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História Além da Esperança - XXVI - Sangue na Estrada.


Escrita por: Vexus

Notas do Autor


Calma! Calma! Eu não morri! Mas to quase... huahahuahuaua
Desculpem o atraso, mas eu estou com muitos trabalhos da faculdade e isso ta consumindo muito o meu tempo.

Mas chega de enrolação.
Capítulo novo.

Espero que gostem.
Boa leitura.

P.S.: Se houver algum erro, por favor, me avisem.

Capítulo 27 - XXVI - Sangue na Estrada.


Sungmin e Ryeowook foram levados até uma região mais afastada do acampamento. Ela ficava ao leste, no meio de uma clareira aberta pelos próprios moradores, onde grande parte do trabalho era feito. Eles viram pessoas cortando lenha, curtindo o couro de alguns animais e trabalhando na construção de uma casa. Lisa seguiu até uma área isolada em formato retangular onde alguns alvos descansavam ao lado de um espaço quadrado, semelhante a uma arena. Perto dali, uma mesa com algumas armas artesanais se encontravam e o que mais se destacava no meio delas era o arco e um machado de cabo curto.

– O que é aquilo? – Ryeowook perguntou, apontando.

– Usamos aquela área para treinarmos o combate.

Lisa explicou enquanto se aproximava da área onde os alvos se encontravam, pegando um arco em seguida. Ela puxou a corda e prendeu a respiração antes de disparar a flecha que acertou o arco mediano do alvo.

– Ainda tentando acertar o centro? – a voz de Minhyuk foi ouvida. – Sabe que não vai conseguir.

O trio se virou e assistiu enquanto o rapaz se aproximava, sorrindo. Havia retirado o casaco e agora usava apenas a camisa branca, ele pegou um dos arcos e caminhou para o lado de Lisa. Minhyuk puxou a corda, prendeu a respiração e aprumou a postura antes de disparar – a flecha acertou o centro do alvo segundos depois.

– Preste atenção na sua postura. – ele aconselhou.

Lisa bufou, derrotada.

– Isso não vale, você tem sua habilidade. – retrucou fazendo bico. – O que está fazendo aqui?

– Moonbyul me chamou para praticarmos um pouco de luta. – explicou enquanto colocava o arco de volta na mesa. – Ela continua tentando me acertar.

– Uma hora ela vai cansar.

– Você sabe que isso é impossível. – disse sorrindo. – Literalmente.

Minhyuk se afastou, caminhando em direção da arena feita sobre terra batida. Lisa o seguiu, chamando a dupla que ficara para trás em seguida. Eles se acomodaram a uma distância segura, que não atrapalhava os lutadores, nem colocava em risco a segurança de quem assistia. Enquanto esperavam a chegada de Moonbyul, Ryeowook percebeu que certa quantidade de curiosos se aproximava para ver o embate.

– O que está acontecendo? – Sungmin perguntou, franzindo o cenho.

– Esqueci-me de dizer. – Lisa balançou a cabeça. – Todos gostam de assistir as lutas de Minhyuk e Moonbyul, há certo quê de entretenimento.

– Qual é a graça de ver duas pessoas lutando? – Ryeowook não conseguia entender qual o ponto daquilo tudo.

– Você verá.

Do meio da multidão, Moonbyul surgiu. Havia retirado o casaco marrom sem mangas, ficando apenas com a camiseta branca. Aproximou-se do centro da arena improvisada e parou próxima ao seu irmão. Assim, frente a frente, Ryeowook reparou que eles se assemelhavam a dois gladiadores que lutariam em uma peleja até a morte. Minhyuk pôs as mãos nos bolsos e chutou um punhado de terra, uma fraca fumaça laranja subiu em seguida, ele parecia relaxado apesar de ser o centro das atenções.

– Quer mesmo fazer isso? – perguntou seriamente. – Sabe que é um esforço inútil.

– Me poupe de suas preocupações. – Moonbyul retrucou. – Não sou merecedora de sua compaixão.

