-Gabriel…
Escutava vozes do além me chamando, e eu sentia uma dor na cabeça, não conseguindo mexer meus músculos direito.
-GABRIEL….
A voz parecia ter mudado, e eu abri meus olhos confuso vendo tudo preto. Eu fiquei cego? Senti braços me levantarem e sacudirem.
-Gabriel se você não acordar AGORA…
A minha visão ia voltando devagar, e a primeira coisa que eu vi foi minha mãe me sacudindo com as sobrancelhas franzidas. Olhei ao redor e vi que Miguel segurava minha cabeça para não bater no chão, e o Cristopher estava tentando me fazer sentar.
-O que aconteceu? - Perguntei passando a mão na cabeça e sentindo um galo atrás dela.
-O que aconteceu é que você desmaiou Gabriel! Eu não criei filho meu pra ser saco de farinha vazio e ficar caindo por qualquer coisa não! - Minha mãe reclamava comigo e eu consegui me levantar, vendo por um segundo tudo girar.
-Que estranho - Falei me apoiando em Miguel, ele sempre teve esses músculos nas costas? Nem reparei quando estava arranhando elas… - Eu tive um sonho que você disse que estava namorando esse cara aleatório aí, mas eu devo ter desmaiado quando o Lolla me derrubou ou algo assim.
Quando eu terminei de falar, todos ficaram em um silêncio estranho e se encarando. Franzi o cenho olhando para minha mãe, mas meu olhar caiu logo na mão dela, que estava entrelaçada a…
-NÃO ACREDITO! - Gritei olhando ela segurar a mão daquele Crisbabaca, como se eles fossem namoradinhos de colégio, como se fossem se casar. Por um segundo eu vi a cena dela segurando a mão dele no altar e senti tudo girar mais uma vez.
-Eu acho que ele tá desmaiando denovo - Miguel falou preocupado, e a tontura passou. Ah, mas nem ferrando que eu desmaio agora de novo.
-COMO VOCÊ… PORQUE VOCÊ… - Parecia que de repente eu só sabia falar gritando, tentei me afastar de Miguel mas ele ainda me segurava com medo de eu ter um treco, olhei para a mesa de centro e vi uma vasilha com frutas falsas. Tirei uma banana de lá e apontei para aquele traste - SEU SAFADO! MALDITO! GALINHA! USURPADOR! TARADO! PEDÓFILO!
-GABRIEL CRISTOPHER TEM A MINHA IDADE, COMO ASSIM PEDÓFILO?
-A SENHORA PARECE UMA FORMIGA DO LADO DELE, ENTÃO É PEDOFILIA!
-Ah mas se eu te mato fedelho…
Minha mãe estava prestes a pegar a bolsa dela de novo e eu segurei a banana pronto para jogar nela e sair correndo, mas a campainha tocou bem na hora. Todo mundo da sala se virou para a porta, mas eu não me mexi para atender ela, continuei encarando minha mãe imóvel e ela também não se mexia. Depois de muitos segundos, o otário chamado Cristopher se mexeu desconfortável e foi até a porta.
Mas que tipo de visita abre a porta da casa dos outros? Mas que falta de educação, como se eu estivesse sendo um mau inquilino para ele…
Quando ele abriu a porta, uma mulher elegante entrou e seu rosto estava extremamente vermelho. Em uma mão ela segurava Laura, a amiguinha de Emily, e na outra a própria Emily. As duas tinham o rosto vermelho e não olhavam para a gente.
-SENHORITA CLARA! - A mãe de Laura gritou, e minha mãe se virou para ela irritada. Mas desde quando ela não está né... APARENTEMENTE COM ESSE FROUXO DO CRISTOPHER ELA ATÉ SE ARRUMA TODA E AGE COMO UMA DAMA. AH MAS EU NÃO ACREDITO QUE ELA SAIU PARA UM ENCONTRO COM ELE ASSIM NA CARA DURA!
-O que foi dessa vez!? - Minha mãe perguntou irritada, mas não abaixou a bolsa. A mulher jogou Emily para nós, e eu larguei minha banana indo pegar ela bem na hora que minha mãe segurou o outro lado dela para não cair.
Como essa baranga ousa jogar minha irmã desse jeito?
-EU NÃO QUERO QUE SUA FILHA CHEGUE PERTO DA MINHA LAURA NUNCA MAIS!
-O que!? - Emily e Lara perguntaram assustadas, se olhando com medo, e eu me agachei devagar para pegar a banana falsa no chão, porque de repente seu uma vontade de jogar na cara da mãe de Laura por estar destratado MINHA irmã na MINHA frente.
Só eu posso detestar pessoas da minha família, ninguém mais.
-SUA FILHA ESTAVA… ELA ESTAVA - A mulher respirou forte e parecia prestes a arrancar o braço que ainda segurava Laura - BEIJANDO MINHA FILHA! MINHA FILHINHA! INDUZINDO ELA AO MAL CAMINHO!
O que? Não pode ser. Todos ficaram em silêncio, olhando para Emily sem acreditar. Ela franziu os lábios e olhou para baixo.
-Ela não é... Tecnicamente uma garota - Emily praticamente sussurou.
-O que? - Perguntei, eu não sei mais o que está acontecendo nesse dia, meu coração não aguenta assim, eu me lembro de descobrir que era cardíaco naquele dia antes do passeio para o acampamento quando estava na porta do banheiro proíbido.
-É mãe, como você espera que eu namore um cara, se eu tenho um pênis!? Vai ser gay de todo o jeito! - Laura gritou indignada e aquele silêncio voltou.
