História Alfa?! Pfft! - Esperar?! Chover!

KIM TAEHYUNG

Esperei mais uma semana, e para isso, eu tive que lidar com os surtos da Yang Mi e um Min Yoongi desaforado com a vida. Por motivos bem óbvios, claro: 1- eu gritei com ele no meio de um corredor onde alunos passavam. 2- falei meus sentimentos na lata, deixei meu orgulho de lado e sai sem deixar ele reagir e 3- eu ignorei todas as chances que ele pedia para podermos conversar.

Eu não estava dando o troco ou algo do tipo – talvez sim –, apenas estava esperando a hora certa para a gente poder conversar de verdade. Ignorando as coisas alheias que faziam sempre termos que nos afastar.

Yang Mi, mesmo sabendo que algo bem forte a esperava, continuava a tentar se aproximar do Min. O que ela até que conseguiu, pois os dois agora estavam andando juntos, mas era evidente o desconforto no olhar e no timbre de voz do meu alfa. Ele ao menos não permitiu que ela se sentasse na minha mesa. Ele tinha amor à vida, e se não tivesse, eu ia fazer ter.

Eu mal conseguia prestar atenção na aula. Sempre olhando para os lados e vendo a maldita garota se jogando pra cima dele. Revirei os olhos em tédio e raiva. Filha da mãe, ele é meu alfa e subalternos não tem local de fala no meu ômega-arcado.

Esperei avidamente todos os três horários passarem para o intervalo finalmente chegar. Quando bateu o sinal, fui o primeiro a sair, indo logo para o banheiro de ômegas machos. Evitaria ao máximo ir ao vestiário. Aquele lugar estava fora de cogitação pelo seguinte:

1- Hoje era o jogo dos Tigers, time da nossa escola;

2- Yoongi e mais um milhão de alfas estariam lá;

3- Yang Mi é uma oferecida, estaria lá com sua trupe de amigas para manter assunto com  alfas alheios e até ouvir meus planos. Enxerida!

Respirei fundo e abri novamente minhas mensagens com ela, printando tudo e mandando para meu e-mail. Ela mal perde por esperar.

Sorri vitorioso e ao mesmo tempo nervoso, saindo daquele banheiro e passeando pela escola.

Pinguinhos finos, como uma garoa, caiam e eu estremeci um pouco pelo vento gélido que batia em meu corpo. Arrumei meu casaco no corpo e pus a mão nos bolsos.

Sorri com aquele cenário, lembrando do dia no parque com Yoongi, em uma hora em que ele me empurrou debaixo de uma fonte, e eu como vingança o puxei junto e começamos a brincar feito crianças debaixo da água como em um dia chuvoso, pouco se importando com as pessoas que nos encaravam.

“— Voce é tão infantil, Yoongi! – falei rindo quando sentamos no chão, recuperando o ar e tentando nos secar.

— É, eu sou e você também! – trombou seu ombro com o meu e eu ri, o puxando para deitarmos na grama gelada, olhando para o céu, de um jeito em que eu ficasse de cabeça para baixo e próximo ao seu rosto.

— O céu está muito bonito – falou depois de um silêncio confortável, e eu encarei seus olhos pequenos. Estava com pequenas estrelas e o sol mais a frente se pondo, uma cena linda

— Igual você, meu amor – brinquei engrossando a voz em um tom galanteador, o que fez ele me encarar estranho e começarmos a rir alto feito idiotas

— Porra, você estragou o momento romântico! – me xingou me encarando ainda na mesma posição.

Seus olhos brilhavam lindamente naquele dia e eu acabei me perdendo ali.

— É que eu sou gostoso – respondi brincalhão o vendo rir incrédulo – Gostosos são cheios de charme. E eu nem tô falando da novela.

Me levantei do chão e o puxei junto de mim, que ficou confuso. Me aproximei de si e com um sorriso perverso toquei seu ombro como um tapinha.

— Tá com você, Guinho – usei seu apelido de forma sarcástica e sai correndo, rindo de sua expressão raivosa.

