1. Spirit Fanfics >
  2. All About You >
  3. Onze

História All About You - Onze


Escrita por: odisseiasoiaf

Notas do Autor


Olá gente!
Primeiramente, obrigada pelas mensagens de carinho e compreensão. Elas foram fundamentais para o inicio da minha melhora.

Música Citada: The Runaways - Cherry Bomb

AVISO!: O transtorno de Borderline, assunto abordado neste capítulo é de extrema importância. Não somente para o desenvolvimento da história, mas principalmente para a propagação de informações de uma doença diagnosticada em mais de 2 milhões de pessoas no Brasil (por ano) .
O capítulo foi desenvolvido baseado em uma pesquisa minuciosa e é fundamental para o entendimento da personagem e doença.
Nas notas finais, deixarei algumas fontes para entenderem melhor o assunto.

Boa leitura <3

Capítulo 11 - Onze


Fanfic / Fanfiction All About You - Onze

 

POV – Jennifer

Terça-feira

15 de fevereiro de 2011

 

Você consegue ver como ele é lindo e o quanto pareço boba olhando para ele?

Bruno passa apressadamente pelo pátio e não faço questão de esconder o quanto estou feliz em vê-lo. Na verdade, o meu sorriso se abre automaticamente quando aquele homem de olhos amendoados passa. E ele? Apenas retribui como se mal nos conhecêssemos.

Isso é injusto.

E eu o odeio por isso.

Ao mesmo tempo, o amo.

 

— Jennifer! – Fecho meus olhos ao identificar a voz atrás de mim. — Jennifer!

— Oi! – Me virei de frente para doutor Michael, meu psicólogo. Eu já imaginava que este momento aconteceria, mas sinceramente apertei o botão do “foda-se” faz tempo. — Como você está? – Sorriu.

— Bem. Veio conversar com alguma criança? – Sabia exatamente a resposta.

— Não, hoje vim conversar especialmente com você. – Continuou a manter aquele sorriso babaca. — Podemos fazer isso a sós?

— Uhum. – Caminhei em direção à sala que ficava reservada ao atendimento psicológico das crianças e que muitas vezes tive o desprazer de estar.

— Sente-se!

— O que o doutor quer conversar comigo? – Fui direto ao ponto.

— Gostaria de saber o porquê de você não tem ido mais as consultas. Você sabe que é essencial manter o tratamento.

— Porque não está funcionando. – Gritei. Algo que não o surpreendeu. Isso acontecia quando não tomava os remédios. Instabilidade emocional é um dos sintomas que me persegue. Vocês já haviam percebido isso? Sou uma pequena bomba relógio, às vezes.

— O que te fez acreditar nisso? – Me encarava como um robô. “Idiota almofadinha!

— Eu não sei.

 

Silêncio.

 

— Continue Jennifer. – Me incentivou.

— Encontrei uma pessoa. – Encarei minhas mãos, tentando controlar a ansiedade as entrelaçando. — Nos envolvemos e de repente, tudo acabou. – A menção da última palavra me irritou. Bati as mãos com força sobre a minha coxa coberta pela calça. Respirei fundo, tentando me controlar. — Isso por causa de um “piti” idiota que eu dei.

— O que exatamente aconteceu?

— Crise de ciúmes. Eu sei que estava errada, mas não consegui controlar.

— E por isso parou de tomar os remédios?

— Não, eu já estava parando. Pensei que estava melhorando e que não precisava. – Ri ironicamente.

— Você sabe que você precisa continuar o tratamento e isso inclui tomar os medicamentos Jennifer. Senão, isso vai acontecer constantemente até causar um mal a você ou alguém próximo. – O olhei. Ele me encarava sem desviar um segundo. — Você pode se recuperar.

— Como posso me recuperar se nem ao menos compreendo o que tenho? – Senti uma lágrima descer pelo meu rosto, no qual sequei rapidamente.

— Você irá compreender a partir do momento que aceitar que tem “Transtorno de Borderlaine”, começar a se abrir e abraçar o tratamento. – Pausou. — Você não gostaria de voltar a falar sobre a sua história? Na última vez, fizemos progressos.

 

Acenei negativamente.

 

— Jennifer. – Se aproximou, diminuindo o volume de sua voz. Como se quisesse que somente eu ouvisse. — Eu sei o quanto ama este lugar, as crianças...

— Sim, mas...

— Para ajuda-las, você precisa se ajudar. - Pausou. — Como espera oferecer a “cura” se não estiver “curada”, melhor, lutando por ela?

