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História Ah, minha doce Narcisa, não se afogue - Capítulo Único, esperança em xícaras de café


Escrita por: Lumomi

Capítulo 1 - Capítulo Único, esperança em xícaras de café


 

Narcisa odiava café. Sua mãe sempre dizia que se ela bebesse muito café seus dentes ficariam amarelos e feios, desse jeito ninguém ia querer Narcisa. Menina mal educada e porca. Imagine! Que tragédia seria, sua amada mãe morreria de desgosto.

 

Mesmo assim, era a terceira xícara de café que tomava. Nunca tomara tanto café em um ano quanto tomara naquelas duas horas em que estava sentada em uma das mesas do Athenas com os fones de ouvido ameaçando explodir seus tímpanos ao som de Aerosmith no máximo.

 

Se sua mãe visse o jeito que estava sentada na cadeira com a coluna torta, sua camisa dos Rollings Stones larga e mal passada com a luz do computador lhe doendo os olhos com certeza, no mínimo, Narcisa ouviria horas e horas de como ela era descuidada e seria uma velha torta de seios flácidos, sozinha.

 

Tudo bem, Narcisa tinha mandado ela se foder. 

 

O que falar sobre Narcisa, nossa amada heroína curva, tão humana e imperfeita como um deus nórdico. A verdade era que Narcisa estava tão perdida quanto eu tentando narrar a história desse dia que em alguns minutos já se transformava em outro.

 

Ela estava tentando, desesperadamente, encontrar um bom motivo para ter chamado sua mãe de "vaca louca psicopata narcisista" e tê-la mandado se tratar para logo depois sair de casa e correr como nunca pela Avenida Paulista em pleno fim de tarde em direção a nenhum lugar em questão. 

 

Narcisa realmente achava que sua mãe estava sendo uma tremenda filha da puta. Mas ela estava certa. Narcisa nunca que seria bonita com aquele cabelo ébano olioso cheio de cachos embaraçados e aquela pele branca que nunca pegava Sol. E claro, como esquecer, os olhos escuros de corça. 

 

Isso para começar. Se a mãe de Narcisa falasse tudo que tem de feio na filha ela nunca se calaria, não que costumasse ficar calada de qualquer forma.

 

Ela começaria com os seios, primeiro Narcisa não os tinha, agora Narcisa os tem demais e parecem caídos. Horríveis, sua mãe comentaria. A forma com que se vestia era largada demais também e sua boca era tão suja que costumava comparar com o esgoto. Não é adequado para uma mocinha. Daí em diante seria só ladeira a baixo pois tinha certeza de que ela não deixaria de falar em como Narcisa é tão incompetente tanto para cozinhar como para arrumar a casa. Que sua postura era péssima e ela deveria parar de mascar chiclete, afinal seus dentes eram tão péssimos como tudo nela. Talvez Narcisa até argumentaria que o último chiclete que esteve em sua boca foi dois meses atrás e uma amiga que ofereceu mas sua mãe provavelmente a ignoraria e continuaria a lista imensa de falhas de sua filha.

 

Era até engraçado, por que Narcisa era a filha favorita de sua mãe. Sentia pena de suas irmãs, tão agredidas, ou como sua mãe dizia, cheia de verdades quanto ela. Claro, nem tanta pena assim. Não iria esquecer que uma de suas irmãs sempre a chamava de gorda e a outra quebrava seus brinquedos. Dentre as poucas qualidades que tinha, a melhor não era piedade mas ela tentava.

 

Depois de toda essa divagação, devo dizer que, na verdade, essa história não tem um fim.

 

Seria muito bom narrar que Narcisa, após ser expulsa do Athenas quando já se passava de uma da manhã, decidiu voltar pra casa e que quando retornou sua mãe estava esperando ela aos prantos sentada numa das cadeiras da sala com o rosto todo borrado pelas lágrimas, eu já disse que Narcisa não era a mais piedosa, ver outra pessoa sofrer ajuda.

 

E então depois de uma longa noite de conversas e desculpas de ambas as partes elas acordaram na manhã do dia seguinte como uma mãe e filha totalmente apaixonadas uma pela outra e viveram felizes para sempre sem nunca mais se chamarem de "vagabunda, filha da puta, cuzona" ou qualquer coisas assim.

 

Seria lindo, de fato, mas bastante improvável. O que eu posso dizer que aconteceu é que Narcisa tomou a quarta xícara de café ao som de "Fly Away From Here" e a essa ponto o computador dela tinha descarregado e ela tinha uma mínima felicidade por ter terminado a redação que acabou na discussão com sua mãe. Ela realmente foi expulsa do Athenas, só que um pouco mais cedo do que gostaria. E, sem a mínima vontade de andar pela movimentada Augusta em uma noite de sexta, ela partiu sem um rumo certo, assim como chegara ali, e viveu.

 

Não feliz para sempre, mas viveu, com  Aerosmith como trilha sonora e gosto de café na boca misturado com um chiclete que comprou por aí. Afinal, talvez não fosse Narcisa digna do narcisismo de sua mãe  junto ao ódio por não se parecer com ela, mas era Narcisa digna de esporro por complexo de liberdade.

 



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