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História Além dos Portais - 2T - Vamos Passear No Bosque... Enquanto Os Humanos Não Vêm.


Escrita por: Especttra

Notas do Autor


A invasão está muito próxima.

Mas enquanto eles não chegam... Podemos passear no bosque.

Espero que curtam!!!

Capítulo 60 - 2T - Vamos Passear No Bosque... Enquanto Os Humanos Não Vêm.


 


 

A noite chegou e Jow ainda estava na arena do Espírito com os Guardiões.

Passaram a tarde inteira lá, e Sion a obrigou a controlar todo tipo de animal que ele conjurava, serpentes, animais peçonhentos, mascotes, insetos, feras…  Jow estava até gostando daquilo, e para cada animal que controlava, tinha que criar um equivalente em elementos.

Fez serpentes de fogo, lobos de água, cavalos de vento e tigres de metal. E os BlackDogs. Cães de sombras e trevas que ela temia e admirava… Mas achava aquilo tudo inútil.

-Sion, isso só serve pra gente montar um zoológico ou um PetShop! Não vamos lutar usando bichos, você mesmo disse...

-Pirralha burra, isso é pra você treinar a disciplina e o controle! Não é pra lutar usando os bichos!

-Mas poderia ser, Sion - Disse Kazai - Os humanos com certeza temeriam uma serpente de fogo, ou um dos seus lobos de pedra.

-Não me contradiga, Demônio de Fogo!

Kazai deu de ombros.

-Sion está muito chato hoje. Poderíamos descontrair e animar um pouco, fazendo um jogo.

-Nada de jogos, Salamandra - Disse ele - A guerra está muito próxima pra nós relaxarmos. Não é hora de brincar.

-Não é hora de comer? - Perguntou Jow - Estou com fome.

-Ué, desde quando sente fome no treino?  - Perguntou North - Isso pra mim é novidade, Mãe Gaia sempre tem que te arrancar daqui pra comer...

-Eu… Estou cansada de treinar, quero descansar… E também  quero comer.

-Mentira sua- Disse Amikoh - Você não fica mais com fome e nem fica cansada. Não precisa inventar desculpas para nós… Está é entediada, e quer sair daqui.

-Que seja - Disse ela, começando a subir as escadas - Vamos sair. Está mesmo de noite.

-Sion - Disse ele, quando ela subiu - Ela está começando a ficar enjoada dos treinos. Precisamos incentivá-la de algum jeito. Ela já aprendeu tudo o que podia com a gente. Estamos enrolando a Jow aqui…

-Então vamos dar um jeito de enfiá-la naquela arena da Lua logo! - Disse ele irritado - Porque eu estou ficando impaciente! Ela já já vai começar a perder o controle!

-Nem pensar! - Gritou North - Nada de arena da Lua! Eu acabo com vocês antes de fazerem isso com ela!

-Ela está é chateada - Disse Kazai - Porque viu seu Elfo hoje e não pôde ficar com ele nem um pouco.

Sion bateu o cajado no chão.

-Melhor assim! Ela precisa de foco, foco! Não de agarração! Beijinhos não ganham guerras!

-Posso te dar uns beijinhos, Sion - Disse North - Pra você tentar ganhar uma guerra, hahaha!

E fechou os olhos, esperando a pancada do cajado, que não aconteceu.

Ele estranhou.

-Ué… Não vai me bater?

 

Sion sentou-se numa pedra e olhou para ele.

-Não! Você é tão depravado que já está começando a gostar de apanhar! Vocês não estão levando isso a sério. Só sabem fazer piadinhas e brincar, não querem saber de disciplina, só de jogos!

-Calma, Sion - Disse Kazai - Você está muito estressado. Aconteça o que acontecer, não vai mudar nada, você não pode fazer nada...

-É isso que me irrita. Eu não poder mudar nada. Não posso mais protegê-la. Protejo a família dela há séculos… E na hora em que ela mais precisa de mim, não posso protegê-la do seu destino. Abandonei a família dela na Terra pra vir pra cá… E vou ser obrigado a abandoná-la também!

-Você gosta mesmo muito dela, né, cara de sapo? - Perguntou North.

-Claro, moleque depravado! Como todos vocês! Bem… Talvez não tanto quanto você…

North ficou revoltado com o comentário dele.

-Cala essa boca, sapão! Tem sempre que dizer alguma coisa pra me irritar, seu Gnomo velho e estúpido!

E desapareceu dali, deixando Sion rindo.

 

-Puxa, Sion, não perturba ele assim - Pediu Kazai.- Ele já sofre tanto por causa disso, por que você tem prazer em cutucar a ferida?

