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História Além da Compreensão - Um milênio


Escrita por: Tizze

Notas do Autor


Feliz 2017, pessoal <3

Capítulo 16 - Um milênio


POV Marcelina ON:

- Rainha Marceline, o Reino da Noitosfera convoca uma reunião com urgência.

            Urgência? Geralmente sou eu quem convoca reuniões urgentes.

- Prepare o portal, Vlad, e tome as rédeas do Reino Vampiro enquanto estou fora. Não sei quanto tempo permanecerei na Noitosfera. Mande me chamar apenas em caso de extrema urgência. EXTREMA. Estamos entendidos?

- Perfeitamente, minha rainha. Com sua licença.

            As coisas não deviam estar nada bem na Noitosfera, pois em todos esses anos nunca houve uma reunião de urgência que eu mesma não tivesse convocado. O Significado de urgência pode ser entendido de maneiras diferentes dependendo de quem o interpreta. Para mim, qualquer dúvida sobre o que fazer quanto a problemas internos, controle de pragas, discrição em caças, como me portar como rainha... Todos esses motivos são suficientes para que eu convoque uma reunião de urgência, mas para a majestade da terra dos demônios mortos os critérios são bem diferentes.

- O portal está aberto, minha senhora, e a própria majestade da Noitosfera aguarda para recebê-la pessoalmente do outro lado.

- Obrigada, Vlad. – As coisas parecem muito mais sérias agora. Me receber pessoalmente é absolutamente inédito.

- Marceline, finalmente!

            Antes mesmo de pisar fora do portal vi os olhos de Bonnibel lacrimejados e uma expressão confusa em seu rosto.

- Bonnie, o que houve? Deve ser algo muito sério para que você convoque uma reunião de urgência, me receba pessoalmente no portal e ainda mais nesse estado.

- Não sei como te explicar, meu bem... Terá que ver com seus próprios olhos. – Jujuba sai às pressas e eu vou ao seu encalço.

            Depois daquela noite terrível em que eu perdi meu pai e quase perdi Bonnie para um exército de vampiros governado por um traidor do qual nem sequer lembro o nome, os danos eram maiores do que eu podia mensurar. O Reino Vampiro estava devastado, com uma baixa sem precedentes em seu exército e a Noitosfera estava sem seu líder pela primeira vez. Minha namorada estava fraca e não podia ir a um médico, já que os ferimentos eram muito mais espirituais do que físicos. Eu estava sozinha, sem ajuda e com dois reinos para governar, além é claro, de Bonnie estar seriamente debilitada. Os vampiros relutaram em me reconhecer como sua rainha e líder, já que muitas famílias do reino sofreram as consequências da terrível batalha na caverna Hunson (recebera o nome em homenagem ao meu pai séculos depois). Eles me culpavam pelas perdas, mas, pior do que isso, culpavam Jujuba por ter se transformado naquela máquina de guerra, responsável pela maioria das mortes naquela noite, e ainda mais por ela ter sido a razão para que toda essa história começasse. Por conta disso, eu não podia mantê-la comigo no reino dos vampiros enquanto tentava resolver os problemas por lá. Na Noitosfera o problema era o oposto. Os súditos me queriam em tempo integral, já que eu era rainha por direito de sangue. Muitos generais do alto escalão e do círculo de confiança de meu pai me pediram que eu renunciasse ao trono do Reino Vampiro, já outros tentavam me coagir a lhes passar a regência da Noitosfera.

            Bonnibel passou 10 anos acamada por conta do fragmento que correspondia a um milésimo da alma de meu pai, um demônio poderosíssimo e com muita maldade dentro de si. Ao longo desses 10 anos, o fragmento se fundiu a alma de Bonnie e ela passou a controlá-lo, mas à custa de muito esforço e meditação. Jujuba passava seus dias estudando sobre a história dos demônios e da Noitosfera para que pudesse compreender melhor a si mesma. Assim, ela se tornou minha conselheira de maior confiança, enquanto eu tentava manter meus reinos como nação unificada. Assim foi durante 200 anos. O fragmento da alma imortal de meu pai mantinha Bonnibel intocada pelas mãos do tempo, assim como eu, mas além de agraciada pela beleza da eterna juventude, Bonnie foi condenada a viver eternamente no submundo, vendo seus parentes e amigos viverem a vida de que ela tanto sentia falta através de portais mágicos. Presenciou a morte de todos eles, como se estivesse ali naquele momento e sofreu por não estar de fato ao lado deles. Por esse sofrimento que lhe causei eu nunca vou me perdoar.

            Meu plano de manter os dois reinos unidos fracassou, de forma que novamente me vi sem chão. Foi então que Bonnie me disse “Meu bem, me dê meu reino. Eu tenho a alma de seu pai viva em mim, é meu por direito”. Ela estava decidida e tinha um argumento incontestável diante dos generais, isso evitaria tentativas de motim. Fiquei feliz em lhe passar a coroa. Mas isso nos manteve afastadas por um bom tempo, enquanto colocávamos ordem na casa, dessa vez cada uma no seu próprio reino.

