábio inferior enquanto pedaços de seu sonho lhe vinham à cabeça. Sergio tocando-a, beijando-a, chupando-a… A voz grossa dele logo ao pé de seu ouvido, a barba raspando contra sua pele e a língua quente a levando à loucura. 

Quem me dera fosse por esse motivo’… ela pensou.

“Alicia precisou de mim…” se limitou a responder. 

“Hmmm… Espero que vocês não tenham feito nada interessante sem me chamar.” Silene comentou antes de prosseguir. “Sei que estamos de folga hoje, com exceção de eventuais emergências, mas a Claudia, nossa fornecedora, ligou a pouco dizendo que estaria sozinha na farmácia veterinária no centro e por isso não iria conseguir fazer a entrega dos medicamentos após o almoço. Você quer que eu ou alguém vá buscar?”

Raquel brevemente retirou o telefone de sua orelha para poder olhar o horário na tela. Já se passavam das 10 horas da manhã, o que era quase uma raridade já que ela dificilmente dormia até esse horário, em especial por conta de seu trabalho.

Ok… Ela não poderia reclamar que Silene estava lhe ligando naquele momento, mas não poderia ao menos ter sido uns 10 minutos mais tarde?!

“Raquel?”

“Não… Digo, não precisa Silene. Eu mesma irei. Vou precisar comprar algumas outras coisas para a clínica de qualquer maneira…” murmurou.

“Ótimo! Aproveitarei para continuar com a minha cerveja então! Espero não ter interrompido nada.”

“Imagine.” Raquel respondeu, tentando esconder a frustração em sua voz. “Nos vemos amanhã, então tente não ficar com uma ressaca daquelas…”

“Está bem mãe…” Silene comentou antes de rir.

Logo em seguida elas encerraram a ligação e Raquel deixou que um longo suspiro lhe escapasse.

Primeiro de tudo, ela precisava de um banho para acordar, ainda que o universo de seu sonho lhe fosse mais tentativo, em especial ao lembrar de que, infelizmente, tudo o que havia acontecido dentro do elevador não era parte desse sonho. A Senhora Inês realmente subiu até este andar com eles e fez suposições com as quais Raquel não sabia nem mesmo onde esconder o rosto ou como encarar Sergio depois, ainda mais tendo percebido que ele também havia ficado tão sem jeito quanto ela. 

“Bom… Se mudarem de ideia, é só apertar minha campainha, sim? Talvez umas duas ou três vezes porque vocês sabem… Estou ficando velha e minha audição já não é das melhores.” ela havia dito e, pior, ainda havia piscado na direção deles, deixando claro o duplo sentido de suas palavras. 

Raquel se lembra de Sergio ter a acompanhado ao longo do corredor com Eros em seus braços, mas assim que ambos haviam entrado em seu apartamento e ela ainda se desculpava pelas coisas que a Senhora Inês havia falado, Alícia lhe ligou com um claro tom de preocupação em sua voz, o que instantaneamente deixou Raquel em alerta. 

O Sr. Comissário tinha passado o dia sem comer, apático e, segundo Alícia, ainda tinha o abdômen inchado. A mesma havia lhe dito que ele tentara colocar para fora uma provável bola de pelo diversas vezes, em especial na última hora, mas não conseguia, o que fez Raquel considerar um bloqueio intestinal e sua preocupação aumentar ainda mais já que, se não tratado da maneira correta, esse problema pode até mesmo resultar em morte. 

 

◆ ◇ ◆ ◇ ◆

 

“Está tudo bem?” Sergio havia lhe perguntando em um tom de preocupação assim que a ligação entre Alícia e Raquel se encerrou.

Ele havia percebido como o semblante eu seu rosto mudara de um momento para o outro. As linhas que delineavam o rosto de Raquel se tornaram mais evidentes, mostrando que algo havia lhe deixado minimamente tensa, e Sergio podia jurar que conseguia escutar as engrenagens da cabeça dela trabalhando rapidamente. 

“O gato da Alícia não está muito bem…. Ela disse que ele passou praticamente o dia sem comer, está com o abdômen inchado… Provavelmente uma bola de pelo que ele não está conseguindo colocar para fora.” explicou “Não tenho certeza do quão ruim é, mas terei que ir ver e se for o caso de ele não melhorar então pode ser até que eu considere uma cirurgia para retirar…”

Sergio assentiu e usou da mão livre que apenas acariciava o cachorro em seus braços para tocar o óculos. 

