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História Além das Quadras - Desista.


Escrita por: MarcelineA

Notas do Autor


Olá amoras! Como cês tão?
Está aqui mais um capítulo como prometido!
Fiquei um pouco chateada no capítulo anterior, pois alguns leitores não deram o ar da graça... Espero que não tenha desistido da história!
Esse capítulo é um jogo, então, se tiverem duvida com relação à alguma coisa, só me perguntarem nos comentários!
Espero que gostem
Ghost Kisses
~Marceline

Capítulo 6 - Desista.


Fanfic / Fanfiction Além das Quadras - Desista.

Setembro de 2011

O grande dia havia chegado, era de se esperar que Henry estivesse quase colocando as tripas para fora.

Henry sentia-se ansioso, mas de um modo completamente diferente. Não se lembrava de nenhuma situação em que se sentiu daquele modo, então estava em um conflito interno para decidir se isso era bom ou ruim. Não estava tão nervoso quanto no dia em que foi fazer a prova para o Colégio Militar, muito menos como estava no seu primeiro dia na semana de adaptação do colégio.

Era uma pressão diferente. Sentia o coração acelerado a ponto de senti-lo pulsar em seus ouvidos, mas sua respiração ainda estava no nível de normalidade e não suava frio, como geralmente acontecia. Talvez estivesse assim pela presença de Erick. Henry gostava de pensar que não teria uma crise caso o melhor amigo estivesse ao seu lado.

Porém ele não estava exatamente ao lado de Henry. Via que o outro estava mais animado que ansioso, sorrindo para todos ao seu redor e perto dos seus colegas de time, incentivando-os e tentando ao máximo colocá-los para cima. Nada muito diferente do normal. Henry tentava não se incomodar com o fato de Erick não estar lhe dando atenção exclusiva. Afinal, os outros meninos também estavam muito nervosos.

Enfrentariam o time infantil de Argos Belo Horizonte Clube. Provavelmente era o primeiro jogo do outro time também, mas isso não deixava Henry mais animado. Por mais que tivesse passado um ano treinando no Arsenal Esporte Clube, ele tinha ciência de que não jogava bem. Tanto que ele nem era um dos titulares. Não conseguia atacar direito, muito menos levantar. O máximo que fazia razoavelmente bem era se jogar no chão para tentar pegar a bola, o que muitas vezes não dava muito certo. Provavelmente nem iria jogar, então não tinha motivos para ficar tão nervoso como estava.

Sentia-se feliz também. Feliz por Erick, que jogaria seu primeiro jogo de vôlei e ainda por cima era um dos titulares, um dos melhores jogadores do time, para falar a verdade. Gostava da ideia de não ser o centro das atenções pelo menos uma vez. E sentia-se agradecido por Erick não ligar para o que os outros falavam.

A verdade era que Henry se incomodava absurdamente quando o comparavam com Erick. Eram tão diferentes, mas parecia que tudo o que ele fazia, Erick era obrigado a fazer também. Odiava isso.

Lembrava-se da mãe de Erick falando que ele poderia ter ido melhor na prova de adaptação, que poderia não ter tirado nota baixa em matemática. Lembrava-se de ela dizer que ele podia ter isso bem “assim como Henry”. Lembrava-se de como Nathália repreendeu Erick quando este ficou de recuperação em português no primeiro ano deles, dizendo que ele poderia ser como Henry. Lembrava-se também de todas as vezes que fora elogiado por aprender algo mais rápido que Erick. Era sempre assim.

Mas Erick nunca pareceu se importar de fato. Ficava até feliz pelo amigo ser capaz de fazer tantas coisas e não sentia inveja ou qualquer outra coisa parecida. Então ficara feliz quando descobriu que não era tão bom no vôlei, mas que Erick tinha potencial para tal. Era a vez dele de ficar à sombra de Erick e isso o deixava confortável, por incrível que pareça.

Você está bem, chuchu? – perguntou Nathália, sentando-se ao seu lado no banco, a pele morena contrastando com seu sorriso branco. Henry sempre achou engraçado o modo como Nathy lhe tratava e até gostava.

Sim – ele respondeu – Digo, na medida do possível.

Não se preocupe com nada disso – ela disse, acariciando os cabelos curtos de Henry, que, por sua vez, inclinou-se para apreciar o toque. – Não está valendo nada, é apenas uma competição amistosa.

Eu sei... E como provavelmente não vou entrar, não devo ter uma crise. – ele falou, dando de ombros.

Não diga isso, aposto que Erick gostaria que você entrasse.

Eu sei que gostaria – ele afirmou, convicto – Mas eu não quero estragar tudo. Esse é o momento dele, não meu.

Os olhos verdes de Nathy lhe avaliaram por alguns segundos. Então ela olhou para onde Erick estava com os outros meninos titulares da equipe. Henry se permitiu olhá-lo também, vendo o sorriso no rosto do amigo, um sorriso radiante e infantil. Sorriu também.

Você não sente inveja dele por ser titular? – Nathy perguntou.

Henry a olhou com o cenho franzido.

Por que sentiria? Era o desejo dele, não era? Eu só entrei nessa para ajudá-lo – respondeu Henry – E não tem motivos para ter inveja do meu melhor amigo. Ele é bom no que faz e eu fico feliz com isso.

Nathália pareceu um pouco surpresa com a declaração de Henry. Mas não era nada além da verdade. Erick sempre foi o mais atlético e forte fisicamente falando. Henry sempre foi o mais inteligente e forte emocionalmente falando. Eles se completavam de maneiras diferentes. Apoiavam-se de modo a dar certo a amizade.

Bom, se você diz... – ela comentou e levantou-se. Henry levantou-se também para abraçá-la. – Mesmo que não jogue, boa sorte, chuchu. Vocês vão arrasar!

Obrigado, Nathy. – disse Henry, sorrindo enquanto apertava a cintura da garota.

O jogo estava prestes a começar. O treinador chamou os titulares para perto do banco em que os reservas já estavam e lhes disse algumas palavras de incentivo.

Tomem suas posições. – ordenou o treinador.

Henry estava olhando para baixo quando, de repente, foi puxado pelo pulso e esmagado contra um corpo quente e com um cheiro familiar. Realmente não tinha inveja das habilidades de Erick, mas uma coisa que o irritava era o fato do outro estar ficando bem maior que ele próprio. Erick era mais novo que Henry! Ele não podia ser maior!

Me deseje sorte – Erick pediu, se afastando de Henry com um sorriso. Henry sorriu também e lhe deu um soquinho no ombro.

Você é o melhor, não precisa de sorte – comentou Henry.

Você acha mesmo? – perguntou Erick, os olhos brilhando em expectativa. Henry riu, o nervosismo se dissipando.

Mas é claro! Vai lá e seja o herói da partida.

Erick sorriu mais largo e com mais confiança. A aprovação de Henry era tudo o que Erick mais desejava. Sentia-se extremamente confortável e relaxado quando ouvia do amigo palavras de incentivo e de apoio. A opinião de Henry era tudo.

Erick, vamos! – chamou o treinador.

Faça pontos por mim! – falou Henry, praticamente gritando. Erick virou-se de costas e piscou para ele enquanto fazia um sinal positivo com o dedo.

Erick entrou e se posicionou no fundo da quadra, de onde iria sacar. Tinham ganhado no cara ou coroa para decidir quem ficaria com a bola, então ele seria o primeiro a sacar. Girou a bola algumas vezes na mão e, quando ouviu o apito, deu um soco por debaixo dela, fazendo-a passar para o outro lado da quadra.

De maneira desajeitada, o outro time passou a bola de volta. O time de Erick fez os três toques necessários, finalizando com uma cortada não muito forte de um dos jogadores da zona de ataque, mas que foi suficiente para marcarem o ponto. Comemoraram por alguns segundos e Erick voltou para o saque, colocando a bola em jogo novamente.

O jogo prosseguiu assim, meio desajeitado, mas até que conseguindo manter um ritmo bom para crianças de 11 a 13 anos. O placar estava 3 a 1 quando a bola veio na direção de Erick e ele tentou pegá-la com manchete, mas acabou fazendo-a sair da quadra.

Droga – ele resmungou, mas sorriu mesmo assim – Me desculpa, gente!

Ele sabia que não era tão bom na recepção, então sempre se desculpava quando errava. Empenhava-se ao máximo para fazê-la bem, mas sua habilidade maior mesmo era no fundamento de toque. Claro, queria ser levantador, não poderia ser diferente.

O apito soou pelo ginásio, marcando o encerramento do primeiro set do jogo. Eles tinham perdido, mas Erick ainda mantinha a áurea animada de quem não iria desistir. A última coisa que ele queria era desistir. Tinha um pouco da questão competitiva, já que os dois times eram praticamente inimigos. A rivalidade entre os times, principalmente do time de adolescentes, era absurda.

Não se preocupe, gente – disse Erick quando se reuniram perto do banco. – Nós vamos ganhar o próximo set! Vocês vão ver.