Minhyuk suspirou e então assumiu uma posição defensiva, aguardando qualquer movimento de sua irmã. Moonbyul bateu a poeira do corpo e partiu para uma sequencia de socos que nunca acertavam o alvo. Ryeowook ficou estupefato com a velocidade com a qual Minhyuk desviava dos golpes, não importava por qual lado a outra tentava acerta-lo, o rapaz sempre conseguia se desviar ou recuar no momento certo. Como consequência, uma onde de ovações e aplausos foi ouvida por parte da multidão que assistia a disputa.

– Entendeu? – a pergunta de Lisa chegou aos ouvidos do inumano.

– Sim. – Ryeowook falou, desviando sua atenção por alguns segundos. – É assim toda vez?

Lisa assentiu e então mudou de posição.

– Minhyuk nunca é acertado, mas também evita acertar alguém. – o anúncio pegou a dupla de surpresa. – Ele alega que seria injustiça utilizar-se da habilidade para ganhar uma briga.

– Justo. – Sungmin reconheceu. – Quanto tempo isso dura?

– Até Moonbyul desistir ou...

Um urro despertou atenção do grupo que encarou a arena rapidamente. Moonbyul estava caída no chão, o corpo suado fez com que a areia grudasse nos ombros e na roupa, sujando-a. Enquanto isso Minhyuk mantinha-se em pé, encarando com compaixão a garota caída.

– Minhyuk derrubá-la. – Lisa completou a frase, sorrindo.

– Achei que Minhyuk não acertava seu oponente.

– E não acerta. – a garota confirmou. – Mas o derruba como sinal de vitória.

– Interessante. – Ryeowook comentou encarando enquanto Minhyuk levantava Moonbyul para reiniciar a disputa. – Há quanto tempo eles fazem isso?

– Desde que entraram para a patrulha. – Ela juntou o cabelo na nuca e o amarrou num rabo de cavalo. – Moonbyul diz que essa é uma forma de ela se manter forte.

Ryeowook assistiu enquanto dupla lutava de maneira árdua. Moonbyul aplicava socos e chutes com uma voracidade assustadora, parecia disposta a acertar seu irmão a qualquer custo. Por outro lado, Minhyuk apenas mantinha a expressão serena enquanto desviava dos golpes com extrema rapidez. Lisa gritou e bateu palmas, parecia animada com disputa, mesmo sabendo qual seria o final.

– Qual o problema dela? – Ryeowook ponderou, ganhando atenção da garota. – Se o resultado sempre é mesmo, por que insistir?

– Moonbyul possui um temperamento difícil. – balançou a cabeça. – Às vezes está irritada, às vezes é simpática com todo mundo e, como sempre, nunca escuta o que a gente diz.

– Eu chamaria isso de bipolaridade, não de temperamento difícil. – Sungmin comentou.

O trio voltou atenção para a disputa, que já se encaminhava para o desfecho. Moonbyul tentou um gancho de esquerda, tendo como alvo a têmpora de Minhyuk – que simplesmente abaixou-se e aproveitou para completar com uma rasteira. Moonbyul caiu no chão, levantando uma nuvem de poeira vermelha e amarela.

– Segunda rodada. – Minhyuk murmurou estendendo o braço. – Fim da disputa.

Moonbyul estalou a língua enquanto aceitava a ajuda de seu irmão, e quando enfim ficou de pé, se abraçaram e caminharam em direção do trio. Uma leve brisa soprou, trazendo o característico cheiro de floresta e terra molhada, ao passo que a multidão se dissipava após o fim da luta. Vendo a aproximação, Lisa começou a bater palmas.

– Demorou mais do que o esperado. – anunciou. – Moonbyul estaria enfim conseguindo o seu objetivo?

– Do jeito que caí? Acho meio difícil. – falou enxugando a testa suada. – De qualquer forma isso não é importante, pedi por esse desafio apenas para não ficar enferrujada.

– Enferrujada? – Minhyuk repetiu com o cenho franzido. – Parecia petrificada quando lutou comigo.

– Continua... Pode continuar... – retrucou sorrindo. – Depois não venha reclamar mais tarde.