“Eu tenho certeza de que você irá conseguir resolver isso da melhor forma possível!” ele disse com um sorriso reconfortante. 

Ele entendia a urgência da situação e por mais que estivesse minimamente nervoso e curioso sobre o que ainda poderia acontecer naquele dia, ele sabia que aquele momento requeria uma outra atenção de Raquel e ele odiaria atrapalhar ela. Talvez um outro dia…

“Me desculpe…” ela murmurou balançando a cabeça “Eu te chamei até aqui para não conseguir sequer deixar que você desfrutasse de um vinho ou algo assim…” acrescentou com uma pequena risada ao colocar uma mecha de seu cabelo atrás da orelha. 

“Não há problema algum Raquel! Por favor, não se preocupe. Pelo menos eu me certifiquei de que você chegou bem e em segurança.”

Naquele momento, se não fosse pelo fato de que Sergio estava segurando Eros, Raquel tinha certeza de que o abraçaria. Desde o início ele havia sido tão atencioso, gentil e respeitoso com ela… Sem qualquer obrigação… Por Deus, ele havia lhe dado uma carona até em casa, já em pleno final de dia… Havia ficado com ela até que a mesma fechasse a clínica e ainda esteve extremamente disposto a ajudar da melhor forma possível…

Sergio aparentemente era um em um milhão.

“Pois então, eu conto com você para se certificar de que cheguem bem!” Raquel disse ao encarar Eros e acariciar-lhe a cabeça, o que fez Sergio rir. 

“Sou um motorista tão ruim assim?” ele questiona, trazendo a atenção de Raquel para si. 

“Eu não me atreveria a reclamar.” ela respondeu com um sorriso tão reconfortante que, se sorriso pudesse ser casa, Sergio tinha a certeza de que não haveria lugar melhor para morar. 

“Bom eu… Eu fico lisonjeado!” ele comenta e ambos riem.

Ainda que estivessem relutantes, Sergio se despediu de Raquel sabendo que ela precisava ir até à amiga naquele momento. Ela o acompanhou até o elevador e, com um sorriso e um aceno de mãos, eles trocaram um último olhar naquela noite antes que a porta do elevador se fechasse e Raquel rapidamente pegasse um kit veterinário que tinha em seu apartamento e fazer seu caminho até a porta de Alícia

Demorou um pouco mais de uma hora e, por um momento, Raquel chegou a considerar pedir que a amiga lhe levasse até a clínica com o gato, mas felizmente ele logo colocou uma razoavelmente grande bola de pelos para fora, o que fez com que a tensão no corpo de Raquel se dissipasse. Ela ainda ficou mais alguns minutos no apartamento de Alícia, se certificando de que o Sr. Comissário ficaria bem, para então fazer o caminho de volta até seu apartamento.

Assim que fechou a porta atrás de si, Raquel olhou de um lado para o outro enquanto imergia no silêncio que preenchia o ambiente e naquele momento, ao se recordar de que a pouco tempo atrás Sergio e Eros estavam lá, ela percebeu que talvez o ambiente estivesse silencioso demais. Mais até do que ela havia se acostumado ao longo dos últimos anos. Afinal, quanto tempo é suficiente para que sejamos marcados por algo ou alguém? Às vezes levam meses ou até anos. Em outros casos, algumas horas ou mesmo minutos podem bastar.

Após se negar viver isso plenamente durante pouco mais de dois anos desde seu divórcio com Alberto, naquele momento, Raquel encarou o próprio apartamento enquanto chegava à conclusão de que, em verdade, ela não sabia quando exatamente que Sergio e Eros a marcaram assim. Pode ter sido quando eles trocaram olhares pela primeira vez, ou quando ela viu a maneira como ele segurava o cachorro de maneira tão desajeitada. Talvez após a primeira conversa ou até com o fato de que, mesmo acreditando que não mais o veria, ele voltou até a clínica e passou um dia ao lado dela pelo simples fato de o querer fazer. 

E ela se sentia tão bem perto deles… Tão confortável e tão livre para ser ela mesma…

Naquele momento, enquanto encarava seu apartamento, Raquel percebeu que, mesmo ambos tendo ficado poucos minutos ali, ela já sentia a falta deles. 