— KIM TAEHYUNG!”

É... iria chover.

°•

Quando o sinal para o fim das aulas soou, fui ágil a sair e ir direto para a biblioteca usar o computador.

Ninguém iria lá para isso, sempre preferiam o laboratório de informática pois os computadores eram melhores e mais rápidos. Mas se eu fosse lá, alguém poderia ver o que eu estava fazendo.

Acessei meu e-mail, pegando as imagens das conversas com Yang Mi. Aproveitei que ela tinha foto de perfil e seu número exposto e coloquei no e-mail também, logo fazendo a colagem das fotos.

Olhei para as mensagens em que ela falou do Chim e me senti um pouco mal. Ele havia deixado eu usar aquela mensagem, mas fiquei triste por ter que o expor assim, então decidi ocultar seu nome e algumas frases com o borrão preto.

Ele não merecia sofrer por algo que não era culpa dele.

“– Você é meu soul, Tae. O que aflige você, aflige a mim. E por incrível que pareça, isso está a afligir nós dois no mesmo nível, então faça o que tiver que ser feito” – foi o que ele me disse. Só sei que nesse dia, eu e Jimin E ficamos o dia todo juntos, como a muito tempo não fazíamos.

Agora era só esperar até a hora do jogo dos Tigers.

Até ter novamente a parte que falta em meu coração.

°•

Já estava dando 18:00 horas e eu soube que era minha hora de agir. Hoje eu não ficaria para animar a torcida com os Cheers, apenas o Jimin. E era ele que iria me ajudar no meu plano de parar o jogo antes mesmo dele começar.

Os Cheers chegaram já fazendo suas piruetas e a coreografia de abertura dos jogos anuais.

O diretor e o treinador estavam ao lado do “palco”, esperando sua vez de falar, enquanto eu estava atrás do palco esperando a hora certa.

Eu começaria a agir depois que Jayhyun, o ômega que sempre faz a abertura dos eventos escolares anuais por ser presidente do grêmio, cantasse o hino nacional, e quando aconteceu, apenas olhei para Jimin e ele fez um aceno com a cabeça, saindo de minha visão.

Seria agora!

O diretor subiu ao palco para falar, mas todas as luzes da quadra foram apagadas. Começaram os murmurinhos, mas logo eu conectei meu notebook com as tomadas de som e com o datashow onde passaria as imagens dos antigos jogos dos Tigers.

Acessei minha pasta onde havia salvo a montagem com as fotos das conversas e comecei a passá-las.

Primeiro o número do celular da Yang tampando com um borrão o final do número, em seguida sua foto, sempre deixando um curto período, mas suficiente, de tempo para que todos analisassem com calma. Passei as primeiras conversas, as fotos, claro, censuradas, que ela mandou e suas ameaças.

Vi-a arregalar os olhos de onde estava sentada com as Cheers e todos começaram a encará-la murmurando algumas coisas.

Mesmo tenso, passei todas as fotos. Onde ela expôs a vida pessoal de nós quatro.

Quando terminei a passagem das fotos, coloquei uma mensagem escrita “cuidado com quem diz ser nossos amigos e para quem contamos segredos”.

Logo os alunos que estavam na quadra começaram a vaiar e a murmurar coisas entre eles mesmos. Sorri aliviado que a primeira parte do plano havia dado certo e que consegui o apoio dos alunos com isso.

Mandei uma mensagem para Jimin, falando que ele já podia acender as luzes. Com aquele breu todo, o diretor havia mandado recuar o sistema automático da proteção da quadra, dando vista para as estrelas se olhássemos o céu.

Jimin acendeu as luzes e vi Jungkook puxando um Yoongi emburrado para a frente.

Subi ao palco e mais burburinhos foram soltos, respirei fundo e continuei.

— Licencinha, Diretor – puxei o microfone de sua mão, que me encarou incrédulo e depois negou com a cabeça, saindo do palco e indo para sua área reservada para ver os jogos.