Moonbyul socou amistosamente o ombro do irmão, que respondeu ao gesto com um sorriso. Ryeowook ergueu uma sobrancelha, duvidando que aquela mulher era a mesma Moonbyul com olhar animalesco que chegara no café-da-manhã.

– O que vocês vão fazer mais tarde? – Lisa espreguiçou-se e então cruzou os braços.

– Temos patrulha. – Minhyuk anunciou, para a tristeza da garota. – Eric pediu para vasculharmos a floresta mais cedo. Não me pergunte qual o motivo.

– Achei que pediria para mim ou Gyuri, mas se ele pediu para vocês, deve ter um motivo. – disse, coçando uma das sobrancelhas.

– Por falar nela. – o rapaz continuou. – Gyuri disse para você levar os visitantes para lá.

– Tudo bem. Agora vão tomar um banho, estão suados e precisam se limpar.

Moonbyul foi a primeira a se afastar, caminhou silenciosamente em direção ao acampamento; Minhyuk ficou ali por alguns instantes antes de Lisa insistir para que ele fosse. Quando trio ficou sozinho, Ryeowook criou coragem para falar o que pensava.

– Agora entendi o que você quis dizer com “temperamento difícil”.

– Não precisa se preocupar, dura pouco tempo. – confiou com pesar. – Logo, logo ela volta ao que era antes.

– É assim todos os dias?

– Não... – a jovem balançou a cabeça. – Com o passar do tempo, esses momentos se tornam cada vez mais raros.

Três crianças passaram correndo pelo grupo, cada uma segurando um brinquedo diferente. Lisa assistiu em silêncio enquanto elas contornavam as mesas dos trabalhadores e recebiam advertências por parte das mulheres que circulavam por ali.

– Querem conhecer a torre de vigília? – indagou por fim.

– Tudo bem, mas... – Sungmin parecia confuso. – Não está confiando demais na gente? Poderíamos pessoas mal-intencionadas.

– Sim, vocês poderiam. – ela reconheceu, para a surpresa da dupla. – Mas, segundo o que Eric nos disse, seu braço e o fato de não nos atacarem quando acordaram, nos convencem do contrário.

– O que quer dizer? – Ryeowook começava a se interessar pelo o que Lisa dizia.

– Acreditem ou não, vocês não são os únicos que se atrevem a vencer a floresta sem um especialista do terreno. – o tom era sério, sem espaços para brincadeira. – Os poucos que conseguiram e nos encontraram, tentavam nos ludibriar, achando que somos ingênuos só porque não vivemos nas grandes cidades.

– O que quer dizer com ludibriar?

– Não sou a pessoa certa para dizer isso. – Lisa falou, tomando a dianteira. – Vamos para a torre, Gyuri está nos esperando.

 

– Ela ainda está assim?

– Dê um tempo, a coitada acabou de passar por um evento traumático.

– Será que os dois cabeças de vento podem se calar por um instante? – a voz de Shindong se fez ouvir através da pequena abertura na traseira do blindado. – Consigo ouvir tudo daqui.

O silêncio reinou, anunciando que a ordem se cumpriria. Shindong voltou sua atenção para Bora, que se mantinha entorpecida e com o olhar distante. Estava coberta com o casaco que um dos militares disponibilizou e sentada no banco mais próximo da cabine, sentia frio e fome, mas nenhuma dessas sensações a distraía. Shindong pegou uma garrafa d’água e a estendeu para a garota, ela se manteve imóvel, sem esbanjar uma reação se quer.

– Bora, eu sei que é difícil. – começou de maneira tímida. – Mas preciso que nos diga, ou pelo menos tente dizer, o que aconteceu.

Silêncio.

O militar mordeu um dos cantos do lábio inferior, desesperado. Não sabia o que fazer e o silêncio por parte da garota não ajudava em nada.

– Se me permite senhor. – o soldado ao seu lado falou. – Não acho que ela vá se manifestar tão cedo. Está apática e, ouso dizer, chocada com tudo o que aconteceu.

– Então o que eu devo fazer?

– Dê-lhe um tempo. – recomendou. – Ela voltará ao normal.