 

◆ ◇ ◆ ◇ ◆

 

Raquel aproveitou o banho para lavar seu cabelo e se permitir relaxar um pouco antes de preparar um rápido café da manhã, apenas o suficiente para forrar o estômago já que era um horário razoavelmente tarde e ela não queria substituir o horário de almoço, em especial porque este era um de seus péssimos hábitos que ela vinha tentando corrigir. Aproveitou para fazer uma nota mental de que, ao longo daquela semana, ela ainda teria que passar no supermercado ou então seu dinheiro iria acabar indo para serviços de delivery mais uma vez. 

Ah… É claro… Ela ainda teria que pegar seu carro na concessionária antes, já que o mesmo estava pronto desde o fim da tarde anterior.

Infelizmente, dessa vez, ela não teria Sergio para lhe dar uma carona mas, por sorte, Alícia havia decidido trabalhar em home office ao longo do dia para se certificar de que o Sr. Comissário continuaria bem. Raquel rapidamente trocou algumas mensagens com a amiga a fim de ver se a mesma poderia lhe levar até a concessionária, e logo ela estava trancando o apartamento mas, ao se virar, percebeu que uma das pessoas que ela menos esperava encarar especialmente nesta manhã estava logo ali, abrindo a porta ao lado.

“Bom dia Raquel! Como está?” a Senhora Inês perguntou ao olhar para o lado e vê-la. 

“Hm - Bom dia Senhora Inês! Estou bem! E a senhora?” perguntou educadamente. “Vejo que já passou na padaria.” comentou, ao perceber que a mesma carregava um saco com pães em uma mão e um bolo na outra. 

“Ah sim! Você deveria aproveitar enquanto essas belezuras estão fresquinhas! Ou se preferir, eu comprei o suficiente para você e seu namorado, se quiserem tomar um café da manhã aqui!” ela disse com um levantar de sobrancelha. 

Raquel imediatamente sentiu suas mãos começarem a suar e ela podia jurar que suas bochechas ficaram tão vermelhas quanto um morango.

“Eu… Eu agradeço Senhora Inês, mas o Sergio não está aqui e… Bom.. Ele não é meu namorado. Só um… Um conhecido.” 

“Quer dizer que não foi bom?” a senhora perguntou e, naquele momento, Raquel silenciosamente agradeceu por Sergio não estar com ela. 

“Nós- nós não…” ela gaguejou.

“Ah claro! Está certo querida! Tudo no tempo de vocês! Bom… Agora irei aproveitar esses pãezinhos quentinhos. Você tem certeza de que não quer?”

“Eu acabei de tomar café, mas obrigada!” agradeceu com um sorriso.

“Então fica para uma próxima oportunidade!” a senhora disse antes de sorrir uma última vez para Raquel e adentrar o apartamento. 

 

◆ ◇ ◆ ◇ ◆

 

Eram 9 horas da manhã quando o despertador de Sergio tocou. Normalmente ele costumava acordar mais cedo mas, excepcionalmente, neste dia ele se permitiu dormir um pouco mais. Havia chegado mais tarde do que pretendia na noite anterior, já que o trânsito tanto para sair de Barcelona como para entrar em sua cidade estava meio caótico, mas ele certamente não se arrependia. Passaria quantos minutos ou horas fossem no trânsito se isso significasse que ele poderia aproveitar um pouco mais da companhia de Raquel. Seria mentira dizer que ele não ficou um tanto quanto frustrado pela forma que a noite havia acabado, afinal ele esperava que pudessem aproveitar um tempo a mais juntos, ainda que fosse apenas para conversar e conhecer melhor um ao outro, mas Sergio jamais se colocaria no caminho de Raquel para qualquer coisa que não fosse ajudá-la e, naquele momento, ela precisava colocar em prática o dom que ela tinha para essa profissão e ajudar uma amiga.

Ele poderia esperar.

