1. Spirit Fanfics >
  2. Além do Tempo (EM REVISÃO) >
  3. Cartas na Mesa!

História Além do Tempo (EM REVISÃO) - Cartas na Mesa!


Escrita por: GihCross

Notas do Autor


Olá,xuxus!Tudo bem com vcs,tiveram uma boa virada de ano?Que bom se sim! 😄
Não resistí em vir aqui hoje,primeiro dia do ano de 2019,para presenteá-las com uma nova atualização!Na verdade,eu iria atualizar ontem mesmo,mas aconteceu que por causa da constante exposição ao sol na praia,tive insolação e fiquei de cama, com queimaduras de 1° grau pelo corpo.A tonta aqui não soube usar o protetor de forma correta e acabei me lascando! 😆 Já estou me tratando,espero melhorar logo!

Mas chega de historia triste,né?
Desejo-lhes uma ótima leitura e um excelente ano novo com muito amor,paz e sucesso pra cada uma de vcs!
😄❣📚

Capítulo 22 - Cartas na Mesa!


Fanfic / Fanfiction Além do Tempo (EM REVISÃO) - Cartas na Mesa!

A semana começou e nada aconteceu. Nada se falou no laboratório e nem notei diferenças em lugar algum.Regina passou para voltarmos juntas de carro e nada aconteceu com ela também. Acreditei que as férias quebraram as possíveis fofocas e me tranqüilizei com isso. Tudo foi indo bem, até quinta.

- Emma, tem gente te esperando lá fora. – disse um colega do laboratório

Saí desconfiada e no corredor encontrei Lily  e Ruby. Estavam sérias.

- Oi Em, a gente queria conversar contigo. – Ruby disse – Sério.

"Imagino sobre o que se trata."

- Esperem um minuto.

Voltei para o laboratório e disse que voltaria em meia hora. Saí novamente e fui com elas até um trailer onde nos sentamos.

- E sobre o que vocês querem conversar? – perguntei

- A gente viu tudo,Swan!– Lilith começou dizendo – A gente viu a briga, a confusão e...aquele... beijo entre vocês. – seu tom era de desaprovação.

- Que merda foi aquela,Emma? Você disse que Regina é sua garota! – Ruby complementou com um sorriso irônico.


- E ela é. Mais que isso, é minha mulher! E a gente se ama de verdade.

A expressão de Lily era de indignação e choque. Ruby sorria e sacudia a cabeça negativamente.

- E Cezar? – Lily perguntou.

- Não tenho nada com ele há mais de um ano. Acabou.

- Você mentiu pra gente... – Ruby disse decepcionada

- Menti, porque eu não tinha coragem de assumir a verdade, mas agora isso acabou.


Por que não diz tudo logo,Emma?Vamos!

- E o que vocês querem saber afinal,Lilith? – apoiei os cotovelos na mesa e olhei-as com firmeza.

- A gente quer saber há quanto tempo você nos engana fingindo que é uma coisa que não é! – disse ela - Você é uma sapatão descarada que fez a gente de palhaça esse tempo todo. Nós confiamos em você e olha só isso! Você dá uma dessas! Faz a vergonha que fez numa festa cheia de gente!– passou a mão no rosto – Quantas vezes eu te chamei pra dormir na minha casa sem saber...

- Cuidado com o que fala,Lilith! – meu tom era ríspido – Eu não devo nada a vocês e nem tenho que dar satisfações. Eu tô com Regina sim, gostem ou não! Só menti quando disse que namorava Cezar porque vocês estranharam que eu andava "devagar" e não quis que soubessem. Mas agora eu assumi e acabou! E pode ficar tranqüila porque nunca me passou pela cabeça a hipótese de agarrar qualquer uma de vocês; muito menos você!

- Você foi sacana com a gente,Swan. E todo mundo sempre te tratou tão bem! Sempre ficamos do teu lado e de repente isso,sem a gente esperar... – reclamou Ruby.

- Nunca nem ligamos pro fato de você ser do morro. E olha no que deu! Crente que você era mulher, agora a gente vai ficar com fama de sapatão por sua culpa.