 

Um silêncio se instalou naquela sala de cores neutras e sem vida. Achava até engraçado como aquela sala refletia a minha visão sobre mim mesma: pouco ocupada, fechada, escura e fria. “Ou será que somente eu o enxergava daquela forma?”. Acredito que precisava iluminá-la e descobrir se estava errada ou não, precisava abrir uma janela. Que no caso, era a da minha alma.

 

Flashback On

25 de dezembro de 2001

 

Faça um desejo filha!

 

Meu pai fez questão de me levantar. Fechei meus olhos e fiz um pedido especial e logo depois soprei as dez velas como o tema da pequena sereia que estavam sobre o meu bolo. Era simples, mas lindo.

 

Obrigada papai, eu te amo! – O abracei forte.

E o meu abraço filha? – Minha mãe sorria abertamente.

Também te amo, mamãe.

 

Parece bobo, mas este é um dos melhores momentos da minha vida: meu aniversário de dez anos. Por simplesmente ser a primeira vez que vivia um momento “normal” em família. O meu pedido? Bom, eu só queria que momentos normais se repetissem mais vezes. Que eu descobrisse o que era viver o que as crianças na escola tanto falavam e desenhavam no dia dos pais, dia das mães e na volta das férias sobre ter uma família feliz: passear com os pais no parque de diversões, ter uma casa na árvore, comer algodão doce, comprar bonecas com a mamãe e brincar com elas quando chegasse em casa. Será que é um pedido tão difícil de ser atendido?

 

• • •

 

Já havia me despedido dos poucos convidados que haviam aceitado o convite de vir a minha festa, guardado todos os presentes e já estava debaixo do meu novo edredom das sereias.

 

Gostou da sua festa filha? – Não me lembro de outra ocasião como esta. Em que minha mãe me colocava pra dormir. Ela acariciava meu rosto, enquanto observava o seu. Seu rosto era lindo por baixo daquelas fortes olheiras, cabelo desgrenhado e magreza excessiva pela falta de alimentação.

 

Apesar da aparência, ela estava lúcida e parecia feliz por ver a minha felicidade.

 

Eu amei, mamãe. Foi o melhor dia da minha vida! – Abracei forte novamente, não sabia quando teria esta oportunidade novamente.

 — Eu e o seu pai ficamos felizes por isso... – Pausou, passando os dedos levemente em meus cabelos. — Você sabe que apesar de ser como somos, nós te amamos e que fazemos tudo por você. Não sabe?

Sim, mamãe.

Se um dia acontecer algo conosco, você não esquecerá que te amamos. – Se afastou, me encarando intensamente. Seus olhos brilhavam, mas não era de felicidade. Apesar da pouca idade, sabia que havia pesar neles.

Sim mamãe, mas não vai acontecer nada. – Sorri. — Fiz um pedido hoje e como papai me disse uma vez, eles se realizam se pedirmos com vontade. Sei que nada irá acontecer. Estaremos seguros.

Xiiiiii ... – Sorriu, colocando os dedos sobre os meus lábios. — Não se pode contar o pedido bobinha.

Xi ... – Coloquei a mão sobre a minha boca e rimos.

Tenho certeza que você pediu com vontade, mas às vezes é necessário acontecer muitas coisas para que os desejos se realizem de uma forma melhor do que imaginamos.

Nada seria melhor do que sermos uma família de verdade. – Enxuguei a lágrima que desceu do seu rosto. — Não quero mais fugir, ter medo e ver vocês desta forma.

Filha .... – Me abraçou. — Me perdoe!

Está tudo bem, mamãe. – Fechei os meus olhos, aproveitando aquele abraço.

 

Não houve alívio, apenas a sensação do que o meu pedido não iria ser atendido.

O pior aconteceu. Eu estava certa.

Um estrondo forte se fez presente no andar de baixo. Minha mãe imediatamente me soltou e correu para a porta.

 

Marie, corra!

 

Esta foi a última frase que ouvi do meu pai antes de um tiro ecoar no andar de baixo e vozes masculinas começarem a chamar pela minha mãe, parecendo estar se aproximando. Minha mãe tampou a boca para abafar um grito e rapidamente me pegou pelos braços, me colocando em pé.

 

Filha, olhe pra mim!

Pa..pai! – Sentia minha voz embargada, encarando a porta. Eu sabia que isso iria acontecer, mas a realidade é sempre pior quando mata a esperança de um pedido de uma garota de dez anos. Naquele momento, a esperança morria dentro de mim.

Filha, olhe pra mim. Temos pouco tempo.

 

Os passos se faziam presente nas escadas. Meu quarto era no sótão, acima do primeiro andar. Meus pais sempre me colocavam em ambientes isolados, que consideravam “seguros”. Esperando o dia em que eles me protegeriam.

