1. Spirit Fanfics >
  2. Aliança >
  3. Sequelas

História Aliança - Sequelas


Escrita por: Four_Rabbit

Notas do Autor


Alguém realmente não quer que eu publique de duas em duas semanas certinho, pqp, bem, três dias adiantado, aqui esta o quinto cap de aliança.

Então jovens, pode ser que eu demore a postar, por dois lindos motivos
1 Eu só tenho mais uma capítulo escrito depois desse, e depois o vazio.
2 A trouxa aqui decidiu escrever outra história. Ao mesmo tempo.

Mas espero que gostem deste, me desculpem qualquer erro

Capítulo 5 - Sequelas


Serpenteando por suas costas, um par de asas negras se extendia, entretanto, a maior parte de uma havia sido cortada por uma lâmina mortal e eficaz, reduzindo-se a uma ferida desforme e ensaguentada, enquanto a outra pendia frágil ao seu lado, não totalmente inteira, com diversos cortes de espessuras diversas, repletos de sangue tanto fresco quanto coagulado e ataduras. Suas penas cobriam o chão de pedras ao seu lado, despencando devagar e continuamente, revelando a pele escurecida. Kageyama permanecia com os olhos fechados, e Hinata daria tudo para ver o azul frio de seus olhos novamente, mesmo que estes estivessem cercados das olheiras profundas e a pele pálida que aderiram as características do moreno.

─ Qual a situação? ─ murmurou, sem virar-se para o feitiçeiro.

─ A asa esquerda está irrecuperável, e a direita... ─ começou cautelosamente, lançando um olhar para o rei do reino rival antes de prosseguir: ─ com grandes possibilidades de tornar-se algo pior ─ concluiu, arrumando a postura e colocando as mãos entrelaçadas atrás das costas em sinal de respeito.

─ Como assim? ─ Seu tom era indecifrável. Yamaguchi hesitou.

─ Devido a não ter recebido o devido tratamento imediatamente, está infectada e... Eu não consigo estancar o sangue por muito tempo, se não fizermos algo logo, talvez ele venha a falecer de hemorragia. ─ foi objetivo, buscando a reação do amigo com o olhar. Hinata permaneceu ajoelhado por um segundo, para então se levantar e caminhar na direção da porta.

─ Faça o que for preciso ─ e bateu a pesada porta de madeira às suas costas.

[•🔷•]

─ Então, para confirmar, estamos formalmente em guerra? ─ perguntou Hinata, apoiando o cotovelo na mesa e o queixo em uma das mãos, lançando ao conselheiro um olhar cansado.

─ Sim. Quero dizer, Ushijima Wakatoshi até mandou um comunicado, então acredito que sim ─ o albino soou um pouco ácido, mostrando que ainda estava irritado com as atitudes do ruivo. ─ Isto afetará ambos os reinos significativamente ─ comentou mais para si mesmo, suspirando com cansaço. O rei concordou.

─ Principalmente Kurayami ─ para um reino já tão conturbado, ficar sem seu rei, em uma guerra, iniciada com a morte de milhares de pessoas, o deixaria a beira do colapso. ─ Por este motivo, devemos dar prioridade máxima para a recuperação de seu governante ─ observou, parecendo tentar manter a calma e frieza.

─ O que propõe, Vossa Alteza? ─ perguntou o albino, mantendo a conversa focada em formalidades.

─ Não sei se confio em mim mesmo para tomar decisões ─ sussurrou, sem encarar o maior, a culpa perceptível em cada ação. Um silêncio desconfortável se instalou, onde nenhum dos dois conseguia pensar em algo para dizer, até que o conselheiro limpou a garganta.

─ Nesse caso, acredito que o auxílio de Hitoka Yachi seria bem-vindo ─ disse Sugawara, olhando para o menor em busca de sua aprovação.

─ Ah sim, imagino que por ela ser uma manipuladora, será de grande utilidade para Yamaguchi, ─ respondeu vagamente, e o prateado interpretou aquilo como uma deixa para retirar-se do pequeno escritório.