            Em 8 séculos de reinado, Bonnie fez coisas incríveis pela Noitosfera. Liderou com um pulso muito mais firme do que eu imaginava possível vindo de alguém tão doce e solidária. Mas essas características também não sumiram de Bonnibel, e pela primeira vez, o Reino dos demônios mortos soube o que é compaixão. Bonnie ainda é minha conselheira pessoal e tentamos manter certa ligação entre os dois reinos para evitar conflitos, o que poria nossa relação afetiva em jogo, já que Jujuba possui um senso de justiça notável e lutaria pelo seu reino se sentisse que é o certo a fazer, mesmo que lhe custasse o coração.

POV Jujuba ON:

            - Marcelina, finalmente!

- Bonnie, o que houve? Deve ser algo muito sério para que você convoque uma reunião de urgência, me receba pessoalmente no portal e ainda mais nesse estado.

A expressão de preocupação de Marcy me deixava ainda mais aflita. Como ela reagiria quando soubesse o que está acontecendo?

- Não sei como te explicar, meu bem... Terá que ver com seus próprios olhos.

Andei o mais rápido que pude até as portas do castelo onde eu moro a quase um milênio esperando que Marcy acompanhasse meus passos. Minha cabeça doía envolta a tantas lembranças e pensamentos. Depois de séculos de regência da Noitosfera, essa era a primeira questão que eu não fazia ideia de como resolveria.

Ainda na sala que antecedia o grande salão real, onde os demônios da Noitosfera eram julgados, pedi que Marceline se sentasse para que eu pudesse lhe dar a notícia.

- Marcy... – Eu não sabia por onde começar.

- Diga logo, Bonnibel. Você me conhece suficientemente para saber que odeio suspenses e assuntos inacabados. Me chamou aqui, agora diga o que está acontecendo.

Ela tinha razão. O melhor a fazer quando não se sabe o que dizer é contar exatamente o que está acontecendo sem rodeios e sem delongas.

- Meu bem... Seu pai. Ele está no grande salão real.

Sua expressão congelou. Por um instante pude ver exatamente o que significa ser uma morta-viva. Porém não por muito tempo. Logo que o choque inicial deixou de dominá-la, Marceline voou o mais rápido que pôde e com demasiada força empurrou as portas que separavam a antessala do grande salão real, onde se encontrava o senhor Hunson Abadeer abatido, pálido e vestindo trapos.

- Pai? Pai! – Ela pulou nos braços cansados de seu pai, que lhe deu um leve sorriso, enquanto sua filha chorava ao rever o velho Hunson.

- Olá, querida. Vejo que ficou tudo bem entre você e Bonnie. E a Noitosfera está ótima. Sua namorada tem feito um trabalho esplêndido.

- Estamos juntas a tempo demais para sermos chamadas de namoradas, pai. – Riu, Marceline – Mas o que aconteceu com o senhor? Por que demorou tanto par voltar para casa?

- Eu estive aqui desde que aquela espada atravessou minhas costas, minha filhinha. Para onde mais um demônio iria depois de morrer? – A expressão do Abadeer era serena, como a de um velho monge.

Então era isso, Hunson Abadeer teria passado todos esses séculos na fila dos demônios mortos que esperam julgamento? Nem eu mesma, como rainha, sabia que o tempo de espera na fila do julgamento é tão longo.

- Aqui? Mas... O que houve? Por que não nos procurou antes? Aliás, por que ainda está assim tão sujo e com aparência cansada? Bonnie! Por que não mandou que cuidassem de meu pai? Olhe seu estado!

E finalmente minha encruzilhada veio á tona.

- Marcy... Meu bem. Existem regras, protocolos, leis... Entenda...

- Leis? Bonnibel Jujuba, leis? Ele é as leis! Está diante do Senhor da Noitosfera! Quer aplicar leis em meu próprio pai? – Ela reagiu bem pior do que eu imaginava.

- Minha filha, escute Bonnibel. Ela tem razão quanto às leis. Escute, querida, sente-se que vou lhe contar tudo que houve desde o início. Bonnie, minha filha, venha e sente-se ao meu lado. Vamos pôr tudo em panos limpos.

Obedeci Hunson e me sentei. Seria uma longa noite e talvez ao amanhecer eu seja uma rainha odiada e solteira.

POV Sr. Abadeer ON:

Minha filhinha... Depois de tanto tempo finalmente venho vê-la.

- Então escutem bem. Eu estou aqui depois de todo esse tempo para ser julgado pelo rei dirigente, neste caso nossa querida rainha Jujuba, como qualquer outro demônio morto do submundo. A rainha não tem a obrigação de me dar colher de chá por conta do meu tempo de regência, por mais que tenham sido 10 mil anos de reinado...

            Mesmo depois de quase um milênio longe desse palácio, é difícil ver meu reino em outras mãos.

            - Mas, pai... – Marceline parecia saber que todas as coisas ruins que cometi no passado não me reservariam uma sentença agradável.

