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História Além do que se vê - Prólogo


Escrita por: Kirilov

Capítulo 1 - Prólogo


O meu pai, Fugaku Uchiha, costumava dizer que as coisas não acontecem por si e simplesmente; é você quem deve fazer acontecer. E o destino? Não. Não existe. É só uma invenção para nos manter conformados caso algo dê errado. 

No entanto, naquele dia, não bastou apenas o meu carro quebrar e eu ir a pé sob um temporal até o hospital, ainda tinha que doar sangue para um dos funcionários da UC que sofrera um grave acidente enquanto trabalhava. Não ia de bom grado, tratava-se apenas de imagem, era importante que os donos da empresa se mostrassem complacentes com o infeliz, como se fossemos culpados por sua desgraça. Antes morresse longe de nós. Tsc... Tudo isso me deixava nervoso e irritado. Odiava incompetentes, odiava agulhas e odiava, mais ainda, hospitais. Ficar com o terno completamente encharcado e os sapatos cheios de água então, deixou-me completamente perturbado. 

Não era um bom dia para sair da rotina e tentar parecer um bom homem, se estivesse no escritório, nada de terrível e constrangedor teria acontecido, como por exemplo, não responderia com indelicadeza a moça que fazia perguntas óbvias, teria simplesmente ignorado sua estupidez e seguido com a minha indiferença.

— Não. Fure por cima do tecido – foi o que respondi ao ouvir a voz feminina me perguntar: pode levantar a manga? 

É claro que ela podia levantar. Ou o quê, ficaríamos a manhã inteira nesse impasse? 

Nunca fui do tipo que gostava de piadinhas, muito menos me alegrava apontar as retóricas; mas foi como estou tentando explicar, algo estranho estava prestes a acontecer naquele dia. Algo fora do meu controle. Uma fatalidade do destino. 

Ela ficou em silêncio, a enfermeira. E infelizmente eu virei o rosto para encontrá-la e me desculpar por minha falta de educação. Foi quando, de fato, a notei. 

Sakura, era o seu nome, pelo menos era o que estava bordado no jaleco dela. Uma mulher de cabelo longo e com algum tipo de problema mental, pensei, pois pintava os fios compridos de rosa. Tinha traços bonitos e os olhos também faziam dela alguém interessante visualmente, mas o que mais prendeu a minha atenção, foi o sorriso que preencheu seu rosto fino e pálido. 

Eu tinha acabado de ser estupidamente sarcástico e ela estava sorrindo para mim, como se fosse superior. Silenciosamente me dizia que podia ser mais do que eu, e foi isso que me deixou desconfortável. 

 A forma meiga como arqueou os lábios não foi capaz de esconder sua intenção de mostrar que era indiferente a tudo, inclusive a mim.

— Se não levantar, corro o risco de não encontrar sua veia, então... — desdenhou, uma voz quase angelical. Até onde ela pretendia ir com aquilo? Não importou. Dobrei rapidamente o tecido até o cotovelo para que acabasse logo com o tormento

Não doeu. Não cheguei a sentir a agulha, e concluí que a moça tinha mãos delicadas. Ah, isso me levou a pensar se toda ela era delicada, também a imaginar as mãos macias em outros lugares. Ela não conotava sexo, não tinha curvas sinuosas, muito menos peitos grandes; porém, de alguma forma, levou meus pensamentos para esse rumo.

Havia algo em Sakura. Algo que cogitei já conhecer e que provocava uma sensação estranha no meu peito e uma agitação no corpo. Estava reconhecendo-a de algum lugar, mas de onde? Forcei minha memória, no entanto, não encontrei nenhum registro daquele cabelo cor-de-rosa, bem... mas havia algo, tinha certeza que sim, talvez os olhos? Eu não sabia exatamente o quê, apenas tive a impressão que, de alguma forma, aquele não era o nosso primeiro encontro. 

— Está se sentindo bem?

Não respondi. Apenas meneei a cabeça, e isso foi suficiente para que me deixasse em paz. Voltou depois, com um cobertor felpudo em mãos e cobriu minhas pernas, mesmo sem me perguntar se eu desejava que o fizesse.  Virou-se muito rápido e, só por isso, não tive tempo de recusar. 