Os dois reinos já foram um, e por esse motivo, a divisa geográfica entre seus territórios era pequena, e isto possibilitava contato entre os habitantes de ambos os lados. Hinata conhecia bem a situação de Kurayami, os inúmeros camponeses que atravessavam a linha, misturando-se ao feliz e pacífico reino de Hikari. As notícias chegavam rápido, cada revolta, problema ou intriga, e os boatos corriam soltos, em terras férteis e calmas, era difícil imaginar um povo sem voz, punições severas por insatisfação, desigualdade e fome. Com um rei tão bom, em comparação Kageyama Tobio soava tão cruel. Um ditador arrogante, narcisista e covarde, e como poderia ser de outro modo? Estava em seu sangue, em sua vida, em sua criação.

Mas se era tão terrível, um monstro que só pensava em si mesmo, por que havia sacrificado tanto por um rival, sem hesitar?

Se era tão frio, por que parecerá tão vulnerável?

Se era tão ausente, por que pareceu tão perturbado ao saber que seu castelo fora atacado, não a si, ou tesouros, ou territórios, mas seus criados?

Se era tão forte, por que parecia tão solitário?

Se Hinata o odiava tanto, por que precisava tanto ver o azul de seus olhos mais uma vez?

O rei de Hikari suspirou, dizendo para si mesmo que precisava sair um pouco, pensar, colocar as ideias no lugar. Cuidar dos preparativos para o combate que se aproximava.

[•🔷•]

─ Quando enviaremos nossas tropas? ─ perguntou o prateado com certa ansiedade, parecendo prestes a desaparecer sob a montanha de papel que abarrotava sua mesa.

─Isto depende do local onde o combate ocorrerá, mas cinco dias seriam suficientes para preparar minhas tropas. ─ respondeu o general de Kurayami, parecendo avaliar o estado de Suga.

─ Certo... Ahn, o Shouyou, quer dizer, o rei de Hikari está muito abalado com os acontecimentos recentes, então... Qualquer atualização deve ser relatada a mim ─ o moreno assentiu.

─ Ele está bem? ─ o albino negou com a cabeça ─ Você está bem? ─ o conselheiro hesitou, então negou mais uma vez, para depois apoiar os cotovelos na mesa e cobrir o rosto com ambas as mãos.

─ Mas vou ficar. Tenho que ficar ─ suspirou, pedindo desesperadamente por uma pausa, antes que enlouquecesse. Entretanto, aquela era sua função, havia literalmente sido criado para isso, manter a sanidade enquanto tudo ruia a sua volta. O general assentiu, pois entendia.

Mas nenhum dos dois precisava passar por aquilo sozinhos.

O moreno contornou a mesa de madeira escura do conselheiro e, de modo hesitante, colocou uma das mãos em cada ombro do albino, e apenas seu toque caloroso já era o suficiente para reconfortá-lo. Suga sorriu, lembrando-se de como Daichi o ajudará do mesmo modo tímido horas antes, como o envolveu com seus braços, permitindo que o prateado enterrasse a cabeça em seu peito, e como seu cheiro ─ um leve odor amadeirado ─ entorpeceu-o. O general não parecia ser uma pessoa delicada e carinhosa, sua hesitação mostrava que não sabia muito bem como ajudar, mas aquilo era exatamente o que Suga precisava, e valeu muito mais que qualquer palavra de consolo.

O menor se levantou, ambos se encararam, os rostos a centímetros do rosto um do outro. Daichi colocou as mãos firmes no quadril do albino, que sorriu, com um brilho malicioso em seus olhos cor de avelã, e a distância entre eles foi diminuída.

─ Sabe o que você precisa? ─ sussurrou o moreno com a voz rouca, e o prateado emitiu um ruído interrogativo em resposta ─ Beber alguma coisa. Alguma coisa realmente muito forte ─ afirmou com seriedade, e Suga inclinou a cabeça para trás e gargalhou. Com aquele movimento, Daichi pôde ter uma visão perfeita de seu pescoço e clavícula, imaginando como seria marcar aquela pele pálida, perdendo-se no cheiro de folhas de papel e sabonete que este exalava. Imaginou como seria seguir a linha de seu corpo, revelando seu tórax por sob a blusa negra e o colete em tons de laranja.