Henry apareceu ao lado de Erick, lhe entregando uma garrafa de água. Erick sorriu abertamente para o amigo e agradeceu pela gentileza.

Tente manter as pernas mais afastadas para receber de manchete – comentou Henry. Erick o viu passando o dedão na própria língua e logo em seguida o sentiu esfregar em sua bochecha – Estava sujo.

Obrigado – agradeceu Erick, tomando mais um gole de água – Pernas mais afastadas?

Sim, e flexiona mais os joelhos, assim você consegue pegar se a bola for mais baixa.

Você sabe que eu não sou muito bom em manchete – disse Erick, torcendo os lábios.

Vai melhorar, não se preocupe – Henry deu tapinhas no ombro de Erick, que se sentiu extremamente reconfortado por aquilo.

Ei, cara – chamou Erick. Henry, que tinha se virado para voltar para o banco, virou-se novamente para Erick – Você está bem, né? Digo, sem crise nem nada.

Henry piscou algumas vezes, o rosto sem expressão.

Sim, estou bem.

Erick sentiu-se aliviado. Estava um pouco preocupado com Henry, mas não teve muito tempo para acalmá-lo. O time que iria jogar estava precisando de um incentivo e ele não podia negar isso a eles, ainda mais quando era o único a estar tranquilo. Sentiu-se um pouco culpado por não ter ficado com Henry antes do jogo, então ficou aliviado em saber que o outro estava conseguindo se manter estável.

O intervalo de dois minutos acabou e eles voltaram para a quadra, Erick esperava que tivesse conseguido motivá-los. Mas as caras dos seus companheiros de equipe não estavam muito boas.

Ei, gente! – gritou Erick – Vamos arrasar! Concentração!

O jogo começou com o saque do time adversário. Eles conseguiram colocar a bola em jogo com uma recepção de Erick e conseguiram marcar o primeiro ponto.

Isso!!! – comemoraram, se juntando no centro da quadra.

Ponto a ponto, eles foram conseguindo uma vantagem sobre o Argos. O jogo estava indo bem apesar dos erros bobos. Várias vezes acontecia de deixarem a bola cair por dois irem atrás dela, acabando que eles recuavam achando que o outro ia pegar, e infelizmente perdiam o ponto. Houve vários erros de saque, alguns por falta de atençãomesmo, mas o outro time também cometia os mesmos erros.

A única diferença era que eles não tinham um Erick para animá-los quando eles estavam na pior. Erick elogiava sempre que marcavam pontos. Parabenizava os meninos sempre que faziam uma jogada boa e sempre dizia “Na próxima eu sei que você consegue” toda vez que algum erro era cometido. Ele gritava animado e isso trazia um novo ar para o time do Arsenal.

Enquanto isso, no banco, Henry estava a ponto de explodir, mas, graças a Deus, não de ansiedade. Ele estava animado com a ideia de que pudessem ganhar. Mesmo não jogando, ele sentia a energia positiva e boa que vinha do jogo, principalmente de Erick, que era quem mais tentava animar os outros. Henry sentia um conforto no coração muito agradável.

E foi assim que decidiu que ajudaria e estaria com Erick no vôlei de todas as formas que ele conseguisse.

Finalmente, depois de alguns minutos de batalha, eles conseguiram fechar o segundo set com sucesso. Erick estava simplesmente radiante com aquilo. Eles se reuniram novamente perto do banco, Henry foi logo dar um abraço apertado em Erick.

Ei, ainda não ganhamos – falou Erick rindo, segurando o amigo pelas costas. – E eu estou todo suado.

Eu sei, mas nós temos a chance de ganhar! – exclamou Henry, animado, e aquilo aqueceu ainda mais o coração de Erick. – E eu não me importo com o suor.

Era um pouco difícil deixar Henry animado com alguma coisa, a não ser que essa coisa fosse relacionada a jogos eletrônicos. Erick gostou de ver o sorriso animado no rosto de Henry. Sentiu-se bem quando o outro lhe abraçou e disse que poderiam ganhar. Aquilo renovou as energias de Erick completamente.

Por ser uma competição amistosa e infantil, o jogo seria apenas com no máximo três set e agora que eles tinham ganhado, iriam para o tie-break, que iria apenas até 15 pontos. A equipe que chegasse a esse número primeiro ganhava.

Após receber tapinhas animados de Henry e um último abraço, Erick voltou para a quadra quando o juiz deu permissão para o início do terceiro set. O jogo começou, Erick fazendo o primeiro saque novamente.

O jogo prosseguiu um pouco acirrado. Assim que o Arsenal pontuava, o time do Argos devolvia o ponto. Quando o Arsenal finalmente conseguiu dois pontos de diferença, aconteceu o que não deveria ter acontecido naquele momento.

Meu Deus! – disse Erick alarmado correndo até os seus amigos.

Uma bola, que vinha muito alta, fez com que dois dos jogadores do time do Arsenal colidissem. O jogo foi parado e uma rodinha se formou ao redor dos dois, que estavam caídos no chão. Um deles estava com o nariz sangrando, ao passo que o outro tinha aberto o supercílio com a pancada.

Algumas pessoas da equipe de primeiros socorros vieram ver o que tinha acontecido e ajudar os dois. Levantaram os dois garotos do chão e os colocaram sentados no banco, onde os reservas estavam. Após limpar todo o sangue e aplicar um curativo, uma das mulheres disse que não era recomendado que eles voltassem ao jogo, principalmente o garoto que tinha machucado o nariz.

Tsc... – o treinador estalou a língua no céu da boca – Eles vão ficar bem, certo?

Sim, foi só uma pancada – respondeu a mulher – Mas para não voltar a sangrar, é melhor eles serem substituídos.

O treinador olhou para o banco rapidamente, avaliando suas opções.

Paulo, Henrique. Para a quadra – ordenou ele apontando para os dois e depois para a quadra.

Henry demorou alguns segundos para perceber que estava falando dele. Ele piscou algumas vezes e seu coração acelerou tão rápido que ele achou que fosse escapar de seu peito. Balançou freneticamente a cabeça.

Não, não – ele negou, colocando as mãos na frente do peito, como se impedisse alguém de se aproximar dele. – Não, não eu não posso.

Claro que pode – disse o treinador, empurrando-o para a quadra. – Estamos perdendo tempo, anda.

Henry lutava um pouco contra o treinador, mas é claro que não adiantou muita coisa. Logo ele estava na quadra, o mais distante possível de Erick, que lhe olhava preocupado. Percebendo que Henry lhe olhava, Erick lançou um sorriso encorajador para o amigo. Henry assentiu e respirou fundo, tentando ao máximo manter-se calmo.

Vai dar tudo certo. Vai dar tudo certo. Vai dar tudo certo”, ele repetia para si mesmo como se fosse um mantra.

Tentou manter-se focado no jogo. Olhava para os jogadores do time adversário, prestando atenção em seus movimentos para manter a mente ocupada e não surtar. O saque foi do time adversário e, para o alívio de Henry, ele não precisou encostar na bola. Porém, quando ela voltou para seu time, ele teve que se movimentar. Colocou os braços a frente do corpo em uma manchete e foi em direção à bola.

Decepcionou-se amargamente quando ela passou ao seu lado, marcando ponto para o time adversário.

Henry engoliu em seco, passando as mãos nos shorts freneticamente. A sensação de que estava sendo observado por dezenas de pessoas caiu sobre ele. Levantou o olhar para visualizar a multidão, mas o que viu foi o rosto de Erick, os olhos um pouco arregalados, mas um sorriso no rosto. Ele colocou as mãos nos ombros de Henry e os apertou. Henry logo relaxou com o toque.

Não se preocupe, cara – ele disse, sorridente – Você vai conseguir da próxima vez.

Henry assentiu, mordendo o lábio inferior, e voltaram para a partida. Conseguiram marcar dois pontos depois de uma breve luta. Henry percebia que, desde que fora para a zona de ataque, os outros evitavam passar a bola para ele. Ele deixou alguns pontos serem feitos para o time adversário, mas Erick sempre estava lá para ele não se sentir uma merda.

Até ir para a posição de levantador.

Os outros eram obrigados a tentar ao máximo jogar a bola para o levantador, querendo ou não. E assim, seguiu uma sequência de erros que fez com que Henry começasse a querer chorar. Tinha deixado a bola cair em sua cara quando foi executar o toque, tinha deixado a bola escorregar pelos dedos, tinha jogado longe demais, tinha jogado curta demais. Tinha feito tudo errado.

Então o time adversário conseguiu ultrapassá-los apenas com os erros de Henry.

Ele desejava intensamente que fizessem o ponto para que fizessem o rodízio, mas aquilo parecia impossível naquele momento. A cada erro seu coração acelerava, suas mãos suavam.

Mas foi apenas olhar para Erick que seu mundo desabou.

