A pedra de Mármore creme Marfim apoiava o seu corpo esquelético, os seus braços fracos envolviam as longas pernas 'num abraço trêmulo, o tronco despido escorado ao espelho. A enxurrada de água era caótica, ultrapassando a extremidade da banheira e alcançando o piso de cimento queimado. A sua roupa íntima, esquecida aos pés do vaso sanitário, emergia próxima aos comprimidos anti-depressivos.
Asfixiada pelo vapor, empurrou o vidro de janela baço inspirando o oxigénio da atmosfera húmida de Allenwood. Submergiu na água, escaldando o seu corpo pálido.
Os lábios roxos sussurravam poemas medíocres, apontados 'num bloco de anotações cor-de-rosa. Memorizou-os ao visitar, no último sábado, o Encontro de Poetas elaborado pelo gerente da loja de instrumentos da Cidade.
Esfregou as mãos manchadas com Aquarela azul e lilás em sabão. Satisfeita com a sua última obra, decidiu pendurá-la sobre as Fotografias, próxima à cabeceira da cama. Um expressão intimidada presa à nódoa baça de cores Azul e Lilás.
Torceu os fios do cabelo, deixando-o respingar sobre o piso de madeira. O seu corpo umedeceu os lençóis azuis, pressionando-o contra as suas costas despidas. O vento cortante roubava as folhas brancas da prateleira, embolando-as e fazendo-as dançar.
"Você consegue me ouvir, Agnes?" O roncar em seu estômago provocou-lhe náuseas. Pesada, escutou o sopro sinistro de Mia. Ela estaria convidando-a a cantar. O público pedia que recitasse a sua melodia predileta. Escorada ao vaso sanitário, embalada pela injustiça da insultuosa palavra "G-O-R-D-A", pressionou o dedo indicador em sua garganta, inserindo o dedo médio.
A sua última refeição voltou à boca, caindo na privada. Pálida, regressou à cama tão pouco acolhedora.
[...]
— Caramba, Agnes! — Exclamou Coco, instável. Há algum tempo, o seu constante assédio tornara-se desagradável. Insistia na ilusória história de que o seu recém-comprado livro autografado da Saga Harry Potter havia sido roubado. Desconhecia a obra e tão pouco que Coco a havia comprado, mas dizê-lo seria uma grandessíssima perda de tempo.
— Eu não roubei o livro, Coco. — Comentou, grosseira. Sem hipótese de confrontá-la, decepcionada pelo fim do seu divertimento, Coco retirou-se. Agnes descansou sobre o banco de cimento, arquejante. Com a visão turva, levantou-se vacilante. Não comia há demasiadas horas, quinze ou dezesseis. O seu corpo encontrava-se fraco de despreparado.
— Agnes? Os alunos foram informados sobre a reunião junto ao palco. O que faz aqui? — Agnes contraiu o corpo ao questionarem-na com agressividade. Recordou-se do discurso ocorrido no Pavilhão anualmente. O Diretor não fazia questão de tê-la por lá. Permaneceu em silêncio durante breves segundos, incerta sobre o que deveria contestar. A cabeça falhava, não recordava onde deveria estar.
— Procurando o meu relógio de pulso. — Seria isso uma mentira credível? Não. Pouco importava. Anna acompanhou-a até o Pavilhão Polidesportivo, onde a concentração de alunos da Secundária haviam sido reunidos.
Todos pareciam gratos por ali estar, senão Agnes. O barulho esmagava-lhe o cérebro.
— Alunos da Secundário de Allenwood, peço a vossa atenção. — Exclamou o coordenador, pacientemente. Agnes franziu o sobrolho, intrigada. — Há cento e cinquenta, Agnes Abigail Allen construiu o nosso maior património e Escola Secundária. É com enorme prazer que comemoraremos este célebre aniversário. —
Os alunos vibraram, verdadeiramente entusiasmados. Agnes foi até a porta do Pavilhão, claustrofóbica. Era um dia de extrema importância para a sua Família. O coordenador deu lugar ao velho homem de sessenta e sete anos, diretor da Allen High School.
— Silêncio. — Ordenou. Os jovens obedeceram-no sem quaisquer oposições. — Gostaria de chamar ao palco Olívia, Amélia e Agnes Allen. — Sorriu, amargurada. O seu nome foi pronunciado com desgosto. Permaneceu imóvel, encolhida entre a aparelhagem de som.
— Agnes? Apareça, por favor. — Pediu, esforçando-se para manter a postura rígida e impassível. Olívia sorriu, exibindo os dentes brancos e brilhantes. Aparentavam nervosismo perante a situação. E embora suas palavras dissessem o contrário, não desejavam que eu subisse em palco. — Temo que começemos sem ela. —
Dircursaram por breves instantes. Nada que Agnes conseguisse igualar. Era péssima com palavras ou pessoas, não lhe sairia nada além de alguns murmúrios. Foi-se embora, não sendo impedida por ninguém.
As horas passavam-se de maneira torturosa. Gostaria de regressar à casa, deitar-se em sua cama e adormecer, ao som de Goodbye Pork Pie Hat. O desânimo havia se tornado de tal forma insuportável, obrigando-a a desprender as lágrimas dos seus olhos.
Não frequentou aula alguma. Foi-se embora, tirando proveito do seu dia. Afinal, era ela Agnes Allen, não?
Ao caminhar pela calçada desnivelada, aos tropeções e quedas, as lágrima caíam-lhe e chegavam aos pés. Ela não tinha controle algum da situação. "Você sabe onde está a porta de saída, Agnes."
"Go ahead and Cry little girl
Nobody does it like you do
You gotta let it out soon
Just let it out."
— The Neighbourhood
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