─ Agora não posso, mas por que não fazemos o seguinte...─ Sugawara percebeu o olhar do maior, o conhecimento de ser desejado aumentando o brilho de malícia em seus olhos. Aproximou a boca do ouvido do moreno, sussurrando com provocação: ─ Vá nos meus aposentos hoje a noite, e irei beber tudo que quiser ─ o general corou, finalmente entendendo o que o guerreiro de defesa de Hikari queria dizer, ao afirmar que o conselheiro não era tão puritano quanto aparentava.

[•🔷•]

Yachi nunca se imaginou como alguém importante. Passou a maior parte de sua vida em um pequeno e remoto vilarejo, quase na divisa entre os dois reinos, onde pretendia crescer, seguir o emprego da mãe como decoradora, casar-se com algun homem igualmente insignificante e morrer sem ter feito nada incrível.

Mas então todos aqueles ingredientes comuns começaram a chamá-la, e ela sabia a ordem e a quantidade necessária, sabia que era única que podia uní-los e sabia que aquilo mudaria sua vida para sempre.

Ela era uma manipuladora de magia, e trabalhava no castelo de Kurayami como feiticeira desde que conheceu Kiyoko Shimizu, que com certeza não era um homem, muito menos insignificante.

E pelo jeito, também faria algo incrível, se conseguisse salvar seu rei, ao unir forças com o feitiçeiro cinzento do reino de Hikari.

O castelo do reino vizinho era bem menor que o de Kurayami. Lembrava que da primeira vez que entrou ali, achou que ia se perder. Mas depois mudou de ideia. Tinha certeza que ia se perder. Contudo, depois de quase meia década ali, passear pelos labirintos escuros e luxuosos se tornou automático.

Além de menor, era bem mais convidativo, com seus jardins ensolarados e árvores frutíferas, construção baixa de tijolos amarelados, e janelas grandes e confortáveis. Seu olhar vagou maravilhado por todas aquelas flores, árvores, grama, e pequenos enfeites ornamentais, até ouvir uma voz tímida a suas costas:

─ Você é Hitoka Yachi? ─ ele tinha a pele morena e o rosto coberto de sardas, além de cabelos negro esverdeados, e usava uma longa capa com as cores de Hikari fechada com um broche em formado de morango.

─ S-sim ─ gaguejou, arrumando a pequena bolsa de couro que caia de seu ombro. Ele suspirou aliviado.

─ Sou Yamaguchi Tadashi. Siga-me ─ e sorriu gentilmente, para depois fazer um gesto para que a loira o seguisse. Ele a conduziu por corredores e lances de escadas, chegando na torre leste do castelo um quarto que, se não era muito espaçoso, compensava aquilo em sua altura, com paredes repletas de livros e frascos extendendo-se por muitos metros acima. Entretanto, o que mais a surpreendeu estava aos seus pés.

A loira percebeu que os boatos que ouvirá não podiam ser verdadeiros, aqueles reis não tinham como serem rivais, pelo contrário, o pequeno rei de cabelos ruivos parecia nutrir tal zelo pelo moreno, quanto o visto em amigos de longa data. Era possível identificar na maneira como se inclinava no leito do de cabelos negros, os olhos preenchidos de preocupação, as asas negras abaixadas em suas costas, passando a comprensa de água quente por sua testa com tanto cuidado, quase como se tentasse compensar algo.

Yachi quase não foi capaz de desviar o olhar do ruivo, mas quando viu o machucado de Kageyama, teve que reprimir um grito.

─ O-o quê aconteceu? ─ disse, a voz soando um pouco estridente. Apenas neste momento o rei pareceu notá-la, virando em sua direção. A loira engoliu em seco perante a intensidade daqueles olhos castanhos. Ele tossiu e se levantou, arrumando as roupas e corando, como se não quisesse ter sido visto ali.

─ Ele... ─ comeceu o garoto de sardas, como se não soubesse como dizer aquilo.