Sergio logo se sentou na cama e alcançou pelo óculos na mesa de cabeceira, logo se virando apenas para notar que a caminha de Eros estava vazia. Ele não era muito a favor de dividir o cômodo com o cachorro e achava essencial que cada um tivesse seu espaço, mas Eros parecia pensar bem diferente quando Sergio se deitou na noite anterior para dormir. Mesmo com a porta fechada, ele conseguia escutar os longos uivos do filhote e alguns latidos que impediam Sergio de finalmente pegar no sono. Foi só quando ele trouxe a cama do cachorro até seu quarto que o mesmo aquietou. A princípio Eros havia tentando subir na cama de Sergio, mas o mesmo resistiu ao que pareciam serem olhares extremamente pidonhos do filhote. Não… Ele definitivamente não iria manipular Sergio desse jeito. Tudo na vida tinha que ter limites e, o de Eros, seria dormir em sua própria caminha próximo à parede. 

Mas agora Eros não estava ao alcance de sua vista e, mesmo tendo olhado de um lado para o outro, Sergio não conseguia encontrá-lo no cômodo. Ele suspirou e alcançou por seu calçado antes de se levantar, caminhando para fora do quarto e procurando por Eros pela casa. A porta do quarto havia ficado aberta para o caso de Eros querer usar uma das fraldas higiênicas, o que significava que ele poderia estar em qualquer lugar naquele momento. 

“Eros!” chamou “Eros, cadê você? É hora da ração…” ele fala enquanto caminha pela sala.

Quando finalmente chega à cozinha, Sergio escuta as patas de Eros rapidamente batendo contra o piso da casa e se vira para encarar o cachorro que corria em sua direção…  É claro que tudo estava bom demais para ser verdade…

Assim que seus olhos recaem sobre Eros, ele vê que o filhote tem um pedaço de papel higiênico na boca e, logo atrás dele, outros vários pedaços estavam espalhados pelo corredor que levava até os quartos e, para piorar, Sergio percebeu que a pequena ‘trilha’ levava até seu próprio cômodo. 

Ele respirou fundo antes de tocar em seu óculos e então silenciosamente caminhar de volta até o quarto, passando pelo closet para por fim chegar ao banheiro. A porta estava encostada apenas e, quando ele abriu, Sergio encontrou pedaços de papel higiênico por todo o chão. Ótimo… Ele havia ficado tão preocupado em encontrar Eros que não percebeu que o mesmo estava logo debaixo de seu nariz, em seu banheiro, aprontando poucas e boas e, para piorar a situação, Sergio notou uma mancha mais escura no tapete do banheiro.

Sergio estava pronto para dar uma bronca em Eros… Por Deus… Não eram nem 10 da manhã, ele não havia nem tomado seu café da manhã ainda e o filhote conseguiu fazer um estrago em seu banheiro, mas assim que se virou para encarar Eros, que o havia seguido, o mesmo estava sentando olhando para ele. Um pedaço de papel ainda na boca enquanto balançava o rabo como que pronto para brincar. Olhando-lhe como quem só queria se divertir um pouco. Droga… Quando foi que Sergio começou a ficar tão mole assim?

“Eu achei que a gente estava se entendendo.” ele disse enquanto encarava o cachorro, o qual deitou no chão e latiu em sua direção antes de colocar a língua para fora. “Da próxima vez eu juro que teremos uma conversa séria sobre isso. É errado e vai te fazer mal.” acrescentou enquanto começava a pegar os pedaços de papel higiênico pelo chão. “E isso…” apontou para o tapete com a marca de xixi “você sabe que é errado também!”

Eros apenas continuava quieto e o encarando, e Sergio tinha certeza de que, ainda que no fundo, o cachorro se divertia em observá-lo arrumando tudo e limpando a bagunça. Como se ele soubesse exatamente o que fazer para deixar Sergio doido a qualquer hora do dia. Seja com um xixi no tapete no banheiro ou no da sala, seja roendo a ponta das almofadas ou a quina dos móveis e até mesmo chorando e uivando até conseguir o que quer.

“Você é um arteiro.” Sergio murmurou na direção do mesmo antes de continuar recolhendo os pedaços de papel pelo chão. 