Toda a pressa dela era para voltar a TV. Os olhos verdes observavam com demasiada atenção e afeto a imagem da torre Eiffel na tela. Tratava-se de uma reportagem sobre Paris, e a cidade, por sinal, agradava e deixava Sakura maravilhada.

— Gosta de Paris? – perguntei, sinceramente não sei o que me levou a querer iniciar uma conversa. Culpei-me por agir impulsivamente. 

 Ela mordeu o canto do lábio inferior e em seguida sorriu. Não chegou a tirar os olhos da TV ao me responder:

– É romântica...

Não entendi o que ela realmente quis dizer. É romântica: isso deveria explicar tudo, inclusive o suspiro que deixou escapar quando um barco deslizando pelas águas do Sena preencheu a tela?

Guardei minhas perguntas comigo, alimentar um diálogo não entrou nos meus planos.

Ficamos em silêncio, o barulho da TV era o único no ambiente.

Estava incomodado com aquela enfermeira, não entendia o porquê, e isso me fez, mesmo contra minha vontade, passar os olhos por ela quando não podia ser visto. Mas claro, não estava no meu dia de sorte, fui pego em flagrante delito pela Srta. Simpatia, que sorriu complacente quando encontrou meu olhar. 

Ela se aproximou, parou diante de mim e inclinou um pouco o rosto em direção ao meu. Eu não soube como reagir, na dúvida, mantive-me sério. 

— Seus olhos são completamente negros. – A respiração morna dela chegou ao meu rosto, acolhendo-me. Agindo contra meus modos costumeiros, também analisei os olhos dela de perto; contudo, não fiz nenhum comentário sobre eles. Eram lindos, mas não me diziam nada de especial. Não. Não eram os olhos...

— É inconveniente assim com todas as pessoas?

Minha pergunta a constrangeu e fez com que se afastasse imediatamente numa ação atrapalhada. As feições da mulher mudaram completamente, um semblante envergonhado a dominou. Ela era extremamente tímida, concluí. E ficava muito atraente com as bochechas coradas. 

Belos olhos verdes, rosto agora corado, lábios sedutores... Eu estava começando a ficar muito interessado. E quem precisa de peitões, quando é tão mais gostoso quando eles cabem perfeitamente em suas mãos? Os dela aparentemente cabiam nas minhas. 

– Acabou – disse depois de certo tempo, ao se aproximar outra vez e desconcertada checar a sacola de sangue. 

 Foi cuidadosa ao tirar a agulha do meu braço e cobrir o pequeno furo. Indicou-me ficar sentado por alguns minutos, obedeci porque não queria ir embora antes de encontrar o que nela cutucava minhas lembranças. Não desejava conversar ou me entrosar, muito menos estava no meio de um amor a primeira vista, apesar de que não negaria uma noite com ela. Mas somente esperava descobrir onde já tinha visto aquele sorriso. Sim! Era o sorriso, tive certeza quando ela novamente sorriu ao ver imagens da fachada do museu do Louvre. Restou apenas recordar onde e quando. 

E foi justamente ali que passei a discordar do meu pai. Talvez, quem sabe, de vez em quando, as coisas aconteçam por si e simplesmente. Há uma mínima probabilidade que o destino, de fato, existe, e até pensei se seria possível que em algum lugar estava escrito que eu encontraria aquela mulher naquela segunda-feira chuvosa. Porque desde aquela manhã, eu nunca mais a esqueci. Também concluí, dias depois, que era possível ela ser simpática e o seu sorriso amigável nada mais seria do que exatamente isso: amigável, e não uma demonstração de superioridade. 

Um sorriso sincero que incomodou minhas memórias e invadiu minhas noites.

— De onde a conheço? – sussurrei para o escuro, ao despertar de um sonho em que ela me ensinava a voar. E subitamente me lembrei, na recepção do banco de sangue havia um cartaz enorme que dizia: Seja o herói de alguém, seja doador de sangue e medula óssea. 



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