-Pra ele se tocar, Salamandra. Ele tem que saber o lugar dele nessa história toda! Você não pode alimentar as esperanças desse moleque!

-Eu não alimento nada, Sion. Só não sou grosseira com ele, como você.

-Somos elementais, Kazai - Disse Amikoh - Concordo com Sion. Temos que ajudar o North a perceber que sua história de amor com ela nunca vai passar do espiritual.

-Eu sei disso, Amikoh. Ele sabe também. Mas ele é jovem, pode sonhar, não pode? Por que destruir os sonhos do menino?

-Porque são sonhos loucos, Kazai. Você não ajuda ele, alimentando esses sonhos impossíveis.

Kazai deu de ombros.

-Eu não alimento nada. Ele só quer sonhar. Vocês não sabem nada sobre sonhos! E nem sobre isso ser ou não ser impossível… Porque… Eu tive umas conversas com Mãe Gaia, hihihi! Foi muito instrutivo! - E desapareceu nas chamas.

-Não adianta, Sion. Por mais que a gente fale, esses dois é que são impossíveis. Desde que não atrapalhem a Jow, deixa pra lá.

-Tenho medo do moleque fraquejar quando for a hora, Amikoh. Se ela precisar entrar na Arena da Lua…

-Ele não vai vacilar, Sion. Tenho certeza de que se ela precisar dele, ele vai estar preparado. Ele gosta mesmo muito dela.

-Esse é o meu medo, Silfo. Esse amor ainda pode pôr tudo a perder.

-Ou pode salvar a alma dela, nunca pensou nisso?

-Claro que pensei. Mas não acho que ele seja capaz. Acho que ele ainda vai fazer tudo errado, ele não tem autoconfiança.

-Estaremos aqui pra ajudar nisso, não é? Então vamos confiar neles, como combinamos.

-Não tem jeito, Silfo. Sou voto vencido.

E saiu dali deixando um cheiro de mangue no ar.

Amikoh suspirou e deixou a arena também.

 

****

 

Jow tomou banho e vestiu o uniforme da Guarda Absinto, ignorando o fato de ter que usar as roupas de sacerdotisa. Estava irritadíssima e doida pra brigar com alguém, e se fosse um superior, melhor.

Ansiava por um pouco de insubordinação. Espalhou tartarugas de jade e do cristal azul por todo a chão do quarto. Os pequenos Golens corriam pra lá e pra cá como loucos. Depois foi para o altar da Deusa onde as outras sacerdotisas estavam reunidas para a oração da noite, e fez questão de, ao invés de pedir proteção, fechar os olhos com vontade e xingar mentalmente a Deusa com todos os palavrões que sabia, e inventar mais alguns pra garantir.

 

Ao final das orações, foram para o refeitório. Mas para sua tristeza, ninguém reclamou das sua roupas. Ela chegou a pensar em tirar as roupas ali mesmo e jantar nua, só pra provocar alguém.

Não estava nada no seu humor normal. Talvez fosse o efeito do stress, talvez fosse a pressão da responsabilidade. Ela não queria saber. Estava se sentindo estranha desde que tentou matar Bia, e o mais estranho é que estava pouco se lixando pra isso.

Gaia olhou para ela no jantar e apenas sorriu.

Juma e Eychi se sentaram ao seu lado e Juma não deixou de comentar.

-Está revoltada hoje?

-Deu pra perceber?

-O que aconteceu, Jow?  Quer conversar sobre isso?

-Quero não, Juma, obrigada. Só queria ser chamada à atenção pra poder me rebelar… Mas parece que não deu certo.

-Não é hora de se rebelar, Jow. É hora de se concentrar - Disse Eychi.

-Tá falando igual ao Sion, Eychi. Não comece a ficar chata também.

-Não precisa se irritar, Jow. - Disse Juma - Olha, ainda não agradeci por ter salvado a minha vida. Obrigada.

-Não fiz nada além da minha obrigação, Juma. Eu adoro você. É minha amiga.

-Obrigada por me considerar sua amiga. Isso significa muito pra mim. Tem certeza de que não quer conversar?

Jow olhou para ela e sorriu.

-Obrigada por perguntar. Estou bem. Se não estou, vou ficar. Quer falar sobre Amin? Foi conversar com ele ontem, não foi? Eu a vi sair de lá…

-Conversei com ele sim. Não quero falar disso também. Acho que ainda não processei tudo… O que ele me falou.

-Tá bem… Se quiser conversar, também estou aqui, ok?

Juma sorriu para ela e levantou-se, levando seu prato para a pia.

 

Eychi olhou para ela com pena.

-Coitada da Juma. Fica viúva antes de se casar, sofre por anos, e quando se recupera, se apaixona por um Elemental, depois tem seu noivo morto de volta à vida, e embora ainda o ame, não é capaz de perdoá-lo… E fica sabendo que ele nunca planejou voltar pra ela...

