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História Agnosthesia - Capítulo um: oh, darling...


Escrita por: MidoriShinji

Capítulo 1 - Capítulo um: oh, darling...


Era quase meio-dia e o sol estava tão quente que poderia derreter qualquer coisa, inclusive meu picolé, que pingava no chão manchando a calçada de um cor de rosa terrivelmente artificial, quase radioativo. Eu estava acompanhando a Hanabi até alguns brechós da nossa cidade, porque ela estava fissurada em assistir estrangeiras comprando roupas interessantes e únicas por um preço irrelevante no YouTube — eu só não tive coragem de dizer a ela que os brechós da nossa cidade não vendem nada parecido, nem em uma faixa de preço parecida, porque ela iria ficar tão desapontada, e provavelmente não acreditaria também. Algumas coisas temos que ver com nossos próprios olhos, e bem, eu não tinha nada para fazer mesmo…

Logo na primeira loja, ela já ficou terrivelmente decepcionada quando não encontrou nenhuma camiseta legal ou jeans que não fosse de cintura baixa e naquela lavagem tão típica dos anos 2000: eu lembro de isso ser popular quando era criança, e ainda acho uma coisa horrorosa, mas entendo por que algumas pessoas gostam tanto dessa estética “Y2K”, porque é nostálgica; me dá saudade de quando as coisas eram mais simples e as mocinhas de novelas usavam minissaia jeans e blusas neon, de quando a gente passava glitter no corpo e no cabelo para ir em uma festa e chamava sombra prateada e gloss de maquiagem especial. Hoje em dia, o pessoal não tem mais essa mesma chance, essa mesma inocência: às vezes olho para minha irmã e esqueço que ela é tão mais nova, de tão madura, tão séria, tão sempre pronta para o Instagram.

— O que você acha dessa aqui, hein? — Hanabi perguntou, subitamente chamando minha atenção para uma loja menor.

— Vamos entrar, a gente não perde nada além de alguns minutos, mas tem muito a ganhar. — foi o que eu disse. O brechó cheirava a poeira e roupas velhas, e mesmo da porta, não podia ver nada de particularmente interessante aqui, mas minha irmã se distraiu com um vestido laranja de bolinhas brancas, estilo anos 50, enquanto eu caminhava sem rumo entre as prateleiras e araras.

Havia uma pilha de livros e outros objetos aleatórios ali também, dispostos em cima de uma penteadeira antiga de laca cor de mogno, e pelas etiquetas, também estavam à venda. Eu me perdi durante alguns minutos, observando aquelas porcarias aparentemente sem significado enquanto ela experimentava o vestido. Coisas antigas me fascinam, porque são como ter uma lente de microscópio focada em um ponto específico do passado, que nos permite ver, mais do que um contexto geral, a vida daquele indivíduo: era por isso que eu gostava de comprar livros antigos, que tinham dedicatórias e trechos sublinhados que eram significativos para quem os escreveu. Parte de mim também tinha dó dos pobres objetos largados ao acaso, porque todo mundo sempre quer o que é novo e brilhante; acho que me identifico com esses objetos porque eu também sou assim, desinteressante à primeira vista, e as pessoas só passam a me ver com outros olhos quando me folheiam e veem os rabiscos e ideias escritas nas margens das minhas páginas, as dedicatórias e assinaturas de quem esteve ali antes e já partiu.

Um caderno, em particular, me chamou a atenção, porque estava completamente em branco, apesar de as páginas já estarem amareladas pelo tempo; a exceção era um recado que estava na contracapa, escrito em uma caligrafia cursiva muito elegante: “minha querida, tudo que você quiser e aqui escrever se realizará”. Ler aquela pequena mensagem fez meu coração pular uma batida, como se no fundo, eu soubesse que aquilo era para mim, ou eu quisesse tanto que fosse para mim que me convenci disso. Tem muita coisa que eu queria poder simplesmente realizar assim, num passe de mágica.

— Vai comprar esse caderno? É bonito… — minha irmã falou, sem prestar muita atenção. Ela havia decidido comprar o tal vestido: é o tipo de coisa que é a cara dela, divertido e chamativo. Eu decidi também levar o caderno, porque podia ser bom para me inspirar a escrever, não sei. Faz tempo que tento escrever, mas continuo insatisfeita com o que sai. Mostrei a ela a pequena mensagem, e ela achou engraçada: — Escreve que você ganhou na loteria, vai ver dá certo.

Eu ri, mas assim que a gente chegou em casa, eu me joguei na cama e foi isso mesmo que fiz: escrevi “eu, Hinata Hyuuga, serei a única ganhadora do prêmio máximo da Mega-Sena acumulada dessa semana; os números sorteados serão 06, 13, 23, 37, 42 e 54”. Eu não esperava de verdade que fosse acontecer, ao menos, eu tentei me convencer de que não, mas eu tinha uma pontinha de esperança de que fosse real, e que eu pudesse transformar a minha vida assim num estalar de dedos. A Sakura, minha amiga, acredita de verdade em magia, mas eu não consigo ser assim, não normalmente: eu sou sempre tão cética sobre tudo e ao mesmo tempo quero tanto acreditar em alguma coisa que é difícil saber em que lado da escala eu me encontro. No fundo, é o que ela sempre me diz: eu sou uma otimista disfarçada de pessimista; eu estou sempre procurando um jeito de fazer tudo parecer melhor, bem no íntimo, enquanto me finjo de blasé por aí.

Talvez fosse hipocrisia, talvez desatino, mas eu saí de casa e joguei na loteria mesmo assim. E, naquela noite, fui dormir com a sensação de que as coisas em breve iriam mudar, mas sem ter coragem de ver o resultado do sorteio de sábado da Mega: que eu deixasse para saber da minha sorte amanhã cedo, enquanto deixava minhas próprias expectativas ditarem os rumos do meu inconsciente, tecendo sonhos tão brilhantes que poderiam cegar.


Notas Finais


Oi, pessoal... Estou de volta, surpreendentemente, porque essa história... Ah, vai saber! Começou com uma sementinha de inspiração por causa da @rupphires, e pela primeira vez em muitos anos, estou postando uma história que ainda está inacabada; na verdade, tenho poucos capítulos preparados, então veremos como isso vai sair, mas não será tãããão grande assim também. Tem um quê de autobiografia e ao mesmo tempo é muito distante da minha realidade, mas é uma Sasuhina bem levinha, apesar dos temas profundamente existenciais e da vida real.

O título dessa história é por causa dessa palavrinha que encontrei e que gostei da sonoridade e do significado: https://www.dictionaryofobscuresorrows.com/post/621470302254317568/agnosthesia

Edit (16/07/20): finalmente criei uma playlist para essa história! Link aqui, no Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=WrpBgN_iUnA&list=PLR0s4_KFNkXpY91Ip3-psF-d7gGCUr4Qt


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