História Alice em um novo lugar - Carlos

 - Ok. Você estava gritando comigo por eu ser um completo idiota, saiu da sala e eu fui atrás de você, mas aí você começou a chorar, e como eu não sei como agir perto de meninas chorando, eu fui buscar suas coisas.  

 - Eu falei por que eu estava chorando?     

- Na verdade nem você sabia.

 - Legal.    

- Eu fui te levar em casa, mas você começou a surtar no meio da rua. Você gritou algo como "Carlos, pára" e desmaiou. Fim.   

- Droga. Eu sabia.   

- Então... Quem é esse Carlos?

 - É uma longa história.    

- Pode começar - sentou-se em uma cadeira.   

 - Carlos era meu melhor amigo.  Mas aconteceram umas... coisas.   Ele descobriu que tinha uma doença grave e começou a ficar louco por causa de uma síndrome que ele tinha. Ele se isolava das pessoas e gritava com todo mundo. Mas comigo ele falava, sabe? Eu era a melhor amiga dele. - disse com a voz embargada pelo choro que começou de repente. - Droga! 

   - Alice...   

- Eu falava com ele pelo telefone, por mensagem e às vezes quando ele estava muito triste ele escrevia cartas. Mas eu nunca ia até lá. Tinha se desacostumado com pessoas, era o que ele dizia sempre. "Você não pode vir Alice. Se eu fizer algo com você, eu nunca irei me perdoar". Ele estava ficando cada vez mais depressivo, dizendo que queria se apagar do mundo de uma vez. E eu não podia deixar ele fazer isso, então pedi permissão para os pais dele e tentei fazer uma visita. Não acabou saindo como o planejado. No começo ele estava meio evasivo, fugindo de mim, fugindo dele mesmo. Depois ele ficou bravo com algo da cabeça dele. Os psiquiatras me disseram que por causa daquela síndrome, ele vivia em uma luta interna constante com ele mesmo. Toda hora ele gritava "pára com isso!", mas ele conversava comigo, dava até algumas risadas. Mas ele mudou completamente quando eu perguntei sobre suicídio. Mesmo sem eu dizer nada ele começou a me xingar, falar que eu não tinha nada a ver com a vida dele e que eu não devia me meter nisso.    Ele saiu correndo em direção à cozinha e eu fui atrás. De repente ele pegou uma faca e apontou para mim. Atacou duas, três vezes e eu recuei. Mas eu não ia fugir pra sempre, então ele atacou de novo e fez um corte no meu braço. - puxei a manga da blusa e mostrei a cicatriz. - Aquele "Carlos, pára" que eu gritei pra você, foi o mesmo que eu gritei para ele. Depois do meu grito ele voltou ao normal, mas não soltou a faca. Ao invés disso, ele a colocou no pulso. Depois de pedir várias desculpas, ele chegou perto de mim e me deu um beijo na testa, junto de um "boa sorte" e um "me perdoa por isso" e fez um corte fundo no pulso, enquanto eu, assistia ele morrer.  

 Essa era a primeira vez que eu contava isso à alguém, mas foi um alívio total. Minha cabeça parou de doer, uma ultima lágrima escorreu e com um profundo suspiro eu terminei.   

- Carlos está morto.