-Sei o que é isso. Ter e perder, ter e perder de novo… Não ter e já perder também! É uma droga, Eychi.

-Você está estranha, Jow… Sua energia está tão diferente… São os elementos, eles estão tentando dominar seu corpo… Tirar sua mente do sério… Tente manter o controle, Jow. Não deixe os elementos tomarem conta do seu corpo.

Jow deu um sorriso irônico.

-Que mal pode fazer, Eychi? Não sou mais dona do meu corpo mesmo… Deixa os elementos fazerem o que quiserem comigo. Eu já estou estragada. Não ligo mais.

E também levantou-se com seu prato e foi ajudar a lavar a louça.

 

Começou a lavar toda a louça que ali estava, fazendo bichos de espuma e soltando bolhas.

Myra e Juma riram e juntaram-se a ela.

No final da arrumação, Jow foi para a praia.

Seus guardiões estavam lá, e discutiam alguma coisa que provavelmente não queriam que ela soubesse, pois se calaram quando se aproximou.

-Que foi, meus Senhores Guardiões Fofoqueiros, estão de segredinho de novo? Escondem mais o que da sua Humilde Serva Prisioneira Estúpida e Inútil?

-Não escondemos nada, pirralha. Não precisa ficar irritadinha. Estamos discutindo as estratégias para o caso da ilha ser invadida.

-E qual seria a estratégia, Sion? Eu virar o ser abissal e dizimar as tropas invasoras?

-Isso seria ótimo, se você fosse capaz disso - Disse Sion - Resolveria todos os problemas de Eldarya… Mas não os seus.

Jow sentou-se na areia visivelmente irritada.

-Não tenho mais problemas com isso, Sion. Vamos para a arena da Lua? Aí a gente acaba logo com essa bagaça.

-Não, Jow, cala essa boca enorme - Disse North.

-Não é sua decisão. É minha. Se eu estiver pronta, essa Deusa burra vai abrir a porta. Ótima idéia, não acham? Vamos!

E dizendo isso, levantou-se e correu para o templo.

 

Os guardiões a seguiram.

-O que ela pensa que vai fazer?

-Nada, North, não se preocupe - Disse Amikoh - Ela vai só bater com a cara na porta de novo. Ah, é… E não vai ter a porta.

Eles a acompanharam até a escadaria do centro do templo e ela desceu correndo.

Ao chegar lá embaixo, a decepção se estampou na face dela.

-Viram? Essa peste de Deusa não quer abrir essa porcaria pra mim!

-Ufa! - Suspirou North - Estava com  medo que abrisse.

-Você não devia se preocupar - Disse ela - Essa arena nunca vai abrir - Disse ela chutando as paredes. - Sou um Avatar Híbrido inútil! - E chutou mais as paredes.

-O que está acontecendo com você, bebê? - Perguntou Kazai - Está agindo de um modo estranho e muito fora do seu normal… Não quer falar com a gente sobre isso?

-Não! Por que vocês não lêem mentes como o Hans? Aí eu não ia precisar conversar!

North então adiantou-se e segurou Jow, desaparecendo com ela.

 

Sion arregalou os olhos.

-Onde ele levou a pirralha? Kazai, vai procurar eles!

-Acha que eu sou o que, Sion, radar? Deixa de ser chato! Tomara que eles tenham ido se agarrar!

E desapareceu nas chamas.

Sion olhou irritado para Amikoh.

-Eu também não sou radar, hahaha! Procura você por eles!

E também desapareceu.

Sion olhou para Muah, que sibilou.

-Já sei, Muah, você também não é radar…

 

****

 

North teleportou-se com Jow para a arena da água.

-Como entramos aqui? - Perguntou ela, quando percebeu onde estavam - Mãe Gaia não selou esse lugar com magia?

-Nenhuma magia me impede de entrar na Arena da Água. Eu entro sempre que quiser. Aliás, eu descobri que não há lacre de magia que me impeça de entrar em lugar nenhum… Entrei até nas celas dos prisioneiros, pra testar… Talvez porque a água entre em todos os lugares…

-E por que estamos aqui?

North riu e uma onda cobriu o cristal, levando-o lá para cima.

-Porque eu achei que um pouco de diversão ia te fazer bem… O que acha da gente desobedecer Mãe Gaia e brincar aqui?

Jow sorriu, deu uns pulos sacudindo as mãos, e a arena se encheu de água até a sua cintura.

North congelou uma onda e escorregou pelo gelo, do topo do cristal até a água, espirrando em Jow.

Ela o imitou e escalou o cristal, descendo pelo escorrega.