Quando finalmente terminou, ele colocou a ração de Eros no comedouro e preparou seu café da manhã. No meio tempo, checou seu telefone algumas vezes esperando encontrar alguma mensagem de seu irmão. Sergio havia ligado para ele brevemente, mas o mesmo disse que estava para adentrar uma reunião e não conseguiria conversar no momento. Não que isso não pudesse ser verdade, mas Sergio sabia que Andrés estava evitando a grande questão. Isso porque ao longo do dia anterior, ele havia mandando uma mensagem para o irmão perguntando se o mesmo teria a disponibilidade para cuidar de Eros ao longo de 6 dias em que ele estaria fora. Sergio tinha uma viagem dali dois dias para um evento o qual ele não podia simplesmente cancelar sua ida. Um grande amigo de longa data, Martín, estaria se casando e o mesmo havia pedido para que Sergio fosse o fotógrafo responsável pela cerimônia que aconteceria na cidade de Amsterdã, na Holanda. Contudo, Sergio teria que chegar antes para tirar fotos do ensaio, o qual antecedia em quatro dias a cerimônia. Isso já estava combinado e marcado muito antes de Andrés aparecer com um filhote de Golden Retriever para ele e Sergio não se permitira desmarcar. O problema é que, agora, ele não conseguia com que Andrés se responsabilizasse pelo animal por apenas 6 dias, o que fazia o sangue de Sergio borbulhar já que quem começou com toda essa história de cachorro fora o próprio Andrés. 

Por um momento ele se lembrou de Raquel e, apenas talvez, ele pudesse lhe perguntar se ela sabia de alguém que se disponibilizaria a cuidar do filhote ao longo dos dias em que ele estaria fora, mas ao mesmo tempo Sergio não queria incomoda-la. Raquel já tinha muito trabalho ao longo de seu dia a dia e ele certamente não gostaria de aumentar essa carga. 

Sergio passou o resto da manhã e todo o horário do almoço tentando falar com seu irmão sobre isso. Queria resolver a situação o quanto antes assim poderia ficar nas outras coisas que ainda tinha que organizar para a viagem como, por exemplo, sua mala. 

E Eros… Bom… Eros não ajudava muito. Isso porque Sergio havia começado a adquirir o hábito de colocar a guia na coleira dele e levá-lo para passear pela manhã ou então ao final da tarde. Ele tomava todos os cuidados necessários com a sua segurança e a do cachorro, mas sabia da importância de criar uma rotina em que ambos mantivessem seus corpos ativos, em especial essa raça de cachorro que tem uma maior facilidade de engordar e, consequentemente, ter problemas de sobrepeso que interferem diretamente na saúde. 

Fato é que, como Sergio havia começado seu dia mais tarde, ele não havia levado Eros para caminhar pela manhã, e agora o cachorro não parava de correr de um lado pelo outro da casa enquanto Sergio arrumava a mala. Eros era uma verdadeira bola peluda de energia saindo e entrando de seu quarto enquanto Sergio dobrava as camisas de maneira perfeita, separava as calças e sapatos. Ele poderia deixar isso para depois, mas queria se certificar de que não estaria esquecendo de nada e, principalmente, de suas câmeras fotográficas que seriam de grande importância ao longo da viagem, o que o fez lembrar de que ele ainda tinha que passar no centro de Barcelona para comprar alguns materiais e novos papéis fotográficos. Não que ele não pudesse os encontrar em sua cidade, mas Sergio já frequentava àquela mesma loja a alguns anos e era a sua favorita quando se tratava de materiais de fotografia. 

Além do mais, era uma ótima oportunidade para levar Eros com ele e aproveitar para gastar um pouco a energia do filhote.

 

◆ ◇ ◆ ◇ ◆

 

Era perto de 3:30 da tarde quando Sergio caminhou para fora da loja. Como programado, ele havia ido até o centro de Barcelona para fazer as compras que precisava referente aos materiais de fotografia, aproveitando a oportunidade para, inclusive, testar algumas lentes novas assim como comprar novos produtos para revelação de imagem à moda antiga. Em uma de suas mãos ele segurava a sacola com todos os itens que havia comprado, enquanto que na outra estava a guia de Eros, o qual parecia contente em sair de casa e conhecer novos lugares. Diferente de Sergio, o filhote parecia aproveitar a atenção que ganhava de algumas pessoas desconhecidas que paravam para acariciar-lhe a cabeça com comentários do tipo ‘como ele fofo’ ou perguntas clássicas como ‘qual o nome dele? É bonzinho? Pode passar a mão?’. Sergio se limitava a responder educadamente, afinal nunca foi uma pessoa que gosta de aparecer. Diferente de seu irmão, Sergio sempre preferiu a calmaria que o seu ritmo de vida costumava lhe trazer, mas é lógico que Eros havia chego para mudar vários pontos da sua vida.

