História Agridoce - Jaozi

No momento em que Kris fechou a porta de casa, ouviu o som de panelas caindo no chão. Com o cenho franzido, andou até a cozinha tentando entender as manchas de farinha que encontrou pelo caminho e o insistente barulho de metal caindo no piso.

Quando chegou perto do balcão, pôde ver uma das cenas mais fofas de sua vida. Fazia muito tempo que não via Suho em uma cena como essa. O gatinho era sempre tão quieto e reservado, protagonizou poucas cenas em que realmente agia como o híbrido que era. Agora, enquanto observa Suho sujo de farinha tentando montar pequenos bolinhos de massa, Kris realmente se esforçava para saber o que era.

- Hey gatinho, o que você está cozinhando?

- Yah! Yifan! – Suho gritou assustado, percebendo a presença do Wu finalmente. – Me desculpa, eu vou limpar tudinho, prometo!

- Você com certeza vai, gatinho, só me diga... – Kris se aproximou, cutucando a massa, curioso – O que são essas coisas?

Suho suspirou e estufou as bochechas, irritado com sigo mesmo. Ele sabia que não estava tão bom, mas esperava que estivesse pelo menos reconhecível.

- Era para ser Baozi, o pãozinho chinês que o Hyung gosta. – Ele murmurou triste.

- Ah. - Kris acariciou as orelhas do híbrido tentando confortá-lo. – Sei que o Minnie vai ficar feliz com a sua atitude.

- Eu só queria ver ele sorrir de novo. Queria ter meu Hyung de volta. – Choramingou com os olhos baixos e a calda mal se movendo.  Yifan pegou Suho no colo, acariciando suas costas. Mesmo aos nove anos, Suho continuava muito carente e possessivo com as pessoas que lhe importavam. O distanciamento de Minseok foi um baque muito grande para ele e todos os dias Suho falava sobre a falta que seu Hyung lhe fazia.

Minseok não odiava Suho.

Provavelmente nem percebeu o quão distante estava do velho amigo, estava focado em Chanyeol, que depois do acidente ainda não havia acordado.

Aos cinco anos, sentia o desespero roer suas esperanças infantis aos poucos. Quando escutou Kris em uma conversa aos cochichos com o médico de Chanyeol, dizendo que seria melhor desligar os aparelhos. O choro de Minseok foi estridente e atraiu as enfermeiras e Kris que correu desesperado até o gatinho.

Minseok gritou com Kris, gritou com o médico, e por hora se recusou a sair de perto de Chanyeol alegando que o médico era um assassino que queria matar seu Hyung. Kris pediu à direção do hospital que o médico de Chanyeol fosse trocado, e com cuidado, aproximou-se novamente do hibrido afirmando com veemência que ninguém mataria o Park e que ele podia se acalmar.

Mesmo depois de quatro anos, Minseok não deixou de ter esperança quanto a recuperação de seu Hyung confeiteiro. Todos os dias, depois da escolinha para híbridos, Kris deixava Suho em casa e depois levava Minseok ao hospital, onde ele passava as tardes desenhando e conversando com Chanyeol. Várias vezes as cuidadoras alertaram Yifan que era perigoso para o emocional do híbrido alimentar esperanças falsas sobre a recuperação do rapaz.

O problema... É que dentro do coração de Wu Yifan também ardia a esperança de que um dia Chanyeol acordaria. Ver todos os dias o hibrido tão determinado, o dava forças para continuar acreditando. No fim, o mais afetado com toda a situação foi Suho, que se viu jogado para escanteio, remoendo a culpa por sentir ciúmes de uma situação como essa.

Suho se sentia muito mal, todos os dias. Ele se sentia mal por se sentir triste, por sentir ciúmes e por sentir raiva. Ele sentia raiva de Chanyeol por ter lhe tirado Minseok, e mesmo uma parte do coração de Kris.

Kris carregou Suho até o banheiro onde deu banho em seu gatinho como não fazia há muito tempo. O híbrido se deixou banhar, sentindo o carinho de Kris em seus movimentos, ronronando enquanto encostava na banheira. Yifan o secou e o vestiu com cuidado, sorrindo para Suho.