O cristal emitia sua luz azul cada vez mais intensamente, até encher todo o ambiente com a sua energia.

Cada gargalhada que Jow dava, aumentava a intensidade do brilho da pedra.

Peixes libélula nadavam ao redor do cristal em cardumes iluminados.

-Como esses peixes estão aqui? - Perguntou ela, espantando o cardume.

-É o cristal. Ele parece acrescentar elementos na arena. Percebi isso quando ele chegou. Parece que sua alegria agora voltou a ser azul, Jow… Olha como está a cor da sua aura! Está da cor do cristal! E você está feliz!

Jow ria e pulava, e sua energia azul alimentava cada vez mais a energia do Grande Cristal.

Ela e North conjuraram bichos de água, fizeram roupas engraçadas, guerrearam com ondas, com gelo e até com peixes, por muito tempo.

Subiram no cristal várias vezes, escorregaram e mergulharam de cima dele.

No final da brincadeira, ela estava exausta e feliz.

 

Sentou-se na borda da arena, e North jogou as sapatilhas para ela, que estavam no fundo da água.

-Não podemos deixar vestígios do nosso crime, Jow. Tem que levar as sapatilhas com você.

-Não quero ir embora daqui nunca mais. Vamos ficar aqui pra sempre, North!

-Hahaha, bem que eu gostaria! Mas você ia acabar morrendo de fome e de frio.

-Me transforma num Elemental!

-Não fala isso nem brincando! Ainda que eu fosse capaz, jamais faria isso! Ser um Elemental é um saco!

-Não deve ser… Não ia sentir fome, nem frio… Nem cansaço e nem dor… Nem ia ter mais nenhuma preocupação.

-Eu tenho preocupações, Jow… Muitas.

-Mas não são suas, são dos outros. Você tem as preocupações da sua ocupação de Guardião. Se não fosse por isso, estaria livre para viver e se divertir pra sempre no mar com as Sereias.

Ele sentou-se ao lado dela.

-Já vi que anda com ciúmes das sereias, hahaha! Isso foi engraçado… Se você fosse um Elemental, seu amor com o Elfo seria impossível… Como o nosso é. Já pensou nisso, antes de falar besteira, sua peste?

Jow abraçou North.

-Nosso amor é infinito, não é impossível.

-Nosso amor é infinito mas é impossível. Nunca vai ser lindo como o de vocês.

-Nosso amor também é lindo. Seu espírito completa o meu.

-Mas você não me divide com ninguém. Eu tenho que dividir você com ele. E ele tem que dividir você comigo. Isso não deixa nenhum de nós dois muito felizes, sabia?

Jow nunca tinha parado para pensar nisso. Então tinha dois amores… Completamente diferentes, e o que sentia por um não atrapalhava o que sentia pelo outro… Mas eles não estavam nada felizes! Isso era mesmo uma droga!

-Sinto muito... O que posso fazer?

-Nada. Não estou pedindo pra que você faça nada. Só estou dizendo o que acontece com a gente. Ou aceitamos essa condição, ou não teremos você. É uma escolha. Ezarel sabe o que você sente por mim. Eu sei o que você sente por ele… E isso não atrapalha em nada o que a gente sente por você… Porque é diferente. Mas também sei que se houvesse uma conversa entre vocês dois sobre isso, não seria uma conversa muito… Confortável…

 

-Eu sei que é diferente. Eu conheço você há mais tempo do que ele… E nós podemos conversar sobre qualquer coisa… Nossas energias  estão conectadas há muito tempo.

-Mas eu daria tudo para deixar de ser um Elemental… Mesmo que fosse só por um dia, se eu pudesse ficar com você.

-Eu amo você do jeito que você é. Talvez, se você não fosse um Elemental, eu não o amasse tanto. Amo você porque você existe.  Não preciso que seja um amor físico. E você… Precisa?

North abraçou Jow de novo e riu daquilo, sem responder. Aquela observação dela foi engraçada. Ele precisava? Não sabia. Não sabia nada de corpo físico.

Pensou que talvez tivesse sido uma inconsequência absurda levá-la para aquela arena proibida e fechada com magia, que abrigava um cristal vital para aquele mundo, e sem ninguém saber, ficar brincando por horas em cima dele, como Mãe Gaia tinha proibido.

Mas a própria Gaia tinha dito a ele para deixar fluir as emoções e ver o que acontecia. E foi o que ele fez. Sem pensar que poderia ter acontecido um desastre… Viu Jow triste, estranha e aborrecida e tratou de resolver o problema. Se Sion soubesse, arrebentaria a cabeça dele com o cajado.