            - Querida, deixe que a rainha decida. – Marcinha olhava para sua namorada de forma tal, que eu tive a impressão de que aquele julgamento sentenciaria também seu relacionamento.

            - Espere... Senhor Abadeer, eu não fazia ideia de que a fila de julgamento é tão longa! Como um demônio pode esperar quase um milênio para ser julgado? – E com toda aquela discussão, minha vida e o relacionamento dessas meninas em jogo, o que Bonnibel Jujuba enxerga é burocracia...

            - Na verdade não, querida... Desculpem-me, mas eu precisava passar um tempo como João-ninguém, sabe? Me dar umas férias de tanta atenção e obrigações. Então... Eu meio que... Deixei que alguns demônios passassem na minha frente na fila para prolongar meu descanso.

            - PROLONGAR SEU DESCANSO? – Marceline reagiu tão bem quanto eu pensei que reagiria. – mil anos, pai! Mil anos! Isso não é descanso, não é férias, é outra existência!

            Ela tinha razão, eu não podia negar. Eu me sentia absolutamente diferente daquele rei impiedoso que tinha sido no passado.

            - Me perdoe, filhinha. Apenas tente entender seu velho pai. Eu fui rei por 10 milênios e tirei 1 de folga. Se comparados a folga parece pequena, não acha?

            - Não existiu um dia em que eu não pensasse no senhor morrendo por mim naquela noite, pai... e agora você volta e diz que toda a minha culpa e angústia poderiam ter cessado, mas você preferiu férias? – Se eu tivesse um coração, ele estaria despedaçado.

            - Me perdoe, querida. Agora seu velho pai vai passar um bom tempo pagando pelos erros que cometeu. Por favor, rainha. Dê seu veredicto e vamos acabar logo com isso.

            Já era ruim o suficiente ver minha filha daquela forma. O melhor a fazer nesse momento é começar o quanto antes meu período de punição.

            - Antes eu gostaria de saber qual o período médio de espera na fila, senhor. O senhor teria esse número? – O que essa menina queria com essa informação num momento como esse? De que importava? Ela que mandasse um súdito ficar na fila para saber.

            - Qual a relevância disso, Bonnie? Estamos falando do meu pai aqui. Depois você otimiza o tempo na fila de espera para sei lá o que. Por favor, vamos terminar com isso!

            - Senhor Abadeer, eu preciso saber, por favor. – Jujuba só apresentara olhar tão sério quando nos vimos pela última vez, no momento do pacto.

            - Jujuba, eu te escolhi como rainha e fico feliz com o que fez ao meu reino. Ao nosso reino. Nosso pacto funcionou. Você controlou minha alma que vive em você e em troca eu ganhei uma boa governante para meu reino. Ou você assumiria ou convenceria Marceline a assumir. Fico feliz que tenha escolhido assumir o reino, mas não se deixe consumir pela burocracia! Não quero parecer arrogante, mas minha sentença é realmente mais importante do que quanto tempo um demônio passa na fila da Noitosfera. Por favor, já chega disso.

            - Senhor, com todo respeito. É uma ordem.

            - O que... Tudo bem, são 3 meses. Satisfeita?

            - Absolutamente, senhor. Me dê um minuto, por favor. – Jujuba partiu, deixando eu e Marceline desorientados.

            - Três meses, pai? O senhor não faz ideia do quanto eu precisei de ajuda nos primeiros dez anos... Eu deveria estar possessa por conta desse pacto que eu não fazia ideia que existia, mas entendo que foi necessário para não que eu perdesse Bonnie e o senhor não deixasse seu reino nas mãos de qualquer um, mas três meses se transformarem em mil anos... Isso eu não sei se vou conseguir perdoar.

            - Marceline, minha querida. Eu não peço que me perdoe imediatamente, mas será que poderia dar um abraço em seu velho pai? Eu te amo, Marceline. Nunca duvide disso.

            Minha menina pulou em meus braços com os olhos marejados, porém em meio aos abraços haviam socos enraivecidos e palavras ofensivas. Apesar da dor no ombro, eu me senti feliz.

            - Com licença. Desculpe interromper a reconciliação pai e filha, mas estou pronta para sentenciá-lo, senhor Abadeer. O senhor está sentenciado a uma eternidade ao lado de sua filha, e eu meu lado, se não se importa.

            - Do que está falando, Jujuba. Eu disse que queria um julgamento justo. Seja realista.

            - Eu me orgulho muito do meu senso de justiça, Hunson. Não há como ser mais justa. Desde que tomei as rédeas do reino, tenho observado as sentenças e percebi que não era considerado o tempo de espera, mas isso é um erro, já que a punição deve começar a contar a partir da morte do demônio. Então, como o senhor passou 997 mil anos na fila de espera, já cumpriu sua sentença e está livre para aproveitar sua eternidade como preferir.

            - Mas...

Senti minha filha voltar a me abraçar e puxar Bonnie para um abraço em família. Afinal, parece que tudo ficará bem agora.


Notas Finais


Me perdoem ç.ç Eu ainda amo vocês


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