- Eu sou mulher sim,Lilith, e muito mulher, tanto que assumi uma coisa que me fez descobrir que vocês nunca foram minhas amigas! Vocês queriam era alguém pra ensinar uma matéria aqui e outra ali quando a coisa ficasse preta! Não são amigas, se fossem não perderiam tempo me julgando. Tá com medo de ficar com fama de sapatão,Lilith?Pois tem gente da sua laia que faz coisa muito pior e você nem imagina! Tá com medo também,Ruby? Você devia era se preocupar em estudar e sair do ciclo básico. Andar pra frente de vez em quando faz muito bem,sabia?Vergonha na cara,coisa que vocês não tem! - rebati com raiva.


- Agora vai ficar ofendendo a gente só porque sempre se deu bem? Vá pra merda,Emma! – Ruby levantou-se e me desafiou elevando a voz.

- Vão as duas pra merda! Eu tenho mais o que fazer, tá bom? Não tenho família rica pra bancar minhas vagabundagens! E de agora em diante, não precisam mais falar comigo! – retirei-me de lá.

Andei até o laboratório nervosa e passei no banheiro antes. Voltei para trabalhar, mas a concentração era nenhuma. Decidi almoçar mais cedo.

O dia foi seguindo sem maiores acontecimentos até que por volta das 16:00h decidi dar uma parada. No corredor dou de cara com Tinker, que trazia a Bíblia debaixo do braço.

"Não faltava mais nada!"

- Emma, precisamos conversar. – seu tom era manso, mas sério.

- Lilith e Ruby falaram contigo? – eu não estava tão mansa.

- Falaram. Desde sexta. Hoje pela manhã me telefonaram. Saí da oficina assim que pude. E nem fechei a folha de pagamento dos fornecedores.

- E veio expulsar o demônio do meu corpo? – perguntei seriamente.

- Não concordei com o que Lily e Ruby disseram pra você. Foram grosseiras. Sei que você é boa pessoa, mas está sob influências. Não conhecemos aquela garota direito e sei que ela virou sua cabeça. Esses estrangeiros se envolvem com coisas terríveis, e eu, particularmente, nunca simpatizei com os ingleses. Antes de conhecê-la,sei que era uma pessoa normal...

- Pare por aí se vai começar a falar mal de Regina! Ela é o amor da minha vida e não admito que a ofenda seja lá como for! E que papo é esse de pessoa normal? Antes dela eu nunca havia me interessado por mulheres, é verdade, mas não admito que diga que tô sob as "más influências" dela ou que sou anormal!

- Emma,você não vê? Isso é aberração! Condenada por Deus!

- Quem é você pra por palavras na boca de Deus? – meu tom já era ríspido.


- Eu não faço isso! Eu conheço a Palavra e Ela não deixa dúvidas! Você está no caminho dos ímpios – senti agressividade em suas palavras – Está aqui! – bateu no livro – Tem dúvidas? Eu provo! – abriu e folheou – Já leu o livro de Gênesis? Ouça a respeito da criação de macho e fêmea!

- Não tô disposta a ouvir sua pregação! – deixei-a e segui meu caminho.

Ela me seguiu lendo Gênesis, citou passagens de profetas do Antigo Testamento e do Apocalipse.

- Conhece a Bíblia, não é,Rose? Então já leu no Novo Testamento quando Mateus, Lucas e Marcos citam que Jesus recomendou que as pessoas não julgassem os outros? Da mesma forma como julgar será julgada! Me esquece! Deixe o julgamento de Deus ser um trabalho pra Ele!

Fui embora e ela ficou parada me observando seguir.

                ☆☆♧☆☆


Conversei com Regina sobre estas coisas e ela se entristeceu bastante. Disse que sua mãe estaria em casa sozinha na sexta e pensei que seria só mais aporrinhação. Mas sabia como Regina me perturbaria se eu quisesse adiar a conversa. Ela me deixou no pé do morro e partiu com o carro.

Subi as escadas pensando que as coisas que aconteceram hoje seriam apenas o começo. Só mesmo um amor como o que sentia por ela me faria pagar um preço tão alto. "Oh meu Deus, que nosso amor seja forte pra resistir ao que mais virá por aí!"

Acabou a semana útil e Regina novamente foi me buscar no laboratório. Seu curso de maquetes havia se encerrado também e ela estava cheia de idéias. Meus pensamentos giravam em torno da situação na qual iria me envolver dentro de algumas horas: a conversa com Cora Mills. Não me empolguei em conversar sobre arquitetura e Regina então puxou outro papo.

- Em, e como vão os preparativos da formatura? Você já pagou tudo?

- Tudo indo. Em relação ao pagamento, a colação de grau eu já quitei, mas a festa é mais cara e eu só mato isso em dezembro mesmo.