 

Jow, por sua vez, sabia que ele, mais uma vez, salvou sua vida. Ela estava disposta a se enfiar na Arena da Lua, sem pensar nas consequências daquilo. Os elementos estavam tentando dominar seu corpo e ela estava permitindo… Entediada e chateada, impaciente e triste com tudo aquilo que estava acontecendo na sua vida, aqueles momentos divertidos com North eram como um oásis no deserto.

 

Ela não queria nem pensar na possibilidade de uma conversa com Ezarel sobre o que sentia por eles. Simplesmente, porque ela não podia abrir mão de nenhum dos dois. E sabia que isso era puro egoísmo seu.  Mas lembrou-se de que a Deusa a destruiria no final daquilo tudo, e ela jamais teria que ter essa conversa com ele.

 

Seria capaz de ficar ali pelo resto de sua vida. Quando ela estava com North, esquecia do resto, como se ainda fosse criança. Ele sabia disso, e sempre a chamava de volta para a realidade.

“Eu não tenho responsabilidade nenhuma e nenhum bom senso” - Pensou ela - “Disse que queria ficar aqui para sempre. Pedi para que fosse transformada em um elemental, a despeito da minha missão, a despeito do meu amor por Ezarel… Eu sou uma idiota, a Deusa já me transformou em um monstro. Na verdade, eu não mereço nenhum dos dois. Melhor será que ela me mate mesmo no final.”

 

-No que está pensando, princesa? Está de novo com um olhar triste. Precisa brincar mais?

Ela sorriu e seu sorriso era mesmo triste.

-Não, obrigada. Vamos voltar pra nossa vida infeliz. Já ficamos muito tempo aqui.

-Tem certeza? Não me parece bem.

Jow passou os dedos pelos cabelos de água de North e o abraçou, se inundando com o seu amor.

-Vou ficar bem. Obrigada por estar sempre comigo.

-Não precisa me agradecer por isso.

-North… O que você acha que teria acontecido no passado, se você não tivesse se afastado? Se não tivesse feito eu me esquecer? Se tivesse me dito a verdade, e contado o que você era?

-É fácil responder a isso… Você teria sido internada num manicômio, nunca teria ido pra escola de Medicina e se formado, e não estaríamos aqui agora…

-Você tem razão… No final, você salvou a minha vida fazendo aquilo.

North riu alto.

-Hahaha, afinal, eu sou um verdadeiro príncipe! Viu? Salvei a vida da princesa tantas vezes, que já perdi a conta, hahaha! Eu merecia um prêmio!

Jow deu um cascudo nele.

-Convencido, você é um príncipe da peste, merece um cascudo como prêmio. Você só salvou o sapo. A princesa nunca existiu, nem o sapo nunca vai se transformar em uma princesa… Vai, tira a gente daqui.

North a segurou e teleportou-se para o quarto dela. As tartarugas ainda passeavam pelo chão.

-Está entregue. Quer que eu fique com você?

-Tá maluco? Ou quer me deixar mais maluca do que eu já sou? Já não te falei mil vezes que você é muita tentação?

-Hahaha! Não sei como isso é possível, se o nosso amor impossível não é físico! Eu não tenho um corpo real, Jow. Como poderia ser uma tentação?

-Já tenho muito problema na cabeça. Não quero descobrir se realmente é uma tentação de verdade… Não posso escolher entre vocês dois.

-Você é engraçada, Jow. Vou pensar nisso melhor depois… Já pensou se um dia fosse mesmo obrigada a escolher entre nós dois?

-Se eu fosse obrigada, North, eu correria para a Deusa e pediria que me matasse bem depressa! Não conseguiria viver sem um de vocês. E ficaria sem nenhum. Pode ter certeza disso - Respondeu ela sem piscar.

-É bom saber disso. Boa noite, Jow, tente dormir um pouco. - E desapareceu dali.

Jow ficou olhando pela janela por algum tempo, pensando no que ele perguntou. E no que ela respondeu.

A resposta tinha sido sincera. Infelizmente...

 

****

 

O falso enfermeiro de Grimm entrou à noite na cela das crianças trazendo uma bandeja cheia de cachorro quente.

-Consegui traficar esses sanduíches, achei que iam preferir isso àquela ração nojenta que trazem pra vocês.

Dessa vez foi Chrome quem avançou na bandeja.

-Você já tem o meu respeito! - Gritou ele satisfeito, enfiando um sanduíche inteiro na boca.

Karenn sentou-se na sua cama e estendeu a mão para pegar um.

Somente Alajéa estava reticente, mas acabou comendo também.

O enfermeiro esperou que eles esvaziassem toda a bandeja e sorriu.

-Gostaram?

-Claro! - Disse Kyioto - Não tem mais chocolate?