─ Eu o levei comigo para lutar na batalha contra Shiratorizawa, e o General Escarlate cortou sua asa esquerda com sua lâmina quando ele... ─ Hinata engoliu em seco ─ quando o rei de Kurayami me salvou ─ concluiu, e seus olhos ficaram marejados e repletos de culpa. Um silêncio desconfortável se instalou, e os dois feiticeiros tocaram um longo olhar, decidindo quem gaguejaria algum consolo desajeitado. Yachi perdeu.

─ B-bem, eu... Vou me esforçar ao máximo para que sua recuperação ocorra da melhor forma possível ─ e fez uma reverência tão exagerada, que as pontas de seus cabelos tocaram o chão.

─ O rei de Kurayami pode morrer. Seus ferimentos não se curam, ele pode simplesmente Sangrar Até a Morte. E mesmo se sobreviver, nunca mais poderá voar. Nunca. ─ murmurou Hinata, e os dois começaram a ficar um pouco desesperados. Ele continuou: ─ E isso é minha culpa. Por ter sido exatamente o que diziam que eu era. Inconsequente. Irresponsável. Incapaz de liderar coisa alguma! ─ o alaranjado gritou, com a voz rouca e parecendo a beira de lágrimas.

─ Shouyou... ─ Yamaguchi estendeu o braço, sem saber o que dizer para o amigo. Este despensou o gesto com um balanço da cabeça.

─ Eu vou ficar bem. Nós simplesmente não podemos perder esse babaca ─ e se recuperou, lançando um olhar sério para ambos, sem pressão, o futuro de todo um reino, talvez dois, depende de vocês.

─ Pode contar conosco, Vossa Alteza ─ disseram os dois em sincronia, fazendo reverências idênticas. Assim que o rei saiu, os dois começaram a murmurar instruções tanto para o outro quanto para si mesmos, correndo apressadamente por todo o recinto, enquanto Yachi reunia todos os ingredientes que precisaria, Yamaguchi tentava reduzir os ferimentos do rei.

Eram ambos muito talentosos, mas nenhum tinha muito controle emocional.

[•🔷•]

O primeiro dos sentidos de Kageyama que despertou foi a audição. Ecos abafados e distantes, palavras que em sua maioria ele não conhecia, instruções nervosas e pedidos de desculpas apressados. Então entreabriu os olhos, mantendo-os semicerrados devido a luz escassa, mas incômoda, que entrava por uma das janelas altas. Ouvia o assobio do vento e o canto dos pássaros ao longe, e as vozes se tornaram mais claras.

Foi quando veio a dor. Pontadas em ambas suas asas, principalmente a esquerda, que depois de tanta inconsciência entorpecida, veio com toda a força, provocando pontos negros em sua visão. Um grito terrível cortou o silêncio, o som ecoando trêmulo e doloroso pelo recinto, e logo notou que o grito partia dele. Um garoto de sardas e cabelos negros surgiu em seu campo de visão, parecendo preocupado e alerta.

─ Ele acordou! ─ exclamou.

─ Eu percebi! ─ retrucou a voz estridente de sua feiticeira, e esta logo surgiu em sua vista, dando ao rei algum tipo de poção, que desceu como ácido por sua garganta, fazendo-o tossir para se livrar do gosto horrível.

─ Ai Me Deus, ele voltou a sangrar! Achei que tinha estancado o sangramento, Sr. Yamaguchi! ─ esbugalhou os olhos, quase com desespero, e Kageyama pôde sentir o líquido quente escorrendo por suas costas, provocando novas pontadas de dor.

─ E eu estanquei! Vai ser muito pior com ele acordado! ─ gemeu, colocando as mãos nos cabelos com nervosismo e se ajoelhando ao lado do moreno ─ Vossa Alteza, isso vai doer bastante, então... ahn... ─ ele buscou com o olhar, pegando uma toalha limpa como se sua vida dependesse desta ─ morda isso ─ e colocou entre os dentes do rei, que fez o que fora ordenado, ainda desnorteado. Quando as mãos do garoto de sardas pousaram sobre suas asas, seus gritos de dor voltaram a ecoar pelo quarto.