 

Filha! – Estava em transe, mas conseguia distinguir as palavras da minha mãe. — Faça como combinamos, tudo bem?

Tudo! – Acenei positivamente.

 

Corri para dentro do armário, mas antes de fecha-la pude ver minha mãe sibilando um “eu te amo”. Não tive tempo de retribuir. Ela desviou seu olhar e num segundo, puxou duas armas que estavam escondidas de baixo da minha cama e saiu porta à fora. Para nunca mais vê-la.

 

Flashback Off

 

— Jennifer?

— Sim.

— Está tudo bem? – Pergunta idiota.

— Sim. – Resposta idiota.

— Eu sinto muito. – Segurou a minha mão, mas desviou rapidamente. Algo sobre ética profissional. — Como se sente falando sobre isso?

— Nada. – Era verdade ou uma parte dela. — Não sei.

— Sabemos que você ainda não superou este trauma e pelo que pude observar... – Pausou e eu sabia que ele estava escolhendo as palavras certas para lidar comigo. — Projetou esta dependência de cuidado e o desejo de ter uma vida normal neste rapaz...

— Bruno! – Conclui.

— Sim!

— Eu sei, mas é incontrolável. Quando eu percebo, já estou na cama dele ou agindo como uma ciumenta possessiva. – Encarei novamente minhas mãos. — É horrível tentar se ajustar e não conseguir, se ferir por fora tentando matar o que carrega por dentro. – O encarei. — Essa sou eu doutor, uma bomba prestes a explodir.

— Não, Jennifer. Você estava se saindo muito bem, estávamos progredindo.

— Talvez. – Realmente estava melhorando muito com os remédios. Mas não daria o braço a torcer.

— O que acha de recomeçarmos de onde paramos? Volte a tomar os medicamentos e se consulte comigo algumas vezes por semana novamente.

— Pode ser. – Estava começando a ficar agoniada naquela sala novamente.

— Olhe para mim, Jennifer. Por favor!

— Tudo bem, doutor! – O encarei. Dificilmente ele conseguiria desvendar o meu olhar, um talento que os meus pais traficantes e todo este problema mental haviam me ensinado: mentir e muito bem.

— Certo. – Sorriu, escrevendo o que parecia ser uma receita. — Passarei novamente esta semana ou se preferir, podemos ir até a minha clínica. – Estendeu a mão e pude constatar que era a conhecida receita que já havia me acostumado.

— Tudo bem!

— Tome os remédios conforme está aí. – Apontou para o papel. — E qualquer coisa, entre em contato comigo. – Estendeu a mão.

— Obrigada, doutor! – Retribui o cumprimento.

— Disponha, Jennifer!

 

• • •

 

Respirei profundamente quando sai daquela sala. Foi dolorido, mas ao mesmo tempo bom ter falo sobre o meu passado. Estava me sentindo um pouco mais leve, mas a ideia de tomar aqueles remédios novamente estava longe de ser algo que gostaria de adotar novamente. Pelo menos, não agora.

 

— Não aconteceu nada demais. – Guardei a receita no meu bolso. — Continuar com estas consultas já está bom. Eu estou bem!

 

Caminhei em direção à secretaria onde iria trabalhar todo o dia e de longe, pude ver o Bruno passar novamente. Ele parecia estar distraído conversando com alguém no celular, mas na verdade a sua distração estava longe de ser o aparelho, mas sim na magricela da Savanna, que levava as crianças para o almoço no refeitório. Ela não percebia, mas ele a olhava como eu sempre desejei que fizesse comigo. Encantado e por que não apaixonado?

 

Fui despertada dos meus pensamentos com o telefone tocando insistentemente na secretaria.

 

Ligação On

 

— Centro Comunitário de East Los Angeles. No que posso ajudar? – Saiu de forma automática, não conseguia pensar em nada a não ser na ceninha que havia acabado de presenciar.

— Alô, gostaria de falar com qualquer pessoa que possa me ajudar. – Uma voz grave e extremamente sexy falava do outro lado da linha.

— Acredito que eu possa ajudar. Meu nome é Jennifer e o seu?

— Uche Lincoln, irmão de ...

— Josh Lincoln. – Completei. Todos sabiam o nome dos responsáveis pelas noites violentas que o bairro estava enfrentando. Além do principal, eram irmãos do queridinho da Savanna.

— Exatamente, princesa. – Riu. — Queremos ver o nosso irmão.

— Isso não é possível senhor Uche, vocês sabem o porquê. Josh está sob a guarda do conselho infantil da cidade, morando conosco até a decisão final do juiz.