O outro tentava incentivá-lo, mas a tristeza em sua voz e seu semblante preocupado foram suficientes para a mente de Henry começar a metralhá-lo com questionamentos nada saudáveis.

Ele confiou em você. Por que você o decepcionou?”

Por que ainda tenta? Você nunca vai conseguir chegar nem ao razoável!”

As pessoas estão te olhando. Você sabe que elas estão pensando o quão ruim você é.”

Desista logo e poupe Erick de passar vergonha. Você já o decepcionou de qualquer forma.”

Não... – ele sussurrou. O coração mais acelerado do que nunca, a respiração começando a falhar – Não...

Tá tudo bem? – perguntou o colega ao lado.

O ar saiu dos pulmões de Henry e ele tentou recapturá-lo, falhando miseravelmente. As coisas ainda rondavam em sua cabeça e ele tampou as orelhas, como se isso fosse fazê-las parar.

Não, não. – ele resmungou, agachando-se e começando a chorar, o desespero tomando conta de si.

O que vai ser de você se perder Erick?”

Com certeza ele vai te odiar depois de perderem por sua causa.”

Se ele te odiar, é tudo culpa sua, você sabe disso”

Ele suava frio e tentava recuperar o ar. O coração estava absurdamente apertado, assim como os punhos em suas orelhas. Ele ora mordia o lábio inferior com força, ora tentava recuperar o ar perdido. O sabor de sangue foi inevitável naquele momento. Ele não conseguia ouvir nada a sua volta, apenas seus pensamentos depreciativos.

Em algum momento, Henry tinha sentado no chão e colocado o rosto entre os joelhos, chorando copiosamente e com os punhos ainda cerrados em suas orelhas. Não conseguia respirar, não conseguia ouvir nada, não conseguia parar de chorar. Henry queria apenas se trancar em seu quarto e nunca mais sair de lá.

Demorou alguns minutos para Erick absorver o que estava acontecendo. Estava focado demais no jogo para perceber que seu melhor amigo estava tendo um ataque no meio do jogo. Ele só se deu conta do que estava acontecendo quando o jogo parou subitamente. Olhou para trás com o cenho franzido e teve seu coração pulando do peito quando viu Henry sentado no chão, chorando.

Erick correu até ele o mais rápido que pode, tirando as pessoas de sua frente e falando para todos se afastarem dele, que não era para ninguém tocar nele.

SAIAM! – ele gritou desesperado. Aquilo pareceu espantar as pessoas a ponto de elas recuarem e ele poder se agachar a frente de Henry.

Tirou os punhos cerrados das orelhas de Henry, recebendo um pouco de resistência, mas conseguindo afastá-las. Depois ergueu o rosto do amigo com as duas mãos, vendo as lágrimas descendo pelas bochechas brancas. Erick quase desmaiou quando viu o sangue nos lábios de Henry. Sangue era uma coisa que ele não se dava muito bem, mas aguentou firme, tentando ao máximo focar nos olhos castanhos de Henry.

Henry, Henry – ele sussurrou com calma. Iria tentar algo que nunca tinha feito antes, mas que talvez pudesse ajudar – Vamos lá, me responda. Raiz quadrada de 16.

Quatro.

Um animal que vive na água, mas não é peixe.

Golfinho.

Quarenta e sete menos dezenove.

Vinte e oito.

À medida que Erick fazia perguntas de ciências e dizia problemas de matemática, Henry foi se tranquilizando, seu cérebro mais preocupado em responder do que com o que estava pensando antes. Além disso, a voz de Erick lhe relaxava a sua maneira. Era um conjunto perfeito para acalmar uma crise de ansiedade de Henry.

Tinha sido a primeira vez que Erick tinha feito isso com Henry. Ele nem sequer pensou muito antes de responder, muito menos perguntou por que Erick estava fazendo aquilo. Apenas respondia. E isso acabou lhe acalmando. Tinha parado de chorar e o ar passava pelos seus pulmões finalmente.

O sorriso de Erick foi o que lhe deixou mais calmo. Conhecia o sorriso sincero do amigo, então soube que estava tudo bem, que Erick não o odiava. Uma onda de alívio se instalou no peito de Henry e ele se deixou ser levantado por Erick.

[…]

Por que está com essa cara? – perguntou Erick pela terceira vez naquela noite.

Não é nada, eu já disse.

Eu te conheço, Henry – sentenciou Erick, franzindo o cenho – Aconteceu alguma coisa. Pode falar.

Henry franziu os lábios e apertou as mãos sobre o colo. Depois do jogo, tinham ido para a casa de Henry comer pizza. Os meninos estavam no quarto de Henry enquanto os adultos e Nathália estavam na sala.

Eu sei que perdemos por minha causa – disse Henry, deixando a tristeza tomar conta de seu semblante.

O que? Não! – exclamou Erick. Estavam sentados um de frente para o outro – Nós perdemos por que eles eram melhores, apenas isso.

Henry revirou os olhos.

Você acha que eu não vi que você me olhava de minuto em minuto? – esclareceu Henry – Eu vi! Eu sei que você estava extremamente preocupado comigo durante o jogo, mas não podia fazer nada. Então ficava me olhando para ver se eu não surtava de novo.

Mas isso era óbvio! Não queria que você tivesse uma crise de novo.

Mas isso fez você se desconcentrar do jogo... – Henry parecia cansado. Ele suspirou e deixou a coluna se curvar para frente – Eu estou me sentindo péssimo por isso.

Ei, não se sinta assim – disse Erick, chegando perto de Henry e colocando ambas as mãos em seus ombros – Não foi sua culpa.

Eu sinto que foi... Você parecia tão triste quando começamos a perder o set desde que eu entrei e...

Não fale mais nada! – exclamou Erick o empurrando sobre as almofadas. – É normal ficar triste! Mas eu não te culpo por isso. Acontece, Henry.

Você não está chateado comigo? – perguntou Henry com o rosto ainda franzido em tristeza. Erick estalou a língua no céu da boca.

Óbvio que não. – ele respondeu revirando os olhos.

Henry assentiu, ainda se sentindo um pouco mal. Então o silêncio caiu sobre eles por alguns segundos. Mas silêncios nunca eram tão longos, não quando se tratava de Erick.

Só me prometa que vamos treinar muito e que vamos vencê-los da próxima vez. – disse Erick, ficando animado com a ideia. – Vou ser o melhor levantador e você será o melhor atacante! Nunca vamos desistir, certo?

Henry riu com a empolgação característica e ficou feliz, essa atitude mostrava que Erick realmente não o culpava pela derrota.

Sim, nunca desistir – repetiu Henry, sorrindo e apertando a mão de Erick.

 

* * *

Atualmente – 22 de julho de 2016

Henry estaria tranquilo, na medida do possível, se não estivesse naquela situação.

Tinham chegado à final. Estavam super felizes por terem conseguido isso, já que, nos últimos anos, o time de vôlei era um dos times mais fracos do CMBH. Estavam animados também com o fato de terem ganhado várias provas no atletismo, e Henry estava especialmente contente por ter ganhado o biathlon. Foi uma verdadeira surpresa aquela medalha, e ele estava sendo bem paparicado pela delegação de BH por conta disso.

Henry já imaginava que os jogos ficariam mais difíceis a medida em que avançassem, mas aquilo estava sendo grotesco. Tinham assistido ao jogo que, quem fosse o ganhador, seriam seus adversários na final. Porém, aquele placar de 25x10 no último set foi ridículo de absurdo. O time do CMRJ tinha atropelado lindamente o time de Recife e aquilo deixou Henry sem ter o que pensar.

Ele não sabia o que mais lhe assustava: o fato de jogar contra um time fortíssimo, o modo como aqueles jogadores tinham uma sincronia incrível ou a presença de Erick no time. Sabia que ele era considerado um monstro no levantamento, mas Henry nunca soube que a galera não exagerava. Erick tinha uma brutalidade palpável na hora de jogar, parecia que jogava com raiva, e Henry viu várias vezes ele gritando com seus colegas quando eles erravam.

Aquilo o assustou, pois não sabia que o amigo tinha se transformado naquilo.

Sem contar toda a relação que eles estavam tendo agora. Aquilo deixava Henry com os pensamentos a mil e, depois de tudo o que aconteceu, estava mais tempo tentando manter-se calmo do que qualquer outra coisa. A quase crise que teve em seu primeiro jogo o deixou extremamente tenso.

Estavam, naquele momento, a poucas horas da grande final. A agitação era inevitável, principalmente por terem a tão esperada festa no final da noite, na qual poderiam relaxar um pouco para, no dia seguinte, voltarem para seus respectivos estados.

Tinham treinado um pouco na parte da manhã. Depois assistiram à final do handebol, onde foram campeões e depois foram se preparar para o jogo que seria à tarde. A ideia era ficarem todos juntos, mas alguns membros da equipe simplesmente desapareceram, a maioria era reserva, mas Henry estava preocupado mesmo era com a ausência de Vinícius.

