Minha cabeça girava pela quantidade de informações e agora o medo de que aquela garota que eu conhecia há tanto tempo estivesse prestes a me matar, sugando todo meu sangue para se alimentar, crescia rapidamente.
- Espera aí... – Comecei, me afastando ainda mais dela, mas da forma mais discreta possível para não revelar todo meu medo – Você não está aqui para se... se alimentar... Está?
A menina me olhou de forma atônita, como se não visse nem sequer um pingo de lógica na minha pergunta.
- Está com medo de mim, Bonnie? Sério? – Marceline parecia quase ofendida.
- Desculpe, Marcy, não quis te ofender, mas tente me entender. Você simplesmente entrou na minha casa em plena madrugada de uma forma sobrenatural, dizendo que é uma vampira... É difícil não temer.
- Mas continuo sendo eu mesma, Bonnie. A mesma Marceline de sempre!
A vampira recém-criada se levantou do sofá, onde estava ao meu lado, e flutuando voltou ao meu quarto, onde a luz continuava ligada. Arrependida de tê-la acusado de querer me matar, mas ainda sim sem entender o que, então, a teria feito ir até meu apartamento em plena madrugada, deixei a garrafa de licor no chão e a segui em direção ao quarto.
- Marcy, não fique chateada comigo... – Segurei em seu braço para que ela olhasse para mim, quando reparei o quanto sua pele estava fria.
A garota de olhos tão escuros quanto seus cabelos me olhou no fundo dos olhos e naquele exato instante todo o meu receio de que ela pudesse querer tomar meu sangue desapareceu. Senti minha pulsação se acelerar e o sangue chegar rapidamente às minhas bochechas, corando-as.
- Eu não vim te matar, Jujuba. Eu só queria... Te ver.
Marceline continuava me olhando fixamente nos olhos. Se aproximou suavemente de mim e com uma de suas gélidas mãos pôs uma mecha de cabelo que havia se soltado do meu rabo de cavalo atrás da minha orelha esquerda.
- Eu só queria te ver. – Repetiu, me causando arrepios.
Demorei um pouco para recuperar o ar que eu havia perdido com suas palavras. Sentei em minha cama para me desvencilhar de seu olhar penetrante e consegui retomar meus pensamentos.
- De verdade, Marcy... O que veio fazer aqui? E como essa história de vampira começou?
Fiz sinal para que ela sentasse ao meu lado para que pudesse me explicar tudo aquilo.
- bom, eu decidi vir aqui para te ver, Bonnie. Só isso. Essa nova vida de vampira é... muito diferente. Eu queria algo que pudesse me fazer ter certeza de que toda a vida que tive antes foi realmente real. Queria sentir que... que você era real. – Ela baixou o olhar, em direção ao chão. Tenho certeza de que se seu rosto pudesse corar, teria corado. – E como eu não podia ir à nenhum outro lugar, vim aqui. – Terminou, tentando parecer indiferente.
- Como “não podia ir a nenhum outro lugar”? E seus outros amigos? Finn, seu primo Marchall... Você tem muitas opções.
- Aí está a parte interessante. Eu meio que "morri" para eles. Não posso aparecer para mais de um humano, é meio que uma regra de vampiros, e eu meio que escolhi você. – A garota parecia envergonhada de assumir isso em voz alta.
- Escolher uma pessoa só? Mas... Como assim? – Era a primeira vez na vida que eu não havia entendido algo.
- É um pouco difícil de explicar. – Marceline riu, percebendo o quanto parecia cômico dizer a mim que algo é “meio difícil de explicar” – Olha, quando se entra para o “clã dos vampiros”, você pode escolher entre contar para sua família e amigos e se responsabilizar pelos seus atos ou simplesmente apagar “você” do mapa. Eu escolhi isso. Agora é como se eu nunca tivesse existido. Registros de escola, nascimento, tudo apagado ou queimado. Inclusive a memória de todos aqueles que já me viram ou falaram comigo, entende? Por isso que “morri” para todos os outros amigos.
Ela se aproximava cada vez mais, à medida que me explicava.
- E vampiros têm esse poder? Apagar a memória das pessoas.
- Incrível, não? Na verdade apenas um vampiro pode: o Rei. Nesse caso rainha. Eu.
Ninguém mais se lembrava da existência de Marceline, apenas eu. Finalmente estava claro o que ela havia vindo fazer aqui. Estava terminando o serviço. Apagaria minha memória também.
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