- Posso fazer isso para você. Presente de formatura. – disse sorrindo.

- Não,minha morena, obrigada. Já disse que eu vou arcar!

- Ah, Emmy. Você não me deixa ajudar e nem me diz o que quer de presente de formatura! – fez uma cara de chateação.

- Quero você! – beijei sua bochecha

- A mim você já tem, boba! – olhou para mim – Peça o que quer! Outra coisa!

- Quero que você preste atenção no trânsito! – brinquei.

- Sem graça! Eu dirijo muito bem!

- Brincadeira querida! – olhei para a rua - O trânsito não anda! Olha que engarrafamento! Esse túnel é uma coisa!

- Está estranha,Emmy. O que foi?Teve mais problemas hoje?

- Não, mas tô pensando nessa conversa com sua mãe.

- Não sofra com antecedência,Emma, você faz muito isso. Viva cada coisa de cada vez, cada momento em sua hora. Jesus mesmo ensinou isso: "o dia de amanhã cuidará de si mesmo".

- Tem razão. Com vovó nem foi mal e eu esperava outra coisa.

- Deixe que eu comece o assunto com ela. E vamos ver como será.

- Veremos...


Chegamos no apartamento e Cora ouvia um CD de ópera enquanto tomava chá sentada na mesa da sala. Parecia até mesa de refeição de novela: cheia de quitutes!Vestia um roupão com a estampa da bandeira da Inglaterra e analisava uns cortes de tecido fino, usando um minúsculo óculos apoiado na ponta do nariz.

- Boa noite mãe. Emma veio comigo.

- Boa noite,Cora.

Ela observou-nos visivelmente contrariada e apenas balançou a cabeça.

- Não sabia que traria visitas...

- Emma não é mais visita há muito tempo. – aproximou-se e beijou-lhe o rosto – Não jantará?

- Não! Este chá vespertino me apetece. – voltou a atenção para os tecidos. "Chá vespertino me apetece? Êta mulherzinha besta!"

- Podemos nos unir a você? – perguntou.

Ela tirou o óculos e nos olhou surpresa. Notei que me reparava inteiramente com desaprovação. Eu vestia uma calça jeans escura, justa no corpo, uma blusa branca do tipo baby look e um casaco de jeans preto por cima. Regina vestia-se de modo análogo só que usando saltos altos, roupas de marca e muito mais clásse que eu.

- E por que não?

- Vamos nos lavar primeiro. Venha,Emmy.

Segui-a sem pestanejar e lavamos as mãos no banheiro comum. Voltamos para sala e ela já havia mandado Dolores preparar nossos lugares. A mulher nos esperava imóvel numa pose ensaiada e nos serviu assim que nos sentamos. Cora a dispensou por hora e ela se foi.

- Como foi o curso de desenho que fez, querida?

- Não era de desenho,mãe, era de maquetes. Foi muito bem, aprendi várias coisas e estou cheia de idéias.

- Você tem muito talento e criatividade. Não deveria ter escolhido engenharia civil, é coisa de homem. Arquitetura combina mais com você, tem glamour!

- Não existe isso de engenharia ser profissão de homem. E Regina é excelente aluna no departamento. Pode usar seu talento para projetar construções fantásticas, e ainda saberá como concretizá-las e cuidar da obra.


- Minha filha em canteiro de obras?! – disse indignada com a mão no peito – No way! (de jeito nenhum)  Ela vai é trabalhar em um belo e decorado escritório aqui na zona sul. Se bem que pelo meu gosto você entraria para o mundo da moda como eu estou. – olhou para a filha.

- Mamãe, não espere isso de mim. Mundo da moda? – balançou negativamente a cabeça – E quanto ao canteiro de obras é bom se acostumar com a idéia, pois ainda vou freqüentar bastante esse ambiente.

- Não fale isso para seu pai. Ele nunca aceitou muito bem sua escolha profissional e ouvindo isso, oh my! – revirou os olhos – It would be terrible! (Seria terrível) – dirigiu-se a mim – E você? Quando vai trabalhar de verdade?

- Sempre trabalhei de verdade. – respondi lutando para manter a calma.

- Não,meu amor, você não está entendendo! Eu digo emprego de verdade, do tipo que paga bem! – sorriu com ironia.

O sangue me ferveu.