E por falar em Andrés, foi quando Sergio finalmente chegou em seu carro e abriu o porta-malas, que ele ouviu seu telefone tocar. O nome de seu irmão apareceu na tela e um alívio tomou conta de Sergio, na esperança de que o mesmo fosse finalmente criar um pouco de juízo e ajudar a assumir a responsabilidade que ele mesmo havia gerado. 

“Olá hermanito! Como está? Perdoe-me por não ter ligado antes, mas meu dia tem sido tão cheio que você não imaginaria. Diversas reuniões com alguns empresários, eventos para marcar e inúmeros vinhos para selecionar e você sabe como eu me dedico à isso certo?” Andrés falou do outro lado da linha enquanto Sergio colocava as coisas no porta-malas e fechava o mesmo.

“É claro Andrés! Sei o quanto seu trabalho é importante, mas será que você tem pelo menos 5 minutos para conversarmos sobre a minha viagem?” Sergio questionou enquanto deixava seus olhos vagarem pelo local e alternava a guia de Eros por entre os dedos de sua mão livre.

“Sim, sim, aquela que você disse que iria… Para onde mesmo?”

“Amsterdã…”

“Isso! Amsterdã! Ah Sergio este lugar é incrível! Você definitivamente tinha que ficar um pouco mais de tempo lá! Vá visitar a Casa de Anne Frank ou o Museu Stedelijk que sei que são assuntos que tanto lhe interessam…É não se esqueça de aproveitar muito a comida deles, especialmente as Poffertjes sabe? Aquelas panquecas doces são uma tentação! Eu também poderia falar dos vinhos, mas sei que a especialidade lá são as cervejas, então cuidado para não exagerar e voltar com uns quilinhos a mais, apesar de que eu continuaria o considerando meu hermanito da mesma forma.”

“Se eu ficar mais tempo, você irá cuidar do Eros para mim?” Sergio questionou enquanto descia seu olhar até o cachorro, que parecia ter sua atenção voltada para o outro lado da praça, mas Sergio não sabia dizer ao certo o porquê. “Digo, acho justo já que a ideia de adotar um cachorro foi sua.”

“Ah Sergio, Sergio, Sergio… Você sabe que eu tenho muito apreço por você e meu sobrinho correto? Eu adoraria cuidar dele por algumas horas —“

“São dias Andrés…”

“Certo. Então… Veja bem… Eu temo que talvez eu não tenha a disponibilidade necessária que você está procurando. Sabe como é… Tenho que ir para a empresa e não acho que me deixariam levar um cachorro comigo, ainda que eu dissesse que é do meu irmãozinho querido que foi tirar férias da Holanda.”

“Não são férias Andrés…”

“Chame como quiser. Além do mais, você sabe que costumo ter visitas por vezes…” disse se referindo às mulheres com quem ele saía dia ou outro.

Sergio deixou que um suspiro lhe escapasse por entre os lábios e naquele momento ele não se importava se Andrés tivesse ouvido ou não. Por Deus, ele que havia arranjado um cachorro para início de conversa, e agora vinha com desculpas para não ficar 6 dias responsável pelo filhote…

“Olhe Andrés, eu entendo que o seu estilo de vida seja… Peculiar, mas eu realmente preciso —“ começou a dizer mas, ao levar a mão que segurava a guia de Eros até o rosto para tocar em seu óculos, o filhote repentinamente soltou um latido e puxou a guia, de modo que a mesma escapasse da mão de Sergio.

Sua primeira reação foi arregalar os olhos e, assim que seu cérebro processou o que havia acontecido, Sergio colocou o telefone no bolso de sua calça, esquecendo-se até de desligar a chamada, e começou a correr atrás de Eros, o qual atravessava a praça com uma velocidade e uma energia próprias de um filhote. Ele passava por entre as pessoas e Sergio corria atrás, tentando alcança-lo o mais rápido possível mas o movimento ao seu redor não lhe ajudava. 

“Eros! Eros volte!” Sergio chamava, mas o filhote parecia determinado em seu percurso.

Repentinamente ele latiu e pulou por trás de uma pessoa que havia a pouco saído de uma farmácia, fazendo com que ela se desequilibrasse por um momento antes de se virar e, naquele momento, Sergio não podia acreditar nos próprios olhos ou mesmo no que havia acabado de acontecer. 