O carro seguia pela rodovia principal após ter saído das estradas no meio da floresta. Shindong dera a sorte de conseguir ser encontrado, junto com um soldado que o acompanhava, no acostamento. Após a tentativa de contato com o terceiro carro, eles passaram por cima de duas minas terrestres que explodiram na primeira oportunidade, jogando-os mata adentro. Sua suspeita de o mesmo ter acontecido com os demais veículos se confirmou após ouvir o relato do grupo de busca. A estratégia de Taeyeon fora descoberta e, até o presente momento, ninguém sabia quem fora o delator.

O carro sacudiu ao passar sobre um buraco, o arrancando de seus devaneios. Já havia feito contato com a líder da Zona Industrial, mas isso fora antes de encontrar Bora vagando pela beira da estrada. Temia que se o fizesse, a mulher se desesperaria ainda mais. A visão do ônibus em chamas e os corpos caídos na grama ainda queimavam em sua cabeça. Não que a morte o chocasse, mas sim o fato das vítimas serem pessoas inocentes, que procuravam abrigo e segurança. Balançou a cabeça, tentando encontrar uma resposta para tal atrocidade, mas todos os caminhos apontavam para o culpado mais óbvio: Heechul.

Não. Pensou. Não teria como ele saber sobre essa viagem, teria?

Mas quem seriam as outras opções? A falta de uma conclusão o matava por dentro e ele trincou os dentes, irritado. Tudo ao redor do caminho que eles seguiam era mata, uma floresta de pinheiros pontilhada de folhas, sem troncos ou obstáculos no chão. A viagem seguia tranquilamente, como se nada tivesse acontecido.

– Alguém já tentou fazer contato conosco? – perguntou, tentando ocupar a mente com algo.

– Não senhor. – o rapaz ao seu lado respondeu. – Devemos contata-lo?

– Espere mais um pouco. – instruiu vendo o recruta assentir.

Sem dizer nada, Bora estendeu o braço e pegou a garrafa d’água das mãos de Shindong, que por estar distraído, acabou assustando-se com o toque surpresa. A garota abriu a tampa e sorveu parte do líquido em pequenos goles, após isso, usou a manga do casaco para enxugar os cantos dos lábios.

– Bora...

– O que aconteceu com o ônibus? – a voz da jovem saiu rouca e extremamente cansada.

Shindong olhou para o soldado ao seu lado, procurando as palavras certas para dizer.

– Ele... Ele foi completamente incendiado. Não havia chances de salvação e nem sobreviventes.

As últimas palavras acertaram Bora como uma flecha. Ela fechou os olhos, sentindo novas lágrimas se formarem, e suspirou profundamente antes de continuar.

– Sabem quem foram os responsáveis?

– Ainda não e seria leviano de minha parte apontar suspeitos sem ter provas. – disse da maneira mais suave que pôde. – Mas o que realmente queríamos saber...

– Eu sei o que vocês querem saber. – interrompeu calmamente. – E eu não vi o que aconteceu.

– Nenhuma atitude suspeita? Nada? – o soldado insistiu.

– Tudo aconteceu muito rápido... – falou, tentando organizar os pensamentos. – Primeiro ouvi ruídos que pareciam aumentar de tom e então o ônibus começou a balançar, eu bati a cabeça e desmaiei.

– Acreditamos que o veículo onde você estava passou sobre uma mina terrestre. – Shindong explicou. – O mesmo aconteceu com os blindados que seguiram uma rota diferente.

– Então...

– Assim como você, eu também fui atacado. – completou mostrando os ferimentos no braço e no rosto. – Conseguimos avistar a bomba segundos antes, mas já era tarde demais.

Bora apertou ainda mais o casaco sobre o corpo, sentindo o frio que as roupas molhadas lhe causavam. Logo em seguida uma voz computadorizada foi ouvida, apesar de estar abafada pelo tecido espesso da farda militar. O soldado pegou o radio comunicador e apertou um botão lateral, a voz ficou mais nítida, permitindo que todos ali compreendessem.

Grupo de busca, atualize sua posição. – era Noah.

Shindong tomou o aparelho das mãos do recruta.