Olhei para todo mundo, que agora estavam em silêncio. Procurei os olhos do meu melhor amigo, o vendo com um sorriso singelo nos lábios, que logo se transformou em um mudo "você consegue”. Vi Jungkook com um sorriso pequeno e fazendo joinha com as duas mãos. Sorri e respirei fundo, logo encarando o olhar curioso de Yoongi para mim.

— Isso aqui não é por acaso – comecei falando – Sim, eu planejei tudo isso desde o início. – olhei para as pessoas que ainda mantinham silêncio – Eu não esperava fazer isso um dia, mas aqui estou eu. Diante da escola inteira, pra deixar meu orgulho de lado, e deixar me permitir pela primeira vez.

Olhei o alfa boquiaberto e sorri fraco, desviando o olhar do seu por um momento e logo voltando a nutri-lo com mais vontade

— Essas conversas não são falsas, nada aqui é falso. A não ser essa garota! – apontei na direção da Yang, que me encarou com ódio no olhar e vergonha dos outros ao mesmo tempo – Ela me subornou a me afastar dos meus amigos e a fazer merda, tudo por que é uma obcecada sem controle. – cuspi as palavras com nojo – Tomem cuidado de verdade com suas amizades, para que vocês não sejam expostos a coisas desse tipo! Com a autorização dos envolvidos, eu pude publicar isso. E ainda bem que ninguém aqui passa por problemas como dizem as mensagens – falei sério e comecei a circular o palco – Não se deixem levar pela lábia dos outros, confiem em si mesmos antes de confiar nas pessoas que mal conhecem. E ainda mais em uma dessas!

Evitei a parte em que falava do meu irmão. Ele não escolheu não se sentir atraído por ômegas, e eu jamais iria o expor daquela forma. Se nem meus pais foram preconceituosos, eu não seria. E eu não iria o expor dessa forma. Ele é um idiota as vezes, mas é meu irmão, e o amo muito.

Lhe mostrei o dedo do meio e ouvi seu grito de raiva, a vendo sair pisando forte da arena de esporte.

As pessoas começaram a bater palmas e a gritar me motivando, o que me fez ficar aliviado por um tempo.

Olhei para o céu e vi um raio cortar as nuvens. Suspirei e voltei o microfone novamente a altura dos lábios.

— Todos aqui sabem quem eu sou. O ômega que não gosta de alfas, e sim, estão corretos. Não gosto mesmo – falei óbvio e eles riram – Mas por ironia do destino, ele me lançou uma exceção. E eu não poderia ficar mais feliz por essa exceção ter brotado do inferno aqui – encarei o Min novamente, que agora tinha os braços cruzados e um pequeno sorriso nos lábios – Eu tinha muita sorte em tê-lo me provocando todos os dias. Me enchendo o saco sem parar, e testando a minha paciência, até me ver explodir e querer cortar sua cabeça e bota-la em uma bandeja de prata – ri nasal do que falei – Mas a gente só passa a dar valor às coisas, quando perde, e eu aprendi da pior forma que temos que valorizar o que temos enquanto estão aqui.

Respirei fundo e encarei o Min que já não tinha o sorriso no rosto. Ouvi mais um trovejar baixinho, e olhei novamente para ele, que arqueou as sobrancelhas como se esperasse que eu continuasse.

— Eu sou orgulhoso, chato, egoísta, escandaloso, tagarela, orgulhoso. Penso só em mim mesmo e no que eu pareço ser. Sou metido, egocêntrico. As vezes muito idiota e burro. Eu já falei orgulhoso? – os alunos riram e eu também – E foi por causa disso que eu perdi o que eu descobri ser o que me completava. Eu perdi a minha exceção nesse mundo de “odeie alfas, eles são patéticos” – fiz uma voz engraçada e uma careta – E eu fico feliz de saber que a minha exceção é você, Min Yoongi.