É claro… Tinha que ser ela, porque de uma maneira ou de outra, ela acabava cruzando o seu caminho e, por mais nervoso que ele se sentisse, uma parte dele também era grato por esses pequenos imprevistos da vida que ele estava aprendendo a apreciar.

Raquel tinha o cabelo preso em um coque, da mesma maneira como no dia em que ele a conheceu. Ela carregava uma caixa em seus braços e a expressão de surpresa em seu rosto foi notável quando ela se virou e imediatamente reconheceu Eros, o qual balançava o rabo freneticamente e caminhava ao seu redor.

“Eros… O que você está fazendo aqui? Onde está —“ ela começou a se perguntar, mas logo Sergio adentrou seu campo de visão, claramente ofegante. 

“Eu… Raquel eu… Me desculpe eu… A guia escapou e —“ ele tentou falar enquanto procurava normalizar a respiração e rapidamente pegava a guia de Eros novamente.

Raquel não pode deixar de achar graça na maneira como ele havia ficado tão preocupado em se explicar.

“Por acaso anda me perseguindo? É algum tipo de stalker?” ela perguntou, mas antes mesmo que Sergio pudesse responder ela começou a rir e ele sentiu um grande peso ser retirado de seus ombros ao perceber que ela estava apenas brincando.

“Perdão eu… Eu jamais… Eu não imaginava que estivesse aqui.” ele respondeu com sinceridade. “Eu estava distraído com uma ligação e ele simplesmente… saiu correndo.” acrescentou ao apontar para Eros.

“Fico supresa que ele tenha me reconhecido assim… Digo… Eu nem vi ele vindo.” ela admitiu com um sorriso.

“Bom eu… Eu acho que é difícil você passar despercebida. Digo… O focinho dos cachorros é biologicamente formado para apurar de maneira precisa os cheiros e inclusive possui aproximadamente 290 milhões de células a mais que o de um ser humano então… Acredito que foi fácil para ele te reconhecer.” ele fala de maneira um pouco retraída enquanto toca em seu óculos. “Deu tudo certo? Digo… Ontem com Alícia.” 

E nesse momento Raquel não conseguiu impedir sua mente de trazer à tona pequenas memórias do sonho erótico que ela havia tido com Sergio. Ele lhe beijando, apertando seu corpo com os mesmos dedos que agora seguravam a guia de Eros… Despindo-a e a barba dele roçando em sua pele enquanto ele trilhava o caminho até que sua língua estivesse entre as pernas dela. A maneira como ele era tão respeitoso e ao mesmo tempo desejava-a…

“Está tudo bem?” ele questiona após alguns segundos.

Raquel pisca rapidamente, tentando afastar aqueles pensamentos de sua mente, mas agora ela sequer conseguia olhar para ele da mesma maneira porque cada detalhe dele inconscientemente a levava de volta para seus desejos frustrados. Por Deus… De onde havia saído aquilo? Existem tantas coisas diferentes que uma pessoa pode sonhar e agora ela tinha que encarar o homem com quem ela supostamente queria fazer sexo na bancada da cozinha de seu apartamento. 

“Raquel?” 

“S-Sim! Digo… Ficou tudo bem após alguns minutos, mas Alícia decidiu trabalhar em casa por precaução. Eu tinha que vir até aqui comprar alguns medicamentos para a clínica e aproveitei para ver algumas rações novas para gatos, de preferência mais enriquecidas em fibras, o que ajuda a diminuir a formação de bolas de pelo.” ela explicou.

“Parece ótimo! Você precisa de uma carona? Digo… Ontem estava sem seu carro…”

“Obrigada Sergio, mas eu consegui pegar ele a algumas horas atrás.” ela disse sorrindo diante da gentileza dele.

“Posso ao menos lhe ajudar a carregar isso?” ele perguntou apontando para a caixa.

“Não vai deixar Eros fugir?” ela questionou ao levantar uma sobrancelha.

“Acredito que ele já encontrou o que procurava.” Sergio responde com um sorriso, antes de ajudar Raquel com todas as coisas que ela havia comprado.

“E você? O que faz por aqui?” ela pergunta enquanto o guia até a direção em que seu carro estava estacionado, por sorte não muito distante do dele. 