- O que acha de ir ver Chanyeol no hospital? Tenho certeza que tanto ele como o Min vão ficar felizes em te ver.

Ele assentiu e seguiu Kris até o carro, e os dois ignoraram com um sorriso a bagunça na cozinha.

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Minseok estava desenhando Chanyeol. Ele estava sorrindo com um bolo na mão e o rosto sujo de chocolate. Ao lado dele estava Kris Hyung, e Suho agarrado ao seu cobertor. O híbrido sorriu enquanto gastava seu lápis preto colorindo as orelhas do amiguinho, sua calda e seus olhos escuros. Ergueu os olhos para fitar Chanyeol, que respirava calmamente como sempre. Seus olhos fechados tremulavam as vezes, mas sempre se acalmava, voltando para seu mais profundo inconsciente.

O híbrido suspirou, voltando ao seu desenho. Quando terminou pegou suas apostilas de matemática e se concentrou nos cálculos que sua professora havia lhe falado. Suas lembranças sempre o faziam perder o fio do pensamento, mas logo balançava a cabeça, tentando se manter no presente.

A porta se abriu devagar e com curiosidade Min se levantou. As orelhas de Suho apareceram primeiro e logo depois seus olhos escuros cheios de apreensão.

- Oi.

- Myeonnie! – Minseok abraçou Suho animado. – O que está fazendo aqui?

- Vim ver você. – O gato persa balançou a calda de maneira mais animada ao sentir os braços de Minseok a sua volta.

- Kris Hyung veio junto?

- Ele disse que ia comprar um lanche para a gente.

- Espero que ele não compre na cantina do hospital. – Minseok fez uma careta – A comida de lá é horrível.

Os dois amigos riram e pegaram folhas novas para desenharem juntos. Quando Kris entrou no quarto e viu a cena, seu coração se acalmou e se juntou aos gatinhos desenhando e rindo das brincadeiras de Minseok.

Enquanto comiam o lanche, Minseok foi até a cama e deitou-se ao lado de Chanyeol fitando seu rosto adormecido. Suho, no colo de Kris, ignorou os próprios sentimentos e pediu para descer, andando receoso até Chanyeol e seu híbrido. O gato segurou a mão do confeiteiro e sorriu para Minseok que o fitava com carinho.

- Chanyeol Hyung, você está demorando demais. O Minnie vai esperar para sempre, você não pode deixar isso acontecer. Eu sinto falta dele e de você também, Hyung. Eu quero aprender a fazer doces como você, então o Hyung deve acordar para me ensinar. – Minseok fungava tentando não chorar. Kris estava arrependido por nunca ter trazido Suho para ver Chanyeol, talvez Min não tivesse ficado tão preso ao leito do seu tutor se deixado relacionar fora daquele hospital. Por sua culpa a ligação entre Suho e Xiumin havia quase se quebrado.

Estava decidido. Todos os dias ele traria Suho junto com Xiumin e no meio da tarde levaria os híbridos para passear e deixar que os dois se divertissem juntos. Ele sabia que Minseok ficaria relutante no início, mas a presença de Suho o convenceria.

Kris levou os gatinhos de volta para casa. Carregar os dois dorminhocos ao mesmo tempo, sendo que eles não eram mais tão pequenininhos como a quatro anos, foi bem cansativo. Colocou os dois na cama de Suho e deixou-os descansar. Estava com muito sono também. Cobriu-os com duas cobertas para que não sentissem frio e foi até a própria cama, deixando-se levar para o mundo dos sonhos.

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Yifan queria esmagar seu celular em milhões de pedacinhos. O toque insistente do aparelho preenchia seus ouvidos atrapalhando seu sono, era um belo sonho que tinha acabado de ser interrompido. Com um grunhido irritado, pegou o celular do criado mudo e atendeu a contragosto.

- Espero que seja importante. Hoje é domingo! – Bradou.

- Senhor Wu Yifan? Eu falo do Hospital Universitário de Seul. – A voz sem emoção da mulher fez Kris acordar completamente já esperando o pior.

- É algo... é sobre Chanyeol?