O alfa me encarou assustado e eu ri de sua carinha fofa. Os alunos começaram a murmurar coisas e eu apenas respirei fundo novamente.

Jimin estava agora nos braços de Jungkook, e o amor dos dois me motivou a continuar, pois eu queria estar assim com quem eu gostava.

E eu gostava de Min Yoongi.

— Eu estou aqui agora, Sr. Min, dizendo para essa escola inteira que eu gosto de você – voltei a falar – Então: EU GOSTO DE VOCÊ! – gritei bem alto no microfone – Gosto de você, como nunca gostei de mais ninguém em toda minha vida! – fui descendo do palco, indo em sua direção, ele estava sentado em uma cadeira no meio da quadra – Eu fui babaca e idiota por colocar minha popularidade de “ômega fodão” acima do que eu sentia. E eu peço desculpas. Desculpa por ter sido idiota. Desculpa por ter vacilado com você. Desculpa! Eu só peço desculpas, pois eu tive que errar pra caralho pra saber que quem eu quero pra minha vida é só você!

Parei em sua frente e o encarei nos olhos com um pequeno sorriso.

— Me perdoe Min Yoongi, por ter feito você sentir o que não merecia. Me perdoe por não fazer certo. Você é o alfa perfeito, o que qualquer um iria querer ter, mas do mesmo jeito você escolheu a mim. Com tantas oportunidades e uma louca obcecada você escolheu a mim – o mais velho riu e eu sorri.

Desliguei o microfone e entreguei a Jungkook, que saiu com Jimin dali. Yoongi levantou e ficou de frente para mim. Encarei seus olhos brilhantes e entrelacei uma de suas mãos com a minha.

— Me perdoe Min Yoongi, por gostar tanto ao ponto de te perder e levantar as montanhas pra ter você de volta.

O esverdeado me encarou nos olhos e com sua outra mão, me fez um carinho no rosto. Fechei os olhos aproveitando aquele afeto. Nem Deus saberia o tamanho da falta que eu senti daquela Ervilha humana.

— Esperar por você é como esperar a chuva nessa seca: inútil e decepcionante¹ – eu disse, sem conseguir esconder a ansiedade que se apossou de mim.

Ele apenas me encarou, e dessa vez eu tive que abaixar o olhar, pois talvez eu não tivesse o que eu tanto queria.

O alfa me abraçou apertando e eu retribui,  um pouco assustado no início. Aquele abraço gostoso que eu demorei tanto para ganhar. Aquele cheirinho bom de hortelã se misturando ao meu. Era uma combinação perfeita.

Ele era a combinação perfeita.

Yoongi me soltou sem dizer nada, e com seu típico sorrisinho de lado. Antes que eu pudesse reagir, Yoongi me puxou contra seu corpo quente e me beijou. Me beijou como eu quis desde o início que me beijasse.

Sua língua se enroscou na minha, sem pressa alguma e apenas aproveitamos aquele carinho singelo.

Separamos o beijo ao sentir pinguinhos molhando minha cabeça.

Olhei para o teto descoberto da quadra e vi a chuva começar a cair em mim.

Encarei novamente Yoongi e nós dois rimos.

— Desculpe te fazer esperar chover ¹ – ele disse com seu sorriso gengival bonito, antes de me beijar de novo debaixo da chuva, enquanto ouvíamos as palmas fortes e os gritos dos alunos.

Rimos entre o beijo e saímos do meio da quadra, para uma área mais coberta.

O encarei feliz por tudo ter dado certo. Eu havia conseguido o perdão pela pessoa que eu estava perdidamente apaixonada e já começando a amar de verdade.

— Eu também gosto de você de verdade, Tigrezinho – me deu um beijo na bochecha e me senti corar – Valeu a pena toda essa Ilíada –  riu baixo e eu acompanhei.

— Chegamos juntos na nossa odisseia – falei calmo e me encostei no seu ombro, relaxando ao sentir seu cheirinho tão gostoso e típico de Yoongi.

 O cheirinho do meu alfa Min Yoongi.