– Você já ligou para ele? – perguntou Chris para Rick, uma vez que este tinha o celular na mão.

– Já, mas cai na caixa postal.

– Ele não pode simplesmen... – começou Chris, mas foi interrompido por um grito familiar atrás deles.

Vinícius vinha correndo em direção ao time, porém, ele não estava com o uniforme que deveria estar usando, muito pelo contrário.

– Que porra é essa? – ralhou Luiz, olhando para o uniforme de basquete que o outro usava.

– Eu sinto muito, galera – disse Vinícius com rapidez – Mas o time de basquete também chegou a final. Ela também é agora, então eu...

– Você vai abandonar a gente? É isso mesmo? – exclamou Caio, incrédulo.

– Mil desculpas, galera, mas vocês sabem que basquete pra mim é mais importante – desculpou-se o outro, mas não parecia tão culpado assim. – Eu sinto muito.

O time ficou alguns segundos em silêncio. Rick não tinha se manifestado, mas era óbvio que ele estava ficando com raiva daquela situação. Henry sabia o que chegar a final do basquete significava para Vinícius. Ele tinha entrado para o time por insistência de Rick, que o viu jogando em uma aula de educação física e achou que tinha potencial para a coisa.

– Eu não vou poder acompanhar vocês – comunicou ele, após uns minutos de silêncio totalmente desconfortável – Eu sou o ala armador e não posso deixar de jogar. Se fosse outro horário com certeza eu jogaria, mas...

Todos ficaram calados, encarando Vinícius.

– Eu tenho que ir... – falou calmamente, porém Henry viu que ele estava desconfortável com a situação – Eu sinto muito mesmo. Espero que ganhem. Bom jogo.

Então saiu correndo novamente em direção à arquibancada que dava para o portão do ginásio. O time ficou em silêncio. Henry tentava manter-se calmo, desfazendo e refazendo o cubo mágico sem olhá-lo, encarando seus colegas de equipe.

– Eu vou matar aquele desgraçado! – gritou Caio, os punhos cerrados ao lado do corpo.

– Caio, calma, nós... – começou Rick, mas foi interrompido por um Caio extremamente puto.

– Calma? Essa era a porra da chance de ganharmos daqueles merdinhas! – exclamou ele, não se importando se alguém do Rio poderia ouvir. O time do CMRJ ainda não tinha chegado ao ginásio, mas alguns torcedores sim. – Aquele desgraçado vai se fuder. Eu vou matá-lo!

– Você não vai matar ninguém – disse Chris, sério – Nós vamos dar um jeito. Temos nossos reservas.

– E daí? Você sabe que Vinícius era bom! Nós precisamos dele! Ele não pode ter feito isso com a gente...

Rick chegou perto de Chris, falando alguma coisa em seu ouvido e o outro apenas assentiu, indo até Caio e tentando acalmá-lo.

– Você! – exclamou Rick de repente, virando-se para Henry e apontando para o líbero. Henry arregalou os olhos um pouco com a ação repentina. – Você vai jogar como ponta.

– O que? Não mesmo – falou Henry, franzindo o cenho e recuando um pouco – Coloque um dos reservas. Eu não posso jogar como ponta.

– Vamos colocar um reserva, mas vai ser no seu lugar – esclareceu Rick, convicto – Nós treinamos isso, Henry.

– Aquilo foi apenas zoeira! Você não pode estar falando sério.

Os outros do time mantinham-se calados, exceto Chris, que ainda tentava acalmar Caio, o qual estava amaldiçoando até a quinta geração da família de Vinícius. Os reservas tinham chegado para o jogo há um tempo e eles só precisavam que Henry aceitasse a mudança de posição para montarem uma nova estratégia.

– Henry, você tem um saque flutuante incrível. Você sabe explorar o bloqueio mesmo que não seja tão alto para cravar a bola no chão. E você é nosso líbero! Quem ensinou aos nossos pontas sobre defesa? Você! Um ponta precisa manjar de defesa também e você sabe disso.

Henry sabia que os argumentos de Ricardo eram bem convincentes. Sabia daquilo tudo. Tinha ciência de que era a melhor opção para entrar no lugar de Vinícius, pois estava mais sincronizado com o time titular do que qualquer um dos reservas. Eles estavam preferindo sacrificar um pouco a defesa, colocando um reserva como líbero, do que abrir mão dos ataques.

– Eu não me preparei para isso! Eu vou estragar tudo e... – ele começou a pensar nas inúmeras merdas que aquilo poderia acarretar. Não foi surpresa para ele quando começou a suar frio e ofegar.

Henry não ouviu mais nada que os outros falavam, apenas escutou Rick chamando por Chris, e logo em seguida mãos grandes e familiares pousarem em seus ombros e o direcionaram para fora dali.

Ele pensava em tudo o que poderia dar errado com aquela mudança e as coisas que passavam por sua cabeça não eram nada boas. Queria não sofrer de ansiedade. Queria não ter essas crises, mas era parte do que Henry era e do que ele sempre foi. Nada mudaria aquilo.

O campo de visão de Henry foi tomado pela figura de Chris. As mãos quentes do central estavam em ambos os lados de seu rosto e Henry não entendia muito bem o que Chris dizia, então tentou ao máximo focar nos olhos castanhos a sua frente. Aos poucos, as palavras foram ficando mais audíveis.

– Está tudo bem, okay? Nós confiamos em você – dizia Chris. Só naquele momento percebeu que estavam no vestiário do ginásio, aparentemente sozinhos – Vai dar tudo certo, entendeu? Eu sei que você consegue.

Os lábios de Chris tomaram os de Henry em um beijo calmo. Henry sentiu-se relaxar à medida que os lábios de mexiam, sem usar língua, sem nenhum tipo de malícia. Era um beijo apaixonado que só Chris sabia dar. Um beijo que transmitia toda a tranquilidade que ele possuía. Aquilo foi o suficiente para Henry ficar calmo. Os beijos de Chris sempre o acalmavam.

Porém, isso logo passou quando olhou para o lado, vendo um Erick plantado ali, olhando para a cena com um olhar chocado, que passou rapidamente para irritado e depois furioso. Um garoto tão alto quanto Erick estava ao seu lado, olhando para a cena com uma cara esquisita.

A raiva clara que Erick sentia deu medo em Henry. Ele nunca sentiu um pingo desse sentimento por Erick e aquilo lhe assustava. Estava com medo da pessoa que foi o seu melhor amigo a vida inteira e o seu amor durante muito tempo. Isso não poderia ser bom, muito menos saudável.

O que mais alarmou Henry foi o outro não ter falado nada. Apenas o encarava com uma fúria enorme, como se fosse avançar em Henry e enchê-lo de socos e chutes. Mas Erick não o fez. Apenas pegou o pulso do cara alto e loiro e saiu do vestiário batendo os pés, a mão firme no braço do outro.

[...]

Erick desejava qualquer coisa, menos ter que enfrentar Henry naquele momento. Por mais que estivesse em um conflito interno quase insuportável, no fundo ele não queria causar outra crise em Henry. Não queria ver o garoto sendo amparado por aquele central. Não queria ter que jogar contra ele.

Mas não podia fazer nada e não desistiria do jogo, mesmo que não tivessem tido muita dificuldade para chegarem à final. Erick teria que lidar com o fato de que enfrentaria Henry. Uma parte sua queria massacrá-lo, queria humilhá-lo por que tudo era culpa de Henry. Mas outra dizia que aquilo não era a melhor saída e que ele teria que enfrentá-lo sem outras intenções.

Caminharam até o ginásio onde ocorreria o jogo com calma, discutindo estratégias que poderiam usar. Erick estava quieto na sua, conversando com Amanda pelo WhatsApp. Danilo estava ao seu lado, mas, desde o surto que ele teve, os dois não conversavam direito. Dan parecia receoso em chegar perto de Erick, mas ele não se importava de qualquer forma.

A primeira coisa que fez quando chegou ao portão da arquibancada, foi olhar para o time de Belo Horizonte, procurando Henry inconscientemente. Franziu o cenho quando não encontrou Henry em lugar nenhum e depois reparou que Christian também não estava lá. Erick tentou não pensar que os dois poderiam estar se agarrando em qualquer canto, então desceu as arquibancadas.

Quanto mais perto chegava da quadra, mais notava como o outro time parecia apreensivo. Isso era bom para sua equipe. Quanto mais nervosos os outros estivessem, mais pressão poderiam colocar neles para que perdessem.

Eles se aproximaram do banco reservado para o time e Erick deixou a bolsa em qualquer lugar dizendo que ia ao banheiro. Danilo disse que iria com ele, mas não disse mais nenhuma palavra enquanto caminhavam em direção ao vestiário. O clima estava estranho entre eles, mas isso não o incomodava, ao passo que estava incomodando Danilo, pois este toda hora estalava os dedos ou os retorcia entre as mãos.

Erick se arrependeu de ter ido ao banheiro naquele momento.