A loira, passava um creme esverdeado em algumas ataduras novas, enquanto mexia outro frasco com a boca.

─ Não é possível! aquela maldita espada deveria ter algum tipo de feitiço que impede a ferida de cicatrizar por muito tempo. Que diabos é isso?! ─ e afundou seu toque sobre o rei, fazendo o sangramento diminuir. Yamaguchi raramente usava qualquer tipo de impropério, e aquilo era mais uma prova de sua frustração.

─ Bem, realmente tem um feitiço para isto, você não teria como saber, afinal, é um feitiçeiro cinzento ─ ela disse de maneira temerosa, colocando as ataduras sobre os ferimentos menores ─ Olha, se amputarmos as asas vai cicatrizar. Ele a encarou como se estivesse ficado louca.

─ Quer Arrancar as Asas do Rei?! ─ gritou, perante a sugestão.

─ Isso mesmo. O veneno só está nas feridas das asas, então as cicatrizes iriam fechar. Ele não poderia voar de todo modo ─ Yamaguchi abriu a boca para argumentar, mas ela o interrompeu ─ a não ser que tenha habilidade para regenerar a... a Droga de uma asa inteira, consegue fazer isso?! ─ e levantou uma sobrancelha, deixando toda a gentileza de lado. Ele se calou, por vários segundos, até falar, com a voz decidida:

─ Dê alguma anestesia para o rei. ─ suspirou ─ Vamos operá-lo.

[•🔷•]

─ O rei de Kurayami ainda está em recuperação, mas tenho certeza que considera sua visita bem vinda ─ o feitiçeiro falou muito rápido, andando com igual velocidade pelos corredores, seus passos ecoando pelas pedras esbranquiçadas, tornando difícil para Hinata o acompanhar.

─ Ahn... ele está cosciente? ─ disse hesitante, e Yamaguchi assentiu com a cabeça, sem se virar para o ruivo. O silêncio prevaleceu por longos momentos, até que Hinata interrogou cuidadosamente: ─ Acha que ele me odeia? ─ Yamaguchi o encarou. Hinata mordia o lábios inferior, e seus olhos carregavam uma expressão de dar pena, como se sua vida dependesse da resposta do moreno.

─ Vossa Alteza iria odiá-lo? ─ perguntou finalmente, depois de ponderar sobre o que deveria responder. O alaranjado negou com veemência ─ Então o rei Kageyama não o odiara. E abriu a porta dupla dos aposentos provisórios de Kageyama.

Diferente de Hikari, a linhagem real de Kurayami era a mesma de seu governante original, passando por todas as gerações através dos séculos. Por este motivo, havia tradições a serem seguidas, modos aperfeiçoados com o passar dos anos, de tornar cada herdeiro gentil demais em um bom ditador.

Kageyama era uma criança gentil demais.

Era raro naqueles tempos, mas seu pai se casara por amor. Não fora uma boa decisão, uma rainha de Kurayami tinha que ser fria, rígida, dominante e forte. Ela iria criar o próximo rei sozinha, tinha que ser, no mínimo, tão forte quanto seu parceiro. Não podia ser uma nobre pequena e frágil, com sorriso doce e acostumada com o luxo da riqueza hereditária. O povo gostava dela, era gentil, acenava quando passava e dava flores para crianças, uma ótima rainha. Se estivessem em Hikari. Mas não estavam, e em Kurayami, se os camponeses gostam de você, isso não é um bom sinal, se as pessoas frias, arrogantes, racionais, analistas, acreditam que você não serve para criar a próxima geração de reinado, isso não é um bom sinal.

E se você morrer de alguma doença qualquer, vão dizer que uma rainha devia ser uma guerreira, não uma mulher vulnerável que se deixa levar pela primeiria gripe. E, quando o rei em luto não puder ouvir, dirão que foi melhor assim.

Agora, Vossa Majestade deve escolher com sabedoria, a melhor entre as melhores, devemos compensar os cinco anos de bondade, antes que seja tarde demais para o pequeno Kageyama Tobio.