– Estamos seguindo viagem, não precisa ligar a cada cinco minutos como uma mãe preocupada. – brincou, tentando amenizar o clima de tristeza.

Com você, todos nós temos que agir como uma mãe preocupada. – O outro gargalhou. – Mas não vou brincar em serviço. – continuou, assumindo um tom mais sério. – Alguma informação nova?

– Na verdade, sim. – a voz do militar baixou um tom e ele encarou Bora. – Encontramos uma passageira de uma das caravanas, vagando à beira da estrada.

Aconteceu algo com o comboio?

– Não sabemos. – confessou com pesar. – Flagramos um dos ônibus fora da estrada, completamente destruído.

Algum sinal de sobrevivente, além da passageira?

– Até o momento não, parece que ela foi a única.

Isso é ruim. – Noah reconheceu. – Sabe a identidade dessa mulher?

– Bora... – ergueu o olhar, esperando pela resposta da jovem.

– Yoon. – ela completou.

– Yoon Bora. – Shindong informou pelo rádio.

A vitima do beco? – Noah indagou, surpreso. – Muito bem, estaremos esperando nos domínios da Zona Agricultora, até lá, segurança acima de tudo. E isso vale para você também, mesmo sendo meu superior.

Shindong sorriu de canto e encerrou a ligação. O carro chacoalhou novamente e todos ficaram tensos por alguns segundos, temendo ser um novo ataque que se iniciava, mas dessa vez fora por causa do desnivelamento no asfalto. Recuperados do susto, os fardados soltaram o ar dos pulmões e encararam-se por alguns segundos. Bora se mantinha calada, ainda estava muito abatida para expressar qualquer reação. Desde a saída da Zona Industrial até agora, nove horas haviam se passado, a viagem seguia em um ritmo confuso e em quase dobro do tempo.

– Não sabia que o caminho até a Zona Agricultora era tão extenso. – o recruta comentou.

– E não é. – Shindong explicou. – Só que estamos contornando os domínios da Zona Habitacional, evitando qualquer probabilidade de rastreamento. Por isso é tão demorado.

– De qualquer forma, a medida não funcionou. – o rapaz arriscou. – Sofremos dois ataques.

– Por mais que eu deteste admitir, mas você tem razão. – Ele balançou a cabeça. – O mistério fica em quem é o responsável e como nos encontrou.

– Achei que a resposta fosse óbvia. – continuou com cenho franzido. – Foi Heechul.

– Não... – Shindong negou com um singelo movimento. – Não tinha como ele descobrir.

– Então voltamos à estaca zero.

– Não importa quem seja o responsável... – Bora resmungou, despertando a atenção da dupla. – Eu mesma irei fazê-lo pagar.

Súbito, o blindado diminuiu a velocidade. Bora, Shindong e o recruta foram empurrados para frente, pegos de surpresa com a mudança brusca. O militar mais experiente levantou e aproximou-se da pequena abertura que lhe proporcionava uma comunicação direta com a cabine.

– O que houve? – franziu o cenho quando não obteve resposta e então esmurrou a divisa de metal. – Não estão me ouvindo?

– Perdão, senhor. – um dos militares respondeu, a voz ligeiramente abafada. – Encontramos um pequeno obstáculo na estrada e a névoa está dificultando.

– Que tipo de obstáculo?

– Acho melhor que você veja com os próprios olhos. – o outro recomendou.

Shindong franziu o cenho, apontou para o recruta e o chamou com um movimento de mão. Bora fez menção de se levantar, estava curiosa com o que se tratava, mas o combatente tocou seus ombros, fazendo-a sentar novamente.

– O quê?

– Quero que fique no carro. – sugeriu de maneira suave. – Não sei o que aconteceu e não quero que você se machuque.

– Shindong... Não sou uma criança, sei me virar sozinha.

– Bora, você acabou de passar por uma situação delicada. – cabeceou negativamente. – Não quero que seu estado piore.

– Mas...

– Por favor. – ele a interrompeu. Não estava sendo grosso ou indelicado, queria apenas zelar pelo bem-estar da garota. – Apenas fique no carro.