No fundo, desejava que Danilo tivesse visto coisas alguns dias atrás e que Henry não estava de caso com o central. Porém, tinha acabado de ver pessoalmente a cena dos dois se beijando, Henry claramente no início de uma crise de ansiedade.

Então era assim que Henry tinha se virado sem Erick?

Erick sentiu-se traído. Sentiu-se jogado de lado. Sentiu-se um pedaço de merda. Mas logo a voz relembrando os acontecimentos dos últimos tempos inundaram sua mente e Erick sentiu raiva. Uma raiva tão grande que poderia quebrar a cara da primeira pessoa que visse pela frente. Erick deixou tudo de lado, começando a desistir de lutar contra aquilo que dizia que Henry era culpado de tudo. Desistindo da esperança de que ele poderia ser, na verdade, sua salvação.

Ele não teve o que dizer. Não tinha forças para falar nada. Queria apenas chorar rios em seu canto, bater em alguém ou beber até desmaiar. Não queria mais ver aquilo. Não queria, não queria, não queria.

Erick pegou o pulso de Danilo e o arrastou para fora dali. Foda-se se ele queria ir ao banheiro! Foda-se se estava apertando o braço do outro com tanta força que o fez reclamar! Foda-se se Henry preferia aquele central idiota a ele! Foda-se, foda-se, foda-se!

Ficou agradecido quando viu que os outros estavam se aquecendo com as bolas de vôlei. Continuou arrastando Danilo pelo pulso até uma das bolas e entregou a ele.

– Bate o mais forte que conseguir – disse com certa raiva. Danilo apenas assentiu, aparentemente com medo de contrariar.

Então começaram a treinar ataque e defesa, Erick levantando para Danilo atacar e vice-versa. Danilo era bem forte, então as pancadas que dava em direção a Erick doíam um pouco, mas aquilo era bom, precisava daquilo. E também não deixou barato, atacando com toda a fúria que tinha.

Sentiu que estava sendo observado, mas não parou de fazer o exercício de aquecimento com Danilo, que até então não disse mais nada. Só pararam quando o time chamou para treinarem os ataques na rede, então Erick posicionou-se próximo a ela, enquanto o time fazia fila para que ele pudesse levantar.

Erick concentrou-se ao máximo. Iria destroçar Henry, custe o que custar.

Henry e Chris tinham voltado para o time, vendo que eles tinham começado o aquecimento. Henry estava totalmente desconfortável, mas focou sua mente em outras coisas que não fossem Erick. Disse a Rick que toparia ser o ponta deles, então, rapidamente, ele lhe estendeu uma blusa vermelha com detalhes verdes.

– Você vai ter que emprestar sua blusa para o Igor... Você sabe, por conta da mudança de posição e tal. Ele te emprestou essa. Deve caber.

Henry apenas assentiu e despiu sua blusa verde com detalhes vermelhos, entregando-a para Rick, que saiu de perto deles indo até Igor, que tentava se acalmar sentado no banco. Henry vestiu a camisa, constatando que ela era um pouco maior do que ele esperava.

– Você fica fofo assim – comentou Chris, baixinho, com um sorriso – Imagino com uma roupa minha.

Henry revirou os olhos.

– Cale a boca. Vamos aquecer.

– Como quiser, Chibi.

As arquibancadas se enchiam de gente que chegava para poder ver o tão famigerado jogo CMBH x CMRJ. O barulho começou a ficar mais intenso quando as torcidas começaram a gritar, incentivando seus respectivos times e até trocando algumas farpas entre si.

Henry tentava arrumar um jeito de não ficar tão esquisito com aquela blusa quando ouviu a voz estridente de Eduarda próxima a ele.

– Eu não estou acreditando que isso está acontecendo! Mas que porra o Vinícius estava pensando em abandonar o time? – ela exclamou completamente enraivecida. Então olhou para Henry e parou por alguns segundos, analisando-o – Você vai entrar no lugar dele.

– Sim? – respondeu Henry um tanto receoso. Eduarda era extremamente competitiva e dava uma de treinadora para cima deles sempre que possível. E às vezes ela podia ser assustadora.

– Não foi uma pergunta. – ela revirou os olhos e olhou para Ricardo – Tem certeza? Henry é baixinho e...

– Eduarda! – repreendeu Henry com certa raiva. – Eu sei que sou baixinho, não precisa jogar na cara.

Ela apenas abanou a mão, ignorando Henry, que revirou os olhos e virou-se para Chris.

– Eu sei o que estou fazendo – disse Rick – Não se preocupe com a gente. Henry sabe das jogadas que planejamos.

– Espero que esteja certo, por que se não estiver – Eduarda apontava para Rick ameaçadoramente – Eu vou matá-lo junto com Vinícius.

Rick riu e afastou o dedo da garota de seu peito. Falou alguma coisa para ela, que revirou os olhos e se afastou dele. Rick aproximou-se de Henry, que o olhou atentamente quando ele disse que queria falar uma coisa a sós.

– Seu saque – murmurou Rick – Use o flutuante só quando eu pedir, por favor. Você vai saber quando formos precisar dele.

Henry franziu o cenho por uns segundos, estranhando completamente o pedido de Rick, mas apenas assentiu.

Erick olhava para o time adversário com raiva. Notou que alguma coisa tinha acontecido quando ouviu o grito da garota que deu em cima dele no ano passado. Passou os olhos pelos jogadores e notou o que tinha de diferente: Henry estava com o uniforme igual a dos outros jogadores e outro cara estava com a camisa de cor diferente que pertencia a Henry.

Ele franziu o cenho. Sabia que Henry era o líbero, então por que diabos ele estava vestindo o uniforme usual?

Chamou seus colegas de equipe para se reunirem e discutirem a respeito do que estava acontecendo com o outro time.

– Parece que o ponta do time largou eles para jogar a final do basquete. – disse Oliveira. – O que pode nos ferrar, por que não sabemos como o reserva deles joga.

Erick abriu um sorriso maléfico, pois sabia muito bem como Henry jogava no ataque. Pelo menos esperava que fosse do mesmo jeito de quando eram mais novos.

– Eu sei – comentou ele, ainda sorrindo, saboreando a ideia de massacrar Henry na rede. – Eles vão colocar o líbero como substituto.

Seus colegas de equipe pareceram realmente surpresos com a informação.

– Mas ele é tão pequeno! Como pode ser atacante com aquela altura? – perguntou Danilo.

– Ai que tá – disse Erick – Ele não consegue cravar as bolas, mas consegue espirrar as bolas no bloqueio muito bem, então o fechem de maneira que elas voltem para a quadra deles se ele atacar.

– E você sabe disso como? – perguntou um dos caras com uma sobrancelha arqueada. Erick revirou os olhos.

– Treinávamos juntos. Ele fazia muito isso por não conseguir cravar. Agora temos que saber como o líbero reserva deles joga.

– Isso vamos ver no jogo. Vamos seguir o plano de Erick. – disse Oliveira e estendeu a mão. – Vamos acabar com eles!

Os outros jogadores juntaram as mãos com a de Oliveira, fizeram o grito de guerra deles e se prepararam para entrar em quadra. Os professores que seriam árbitros já tinham chegado e só faltava as equipes entrarem em quadra e anotarem os números dos jogadores. Os capitães dos dois times se reuniram perto ao árbitro principal e escolheram no cara ou coroa quem começaria com a bola. O time de Henry levou essa vantagem, sendo Rick o primeiro a sacar.

Antes de começarem, os doze jogadores ficaram virados para a mesa de arbitragem, onde um soldado anotava os números deles, para saber se estavam fazendo a rotação correta, anotar as substituições e afins. Com tudo preparado, o apito soou, permitindo que Rick colocasse a bola em jogo.

Henry fazia a análise mental de seus adversários ao mesmo tempo em que se concentrava nas movimentações de seus amigos. Rick sacou a bola depois dos seis segundos contados mentalmente por Henry. A bola atravessou a quadra, sendo pega perfeitamente pelo líbero, que fez um passe perfeito para Erick. Henry viu Erick analisando sua parte da quadra através da rede, decidindo rapidamente para quem seria melhor levantar.

Analisou sua própria quadra, vendo que tinham um buraco na parte esquerda dela, então foi fácil saber que Erick levantaria para o oposto, que ficava naquele lado. Dito e feito, a bola tocou as mãos de Erick com precisão e ele levantou para o oposto. Henry foi mais rápido, conseguindo pegar o ataque forte e passando-o para Ricardo, que levantou uma bola rápida para Chris. Henry sentiu o sorriso vir quando viu que a bola era perfeita para um ataque forte do central. A bola foi tão rápida, que o time adversário nem conseguiu pular para bloqueá-lo.

– ISSOOO! – se reuniram para comemorar o ponto.