“Eu frequento uma loja de materiais fotográficos aqui e precisava comprar algumas coisas.” ele disse “Tenho uma viagem, de certa forma à trabalho, daqui a dois dias e vou ficar quase uma semana fora, então precisava reabastecer alguns dos materiais.” explicou. 

“Suponho que irá levar o Eros com você?” sugeriu enquanto se aproximavam de seu carro e Raquel imediatamente o destrancou e abriu o porta-malas.

“Na verdade eu estava discutindo a pouco com meu irmão sobre isso…” disse colocando a caixa no porta-malas e alcançando pelo telefone em seu bolso para ver que Andrés havia encerrado a ligação. Ele só não tinha certeza do quanto o irmão escutou. “Se fosse um lugar mais próximo talvez eu o levasse comigo, mas estou indo para Amsterdã.” admitiu. “Tenho tentado convencer o Andrés a cuidar dele ao longo desses dias, mas não estou surpreso que ele esteja fugindo desse tipo de responsabilidade.”

Raquel fechou o porta-malas e olhou para Eros por um momento antes de encarar Sergio.

“Se você não se importar, eu posso ficar com ele. Digo… Eu moro sozinha e estou acostumada a cuidar do gato de Alícia quando ela vai viajar ou mesmo de outros animais caso a pessoa não tenha com quem deixá-los.” ela disse.

“Você tem certeza? Eu sei que seu dia a dia é bem corrido e eu não quero atrapalhar. Acho que se eu falar um pouco mais com Andrés ele pode acabar cedendo.”

“Sergio não é incômodo algum para mim.” ela falou com um sorriso. “Na verdade eu… Eu tenho adorado ter uma companhia por lá, especialmente nos últimos tempos.” admitiu. “Eu tenho tudo o que posso precisar e tenho certeza de que ele não dará trabalho algum.”

“Na verdade ele anda dando bastante ultimamente… Estragou um rolo de papel higiênico inteiro hoje pela manhã.” ele admitiu, fazendo com que ambos rissem. 

“Ele tem a quota de filhote dele…” ela comentou enquanto ria.

“Você realmente estaria disposta a ficar com ele durante esse tempo?”

“É claro. Se você não se importar…”

“Eu tenho certeza de que ele não poderia estar em melhores mãos.” Sergio admitiu com um sorriso sincero, mas foi interrompido pelo toque de seu telefone, vislumbrando o nome de seu irmão na tela. Sergio rapidamente colocou a chamada em silencioso. “Bom eu… Eu preciso terminar de arrumar algumas coisas… Posso te mandar uma mensagem? Digo… Para combinarmos como eu posso deixá-lo com você.” 

“Claro! Vai ser um prazer!” ela disse ao dar a volta para abrir a porta do motorista, mas antes que o fizesse, Sergio rapidamente abriu a porta para ela. “Temos um cavalheiro aqui… Ou melhor… Dois.” disse ao se abaixar para acariciar a cabeça de Eros “E você nada de fugir de novo.”

“Ficarei atento.” Sergio disse com uma curta risada. “Tome cuidado, sim?”

Raquel assentiu com um sorriso e, em um gesto talvez um pouco impulsivo, ela se aproximou de Sergio e, por um breve momento, ela podia jurar que ele havia segurado a respiração. Raquel então virou um pouco a cabeça e deixou um rápido beijo em sua bochecha. 

“Obrigada Sergio.” falou antes de entrar no carro e fechar a porta.

Sergio a viu acenar uma última vez em sua direção antes que o carro dela se afastasse. Cada segundo mais distante e, após um tempo, já não mais no seu campo de visão, enquanto ele continuava ali… Parado no tempo em que a teve, mais uma vez, tão perto de si. 

As leis da física prevêem que um corpo não pode ocupar ao mesmo tempo dois lugares distintos no espaço, mas nesse momento Sergio se questionava acerca da veracidade de uma simples frase como esta, afinal, Raquel não estava mais presente ali fisicamente, mas ele ainda podia sentir o calor de seu corpo, o cheiro de seu perfume e o suave toque de seus lábios contra sua pele.


Notas Finais


prometo que falta pouco pro slow burn acabar kkkk
comentem o que acharam do cap, pf🥰 🐾❤️


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