Bora se manteve em silêncio, analisando as expressões do homem a sua frente. Seus olhar era de súplica, os ombros estavam rígidos e ele parecia realmente preocupado com ela.

– Tudo bem. – respondeu por fim. Shindong soltou o ar dos pulmões, visivelmente relaxado.

Ele assentiu e então abriu a porta lateral do veículo, o vento oriundo da floresta rapidamente soprou para o interior trazendo consigo o cheiro de ferrugem, saltou segundos depois sendo seguido pelo recruta. A temperatura havia caído drasticamente enquanto uma névoa cobria a floresta e parte de estrada adiante. Os dois olharam ao redor enquanto um dos militares descia da cabine com a arma em punho, o cheiro de ferrugem aumentou de maneira alarmante e Shindong se viu obrigado a cobrir o nariz.

– Mas que cheiro é esse? – o recruta perguntou franzindo o cenho.

– Não sei. – Shindong respondeu. – O que queria que eu visse?

– Aquilo. – o militar armado explicou, apontando.

Shindong desviou sua atenção para a estrada que se estendia na frente do blindado. De inicio ele não compreendeu, até avistar uma murada incomum que cortava o asfalto na horizontal. Parecia ter pouco mais de um metro e vinte de altura e bloqueava rodovia por completo. Avançando de maneira cautelosa, o combatente sentiu o terreno sob seus pés mudar drasticamente. O asfalto, antes rígido, havia assumido uma textura pegajosa e escorregadia, ao encarar o chão Shindong entendeu do que se tratava.

– Isso é... – o recruta começou, mas não conseguiu terminar.

– Sangue. – o outro militar completou.

Shindong engoliu em seco e ergueu o olhar para a barragem no asfalto. O vento soprou novamente e neblina se dissipou, permitindo que o trio enxergasse a real situação. Estando próximo o suficiente, Shindong pôde notar que o bloqueio era feito de corpos – de homens e mulheres, deitados uns sobre os outros – dos quais o sangue originava-se. Fechou os olhos por alguns segundos e respirou fundo, aquilo era extremamente medonho e doentio, as coisas estavam chegando longe demais. Voltou a abri-los momentos depois para flagrar o rosto de uma criança amontoado no meio dos cadáveres. O rosto pálido e as pálpebras fechadas passavam a impressão de que o jovem estava dormindo, o eterno e misterioso sono da humanidade.

– Eles são da Zona Industrial?

– Devem pertencer ao comboio de Bora, conseguiram fugir do ataque, mas havia outros pela frente. – Shindong respondeu, desviando o olhar para a floresta. – A pessoa que ordenou isso, com certeza, não possui coração.

– O que faremos?

– Desvie pelo acostamento. – instruiu por fim. – Não podemos passar sobre eles.

– Mas senhor...

– Obedeça. – rosnou seriamente.

O militar assentiu e então retornou para a cabine. Antes de entrar no blindado, Shindong agachou-se e tocou o asfalto umedecido, sabia que nada adiantaria lamentar a morte de desconhecidos, mas mesmo assim o fez, acalentando a raiva em seu coração. O som de passos aumentou e um toque singelo atingiu seu ombro, ele ergueu o olhar e encontrou o recruta parado logo atrás.

– Sei que não é educado interromper. – sua voz saiu grave. – Mas precisamos seguir viagem.

Shindong assentiu e então levantou, o vento soprou mais uma vez, chacoalhando as folhas das árvores. Ele sabia que era desumano abandonar aqueles corpos, mas a situação o obrigava a fazê-lo. Com um aperto no coração e o sentimento de culpa, o combatente fechou a porta lateral do blindado, permitindo que a viagem retornasse.

– E então? O que encontraram? – Bora questionou, sentindo o carro chacoalhar de maneira agressiva.

– Nada que seus olhos mereçam ver. – Shindong retrucou com pesar.

A partir dali, o trajeto seguiria tranquilo e sem surpresas na estrada, a última parada do grupo de resgate seria a Zona Agricultora. A inumana decidiu não insistir, seja lá o que tenha acontecido, fora impactante o suficiente para abalar o melhor agente da Zona Industrial.


Notas Finais


E ai? O que acharam?
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