Voltaram ao jogo, Rick sacando mais uma vez e Henry tentando prever para onde a bola iria dessa vez. O ponta de trás recepcionou a bola e Erick a levantou para a esquerda de novo, mas dessa vez a bola foi em cima do líbero reserva deles, que não conseguiu pegar a bola direito, fazendo-a espirrar em seus próprios braços estendidos e voar para longe pela lateral.

– Foi mal, gente – disse Igor um tanto constrangido.

Henry foi até ele rapidamente, sorrindo para ele.

– Não se preocupe – tranquilizou-o Henry, batendo no ombro de Igor – Flexione mais os joelhos. Assim consegue pegar melhor as bolas – ele fez o movimento para que Igor pudesse vê-lo. Ele concordou e desculpou-se mais uma vez. – Faz parte, não se preocupe.

Era a vez de Erick sacar. Henry concentrou-se ao máximo nos movimentos dele, mas era difícil, pois se tratava de Erick. O incômodo e desconforto ainda permaneceriam em seu ser até aquela situação toda acabar. O apito soou e Henry começou a contar os segundos enquanto analisava o que Erick fazia. Ele quicava a bola com a mão direita, a que ele sacava, e a aparava com a esquerda para quicá-la novamente. Ele repetiu esse movimento três vezes, girou a bola na mão esquerda três vezes também e a jogou para o alto. Acertou a bola com força quando chegou ao ponto certo, fazendo-a atravessar a quadra em direção a Henry.

Ele conseguiu aparar o saque, mas a bola não chegou certeira nas mãos de Rick, que teve que se esforçar um pouco para colocá-a no ar. Luiz rapidamente avançou, mas teve que passar a bola de manchete, pois não estava boa para ser atacada.

– Bola de graça! – gritou um dos jogadores do Rio.

A bola foi passada para Erick meio desengonçada, mesmo que tenha vindo de graça. Erick ficou com raiva daquilo. Como poderiam passar uma bola daquelas para ele sendo que estava praticamente na mão? Conteve-se. Analisou rapidamente a quadra adversária, vendo o semblante sério de Henry, os dentes de cima mordendo o lábio inferior de lado.

“Culpa de Henry. Culpa de Henry”, a voz confusa dizia insistentemente em sua cabeça. Erick conteve-se para não fazer besteiras, então voltou sua atenção para a quadra do outro lado da rede, analisando algum buraco. Achou-o na direita, perto do líbero reserva. Levantou a bola rapidamente para Danilo, que conseguiu converter o ponto, a bola passando ao lado do jogador adversário.

– Mas que porra de passe foi aquele? – perguntou Erick com raiva. – A bola estava na sua mão! Deveria ter feito uma recepção melhor!

– Ei, cara, foi só um erro, calma lá!

– Você acha que estamos brincando? – cuspiu Erick, deixando a fúria tomar conta – Pois não estamos! Eu quero ganhar essa porcaria mais do que...

– Vamos com calma, Schneider – disse Oliveira, afastando Erick do outro jogador com o braço.

Erick encarou Oliveira por alguns segundos antes de se desvencilhar do braço dele. Tomou sua posição anterior e olhou para o outro time, vendo Henry lhe encarando com uma expressão estranha. Erick devolveu a encarada com seu melhor olhar mortal. Ele estava deixando a raiva tomar conta dele enquanto jogava. Permitia isso, pois achava que era o único jeito de ser forte para encarar as coisas pelas quais estava passando.

E o jogo prosseguiu com certo equilíbrio. O time do Rio fez alguns pontos seguidos, mas o de BH logo recuperou, ficando com o placar praticamente empatado durante muito tempo. Henry praticamente não tocava na bola, exceto no bloqueio, quando ele pulava e suas mãos tocavam levemente nela, amortecendo o ataque, mesmo que não o impedisse. Rick parecia um pouco receoso em mandar para ele, o que Henry achou estranho, já que ele mesmo tinha o colocado naquela posição.

O jogo estava 15x15 quando o time de BH pediu tempo. Eles se reuniram perto do banco, Isabel e Eduarda entregando garrafas de água para eles.

– Temos que montar um ataque mais ofensivo – comentou Duda rapidamente. – Mantovani, Luiz e Caio, vocês têm que cravar a bola e explorar mais o bloqueio. Ricardo, a bola para o Mantovani é mais baixa e rápida, você tem que prestar atenção nisso. Igor, abaixe mais, você nunca vai conseguir pegar bolas atacadas se continuar praticamente em pé. Você tem que manter o corpo flexionado e curvado. É isso aí! Vamos ganhar, gente!

Henry não falou nada por não ter sido mencionado. Preferia acreditar que estava fazendo um bom trabalho cobrindo a zona de defesa quando estava nela. Estava auxiliando Igor o máximo que podia, chegando a pegar bolas que nem iam em sua direção.

– Eduarda... Ela... – comentou Henry para Rick quando estavam voltando para a quadra. – Por que exatamente eu estou no jogo?

– Você é minha arma secreta – disse Rick passando o braço sobre o rosto para tirar o suor. – Continue com as defesas, você vai saber quando eu decidir acioná-lo.

Henry apenas assentiu, não sabendo exatamente o que o capitão planejava. Levantou a barra da camisa, secando o suor que pingava de seu rosto e voltou para sua posição, acompanhado dos outros jogadores.

O jogo recomeçou e com ele, Henry notou como o time de Erick estava mais agressivo. As bolas vinham com mais força e maior velocidade, fazendo-o ter que se deslocar muito mais do que na primeira parte do set. Se jogou inúmeras vezes para pegar algumas bolas, acabando por deixar escapar algumas e até chegou a quase trombar com Igor por terem ido na mesma bola, a qual acabaram perdendo.

No final, o time do Rio conseguiu a melhor, fechando o set com 25x23. Os times se reuniram para o intervalo de 5 minutos entre os sets.

– Você está sangrando – Chris disse com um semblante preocupado chegando perto de Henry, que franziu o cenho.

– O quê? – ele perguntou e olhou para suas pernas, mas elas estavam intactas.

– Aqui – disse Chris levantando seu braço direito e Henry viu o sangue começando a escorrer de seu cotovelo. – Já dissemos para você parar de se jogar e rolar no chão para pegar a bola.

Henry deu de ombros e jogou água gelada no machucado. Estava com o corpo quente ainda, então não sentiu nada.

– Eu não me importo – falou Henry, dando de ombros e aceitando a banana que Isabel lhe ofereceu – Obrigado, Isa.

– Temos uma caixa de primeiro socorros, vou trazer para cuidar disso.

– Pode deixar, Isa – disse Chris, sorrindo forçado para a garota. – Pode deixar que eu pego.

Enquanto isso, Erick observava a cena entre Henry e Christian se desenrolando, fazendo com que ele apertasse a garrafa em sua mão com raiva. Sabia que não podia sentir-se assim, na verdade, não queria sentir-se assim, mas era uma coisa nova para ele e inexplicavelmente inevitável.

– Você está bem? – perguntou Danilo meio receoso, lhe oferecendo uma banana.

Vendo que Erick não prestava atenção em si, Danilo tratou de olhar para onde Erick estava olhando de maneira tão concentrada. Então viu e entendeu o motivo daquela atitude. Na verdade, não entendia muito bem, mas sabia que algo entre aquele Henrique e aquele Mantovani deixava Erick totalmente fora de si.

O tal de Henrique estava sentado no banco, comendo uma banana enquanto Mantovani colocava um curativo em seu braço direito, que aparentemente estava ralado. Danilo não sabia se era perceptível para todo mundo o modo como eles se olhavam de vez em quando ou as risadas que trocavam, mas ele sabia que aquilo tudo significava algo a mais. Não sabia exatamente como era a relação de Erick com Henrique, mas sabia que algo também tinha acontecido entre os dois e que esse algo afetava completamente Erick.

– Ei! – chamou Danilo, dando uma balançada no joelho de Erick, que desviou o olhar da cena e olhou para Danilo – Trouxe banana pra ti.

– Por que se preocupa? – perguntou Erick de maneira fria.

Danilo suspirou. Era sempre assim. Por mais que parecesse que não ligava para Erick (desde que se conheceram essa assim), Dan até que tinha certa empatia com o levantador. Tudo bem, talvez muita empatia.

– Não quero que você morra em quadra para a gente perder. – disse tentando manter o tom indiferente. Pareceu funcionar.

Erick apenas o encarou com raiva e pegou a fruta de sua mão, descascou-a e começou a comê-la de maneira rápida. Já tinha dado a bronca que queria nos seus companheiros de equipe, sentia-se um pouco aliviado por despejar suas frustrações em cima de alguém. Sabia que era errado, principalmente por que, dessa vez, o time ficou um tanto estranho com ele, mas era algo inevitável. Erick sabia que poderia explodir em lágrimas a qualquer momento.

Os cinco minutos se passaram rapidamente, então voltaram novamente para a quadra. A posse de bola ficou com o time de BH, Ricardo sendo o primeiro a sacar novamente.