Ele escolheu bem na segunda tentativa. E foi melhor assim, decisões importantes como essa não devem ser baseadas em algo como amor.

A primeira vez que se viram ficou marcada na memória de Kageyama, ele se lembrava de brincar em seu quarto, a chuva caia impiedosa pela janela, mas ninguém se diria habitante de Kurayami se si assustasse com alguns trovões e árvores incendiadas, nem mesmo uma criança. A porta se escancarou, e ele levantou a cabeça automaticamente em reação ao barulho, os olhos azulados surpresos e amedrontados perante tal imponência. Ela era bonita, mas não como sua mãe, com ser corpo pequeno, cabelos ruivos e os olhos azuis escuros que Kageyama herdará, não, a nova rainha era bem diferente. Era alta, a pele escura como a madeira da janela as suas costas e os cabelos negros como café, o mesmo tom de sua íris, nas quais ele via força e poder. Na época, seu azul só tinha inocência e curiosidade, mas logo entendeu que, diferente de sua progenitora, ela cuidaria de mudar aquilo.

─ Então, imagino que este seja o Tobio ─ nem se importou em sorrir, cruzando os braços e o analisando cuidadosamente. Kageyama tratou de se colocar de pé em um pulo, fazendo uma reverência sutil e sorrindo timidamente. Ela fez a expressão que ele aprenderia a relacionar com a identificação de uma falha, lançando-lhe um olhar de desprezo descrente e levantando uma sobrancelha ─ Ainda não me casei com seu pai, então ainda me encontro em uma posição hierárquica menor que a sua, realmente acredita que um rei deveria se curvar perante uma reles filha de um militar? Inclusive, depois desta ter claramente o desrespeitado, ao tratá-lo pelo primeiro nome? ─ interrogou com rispidez. Ele abaixou a cabeça.

─ Me desculpe ─ a futura rainha continuou com a mesma expressão, mostrando que não era aquela resposta que esperava. Kageyama lançou um olhar desesperado para o pai. Ela suspirou.

─ Bem, essa é sua primeira lição. Não importa o quão uma pessoa pareça importante, você deve mostrar que é mais ─ ele concordou com a cabeça rapidamente ─ E nunca, nunca peça desculpas. Por nada.

─ Mesmo se eu estiver errado? ─ interrogou, levantando a cabeça com ingenuidade.

─ O rei de Kurayami não pode estar errado ─ e lhe deu as costas, as asas negras trepidando a centímetros do rosto do menor.

Enquanto o rei de Kurayami cuidava do reinado atual, Cyra criava o futuro. Kageyama tinha que saber cada estratégia de batalha, cada ataque e defesa, cada possibilidade do que poderia fazer com suas asas, cada detalhe sobre cada detalhe de seu reino, cada regra de etiqueta para um rei (ela nunca se importará com boas maneiras, mas o moreno já tinha ganhado muitas avisos sutis e dolorosos para que ajeitasse a postura, levantasse a cabeça, parasse de pedir desculpas, andasse a passos mais firmes, voasse com mais graça, falasse com mais imponência).

Kageyama passou uma vida tentando ser cruel, frio e impor respeito, e Meu Deus, o que faria se não fosse suficiente?

O que faria se perdesse qualquer razão, e um impulso de idiotice, sacrificasse tanto por alguém que nem mesmo gostava?

Quando o rei de Hikari entrou, parecia resistir ao impulso de abraçar o maior, e tentava ao máximo não olhar para suas cicatrizes, tentando manter-se impassível.

─ Fico feliz que sua recuperação tenha ocorrido sem maiores contratempos, Vossa Alteza ─ disse então, com a voz excessivamente formal.

─ Eu tenho duas malditas cicatrizes onde deveriam estar minhas asas, acho que isso se encaixa em "maiores contratempos" ─ resmungou entredentes, e Hinata se encolheu.

─ Está vivo, é isto que importa ─ disse Tsukishima ao seu lado, ajeitando os óculos sobre o rosto. Kageyama concordou com relutância, então pareceu lembrar-se de algo e virou para seu salvador.