- Não fale assim,mamãe! Emma trabalha em um dos mais conceituados laboratórios da Escola de Engenharia e eles não aceitam qualquer aluno lá. Ela é a única da equipe que o professor sempre convoca para os serviços de consultoria em obras e ganha-se bem com isso. Além do mais está com trabalho concorrendo em um concurso nacional para profissionais da área. Tenho certeza de que será uma das premiadas! E quando se formar, no final deste ano, tenho certeza de que logo receberá uma boa proposta de emprego.

Fiquei feliz com as palavras de Regina, pois senti o imenso orgulho que havia nelas, e a sinceridade da opinião que passava à mãe. Ela realmente acreditava no que dizia. Cora, ao contrário, parecia nem se abalar com seus argumentos.

- Ah, então você anda em canteiros de obras? Por isso sempre se veste tão... informalmente?

- Mamãe!


- É! Eu trabalho e não tenho tempo pra ficar à toa escolhendo melhor os tecidos de minhas roupas – ela mostrou-se ofendida com a resposta. Olhei para Regina – Vamos direto ao assunto? Acho que não dá pra manter uma boa conversa aqui!

- Que assunto? – Cora perguntou desconfiada.

- Mamãe, eu queria que o clima estivesse melhor para iniciar esta conversa, mas realmente não foi possível. Emma e eu nos amamos e estamos juntas.

Para nossa surpresa, Cora arremessou os tecidos para o alto e deu um berro ensurdecedor:

- Aaaahhhhhhh!!! Oh my God, it’s a tragedy! Oh no, no! (Oh meu Deus, é uma tragédia! Oh não, não!)



Dolores veio correndo e Cora levantou-se da mesa.

- Dolores, please, please, help me, oh no! (Dolores,por favor,por favor,me ajude!Oh não!) – correu e segurou a empregada pelos braços chorando.

- Emma e Regina, o que é isso, o que houve? – Dolores estava aflita.

Regina e eu não conseguimos articular palavra alguma. Estávamos chocadas com aquele show gratuito de frescuras. Cora soltou Dolores e rodopiou pela sala gritando frases em inglês que pareciam ter saído do filme E o Vento Levou. Esfregou-se pelas paredes gritando:

- I wanna die! I wanna die! (Eu quero morrer!Eu quero morrer!)

Arrancou o roupão e o arremessou em cima de Dolores, permanecendo apenas de camisola, aliás, cafonérrima,para uma pessoa conceituada em moda...

Dolores corria desnorteada pela casa sem saber o que fazer,até que se decidiu em trazer água com açúcar. Regina e eu continuávamos imóveis.

Ao final de uns 5 minutos de ataques, Cora ordenou que Dolores lhe trouxesse um outro roupão e dois comprimidos de Neosaldina. Assim feito, mandou recolher o tal chá vespertino e dispensou a empregada dizendo que só queria vê-la novamente na segunda-feira e a pobre mulher saiu sem entender patavina. Ela caminhou até o sofá da sala onde se jogou gemendo com as mãos sobre a cabeça.

- Já acabou,mamãe? – Regina aproximou-se do sofá.

- Oh, filha ingrata, não vê que sofro?

- Pensei que conversaríamos como mulheres civilizadas. – afirmou com rigidez.

- O que Lady Dy faria se ouvisse isso de uma filha,meu Deus? Que faria a rainha Elizabeth?


- Elas não têm filhas e se tivessem não fariam este escândalo. Mãe,a vizinhança deve ter ouvido tudo! Será que dá para se sentar direito e conversar conosco com a classe que pensei que tivesse?

Estas últimas palavras pareceram mexer com seus brios e Cora levantou-se lentamente sentando-se na poltrona como deveria.

- Eu tenho muita classe, sou apenas uma pobre mãe desgraçada pelo desgosto! – olhou para mim com raiva – Isso é culpa sua não é? Cegou minha filha! Vou processá-la por isso!

Levantei-me e caminhei até o sofá.

- Sua filha é maior, se já não se esqueceu do detalhe! E se quiser me processar vá em frente. O que suas amigas vão pensar quando souberem desse processo? Fofoca garantida no mundo da moda! Naquelas mesmas revistas que adoram te bajular!

Cora pareceu pensar no fato e estremeceu.

- Por favor,vamos conversar direito? – Regina implorou.

Cora pôs as mãos sobre a boca e só aí percebi que usava um brinco na unha de um dos dedos mindinhos. "E pensar que essa aí é minha sogra!"