O primeiro ponto demorou para sair, mas o time de BH conseguiu fazê-lo, dando o saque novamente para Rick. Os primeiros dez pontos do jogo foram complicados de serem conseguidos, então Henry recebeu um aceno discreto de Rick, avisando-o que Henry iria entrar em ação.

Tentou esvaziar a mente e concentrar-se no jogo que estava se desenrolando para não ter uma crise. Acompanhava a bola com os olhos a todo segundo, assim como acompanhava os movimentos das pessoas que tocavam nela. A bola tocou os braços de um cara moreno na zona de defesa do CMRJ, direcionando-a para as mãos de Erick, que levantou para um cara loiro a sua esquerda.

Henry calculou mais ou menos onde a bola poderia cair e deu alguns passos rápidos naquela direção, jogando-se de joelhos para pegá-la e direcioná-la para Rick. Levantou o mais rápido possível quando a bola tocou seus braços e se afastou da linha dos três, pegando impulso para dar os passos necessários para fazer o ataque.

Ele viu o bloqueio duplo vindo. Viu os dois caras altos pulando para bloqueá-lo e assim que suas mãos ultrapassaram a rede, Henry bateu na bola com toda a sua força, mirando na ponta dos dedos dos bloqueadores. A bola acertou exatamente onde ele mirou, fazendo-a espirrar no bloqueio e parar no fundo da quadra do lado adversário. Último toque de bola foi do adversário. Ela caiu fora da quadra. Ponto para o CMBH.

Henry nem acreditou que tinha feito ponto. Os caras do time correram em sua direção e comemoraram o ponto muito bem feito. Nunca tinha se sentido tão bem em uma partida de vôlei em toda sua vida.

Erick trincou os dentes e os punhos quando marcaram ponto para o time adversário. Ele olhou fulminantemente para os dois bloqueadores e foi até eles com passos pesados. Ele queria gritar até seus pulmões implorarem para parar.

– Eu avisei sobre os ataques, porra! – Erick quase gritou – Não sejam inúteis! Vocês têm altura para bloquear também!

– Escuta aqui, Schneider – disse um dos caras – A culpa não é nossa. E foi só um ponto. Dá para recuperar.

– É, não tem motivo para esse estardalhaço todo, você tá sendo mais babaca que o normal. – concordou o outro.

Erick pensou que fosse explodir e atacar os dois caras, mas Oliveira apareceu, interferindo na briga.

– Desculpa, Schneider, mas vou te colocar no banco pro resto da partida.

Erick arregalou os olhos, completamente incrédulo.

– Você não pode fazer isso! – exclamou ele – Eu sou o melhor levantador que vocês têm! Vocês não podem me substituir!

– Sinto muito, mas você está mais atrapalhando do que ajudando – disse Oliveira firme – Acalme-se que te coloco novamente.

Erick, sem acreditar, encarou Oliveira mortalmente. Passou os olhos pelos seus colegas de time, encarando-os da mesma forma. Que se foda.

Saiu batendo o pé até o jogador que estava na lateral da quadra esperando Erick para fazer a substituição. Eles pararam uns segundos para anotar a troca e Erick foi para o banco querendo matar a primeira pessoa que visse pela frente.

Como eles tinham a capacidade de substituí-lo? Eles precisavam de Erick, ele sabia disso. Tinha convicção de que iam perder o set já que ele não estava lá. Era o pilar do time e nada iria mudar isso.

Erick deixava facilmente a raiva tomar conta de seu ser. No fundo, sabia que precisava dela para aguentar, principalmente quando as lembranças vinham e ele começava a se martirizar por elas.

Então ficou no banco, observando o resto do jogo, analisando o time adversário. Tentava ao máximo manter-se tranquilo, mas a cada vez que o CMBH marcava um ponto, ele via o modo como Christian sorria para Henry, ainda mais quando este último que marcava o ponto com seus ataques exploradores de bloqueio. Aquilo só o irritava mais ainda.

Henry nunca se sentiu tão animado com uma partida como estava se sentindo naquele momento. Ele sempre desejou fazer parte do ataque do time, mas sua altura nunca deixou. Ele continuava não conseguindo atacar como Chris, Caio ou Luiz, mas pelo menos fazia alguns pontos. Em contra partida, o time percebeu que ele não conseguia bloquear por conta de sua altura, já que era algo acontecia na rede e ele não estava acostumado a isso. Então a maioria das bolas atacadas passavam por ele, o que era ruim, pois Igor não era um bom líbero. Sua sorte, também, era que a altura da rede era mais baixa que a de um jogo profissional ou dos campeonatos que participava.

Com Erick fora do jogo, Henry conseguiu se concentrar um pouco mais, mesmo sentindo que o outro lhe observava do banco. Porém, sua mente estava ocupada demais com o jogo para se importar com Erick naquele momento.

Henry também notou que o time do CMRJ ficou um pouco desestabilizado com a saída de Erick. O levantador reserva deles era bom, mas não tanto quanto Erick. Ele errava algumas bolas fáceis, fazendo com que os outros tivessem que mandar a bola de graça para a quadra do CMBH.

Entre pontos e erros adversários, o CMBH conseguiu vencer o segundo set por 25x22.

Eles se reuniram no banco novamente, Eduarda muito afoita com a vitória que tiveram, mesmo que tivesse sido bem apertada.

– Vocês estão indo muito bem, gente! – ela exclamou animada – Podemos ganhar!

Rick começou a apontar algumas coisas que precisavam ser consertadas durante o jogo e nesse momento, Duda apareceu perto de Henry com um sorriso largo nos lábios.

– Até que você dá para o gasto – ela disse – Mas tenho uma coisa para falar. Não pule no bloqueio.

Henry franziu o cenho, demostrando sua clara confusão, já que estava com o bico da garrafa de água na boca, tomando o líquido. Eduarda entendeu o que o outro queria.

– Você não consegue bloquear as bolas. Então salve as que batem no bloqueio dos meninos, principalmente no do Chris. Terão uma parte do bloqueio a menos, mas temos chances de recuperar as bolas que podem cair no nosso campo com a sua defesa. Agora é o último set e só vai até 15 pontos. Vocês conseguem.

Ele assentiu e então voltou a prestar atenção no que Rick dizia.

– Melhorou? – perguntou Oliveira para Erick. Seus outros colegas nem lhe dirigiram o olhar.

Erick, obviamente, ainda estava muito puto com tudo o que estava acontecendo, principalmente por terem perdido aquele set. Entretanto, para não causar mais intriga, ele preferiu não dizer nada e fingir que estava tudo bem. Teria que entrar para fecharem aquele maldito set. Foi o primeiro set que tinham perdido na competição, então aquilo o deixava mais puto e com uma maior sede de vitória.

– Sim – ele respondeu frio, tentando não reclamar sobre a partida que tinham acabado de perder.

– Muito bem, pode voltar para quadra então – disse Oliveira e virou-se para o levantador reserva – Você fez um ótimo trabalho, cara. Obrigado pelo jogo.

“Ótimo trabalho? Ele quase levantou a bola para o outro time!”, pensou Erick e quase se manifestou. Quase.

O intervalo foi dado como encerrado e ambas as equipes voltaram para seus respectivos lados da quadra, tomando suas posições. O saque seria de Erick, então ele se concentrou ao máximo para não direcioná-lo para Henry.

Erick sentia o olhar de Henry do outro lado da quadra e o desejo de derrotá-lo, de humilhá-lo veio em sua mente. Queria ganhar. Precisava ganhar.

Jogou a bola para cima e sacou, vendo-a ser recepcionada pelo líbero reserva, que quase deixou a bola sair de quadra novamente. Porém, Henry foi mais rápido e conseguiu pegá-la praticamente fora da quadra, levantando uma bola desajeitada para o outro ponta. Este atacou a bola, mas foi parada pela recepção do líbero deles, que mandou a bola perfeitamente para Erick.

Ele sorriu vitorioso e levantou uma bola rápida para o central, que executou o ataque com perfeição, marcando o primeiro ponto do set. Erick fez questão de encarar Henry mortalmente e notou que o outro o analisava. Tinha um semblante sério, com o cenho franzido e os olhos castanhos com um brilho diferente.

A conexão dos olhares foi quebrada quando jogaram a bola para ele, que teria que sacar novamente. Executou o saque, que por pouco não saiu da quadra, pegando um pedaço da linha de delimitação e fazendo um ace.

Pela primeira vez em todo aquele tempo, ele se deu conta da torcida que estava ali. Ouviu os gritos animados das pessoas do CMRJ e sentiu-se bem com aquilo. Sentiu-se bem com o apoio que tinha dos colegas de escola.

Sacou novamente, mas dessa vez não conseguiu fazer o ponto e sim deixar a bola na rede. Ela bateu na fita, com chances de cair na quadra adversária, mas infelizmente não caiu.

– Droga – ele reclamou e esperou que seus colegas dissessem que estava tudo bem, mas ninguém se manifestou. – Tsc.