─ Então você é o incrível garoto que quebrou a barreira de ouro maciço de meu conselheiro ─ costumava falar aquilo devido ao tom dourado dos olhos de seu conselheiro. Yamaguchi corou.

─ É... ─ e sorriu timidamente para o namorado, que assentiu, sorrindo também, mesmo que de modo mais sutil.

Hinata mordeu o lábio inferior.

─ Eu gostaria de ter uma conversa com Vossa Alteza ─ disse subitamente, chamando toda a atenção para si ─ Em particular. ─ concluiu, olhando para todos os outros como se implorasse por privacidade. O loiro e o de sardas trocaram um olhar, então fizeram uma pequena reverência e se foram. Hinata suspirou, sem saber por onde começar.

─ Por que me salvou? ─ interrogou, os olhos buscando os do moreno. Kageyama hesitou, e por um momento pensou em dizer que não sabia, mas mudou de ideia. Era mais fácil mentir para si mesmo.

─ Não fiz isso por você, se é o que está pensando, não acha ser um pouco arrogante pensar que me sacrificaria porque o, Oh, Pequeno Gigante estava em perigo? ─ e abriu um sorriso de desprezo ─ Somos aliados nessa guerra, se morresse, estaria em desvantagem contra Shiratorizawa, e não iria perder território, muito menos dinheiro porque não conseguia lidar com um inimigo qualquer ─ Hinata recuou, não esperava aquelas palavras.

─ U-um inimigo qualquer?! ─ gaguejou ─ Não sei se si recorda, mas era contra o General Escarlate que eu batalhava! ─ defendeu-se. Kageyama riu com escárnio.

─ Também havia isso, sua idiotice e infantilidade são realmente um incômodo ─ revirou os olhos, para depois inclinar a cabeça para o lado e encarar o ruivo com falsa pena ─ Não seria ótimo se eu salvasse o tão adorado rei de Hikari? ─ e riu com superioridade. Um momento de silêncio se seguiu, onde o ruivo cerrou os punhos e mordeu os lábios até sentir gosto de sangue. Então inclinou a cabeça para trás e gargalhou.

A cada risada, Kageyama se arrependia mais daquelas palavras.

─ Eu estava certo sobre você, Vossa Alteza, é exatamente como os boatos dizem ─ e riu mais uma vez, antes de dar as costas.

Hinata tentava esquecer os olhos do outro, não se lembraria de como ele surgiu a sua frente, de como pareceu aceitar que as coisas acabariam ali.

"Eu não poderia deixar sua chama se extinguir"

Não pensaria em como sorrirá, em como se sacrificará sem pensar, ou nas lágrimas que derramará, por não poder ver o azul dos olhos alheios mais uma vez.

"E quanto a você?!"

Não lembraria de sua dor em comum, de como Kageyama lhe confessará compartilhar da dor de perder os pais. Não lembraria de como o outro parecia tão solitário e pequeno, quando achava que ninguém o observava.

"Nunca tive algo assim"

Era mais fácil fingir que nada disso acontecerá.

Kageyama não pensaria em como o ruivo parecia chamá-lo, e como parecia ter uma necessidade de estar ao seu lado, ser a sombra de sua chama, e como, naquele momento, simplesmente não conseguia deixar acabar ali, como se corpo se moverá sozinho, e como se sentiu feliz pelo outro estar vivo, mesmo as custas de seu sangue e carne.

Era mais fácil acreditar na própria mentira.


Notas Finais


Ah, uma coisa que esqueci de dizer antes, como já devem ter percebido, esse um mundinho cor de rosa, onde não existe machismo, homofobia, racismo, etc. Sim, a divisão de Kurayami pode soar levemente sexista, mas explicando-a: o governante da linhagem lidera, podendo ser homem ou mulher, enquanto seu parceiro ou parceira cuida da criação do próximo na linhagem real, e seus cuidados são apenas relacionados à treinamento militar acadêmico.

Não esqueçam de comentar suas opiniões, críticas construtivas e etc, lembrem-se também de favoritar se tiverem gostado e compartilhar, para que mais pessoas possam conhecer.

Até o próximo capítulo^^


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...