- Eu nunca gostei dessa amizade, desde o começo, mas pensei que com o fim das aulas que ela te dava esse contato se desfizesse. Quando vi que continuou senti um mal pressentimento, mas deixei. Oh God como fui tola! Deveria ter cortado o mal pela raíz! – olhou para a filha – Como começou isso,Regina?

- Depois do tiro que ela levou, em abril. – mentiu – Nós já nos amávamos desde muito tempo, mas lutamos contra isso, por medo, por receio, e só deixamos acontecer bem mais tarde.

Entendi que mentia por medo do tal processo que a mãe chegou a cogitar.

- E o que vocês deixaram acontecer? - perguntou apavorada.

- Tudo! – respondi

Levantou-se do sofá e caminhou nervosa pela sala.

- Como pode ser isso? Regina, você ainda é virgem! Não é?

"Ah meu Deus, lá vem mais frescura!"

Regina respirou fundo e disse: - Não mamãe, não sou.



- Mas como? – Cora correu até ela e a segurou pelos braços chacoalhando – Como? Vocês são duas mulheres! Como pode isso? - soltou a filha e andou até a mesa como se estivesse pensando – Meu bem, não são beijos e, de repente, um toque mais ousado que tiram a virgindade de uma garota. –olhou para Regina.

- Mãe, por favor eu sei disso! E repito, não sou mais virgem! De forma alguma!

Cora fuzilou-me com um olhar de ódio e perguntou aos berros:

- O que você fez com o meu bebê? Hein? Sua pervertida! – correu e me segurou pelos braços – O que andou fazendo com a minha filha? O que fez com o corpo dela, sua tarada, ordinaria, cafajeste, sem vergonha! – tentou me esbofetear

Livrei-me de suas mãos e andei para atrás da poltrona.

- Não venha querendo me bater! E agradeça o respeito que ainda tenho por você à sua filha. – endireitei meu casaco – Querendo ou não ela já é mulher, minha mulher e isso não vai mudar. E eu sou mulher dela, e isso também não vai mudar.

- Ah, você já devia ser mulher de muita gente antes de perverter minha filha! Desgraçada! Odeio você por isso! Oh, my I wanna die! – gritou histérica.

Regina correu até a mãe e a sentou na cadeira dizendo coisas em inglês que não consegui entender. As duas choraram e se insultaram de várias formas. Acho que discutiram velhos problemas nunca mencionados e choraram bastante; sempre falando em inglês.

Aproximei-me de Regina e abracei-a forte. Ela pôs a cabeça no meu colo e ficou como uma criança desprotegida. Tentei passar tudo de mim naquele abraço, para que se sentisse aceita, segura e muito amada. Acalmados os ânimos, ainda abraçadas, olhei para Cora e disse em tom controlado:


- Entenda por favor, por mais que não concorde, certas coisas não vão mudar. Nós nos amamos e temos um relacionamento íntimo e sério, e não iremos desistir uma da outra. Eu acredito que você tenha sonhado com alguém pra ela bastante diferente de mim, começando pelo fato de ser um homem, mas não aconteceu assim. Não foi o que ela quis.

- Ela é muito jovem...

- Jovem, mas não louca e nem idiota, mamãe! Sei o que sinto por ela, e é amor!

- Discorde disso, Cora! Você tem esse direito. Mas respeite ela e o que decidiu de sua vida. Fique do lado dela, é sua filha! Não tente escolher por ela! E chega desse escândalo, dessa situação tão desagradável. Nada se resolveu até agora na base do grito, não percebeu? Vamos resolver isso numa boa!

- E o que é resolver isso numa boa, ó, grande sábia, que entende tanto da vida a ponto de me dar lições de moral?

Engoli o desaforo.

- É aceitar a escolha dela e respeitá-la como filha, mesmo discordando.

- Como conto isso para seu pai, minha filha? – seus olhos ainda tinham lágrimas – Como? Ele vai enlouquecer e mandar você para Europa sem pensar duas vezes.

- Eu não vou! Sou maior de idade e não irei obrigada.

- Ah é? E vai viver como? Sustentada pela sua engenheirazinha de obras?

- Sim. Vivo no morro com ela, mas não irei para onde não quero! – estava resoluta – Além do mais tenho minha pensão.

- Pensão que sua avó cortará assim que souber da história! E eu vou dizer a ela! E se eu não disser seu pai o fará. Afinal, é a mãe dele.