Voltou para sua posição dentro de quadra, inclinando o corpo para frente e apoiando as mãos nos joelhos para recepcionar a bola caso ela viesse para cima de si. Um dos jogadores do outro time sacou, fazendo a maldita bola ir na direção de Erick, que foi obrigado a recepcioná-la. Com isso, não poderia levantar, então começou a gritar para que alguém pegasse a bola.

Mas ninguém pegou.

– O passe não estava bom – disse um dos caras com ironia.

– Você tem habilidade para pegar a bola, não seja inútil. – comentou outro.

Erick franziu o cenho. Aqueles caras só podiam estar de brincadeira com a cara dele. O jogo tinha parado.

– O que caralhos é isso? – ele perguntou – Vocês vão ficar de babaquice por causa das verdades que eu falei, é isso?

– O único babaca aqui é você, Schneider. Você só está no time ainda por jogar bem, por que você é a pior pessoa que eu já conheci.

– Pelo menos eu faço algo pelo time – rebateu Erick, quase avançando em cima do outro jogador. Oliveira percebeu a discussão e puxou Erick pela camisa.

– Vamos acabar com o jogo – ele disse, com certa raiva – Depois vocês resolvem isso. O que importa é o jogo, ouviram? Não quero intriga entre vocês até essa merda terminar.

Erick ficou realmente impressionado. Ele nunca tinha visto Oliveira agir daquela forma com os outros do time, principalmente com ele. Mesmo assim, assentiu, preferindo ficar calado pelo resto da competição.

– Ou vocês voltam ao jogo, ou serei obrigado a dar a vitória para o CMBH – disse o árbitro.

– Nós vamos continuar – afirmou Oliveira, convicto, e voltou-se para Erick. – Mais uma briga e eu te coloco no banco o resto do jogo.

Erick trincou os dentes, mas assentiu e voltou para sua posição.

Henry estava verdadeiramente surpreso com Erick. Ele se viu preocupado com o outro, mesmo depois das coisas horríveis que ele tinha lhe dito. Apesar de tudo, Henry ainda se preocupava muito com Erick.

Chris colocou a bola em jogo depois daquela parada por causa da discussão que teve no outro time. Depois disso, o time do CMRJ conseguiu uma vantagem de cinco pontos, deixando o placar 10x5.

Rick foi obrigado a fazer um pedido de tempo para organizar o time. Ele conversou com os meninos, tentando acalmá-los, já que a pressão estava começando a cair sobre todos eles. Tinham chances de ganhar e aquilo seria sensacional. Mas a pressão estava deixando todos nervosos.

O capitão terminou de conversar com o time e foi falar com Henry em particular.

– Agora é sua vez de sacar – disse Rick – Pode usar o flutuante, vamos ver se nos ajuda a dar alguma vantagem.

Henry apenas assentiu, mordendo o lábio inferior com certa força. Se a pressão estava grande para os outros, para ele então aquilo era quase insuportável.

O pedido de tempo acabou e eles voltaram para a quadra, Henry quicando a bola até a linha de fundo da quadra. Concentrou-se ao máximo no que tinha que fazer para realizar o saque flutuante. Fazer com que a bola não girasse na hora do saque era um tanto difícil de ser executado. Era um saque interessante, pois ele tendia a desviar de sua rota já que não estava girando, confundindo o adversário.

Henry respirou fundo de olhos fechados e concentrou-se na bola. Abriu os olhos, analisando as posições do time adversário, jogou a bola para cima e bateu nela, conseguindo deixá-la parada. E conseguiu fazer o ponto, pois a bola conseguiu ludibriar um dos pontas, caindo ao seu lado enquanto ele achava que a bola ia para o outro.

Ele sorriu, mas logo parou quando viu que Erick lhe encarava mortalmente.

“Concentre-se, Henry”, pensou “O time precisa de você.”

Mandaram a bola novamente para ele e Henry fez o mesmo ritual: fechou os olhos, respirou fundo, concentrando-se na bola. Conseguiu executar novamente o saque, mas dessa vez o outro time conseguiu recepcioná-la, mesmo que de maneira desajeitada.

O passe atrapalhou o levantamento de Erick, então, quando este passou a bola para um dos pontas, ele teve que passá-la de toque ao invés de atacar. Henry recepcionou a bola vinda de graça, passando para Rick, que levantou para Chris, fazendo outro ponto.

10x7

Comemoraram novamente e Henry foi para o saque, vendo o semblante de Erick se contrair com raiva. Não podia deixar aquilo lhe afetar, não naquele momento. O CMBH conseguiu fazer mais dois pontos seguidos depois daquilo, mas Henry infelizmente errou o saque, deixando-o na rede e dando um ponto de graça para o CMRJ.

– Mil desculpas, eu... – começou Henry perto dos outros, um tanto nervoso. Rick bateu em suas costas de maneira amigável – Você confiou em mim e...

– Fez um ótimo trabalho – disse Rick, sorrindo – Continue assim.

Henry esforçou-se para assentir e voltaram para o jogo. Conseguiram fazer um ponto de bloqueio naquele momento, encostando mais uma vez o placar. E assim seguiram-se jogadas intercaladas, deixando o placar em 15x15.

O próximo ponto decidiria o match point* para uma das equipes. Henry estava na rede, assim como Erick. Os dois se encararam de forma feroz, principalmente Erick. O saque era do CMBH, o CMRJ recepcionou o saque, porém eles não esperavam que Erick mandasse uma bola de segunda, fazendo o ponto e dando o match point para o CMRJ.

Henry viu a expressão vitoriosa de Erick e o sorriso de desdém que o outro carregava no rosto. Aquilo lhe deu certa raiva, pois não conseguira prever o movimento do outro. Henry cerrou os punhos. Iria ter volta.

16x15.

Henry trocou um olhar com Rick. A bola veio, o outro ponta recepcionou e Rick levantou para Henry, que viu Erick e o central pulando para o bloqueio de forma que não pudesse ser explorado. Erick encarava Henry como se dissesse “Eu sei seus planos, você não vai conseguir”, porém Henry apenas sorriu, tocando a bola levemente e fazendo uma largada. A bola passou por cima do bloqueio e caiu em quadra adversária, marcando o ponto para seu time.

16x16.

Erick sentiu a fúria. Ele não sabia que Henry conseguia fazer largadas daquelas, ele não tinha previsto aquilo. Não podia perder, não de Henry, não daquela forma. Sentiu-se na obrigação de fazer pelo menos o último ponto.

– Vou levantar para você. Crave com tudo o que você tem. – ordenou para Danilo ao seu lado – Depois eu vou para o saque. Quero que você levante na saída para mim.

– O que? Por quê? – perguntou Danilo confuso.

– Só faça o que estou mandando! – disse irritado, fazendo Danilo apenas assentir.

Seu plano deu certo. Conseguiu levantar a bola para Danilo, que marcou o ponto sem que ao menos o outro time tivesse chance de pular para o bloqueio.

17x16

Erick não comemorou com o time, só o faria se conseguisse marcar o último ponto. Foi para o saque e pôs a bola em jogo.

Henry foi o primeiro a tocar na bola, ainda na zona de ataque, passando para Rick, que passou para Caio. Infelizmente, o ataque do oposto bateu no bloqueio e foi para cima, amortecendo a bola e deixando-a fácil de ser trabalhada do outro lado da quadra.

Porém, algo estranho aconteceu. A segunda bola, que deveria ser de Erick, foi levantada pelo central e Erick, pulando da zona de defesa antes da linha dos três, atacou a bola com toda a força, cravando-a do outro lado da quadra. Henry conseguiu prever a tempo de pular para o bloqueio, mas não adiantou muito. O que aconteceu foi Erick e Henry se trombarem e Henry caindo de costas no chão.

18x16.

– Você nunca vai ser um bom jogador – disse Erick, o desgosto palpável naquelas palavras. – Desista do vôlei assim como de tudo o que você desiste na sua vida medíocre.

E saiu da vista de Henry, deixando-o completamente estupefato com o que acabara de ouvir. Henry queria entender, mas ele estava com raiva. Não deixaria as coisas por aquilo mesmo. Mas ainda sim, queria entender.

Quando foi que tudo mudou tão drasticamente?


Notas Finais


Gente, é de suma importância que vocês me dêem um feedback... Principalmente desse capítulo. Eu não custumo narrar jogos, então eu preciso saber se vocês estão entendendo e se está tranquilo para entender, ainda mais pra pessoas que não são muito ligadas ao vôlei. Ficarei muito agradecida se puderem me ajudar a melhorar!
Agradeço imensamente a todos que comentaram até aqui, vocês são fodas ♥
PREVISÃO PARA O PRÓXIMO CAPÍTULO: 30/12
Gente, dessa vez eu vou depender da beta para me entregar o capítulo. Se ela não conseguir betar, vou ficar sem postar nessa data, estão avisados u.u
Amo vocês, nos vemos nos comentários ♥
Ghost Kisses
~Marceline


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