História Alice em um novo lugar - Sem você

  Eu sentia uma dor horrível. Meu corpo parecia se dissolver em ácido, mas eu tinha que seguir em frente. Algo tão pesado quanto o céu me empurrava para baixo com a ajuda da gravidade, mas eu precisava chegar no final. Uma risada maligna ecoava pelas paredes daquele lugar. "Parabéns, querida. Você ainda está de pé. Mas por quanto tempo ainda vai suportar?"

  Acordei mais uma vez assustada e com falta de ar. Ainda estávamos no ônibus, e de acordo com minha playlist, havia dormido cerca de uma hora.  No momento em que acordei, acabei acordando também Bruno, que me olhava preocupado.

  - Alice, o que aconteceu?

  - Foi... Foi só um pesadelo - disse encarando a paisagem lá fora.

  - Você acha que eu vou acreditar que foi só um pesadelo?

  - Não quero falar agora. - o ônibus para - Vem. Vamos sair e comer alguma coisa.

  - Onde estamos?

  - Santa Catarina. Temos meia hora pra sair e voltar para o ônibus. Tem um restaurante muito bom por aqui e você paga o almoço, maninho.

  - Ah, então é assim?

  - Claro.

               ~~**~~

  - Melhor restaurante do Estado, com certeza. - disse dando uma última garfada.

  - Você não vai escapar de falar comigo sobre aquilo, Alice.

  - Eu sei. Mas ainda não quero falar, então vou fugir mais um pouco.

  - Tudo bem. Quando se sentir mais confortável pra me contar, talvez?

  - Talvez...

  - Ok. Vamos voltar para o ônibus então?

  - Como assim? A gente ainda nem comeu a sobremesa.

  - Sorvete?

  - Sorvete.

  Ele comprou dois potes de sorvete e voltamos para o ônibus.  O silêncio era agoniante, mas era melhor do que falar sobre aquilo.

Apesar de impertinente, Bruno era uma pessoa compreensível afinal.

  Coloquei meus fones e ele os dele e cada um tomou o seu sorvete. Mudei minha playlist pra garantir que eu não pegasse no sono novamente.

Agora o que me resta é esperar. Esperar que eu não surte de novo, esperar que meus pesadelos parem, esperar que a vida pare de me pregar peças e de me tirar pessoas.

Ah, Carlos. Sinto tanto sua falta. Sinto falta das suas piadas sem graça, do seu sorriso, do jeito fofo que você corava quando eu te olhava nos olhos. Afinal, você sempre gostou de mim e eu não vou negar que gostava de você. Eu te amava, Carlos. Por isso eu não desisti de você, por isso eu tentei te salvar, e não me arrependo nem um pouco de ter tentado.

Nunca vou esquecer de quando nós fomos passear no parque e você se mostrou corajoso quando enfrentou o homem que olhava para mim. Ou quando eu beijei sua bochecha e você virou um pimentão. Tantas lembranças, tanta culpa. Queria você aqui comigo. Era você meu melhor amigo e amigos estão sempre ali.

Por que você foi embora? Por que me deixou sozinha no mundo?  O que vai ser de mim agora? Uma garotinha indefesa que chora pelos cantos, fica calada, sofre sozinha. Um nada.