Regina me soltou e aproximou-se da mãe com tristeza nos olhos.

- Não pode fazer isso. É a minha vida, e dela cuido eu.

- Quer medir forças com seus pais? – levantou-se – Seu pai pode acabar com a carreira dessa aí antes mesmo de começar. – limpou o rosto com as mãos – E chega desta conversa desagradável! Seu pai estará em casa amanhã pela manhã e direi tudo a ele. Vamos ver se você vai entrar nos eixos ou não.


Preparou-se para se recolher e quando ia saindo argumentei:

- Lá no morro vira e mexe aparece uma ONG e sei de várias que lutam pelos direitos das mulheres. Sabia que a livre escolha da orientação sexual também é uma forte bandeira de luta? Sabia que muitos artistas, políticos e gente famosa apóia isso? Não seria difícil levar essa nossa história a público e pedir ajuda. Seria um prato feito pra imprensa: a filha de um casal rico e bem sucedido e uma moradora de favela. Eu poderia alegar ainda o preconceito contra minhas origens e aí a coisa teria ainda mais vulto! E não pense que teríamos medo porque já assumimos na faculdade e nada teríamos a perder.

Ela virou-se rápido e me disse desafiadora:

- Está blefando!

- Nem um pouco! – aproximei-me – E se quer saber tenho uma amiga que tem família trabalhando na maior emissora de TV desse país. Regina a conhece,inclusive. Não me seria difícil pôr a boca no trombone. E como já disse, no morro existe uma verdadeira coleção de ONGs trabalhando e também não seria difícil contar com pelo menos uma delas.

Regina parou em frente a sua mãe e a fitou seriamente nos olhos.


- Será possível que minha própria mãe precisa ser praticamente ameaçada para ficar do meu lado? Melhor dizendo, para não me prejudicar? A opinião pública é muito mais importante que meus sentimentos, não é? Vocês nunca cuidaram de mim, sempre me deixaram com empregados e babás, e se não fossem meus avós eu não teria a menor referência de família, pois isso vocês nunca foram para mim: uma família. E agora você vem com esse escândalo de mãe sofredora como se um dia tivesse sido realmente minha mãe. Vocês sempre foram investidores e não pais. Desculpe,mamãe se o seu investimento não lhe deu o retorno esperado! – e dirigindo-se para mim – Vamos embora,Emma, hoje eu vou dormir com você no morro.

- Como quiser, minha linda! – estendi-lhe a mão

Saímos de mãos dadas deixando Cora Mills estupefata na sala.

"Meu Pai do céu, imagino como será quando o pai dela souber disso! Sai de baixo...".


Uma vez no morro contei a vovó sobre o ocorrido e ela deixou Regina dormir na minha cama, sendo que eu teria de ficar na sala. No calor da discussão, minha amada não levou coisa alguma além da bolsa tira colo e a roupa do corpo. Vovó emprestou roupa para que dormisse e ficou até engraçadinha. Faltou água, mesmo sendo inverno, e Regina experimentou o esquema do balde pela primeira vez na vida.

Antes de dormir, deitada no sofá da sala, vi minha avó passar para o banheiro. Quando saiu me disse em voz baixa:

- Esse relacionamento de vocês vai encarar coisas assim várias vezes. Se quiser continuar com ela, acostume com isso e despreze.

- Por que as pessoas não respeitam os direitos dos outros? As escolhas dos outros? E não sei como desprezar isso...

- Vai ter que aprender, ou então vai perdê-la. E se ela também não aprender, perde você.

Pensei naquelas palavras, e apesar de tudo o que sentia cheguei a pensar se aprenderia a desprezar; se nós aprenderíamos.


        ♧♧♧♧♧♧


Acabou que o pai de Regina não voltou de viagem como esperado, ao contrário avisando que chegaria apenas na terça seguinte. Passamos em sua casa logo pela manhã e ela preparou duas mochilas cheias. Cora dormia sob efeito de calmantes e Regina soube do pai ouvindo as gravações da secretária eletrônica.

As aulas recomeçaram e eu cursava apenas duas matérias, as últimas que me restaram. Notei cochichos pelos corredores e que algumas pessoas riam de mim quando passava. Regina notou a mesma coisa em relação a si mesma.