-Infelizmente ainda não consegui mais - Disse ele, para fazê-lo acreditar que poderia ter mais depois.

-Ok, obrigado…

-Precisam de mais alguma coisa?

-Precisamos sair daqui - Disse Alajéa.

-Estamos trabalhando nisso - Disse ele, piscando para ela - Quem sabe haverá uma surpresa essa noite!

Os olhos dela brilharam.

-Sério? Está falando sério?

-Como eu disse antes, vocês têm amigos aqui. Nem todo mundo odeia os faeries nesse lugar. Mas fiquem tranquilos. Estamos tentando dar um jeito. Mas precisam colaborar, quando for a hora.

-Faremos tudo o que precisar! - Disse ela, abraçando Karenn. - Obrigada!

Ele deu um sorriso e saiu da sala, trancando a porta.

Grimm sorria de sua sala, acompanhando tudo com seu laptop.

Quando o capitão entrou, ele elogiou.

-Muito bem, Capitão! Ganhou a confiança da mulher. Achei que ela não cairia nessa e teria que ser eliminada. Mas parece que conseguiu com algumas guloseimas em apenas alguns minutos o que nós não conseguimos em semanas…

O Capitão engoliu em seco, se odiando por ter feito aquilo, mas sendo grato por não ter falhado com Grimm. Era fácil odiar aquele homem. Assim como era fácil temê-lo.

-Obrigado, senhor. E quando será a remoção?

-Hoje mesmo, Capitão. Posicione as tropas nos locais definidos. Não podemos falhar. Dispensado.

-Sim, Senhor - Disse ele, e com a continência formal, deixou a sala.

Grimm estava nas nuvens.

 

Seu plano era simples, mas ainda muito sujeito a falhas.

O moleque Kiyoto morava em São Francisco, antes de ter ido para Eldarya. Tinha 15 anos, e assim sendo, todo o ambiente que frequentava devia ser próximo à sua casa e à sua escola.

Grimm traçou um perímetro de alguns quilômetros que englobava esses dois locais e posicionou batedores em todos os pontos, em cada esquina, em cada buraco possível. O tal portal de cogumelos alucinógenos só poderia estar dentro desse perímetro.

 

Ele planejava mandar no mínimo 100 homens pelo tal portal. Não podia correr o risco de mais e nem de menos. Não sabia se conseguiriam entrar e sair desses cogumelos trazendo informações para ele. Os homens estavam apavorados, lembrando do inútil que foi cortado ao meio quando o elfo fechou o portal. Teriam que aguardar para dar o próximo passo na expectativa disso.

Grimm exercitava sua ansiedade e sua paciência, aguardando a madrugada para levar as crianças para o local demarcado.

A sessão com Jane não tinha sido nada proveitosa, apenas maçante e histérica.

Selecionou mais uma vez a câmera da cela deles.

Os dois agora, com curativos ensanguentados nas mãos, conversavam baixinho. Mark levantava a blusa de Jane para examinar alguma coisa nas costas dela… Parece que ferimentos se abriam na escápula da mulher. Devia ser alguma espécie de sarna infectada que ela trazia com ela dos trópicos. Se ele se lembrasse, examinaria depois, poderia inclusive raspar aquelas feridas para fazê-la sentir mais dor.

Depois eles se deitaram abraçados na mesma pequena maca. Um protegendo o outro do monstro que ele era… Grimm sorriu e chegou a salivar ao pensar nisso.

Ele não via a hora de entrar ele mesmo em um daqueles portais.

Mas só poderia fazer isso quando fosse totalmente seguro, e esperar pacientemente era uma virtude que ele estava exercitando.

 

Ainda não tinha desistido da médica. Aliás, ela estava se tornando uma obsessão, assim como o cristal… Se Kratos tinha interesse nela, ela era sim, muito importante. O finado Mago nunca respondeu nada concreto sobre ela, cortava todo e qualquer assunto referente à ela, quando Grimm fazia perguntas.

Que segredo poderia estar por trás de uma simples residente de cirurgia? Se fosse o caso de haver armas biológicas ou experiências com DNA, não selecionariam uma jovem e inexperiente residente, levariam um PHD em alguma área mais importante! Ele precisava descobrir o que ela era e por que era importante para Kratos. Claro que tinha a ver com magia!

Se Bia e Amin estivessem vivos, ele deu ordens para que fossem capturados vivos e levados de volta para a Terra. Assim como deveriam capturar vivos o maior número possível de criaturas, e o mais alto escalão do Quartel de Eel, incluindo os chefes das guardas, os magos e Erika.

Quanto mais prisioneiros, melhor.

Grimm fechou o laptop e ligou para a linha particular do Presidente. Precisava informar que a operação “Além dos Portais” estava sendo um sucesso e haveria uma provável invasão naquela mesma noite.