— Você sabe que isso não é um pedido, não é princesa? – Apesar do tom arrogante e ameaçador, não pude evitar de gostar de sua voz sexy — Queremos ver o nosso irmão, seja por bem ou por mal.

— O que quer dizer?

— Que nós iremos visitar o moleque vocês querendo ou não. A diferença é a forma como o veremos, se é a na base da conversa ou na força. – Pude perceber que sorria. — E pelo que pude perceber que com você não será difícil como com a vagabunda da garota que está cuidando dele.

— A Savanna? – Ri. Havíamos mais coisas em comum do que imaginava. — Não, eu sou bem fácil.

 

Neste momento, algo passou pela minha cabeça.

Era perigoso, ao mesmo tempo, manteria Savanna afastada do Bruno.

 

Play na música leitores

 

Hello, daddy! Hello, mom!

Olá, papai! Olá mamãe!

I'm your ch-ch-ch-ch-ch-cherry bomb

Eu sou a sua menininha doce e explosiva

 

— Isso é bom princesa, é disso que gostamos. Como você irá nos ajudar? – Coloquei a cabeça para fora da secretaria para me certificar de que não havia ninguém escutando a conversa e fechei a porta, trancando-a em seguida.

— Antes de qualquer coisa, quero saber o que vocês querem com o menino.

— Com o Josh? – Riu. — Saber como o moleque está e convencê-lo a vir morar com a gente. Negócios de família, você sabe.

— Sei que se ele for morar com vocês, pode morrer. Isso sim.

— E o que isso te interessa? – Tremi.

— Me interessa é que não vou entregar ninguém para a morte.

— Mas algo te interessa. Senão já havia desligado como aquela vagabunda sempre faz quando tentamos falar com o nosso irmão. – Ele entendeu que poderia ajuda-lo, mas que não queria prejudicar o Josh, mas sim outra pessoa. — O que você quer, Jennifer?

— Eu quero... – Mordi meus lábios. Tinha noção que o meu pedido seria errado, antiético e todo o caralho o quatro, mas eu não tinha controle. A minha obsessão e sede de ter o Bruno livre falava mais alto. Não iria me vingar dele, ainda, mas precisava tirar a principal pedra do caminho. — Quero que a Savanna se foda.

— Huum. Estou surpreso!

— Com o que?

— Uma garota má infiltrada no meio de pessoas boas. Você deveria estar no lado de cá da força Jennifer. – Por mais que suas palavras tenham me ferido temporariamente, a atenção que ele estava me dando me dava uma sensação boa. Ele precisava de mim para algo e por um tempo, eu também precisaria dele.

— Eu já estive. – Por um segundo lembrei da consulta que havia acabado de sair. — Mas enfim, talvez o Josh devesse ficar com a família.

— Sínica. – Rimos. – Me traga o garoto para que possamos vê-lo e te ajudo com a vagabunda.

 

Não havia o que pensar, ou havia?

Quer saber? Foda-se!

 

— Me dê o seu número, vou fazer com que encontre o seu irmão.

 

Cherry bomb

Doce e Explosiva

Cherry bomb

Doce e Explosiva

 

Podem parar a música

 

Sorri, enquanto anotava o número do tal Uche.

Sentia-me no controle, tinha a garantia que não aconteceria nada de ruim ao Josh. Eram apenas visitas de família, que eu acredito que o pequeno Josh preferia do que vê-los em um caixão futuramente. Algo que não pude optar aos meus dez anos de idade.

 

— Jennifer, como você é mentirosa! – Disse a mim mesma rindo ao desligar o telefone.

 

No fundo, eu sabia que o maior motivo não era este e que de alguma forma eles me ajudariam a ferir Savanna em seu ponto fraco, ou pelo menos, em um deles.


Notas Finais


Fontes (para o desenvolvimento do capítulo):
- Filmes: Garota Interrompida (1999) | Sete Dias com Marilyn (2011)
- Site: Oficina da Psicologia | Minuto Saudável | Vittude
- Vídeos: https://youtu.be/GswP0EFF-0w | https://youtu.be/iAsu6OcDmZs (a visão de quem tem foi diagnosticado com o transtorno): https://youtu.be/QbH6wjliOg8

Sobre a minha ausência: Sofri um acidente e não tive condições físicas e psicológicas de publicar, o que prezo fazer pessoalmente.
Enfim, obrigada mais uma vez e desejo que Deus retribua em dobro o que me desejaram de forma tão carinhosa <3

Sobre o capítulo, Jennifer é uma bomba relógio. Confusa, insegura e ao mesmo, explosiva.
Não deixem de conversar comigo. Gostaria de saber a opinião de vocês ;)

Até a próxima <3


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...