As Feiticeiras já não existiam mais;Lilith,Tinker e Ruby não falavam comigo, e nem eu com elas. No laboratório em que trabalhava todos agiam como se de nada soubessem, e eu preferi deixar tudo como estava. Regina sentia o desconforto em morar na favela conosco, mas estava nos ajudando e não demonstrava insatisfação. Contudo o barraco parecia ainda menor e eu tive de ficar na sala de vez.

Na quarta-feira o coordenador do curso de Engenharia Civil chamou Regina e eu para uma conversa na presença da coordenadora da habilitação de Estruturas. Fomos juntas para a sala dele a já imaginávamos sobre o que iríamos conversar.

- Bom dia meninas. Sentem-se.

- Bom dia professores. – dissemos quase em uníssono.

Sentamos em frente a eles, que ocupavam uma pequena mesa redonda. O coordenador Pedrosa começou a falação caprichando em caras, bocas e gestos.

- Como coordenador do curso eu às vezes tenho de assumir uma função meio... paternal, e me incomodou umas coisas que andei ouvindo. Chamei a professora Silvana para esta conversa,pois ela é mulher e de repente isso faria com que vocês ficassem mais à vontade.

- Meninas, não fiquem assustadas, nós só queremos entender o que está acontecendo.

- E especificamente o que os senhores querem saber? – perguntei.

- Sem rodeios entre nós,Swan. – Pedrosa olhou para nós duas – Que conversa é essa de que vocês teriam um relacionamento e já estariam até morando juntas?

"Morando juntas é? A fofoca aqui é mesmo eficiente!"


- É verdade! Só não entendo porque incomoda tanto a Escola de Engenharia. – Regina respondeu com toda sua classe.

- Meu Deus! – dona Silvana pôs a mão sobre a boca.

- Não é que incomode,Regina – Pedrosa cruzou os braços – é que vocês poderiam ter sido mais discretas e não ter dado um show à parte numa chopada cheia de gente. Todos aqui tem mais o que fazer, mas vocês fizeram a coisa de uma tal maneira que viraram o assunto da Escola! E isso poderia ter sido pior, não fossem as férias pra quebrar o ritmo!– e olhando para mim – Emma, você fez um rapaz fazer papel de idiota na frente de todos! As duas melhores alunas do departamento me fazem um papel desses! Vocês são o cartão de visitas daqui: notas altas, bom comportamento, e de repente isso! Já pensaram se o rapaz leva isso pra frente de alguma maneira? A engenharia civil vai cair em um péssimo estigma e nenhuma moça vai querer mais estudar aqui com medo de pegar fama de sa... – interrompeu a própria fala.

- Fama de que,professor? – perguntei controlando minha raiva.

- Nós também podemos levar isso para frente de alguma maneira e o departamento ganhar um estigma de intolerância. Tudo depende de como a notícia seja dada, não é professor? - Regina se pronunciou de forma sarcástica,fuzilando o professor com os olhos.

- Querida por favor – disse dona Silvana – não entendam mal. Estamos só zelando pelo bem comum e nós...


- Vamos parar por aqui? – interrompi o papo – Eu me formo no final do ano, e se Deus quiser arrumo um bom emprego, e Regina vai continuar estudando e tirando notão sem fazer nada que vá manchar o bom nome do departamento. – disse ironicamente. – Vocês logo vão se livrar de mim e então não têm razão pra isso. E quanto a Rogério, que ele se lixe! Aposto que não disseram que ele veio dar uma de machão pra cima da gente, ou disseram? – levantei-me ao me calar.

- Calma,querida. – Regina segurou minha mão delicadamente e continuou sentada.

Os professores observaram o fato e ficaram meio desconsertados. Pedrosa então resolveu acabar por ali.

- Olha! – esfregou o rosto com as mãos – Vamos fazer uma coisa então. – olhou para nós e abriu os braços- Essa conversa nunca aconteceu e nós nunca estivemos aqui, tudo bem? Volta a ser tudo como era antes.

- Concordo. – Regina levantou-se – Dito isso, com licença professores porque todos temos muito a fazer, não é mesmo? – olhou para mim – Vamos?

Saímos da sala e meu sangue parecia ferver.

"Tudo como era antes? Nunca mais será como era antes,Pedrosa!"



Notas Finais


Eita que o negócio foi tenso,hein galerinha?Ainda tivemos que aguentar chilique de Cora Mills e demonstração de machismo vinda de um professor!

E aí,o que vcs me dizem?
Comentem,deixe-me saber o que acharam disso tudo!

Um xêro e até o próximo,amores!
Mwaah! ❤😘💜


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...