 

****

 

Miiko não somente transferiu todos os habitantes de Eel para bem longe ali, quanto suspendeu todas as atividades noturnas na cidade. Havia um toque de recolher e todos deviam respeitá-lo, para sua segurança.

Batedores da sombra estavam posicionados em todos os pontos da floresta onde antes havia círculos de cogumelos, assim como nas guaritas e nos muros do quartel

Dentro da cidade e do refúgio, os guardiões patrulhavam em duplas e turnos.

Não eram muitos guardiões no total, e ainda tinham mandado vários para Esquíatos, acompanhando Eychi e o cristal. Sobraram menos de 100 pessoas no QG. Dependendo de quantas pessoas invadissem Eel, estariam em desvantagem.

Miiko deu Graças à Deusa, pelo fato dos faeries das embaixadas terem retornado, pois agora contava com um contingente extra de guardiões e recrutas. Isso no final foi muito útil para fortalecer o quadro já escasso.

Dormiam em turnos há dois dias.

-Não quero passar a noite aqui - Disse Ezarel para Ewe - Não se dorme direito nessa enfermaria.

-Mas Ezarel, um dos ferimentos da sua perna está infeccionado, preciso deixar antibiótico no soro, pra debelar a infecção mais depressa.

-Não me agrada ter uma agulha enfiada na minha veia com essas drogas humanas correndo aí!

-São bactérias de origem da terra, Ezarel. Nossas poções não são boas pra isso. Precisa de antibiótico humano. Quer perder a perna, idiota?

Ezarel suspirou, mas foi obrigado a concordar.

-Mas faz o favor de sedar esses dois que estão tossindo ali, senão eu não vou conseguir dormir.- Disse apontando para dois recrutas doentes que estavam ali na enfermaria.

-Posso sedar você ao invés deles…

-Nem sonhando! Com uma invasão iminente, acha que eu vou deixar você me drogar?

-Não está com dor?

-Nem tanta - Mentiu ele.

-Então está certo. Vou aplicar o soro com os medicamentos, vê se fica deitado e tenta dormir um pouco - Disse ela, preparando o equipamento e aplicando na veia de Ezarel.

O Elfo fez uma careta quando ela o espetou e depois tentou relaxar.

-Vou fazer o primeiro turno, Marcos vai fazer o segundo e um recruta o último. Assim todos nós dormiremos um pouco de noite.

-Que bom que vai fazer o primeiro, assim  podemos conversar um pouco…

Ewe sorriu para ele, terminou de examinar e sedar os outros pacientes e voltou para o lado de Ezarel, sentando-se perto dele.

-Sobre o que quer conversar, Ez?

 

Ezarel falou de tudo um pouco, perguntando sobre Hans e a infestação “Kratos”, mas Ewe garantiu que estava tudo sob controle.

Até que ele finalmente teve coragem de tocar no assunto que queria.

-Ewelein, o que sabe sobre os Elementais? Como são criados, como vivem, como… Morrem?

Ewe pensou um pouco e respondeu.

-Elementais são criados pelos Deuses, mais especificamente, pela Deusa Tsukiko, e embora não sejam deuses, são como divindades da natureza, são espíritos muito puros... Cada elemento tem seu grupo de Elementais dedicado a protegê-lo e manter o equilíbrio natural. Normalmente vivem ao redor desses elementos, ou em locais onde há desequilíbrio, a fim de restabelecê-lo. Pelo pouco que sei, não podem ser destruídos, eles não morrem... Por que a pergunta?

 

-Estava pensando nos Guardiões da Jow… Você acha que quando a guerra acabar eles vão embora, ou vão ficar para sempre?

-Os Guardiões dela fazem parte da história dela, Ezarel. Pelo que Hans me falou, alguns já eram como Guardiões dela desde a infância. Menos a Kazai, que é nativa de Eldarya. Por que iriam embora depois da guerra? Acredito que sempre estiveram com ela e sempre estarão.

 

Ezarel bufou irritado como uma criança.

-Isso é mesmo uma droga!

-O que foi isso, Ezarel? Qual a sua preocupação a respeito disso?

-Eu não me importo se a Kazai ficar, mesmo ela sendo às vezes uma peste. Sei que ela ama a Jow e ajudou bastante a gente. Mas acho que os demais bem que poderiam voltar pra Terra.

Ewelein riu.

-E qual deles especificamente está pretendendo despachar para a Terra, Ezarel? Todos eles ou alguém em especial?

-Ewelein, você não está ajudando assim!