-O QUE? - Perguntei mais uma vez paralisando, eu não acredito. Olhei para a cintura de Lara, e vi uma coisa que eu nunca tinha parado para ver ou perceber antes. Era… um volume ali.
-Não creio - Dessa vez foi a voz da minha mãe, soltando Emily sem querer, e ela caiu de bunda no chão porque eu também não estava mais segurando ela. Justo Laura, sempre mais feminina que Emily, era… qual é a palavra mesmo? Intersexual? Tanto faz, ela tem a mesma coisa que eu tenho nas pernas.
-CALA A BOCA LAURA! - A mãe dela gritou, e eu vi o rosto de Laura ficar vermelho, depois se soltar do braço dela e ficar a sua frente.
-NÃO MÃE, CHEGA! VOCÊ NUNCA ME ACEITOU COMO EU NASCI, SEMPRE PREFERIU O CLODESNILDO, MESMO QUE MEU NOME SEJA NORMAL E O DELE SEJA ESSA DROGA!
-RESPEITE O NOME DO SEU IRMÃO, QUE FOI O NOME DO SEU TATARAVÔ! E PELO MENOS ELE NASCEU NORMAL, AO CONTRÁRIO DE VOCÊ LAURA!
Laura abriu a boca chocada, e cerrou os olhos para sua mãe, depois sem falar uma palavra se virou para onde todo mundo estava, indo até Emily que tinha saído do chão. Ela parou do lado de Emily e virou para a mãe, cruzando os braços.
-O que isso significa Laura? - Ela perguntou irritada, e Laura levantou mais o queixo. Nem parecia aquela menininha tímida que tinha vergonha de falar comigo e ficava vermelha fácil - Ah, vai ser assim?
Laura não falou nada, mas não saiu de onde estava, a mãe bateu o pé no chão e migrou para a saída da casa com fogo nos olhos.
-Espero que você saiba lidar com as consequências dos seus atos mocinha! Só vai voltar para casa quando se desculpar! Quero ver se a família dessa mal influência vai deixar você ficar aí até lá.
E ela bateu a porta e foi embora. Todos se viraram para Laura, que ainda tinha aquela pose durona, mas quando a mãe passou pela porta uns segundos depois ela começou a tremer, e virou para Emily com os olhos vermelhos e o nariz escorrendo, abraçando ela com tudo e quase fazendo Emily cair de novo.
-Desculpa por ter esquecido que sua mãe estava em casa, ou nada disso teria acontecido Lau - Emily falou com um rosto de culpada alisando o cabelo de Laura. Tinha que ser a minha irmã esquecida, que surpresa ela esquecer de algo.
-MINHA MÃE ME ODEEEIA - Laura falou com a boca abafada pelo ombro de Emily, e minha irmã nos olhou com olhos culpados, principalmente quando foi olhar minha mãe e franziu os lábios. Também olhei para minha mãe, e ela tinha uma cara assassina.
-Laura Gomes Mendes... QUE HISTÓRIA É ESSA DE VOCÊ NESSA IDADE JÁ ESTAR BEIJANDO SUAS AMIGUINHAS HEIN? PERDEU A VERGONHA NA CARA? FUI TER MEU PRIMEIRO BEIJO AOS DEZOITO ANOS!
-Mãe! Eu já tenho dez anos!
-E VOCÊ ACHA ISSO MUITO!? - ela perguntou irritada, se levantando em um pulo - Mas se aquela megera da Clotilde acha que pode chamar a MINHA FILHA de mal exemplo, ela está muito enganada! Eu vou jogar cocô do cachorro na cara daquela safada para ver se ela gosta…
Agora eu acho que eu sei de onde eu tirei esse jeito vingativo, não podia nem falar "MÃE PELO AMOR DE DEUS PARA DE AMEAÇAR A MÃE DA MENINA NA FRENTE DA FILHA DELA!" Porque eu estava ameaçando ela por dentro, bolando meu plano maligno. Minha mãe se virou para mim e apontou um dedo na minha cara.
-E ESSE ASSUNTO AINDA NÃO ACABOU GABRIEL! PORQUE VOCÊ NÃO ACEITA A PORCARIA DO CRISTOPHER COMO MEU NAMORADO?
-Hey! - Cristopher falou algo pela primeira vez, e minha mãe se virou para ele falando um "desculpa". Voltei a fazer aquela cara de irritada.
-Porque a senhora sabe que ele disse que iria voltar! - Falei alto, olhando feio para Cristopher.
-Espera, mamãe tá namorando? - Emily perguntou abismada, e Laura parou de chorar, levantando a cabeça com o nariz escorrendo para olhar o tal de Cristopher - E quem vai voltar?
-MEU PAI! Seu pai! O marido dela! Ele vai voltar! - Falei sem paciência, e vi minha mãe fechar os olhos com força.
-Ex-marido, Gabriel!
-Vocês nunca terminaram oficialmente! - Acusei irritado, e Emily junto com o resto do pessoal aleatório que estava na sala nos olhava observando nossa discurssão.
-ELE NOS ABANDONOU, GABRIEL, ISSO NÃO É MOTIVO SUFICIENTE PARA VOCÊ DE QUE NÓS NÃO SOMOS MAIS CASADOS? SE ELE FOSSE HOMEM O SUFICIENTE, ELE NÃO TERIA NOS DEIXA-
-Ele disse que iria voltar! - Falei, olhando para o tal do Cristopher, e depois para minha mãe que tinha voltado a sacudir a bolsa - Ele precisa voltar! Ele não pode quebrar uma promessa assim!
Porque ele não voltaria se ele me prometeu voltar?
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.