-Me chamou pra conversar, então converse, Elfo idiota! Eu não sou especialista em psicologia e nem tenho a paciência do Hans, mas conheço você muito bem pra saber o que está se passando nessa sua cachola estúpida. Está morrendo de ciúmes daquela Ondina, não está?

Ezarel fuzilou Ewelein com o olhar, mas respondeu.

-Não chega a tanto… Não estou morrendo… Eu confesso que tive um pouquinho de ciúmes dele sim, puxa vida, já olhou pra ele, Ewelein?

-Como seria possível não olhar? Ele é lindíssimo, Ezarel. Todas as ondinas são assim. São seres de uma beleza rara.

-Quando ele esteve aqui, fui capaz de sentir o amor imenso que ele inspira. E ele ainda me contou do amor que sente pela Jow, Ewe. E… Que ela sente o mesmo por ele! E no final, disse que o amor deles era impossível, disse que não era meu rival, era meu aliado, e que eu devia pensar neles como… Irmãos! Como isso é possível? Depois de tudo o que ele me disse, pensar neles como irmãos?

-Já conversou com a Jow sobre isso, ou ainda não teve a oportunidade?

-Não. Nem faço idéia de como abordar um assunto delicado assim com ela.

-Tem medo do que vai ouvir dela, não tem?

-Eu deveria ter? - Perguntou ele preocupado.

-Ela já me falou sobre ele, Ezarel. Há algum tempo. Quando ainda achava que ele era só um amigo imaginário, uma fantasia de criança.

-Falou? O que ela falou?

-Bem… Ela me disse que ele foi o primeiro amor dela, na infância… Que foi seu companheiro e amigo por muitos anos, e que ela achava que ele era um príncipe.

 

Ezarel fechou a cara.

-Isso ela já me contou.

-Depois ele desapareceu… Ela não sabia por quê. Nunca mais ele respondeu ao seu chamado. Falou dele e do Silfo também. O vento.

-Isso também ela me contou.

-Então qual é a dúvida?

-Ele renasceu das cinzas e voltou, agora não é mais um amigo imaginário, nem é mais uma criança e nem ela! Ele é um Guardião, um cara azul, enorme e lindo, e ainda irradia aquele amor todo… E está lá sozinho com ela o dia inteiro, e eu aqui longe, sem poder fazer nada!

-Vou refazer a pergunta, Ezarel, com a Santa Paciência que a Deusa me concede… Qual é a sua dúvida?

Ezarel coçou a  cabeça.

-Você acha que se ele estivesse aqui, quando ela chegou, ela teria ficado comigo? Se ela tivesse que escolher, escolheria quem?

-Ezarel… Você tem dúvidas do que ela sente por você?

-Não. Tenho dúvidas do que ela sente por ele!

-Ela deve amá-lo sim, Ezarel. Nunca deve ter deixado de amá-lo, na verdade. Mas acho que é mesmo um tipo diferente de amor. O amor deles é impossível no plano físico, com certeza, porque ele é um Espírito. Quanto a isso, você não precisa se preocupar. Ele não pode competir com você.

-Vou ter que dividir ela com um espírito? Pra sempre? - Perguntou irritadíssimo. - Porque a minha dúvida é essa mesmo… Se ele pudesse competir comigo, ela ficaria com quem?

-Que insegurança, hahaha! Essa foi boa, Ezarel, o mundo desmoronando em uma guerra, uma invasão iminente a Eldarya, o risco da Jow morrer no final e você se torturando com um ciúme adolescente, de um espírito da água! Vai passear no Bosque, Ezarel!

-Ele é… Como uma sombra, Ewelein.

-Com certeza, aquele corpão todo dele deve fazer mesmo uma sombra enorme, hahahaha!

-Ewe!

-Ez, me desculpe. Mas seu ciúme é totalmente inadequado. A Jow tem preocupações maiores agora… Se manter viva, por exemplo. Mas se tiver a chance, depois que tudo acabar, converse com ela sobre isso, pra tirar essas minhocas da sua cabeça… Você precisa se libertar disso, e se acostumar com essa condição… Diferente.

-Mas… Você acha que ela me escolheria? O que você faria, Ewelein?

-Eu? Eu não sou idiota, Ezarel, claro que eu ficaria com os dois!

-Ewelein!

-Sério mesmo, eu não ia precisar escolher, teria dois amores diferentes e não me desfaria de nenhum. Agora vê se dorme, Ezarel, e pare de pensar besteira.

Ezarel virou-se para a parede emburrado e irritado. Anotou na mente para não permitir que Ewelein falasse aquilo para Jow nunca na vida!

Ewelein olhou para ele e riu.

“Elfo maluco…”

 


Notas Finais


Aproveitem.
No próximo teremos muita, mas MUUUIIIITTTAA treta.

Beijos!


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